23 de maio de 2008

Hermione,

Tenho uma entrevista de estagio hoje. Estou mais nervoso do que daquela vez que sua menstruação atrasou, lembra?

Quero muito esse emprego, não por precisar do dinheiro, mas porque quero me livras das amarras que meu pai vem usando contra mim. O diálogo com ele está cada dia pior e tudo que quero é me livrar da dependência que ainda tenho.

Eu preciso dessa liberdade.

Blasio esta confiante que vou conseguir, ele disse que qualquer empresa estaria perdendo se não me contratasse, Pansy já diz o oposto, mas sei que ela está apenas tentando descontrair.

Se eu conseguir essa vaga não vou poder te visitar no recesso de verão, mas espero de coração que você me entenda e possa me perdoar.

Tenho que ir agora se não quiser me atrasar, me deseje sorte.

Com amor, Draco.

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Com a nova rotina, Draco escrevia cada vez menos para Hermione, mesmo que fizesse pequenas anotações todos os dias, estava cada vez mais difícil ter tempo para escrever uma carta decente.

Naquele dia ele já havia tentado escrever diversas vezes, mas algo sempre aparecia para atrapalhar. Em um momento era a secretaria do seu chefe pedindo copias de relatórios que ela não precisava e em outro era a recepcionista tentando flertar por telefone.

Faziam quatro meses que Draco estava trabalhando em um escritório de contabilidade que ficava localizado no Financial District em San Francisco, exatamente uma hora de ônibus da sua casa, em Albany.

Mesmo longe ele estava se empenhando para ser promovido e assim ter um salário melhor. O que estava ganhando como estagiário mal cobria suas despesas com transporte e alimentação.

Seus amigos o apoiavam sempre e ele sabia que poderia contar com ajuda deles, mas qual a graça de querer brincar de adulto se não sentir na pele as dificuldades?

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30 de julho de 2008

Hermione,

Faz quanto tempo que não lhe mando um texto decente?

Peço que me desculpe por isso, mas ainda não consegui me organizar com essa nova rotina e algumas coisas fugiram do meu controle nas últimas semanas.

Estou tendo que acordar as 5h todos os dias para conseguir chegar as 7h na empresa. Também tive que mudar os horários das aulas na faculdade e com isso só me formo no próximo semestre, mas tudo bem, acho que no momento esse não é um problema. Decidi que vou ficar mais um ano aqui, quero fazer uma extensão do meu curso e como veterano já tive minha candidatura pré-aprovada. Meu pai não gostou muito dessa decisão, afinal foi minha e não dele, mas mamãe contornou a situação de alguma forma e ele está mais calmo com a ideia de não me ter na empresa por mais um tempo....

Mas me diga, como você se sente com 21 anos? Sempre conversávamos que nos casaríamos quando você completasse 22, mas precisa acordar para que isso aconteça.... Meu pedido ainda está de pé.

Com amor, Draco.

12 de outubro de 2008

Eu fui promovido!

Vou sair com o Blasio e a Pansy quando chegar em casa hoje à noite. Acho que eles ficaram mais animados com essa promoção do que eu.

Com amor, Draco.

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O café estava lotado naquele horário, mesmo para um sábado, muitos estudantes faziam dali seu ponto de estudos. Draco procurava um lugar para sentar e com alivio notou quando a mesa perto da janela esvaziou, sem pensar duas vezes ele marchou em direção, colocando sua mochila na cadeira vaga ao seu lado.

Pegou alguns livros sobre contabilidade e ia folheando suas anotações enquanto tomava sua primeira xícara de café do dia.

Quando seu relógio marcou 16h, Draco começou a guardar suas coisas, em pouco tempo já estava andando pela rua movimentada em direção ao ponto de ônibus. Iria passar na livraria antes de ir para casa e estava com a estranha sensação de estar esquecendo algo.

O trajeto até a loja foi mais rápido que o esperado e como de costume os corredores da livraria estavam completamente desertos.

Sem se preocupar com aparecias, Draco pegou nas prateleiras os livros que lhe interessava e sentou no chão, no final do corredor, novamente perdeu a noção do tempo. Estava se preparando para levantar quando uma mochila foi jogada ao seu lado.

— Draco, não é? – Uma garota de cabelos castanhos perguntou enquanto se sentava no chão a sua frente.

— Sim.... Desculpe, eu conheço você?

Draco encarava a moça com atenção, tentando lembrar de onde a conhecia, sem sucesso.

— Sou Daphne.... Sentei na sua mesa uns meses atrás.... No café....

Como em um estalo, ele lembrou-se do momento em que ela lhe agradeço com o desenho no guardanapo.

— Você me desenhou no guardanapo! – Um mínimo sorriso surgiu no rosto do rapaz, ele ainda guardava o desenho na gaveta da sua escrivaninha. – Me desculpe esquecer de você....

— Tudo bem, não é como se nós tivéssemos conversado muito.

Draco voltou a se recostar na parede, prestando atenção no que Daphne falava, os dois conversaram sobre a má disposição das mesas no café e em determinado ponto o assunto foi substituído pelos planos para o futuro....

Daphne contou que cursava artes plásticas e queria inaugurar sua própria galeria no próximo ano, também contou que não falava com seus pais desde que decidiu abandonar a empresa da família e se dedicar a sua arte. Trabalhava meio período no museu para custear sua faculdade.

O assunto entre eles fluía de forma leve e divertida, diferente de quando conversava com Blasio ou Pansy, Draco se sentia confortável ao lado de alguém que não conhecia o lado triste de sua vida.

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24 de dezembro de 2008

Hermione,

Feliz Natal!

Hoje a Pansy resolveu cozinhar, nenhum dos meus amigos viajou para passar o final de ano com sua família então estamos todos reunidos na sala do meu apartamento bebendo vinho e falando mal dos outros universitários.

Blasio já teve que correr no mercado cinco vezes e apostamos quantas mais ele terá que ir até a janta ficar pronta. Eu não sabia que Pansy cozinhava.... Mas não foi algo que fiquei triste em descobrir.

Com amor, Draco.

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Pansy caminhava de um lado a outro da cozinha, atenta a todos os pratos que estava preparando, o jantar deveria ser perfeito.

Da sala, Draco encarava a amiga na cozinha, se perguntando se não deveria oferecer ajuda, mas sempre que ouvia ela resmungar que algo estava dando errado, lembrava-se que uma Pansy estressada não era uma Pansy legal.

Estavam terminando com a segunda garrafa de vinho quando a campainha tocou, Blasio foi atender a porta com a garrafa vazia em mãos.

— DAPHNE!

O grito animado de Blasio despertou Draco para a pessoa parada na entrada do apartamento. Daphne usava um vestido grosso na cor cinza, meias e botas pretas e o pesado cardigã florido destoava das demais peças sóbrias que ela usava. Seus cabelos estavam soltos em um liso perfeito enquanto o rosto estava levemente avermelhado devido ao forte frio que fazia na rua.

Ele ainda sentia um incomodo sempre que a via, e por mais que tentasse negar, sentia-se bem ao lado dela. Daphne nunca perguntou sobre seu passado ou porquê de ter saído de Londres, ela parecia interessada apenas no futuro e isso o cativava.

A amizade entre os dois se baseava em muita conversa aleatória e pouco assunto sobre suas vidas. Ela ainda não tinha ideia de quem era Hermione ou da importância dela para Draco, na verdade, Daphne nunca havia se quer questionado se ele possuía alguém especial para si.

Draco observava as duas mulheres discutirem na cozinha, era um ambiente tão familiar que ele se pegou sorrindo com a cena. A sombra do sofrimento que carregava estava oculto atrás de um novo brilho em seu olhar.

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“Esse é o lugar errado

Para estar pensando em você

Essa é a hora errada

Para alguém novo”

9 Crimes – Damien Rice