Point Of View's Renesmee Cullen || Ponto de Vista de Renesmee Cullen

A imensidão de um oceano informe me oprimia. Algo me proibia de abrir os olhos, mas eu sabia que havia gente ao meu redor. Averiguei o cheiro humano no quarto, assim como o cheiro do meu Jake. O meu Jake estava ali! De repente, uma forte dor em minha cabeça me atingiu. Tentei movimentar a minha mão para averiguar onde me afetaram, mas eu não conseguia movimentar nenhum dos meus braços. Algo contraía eles e eu não possuia força o suficiente para movimentar nem os dedos da mão.

- Ela está recobrando a consciência. - Murmurou uma voz conhecida: a de meu pai. Tentei sorrir ao constatar isso, mas os músculos do meu maxiliar estavam trincados. Eu não conseguia sorrir, como se eu não tivesse força para tal feito.

- Sim, Carlisle. Ela sabe quem eu sou. - Meu pai falou novamente. Uma paz formou-se no meu interior. Eu devia estar só relaxando, mas ainda sentia um estranho aperto em meu peito.

- Ela está com muita dor, não só física, mas emocional também! - Ouvi a voz do tio Jasper pronunciar preocupado.

- Como assim? - ouvi uma voz rouca perguntar. Eu a reconheceria a milhas de distância. Sua voz, seu cheiro e o calor emanado de seu corpo, eram reconhecíveis a distâncias absurdas. Uma dor preencheu o meu peito, mas eu não conseguia pensar o porquê de tanta dor. Qual seria o motivo para essa infundável dor no peito? Realmente, ela não parecia física, mas sim, emocional.

- Ela está sentindo uma dor emocional, provocada pelo Jacob. - Explicou Jasper à pergunta de Jacob.

Um silêncio pronunciou-se no ar. Tentei abrir os olhos, mas algo pesado os impedia... Eu não possuia o domínio de meu corpo e uma limitação me impedia.

- E-Eu? - Gaguejou Jacob, com a respiração acelerando, assim como o seu coração. A sincronia em que o ritmo do seu orgão vital aumentou juntamente com sua repiração foi incrível.

- Não, a minha avó morta há mais de cem anos! - Ironizou Rosalie. Sua voz de sinos relaxou os meus músculos tensos e um sorriso sonolento preencheu a minha face.

- Ela está entendendo o que falamos? - A voz de minha mãe ecoou duvidosa pelo ambiente.

Uma mão gélida tocou os meus cabelos e fez um carinho ali. Eu apenas queria saber quem fazia isso, pois os meus olhos ainda não se abriam. Me sentia tão fraca e sensível de um jeito inexplicável. Meu corpo estava mole e um pouco mais gélido que o normal. Estranhei isso.

- Fora sua mãe, Nessie. - Edward disse, explicando quem me fizera carinho. - E, quando você conseguir levantar e acordar, olharemos o motivo disso.

Um silêncio parou no ar. Tornou-se incômodo após um tempo, pois ninguém falava nada e eu apenas ouvia o meu coração e o de Jake baterem regulares. As respirações estavam muito quietas e o silêncio permanecia. Implorei mentalmente para que alguém falasse alguma coisa.

- Ela quer que vocês falem alguma coisa. - Sussurou Edward. Ouvi alguém se remexer incômodo sentado no couro... Provavelmente era alguém sentado em um sofá. - Foi Jacob, queria. Ele está meio incômodo. - Meu pai explicou, soltando um risinho baixo em seguida. Parecia que, pelo menos alguém, estava divertido.

Um rosnado ecoou pelo ambiente e resolvi mudar de assunto. Pai, por que eu não consigo abrir os olhos? Perguntei, pois eu realmente estava curiosa. Não entendia o motivo de tanta sonolência e moleza física.

- Deve ser o efeito da anestesia. - Meu pai murmurou, afagando-me o braço direito.

- Acho melhor eu diminuir o soro agora. - Ouvi a voz de meu avô, Carlisle, soar pelo pequeno ambiente.

- Concordo. - Jasper murmurou... Uma voz que eu não havia escutado ainda era a de minha avó Esme e de Emmett. Estranhei isso.

- Emmett foi banido do Hospital justo nos primeiros dias. Sabe, os pacientes ficaram um tanto incomodados com as brincadeiras dele. - Meu pai confessou, dando uma risada rouca em seguida. - Sua avó foi preparar as coisas na casa, afinal, você pode sair daqui apenas de cadeiras de rodas... Ainda não sabemos como o seu lado vampiro foi afetado. - Meu pai praticamente sussurou a última parte, afinal, era doloroso para ele saber que sua filha poderia estar um pouco delimitada. Eu sentia a mesma dor que ele... Na verdade, não sabia o porquê eu estava no Hospital, porém me sentia, realmente, muito mal.

- Você sofreu um acidente de carro, não lembra? - Edward perguntou com um tom preocupado e com um tom nervoso na fala.

Tentei relembrar esse tal acidente de carro, mas simplesmente não consegui. Os último momentos que eu lembrava era a aposta que eu fizera com os lobos; o meu primeiro beijo com o Jacob, em frente à "nossa" árvore, a qual não decidimos um nome ainda; a vez em que ele me pegou pela cintura e me deu um beijo... Eram as únicas coisas que eu lembrava. À demais, apenas coisas vagas após isso. Lembrei-me dos momentos felizes e tristes da minha infância. Eu vivia em um orfanato, onde eu não possuia nenhuma amiga ou recebia algum afeto. Lembrei-me de dona Maria, que cuidava de mim. Sorri ao lembrar dela e o carinho que ela demonstrava a mim. Lembrei-me de quando encontrei a minha família pela primeira vez. Fora algo mágico e me sinto abençoada até hoje de tê-los próximos a mim... Finalmente.

- Querida, nós ficamos muito alegres com a sua volta... Você nos trouxe a alegria e nunca poderemos recompensá-la. - Meu pai sussurou próximo ao meu rosto e depositou um beijo delicado em minha bochecha. Agradeci mentalmente pelo conforto que eu estava recebendo e tratei de relaxar. Parecia que eu havia dormido muito, porém ainda me sentia cansada.

O cansaço apoderava-se do meu corpo e senti o meu corpo pesar. Porém, resisti ao sono e prestei atenção na conversa deles.

- Descanse filha. - Papai disse suavemente. - Carlisle, acho que ela está com uma amnésia anterógrada. - Meu pai disse temeroso e percebi uma pontada de medo em sua voz.

- O que isso quer dizer? - Rosalie perguntou preocupada. Ouvi meu pai engolir seco e Carlisle respondê-la.

- Ela perdeu a memória temporária. Apenas os fatos recentes antes da fratura na cabeça foram esquecidos... Porém ela pode lembrar de todo o resto perfeitamente, porém os outros fatos, os mais tristes, ela esqueceu. - Carlisle explicou e ouvi um suspiro de alívio vindo do... Jake.

- Ela esqueceu mais ou menos do quê? - Minha mãe perguntou, aparentemente triste. Acho que ela não queria me ver sofrendo. Não que eu esteja me achando ou algo do gênero, porém nenhuma mãe quer o mau para a filha.

- Ela esqueceu dos acontecimentos até o Jacob beijá-la. Desde então, ela não consegue lembrar de nada. - Meu pai murmurou triste e hesitou no momento do beijo. Ouvi uma risada maliciosa ecoar pelo cômodo e a reconheci prontamente: Jacob.

- Vejo que o seu humor melhorou demasiadamente, Jake! - Bella disse, com o seu riso acompanhando o dele.

- Ela me dá forças para continuar a lutar. - Ele disse delicadamente com sua voz suave e rouca. Senti uma mão quente encostar na minha bochecha e senti a mesma formigar.

Um sorriso suave apareceu em minha face e ouvi alguém sussurar algo como "ainda bem que ela não lembra". Não entendi porque tal afirmação, porém apenas aproveitei o toque suave do meu Jake.

- Carlisle, o Jasper está com 'fome'. Acho melhor ele e a Bella irem caçar. - Edward sussurou aparentemente preocupado.

- Claro, vão.

- Não, ficarei aqui com a minha filha! - Minha mãe retrucou.

Senti uma picada suave em meu braço e a imensidão me puxou com força para baixo.

Imagens transtornadas apossaram-se de minha mente. Eu estava em um lugar claro, como se fosse deserto e com muito sol. Deitei-me sobre o chão, que, pelo tato, deduzi ser uma espécie de areia muito fina. Um riso ecoou o ambiente que estava vazio. Olhei para os lados e não vi ninguém além de mim lá. Dei de ombros e aproveitei o sol, até o som se repetir. Curiosa, levantei-me e fui averiguar.

- Alô, quem está aí? - Perguntei e ouvi o eco de minha voz.

- Nós. - Alguém sussurou atrás de mim. Virei-me assustada e vi uma criançinha com cabelos cacheados e dourados e olhos castanhos chocolates brincando com um lobo castanho-chocolate. Eu a conhecia... Sim, era eu mesma quando pequena. Ele... Era inconfundível. Jacob Black. O lobo que eu mais amo e para sempre amarei.

Os observei brincarei na areia, entre risos e emoções diversas que eles sentiam. A forma em que o lobo a fitava era como se estivesse enfeitiçado. Já ela, possuia um grande sorriso estampado na face, enquanto corria para fugir do enorme lobo, que obviamente a deixava vencer a corrida.

Ela aparentava ter cinco anos de idade, enquanto se divertia e ria diversas vezes da sua diversão.

Eu finalmente entendera o recado do sonho: esses seriam eu e o Jacob caso não tivesse o imprevisto do rapto dos Volturi.

Acordei assustada após de ouvir alguém chamar o meu nome. Abri os olhos rapidamente, rompendo a barreira do cansaço e pude ver alguns membros da minha família me encarando, enquanto eu possuia lágrimas em meus olhos.

Meu pai me abraçou delicadamente, enquanto eu permanecia com os olhos marejados e lutava para não chorar na frente deles. Senti o meu corpo um pouco mais leve, porém ainda sentia uma forte dor de cabeça.

- Não tente forçar a memória, Ness. - Papai sussurou.

- O que houve, querida? - Minha mãe perguntou. Como eu havia sentido falta de seus braços carinhosos e seus afetos. Eu nunca tivera uma mãe e nesse meio tempo fora indescritível a sensação dos cuidados amorosos de uma.

Eu tentei falar, porém a fala não saiu. Algo em minha garganta empedia. A minha respiração estava desrregular e fui ver o que impedia. A colocar a mão sobre o nariz, senti um aparelo conectado a ele.

- É para você respirar melhor, filha. - Edward explicou.

Percebi que apenas Isabella, Edward, Alice e Jasper estavam no quarto. Por quanto tempo eu dormi novamente? Perguntei por pensamento.

- Por dois dias. Jacob finalmente saiu daqui para tomar um banho... Isso graças aos Quileutes que praticamente o arrastaram. - Edward explicou e soltou um risinho baixo, acompanhado por Alice.

- Realmente, ele estava fedendo. - Ela completou, arrancando uma gargalha atípica de Jasper.

Sorri ao ver a minha família unida e feliz. Parecia que, desde que viemos para Forks, nós sempre fomos felizes.

Os meus olhos já não estavam tão cansados ou fora efeito do sonho ao acordar no susto.

- Então, minha neta. Está melhor? - Carlisle disse, adentrando ao cômodo com uma prancheta simples. Eu acenei minimamente com a cabeça, afinal, a minha fala continuava impraticável. - Isso é um bom sinal... Já acena a cabeça, entende o que falamos, abre os olhos... Muitas melhoras! Estou orgulhoso de você. - Comentou com um sorriso enorme no rosto.

Toquei no rosto dele e transmiti o pensamento: "Obrigada, vovô". Ele sorriu em resposta e me tranferiu a uma sala de testes. Eu passei por vários aparelhos, até que, devido ao cansaço, pedi para pararmos com os testes por hoje.

Ele acentiu e resolveu me levar de volto para o quarto, onde eu dormi calmamente.

Acordei no outro dia com a claridade que preenchia o quarto branco onde eu dormia. Uma mão quente segurava a minha, enquanto alguém me dava beijos delicados pela extensão da minha bochecha. Sorri ainda de olhos fechados e percebi ele rir.

- Bom dia, meu amor. - Jake exclamou alegre.

Ouvi um coro de bom dia ecoar no ambiente através de vozes roucas e graves. Eram os lobos.

Bom dia a todos. Pensei entreabrindo os olhos e me espreguiçando, ao mesmo tempo que tocava no rosto de Jacob.

Quil, Embry, Seth e Paul estavam no quarto. Sam nunca fora com a minha cara e Jared sempre estava ausente, assim como Collin e Brandy.

- Como a minha princesa está? - Jacob perguntou, depositando um delicado selinho em meus lábios.

Ouvi Paul pigarrear alguma palavra, como se quisesse esconder a indireta. Se os meus ouvidos estavam bons, eu jurei ter ouvido "sínico aproveitador". Quil o repreendeu com o olhar... Estranho.

- Melhor. - Carlisle respondeu por mim, entrando na sala para me falar sobre os exames. Parou do meu lado e pôs a mão sobre a minha bochecha. - Você está com amnésia anterógrada. Ou seja, você tem dificuldade ou incapacidade de se lembrar de eventos recentes, mas consegue se lembrar, quase que perfeitamente, de eventos ocorridos antes do trauma cerebral. Então, você teve uma fratura séria no crânio, porém não ouve perda de memória significativa.

- Foi até bom. - Paul sussurou. Dessa vez, foi Seth que o repreendeu, enquanto Jacob trincava o maxiliar de raiva.

Embry permanecia quieto no seu canto me fitando estranhamente. Ele parecia conviver com um dilema interno.

- Entendeu? - Carlisle me perguntou.

- Sim. - Falei. - E eu posso retomar a memória? Aqueles fatos que esqueci, poderão ser lembrados novamente?

Um silêncio pairou no ar e, novamente, a respiração de Jacob fora a mais acelerada. Eu não entendia o porquê de, toda vez que eu falava sobre o que eu não lembrava, ele ficava com algumas reações estranhas.

- Sim, Ness. Você pode retomar a memória, porém não lhe aconselho. - Carlisle disse com um olhar doloroso nos olhos.

- Por que não? - Perguntei confusa.

- Pode ser muito doloroso relembrar de coisas passadas... - Ele disse fitando-me intensamente e alternou o olhar para Jacob. - Digo, o processo, claro.

Ele limitou-se a responder e saiu do quarto do Hospital, quase sem me dar mais informações. Sorri sem graça diante do clima chato que ficou entre nós, até o Jake quebrá-lo.

- Acho melhor não esconder isso dela. Meninos, deixem-me a sós com ela... Eu preciso contar-lhe algo. - Jacob sussurou, quase inaldivelmente.

Eu não sabia o porquê, porém lágrimas se formaram em meus olhos e o meu coração apertou-se consideravelmente. Por que eu estava com reações tão estranhas? Seria um presentimento?

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