— Posso anotar seu pedido senhor ? - disse uma garçonete ruiva logo que me sentei e antes mesmo de eu responder Annabeth chegou

— Pode deixar Lily, é um amigo, eu cuido dele - ela disse

— É melhor cuidar se não alguém cuida pra você - disse a tal Lily sorrindo e saindo, tive uma leve impressão que ela piscou pra mim, mas acho que foi só impressão mesmo, e voltei a olhar para Annabeth que estava vermelha

— Então... o que quer ? - ela disse

— Um café expresso e um...

— Quero dizer o que quer aqui - ela disse meio impaciente

— Estou dizendo, um café expresso e...

— Percy, o que você quer aqui comigo ?

— Que você me traga um café e um lanche - eu disse pausadamente já ficando impaciente também

— Tenho uma amiga chamada Amanda Walker, já ouviu falar ?

— Claro, ela é voluntaria como eu no serviço comunitário - eu disse, bom... ela é voluntária, eu sou um escravo mesmo, por algum motivo eu sempre sou o que fica com o pior trabalho

— Isso mesmo, estava falando com ela sobre sairmos hoje, e ela me disse que não dava porque o trabalho comunitário hoje seria puxado e depois ela iria descansar - continuou Annabeth

— Ela estava certa, hoje foi duro

— E sabe o que mais ela disse ?

— O que ?

— Que foi em Long Island, Long Island Percy, a quilômetros daqui

— Sim - eu disse - já pode trazer meu café ?

— Olha só - ela disse batendo as mãos brava na mesa - já faz uma semana que você entrou nesse trabalho e todo dia na volta para casa você passa aqui, eu já disse que não tem necessidade, mas hoje você exagerou, você atravessou a cidade inteira para tomar um café expresso, só pode estar me zuando, não quero sair com um cara morto

— Olha Annie, em primeiro logar eu vim dormindo o caminho todo, não estou tão cansado, em segundo, seu café é sensacional, em terceiro, deixa eu ver... eu fico relaxado ao seu lado, não preciso dormir, e depois, desde quando estamos saindo juntos ? - eu disse sorrindo e vi ela ficar vermelha, tando de vergonha quando de raiva, então ela se endireitou e saiu em direção a cozinha da lanchonete

 Uns 20 minutos depois ela voltou trazendo um lanche do dia e meu café, que estava realmente incrível, e não disse mais nada, quando terminou o serviço se sentou na minha frente e ficou quieta, eu até puxava um assunto, mas ela encerrava bem rápido. Isso já estava começando a me irritar, principalmente na volta para casa que ela quis ir de ônibus, coisa que nunca fizemos, sempre vamos andando para termos mais tempo de conversar, me senti mal com isso, não tipo um garoto que esta levando um gelo, é que eu realmente precisava disso, não sou nenhum psicopata nem nada, é que não consigo muito bem ter relações com outras pessoas, era difícil conversar sem preocupações com alguém, sem ninguém me olhando como a aberração, nem como o esquisito, ou me julgando por tudo, e com ela, eu não tinha isso, eramos só dois adolescentes  normais conversando sobre tudo, eu não precisava colocar uma máscara como faço com a sociedade, posso ser eu mesmo, ela me ouve, comenta, se expressa, discorda, concorda. Porém, não posso negar que tem muitas coisas que ainda prefiro guardar apenas para mim, pensamentos, opiniões, coisas que acho nem nem ela entenderia, eu realmente sinto que a amo, mas eu... não posso ficar com ela.

 Por algum motivo, hoje ela só está calada, nervosa, e percebi que era somente comigo, fui o caminho todo pensando no que poderia ter feito de errado, mas nada, tão sério pelo menos, me vinha a mente, na hora de nos despedirmos resolvi perguntar logo, era melhor do que passar a noite imaginando.

— O que eu fiz para você ? 

— Como é ? - ela disse me olhando fria

— Você, toda fria, me ignorando, com raiva de mim o dia todo, não só agora, na escola também, você não olhou a minha cara, eu estou ficando maluco pensando em tudo que eu poderia ter feito para você, mas eu realmente não penso em nada, eu não fiz...

— Nada - ela completou - exatamente Percy, você não fez nada, até agora, depois daquele primeiro dia, eu pensei que você tomaria alguma atitude, me chamaria pra sair, sei lá, qualquer coisa, mas não fez, eu estou começando a achar que você não gosta tanto assim de mim, e sinto muito, mas não posso ser só a pessoa com quem você se abre, eu queria ser mais - ela disse triste 

— Então era isso... - eu disse baixinho, não tenho certeza se ela escutou

— Sim Percy, é isso, se ainda não percebeu EU SOU UMA GAROTA, eu tenho essas drogas de sentimentos, e por alguma razão só acabo gostando de caras estúpidos, você, ele, SOMENTE IDIOTAS - o jeito que ela disse "ele" foi com ouro desprezo, penso em que tipo de cara faria algo tão ruim assim para ela e já odeio esse garoto logo de cara - você sabe bem que não somos "apenas amigos", mesmo nunca tendo ficado, então o que nos somos afinal ?

 Após ver sua expressão, ouvir suas palavras, não pude mais me segurar, ela está furiosa e provavelmente me baterá, mas a puxo e a beijo. No inicio percebo que ela está meio tensa, se forçando a não retribuir, e isso realmente parte meu coração, e quando vou afasta-la, a sinto se entregar a mim, ela levanta os braços e começa a agarrar meu cabelo, e eu a beijo como sempre quis beijar, e essa é a melhor sensação do mundo, eu a tenho ali, para mim...

 Então a afasto.

— Qual o problema, Percy ? - ela diz com o rosto vermelho e os olhos cinzas me encarando, ela é tão linda, penso

— Eu... não posso - digo

— Como assim "não pode" ?

— Não mereço você, sou problemático, estou quebrado e não tenho conserto, não mais. Juro que tentei ser uma pessoa melhor, mas eu... não dá. Não é justo com você, você não merece ficar comigo, merece coisa melhor, se você ficar comigo, vai acabar se despedaçando, se quebrando e corroendo de dentro para fora, como eu. Não quero isso para você

— Eu decido o que quero para mim, não sei se são tão profundos, mas tenho meus problemas também, tenho meus demônios, eu já me envolvi, e eu não me importo de quebrar, não me importo em me despedaçar, não se eu estiver com você, Percy

— Mas eu me importo, eu sei que você não é como eu, você tem conserto

— E você também tem, e eu vou ajudá-lo nisso, você não conseguiu se consertar agora porque sempre tentou sozinho, mas não é assim, ninguém pode viver sozinho nesse mundo, e eu prometo que ficarei ao seu lado, iremos nos consertar juntos, ok ? 

 E ela me beija, um beijo que me faz perder a noção de tudo, de quem eu sou, onde estou, até mesmo do tempo, pode muito bem ter se passado minutos, até horas, só sei que não queria que acabasse

— Se disser que não me merece de novo, eu juro que acabo com você - ela disse me olhando séria, mas com os olhos brilhando

— Annabeth Chase, eu acho que te amo

 Na manhã seguinte o único assunto da escola foi como a linda e desejada Annabeth Chase chegou na escola de mãos dadas com o esquisito do Jackson, não posso deixar de me sentir muito mal pelos olhares de desgostos, as conversinhas nada discretas, me senti completamente mal, mas não por mim, isso já acontecia comigo todo dia, e sim por Annabeth, ela não merecia esse tipo de atenção. Ela deve ter percebido o quanto isso estava me incomodado com isso e apertou minha mão mais forte. 

 Na terceira aula, me encontrei com Nico na aula de História.

— Então, o único assunto da escola hoje é o casal Percy Aberração Jackson e a Chase - ele disse - por que não me contou nada ? 

— Porque estou sem celular - disse me sentando ao seu lado

— De novo ? o que houve ? 

— Gabe - eu disse apenas

— Ele vendeu esse também ?

— Sim

 Gabe era meu padrasto, meus pais se divorciaram a 11 anos, e a 7 minha mãe se casou com esse cara, ele era um porco viciado, não respeitava minha mãe nem um pouco, me odiava e me batia até, bem... 1 mês.

 Meu pai sumiu, não tenho noticias dele faz 9 anos, desde a última vez em que fui a sua casa, e ele olhou em meus olhos e me disse que eu não iria mais vê-lo. Sei que está vivo pois minha mãe ainda recebe o dinheiro da pensão que ele manda todo mês.

 As aulas até que passaram depressa, o que vem depois que é pior, na detenção fui abordado por imbecis inconformados por eu estar com Annabeth, não me bateram muito, mas o bastante para mim não ir ver Annabeth hoje, não quero preocupa-la ainda mais comigo, então, após o trabalho comunitário, fui para casa, ouvir um monte de piadinhas do Gabe por estar com o olho roxo, e minha mãe me dando sermões sobre briga sem nem mesmo saber o que houve.

 Quando eram quase 00:00hrs ouço alguém batendo na minha janela, me levando de uma vez e sinto uma tontura, e abro a janela sem enxergar direito quem estava sentado na escada de incêndio, só sei que em um segundo estou tentando me recuperar e no outro estou sendo envolvido em um abraço gentil e reconfortante, vejo longos cabelos loiros ondulados e já sei a quem pertencem antes mesmo de recobrar os sentidos.

— Amanda me disse que você estava ferido no trabalho hoje, e você não foi me ver, então estava morta de preocupação, não pude espera até amanhã para te ver na escola - ela disse, então a abracei de volta

— Tá tudo bem, isso não foi nada, você tem que ver como ficou o outro cara

— Isso não tem graça Percy

— Desculpa, mas não tem nada para se preocupar Annie, não é a primeira vez em que sou espancado na escola - digo sorrindo

— Como pode dizer isso tão tranquilamente ? - ela diz inconformada, e a levo, ainda a abraçando, até minha cama para sentarmos

— Como eu disse... não é a primeira vez - digo limpando umas lágrimas de seus olhos e beijando a ponta de seu nariz, ela dá um risinho e me olha serenamente

— Você não merece passar por tudo isso ? 

Será que não ? penso, mas não falo

— O que você estava fazendo, está tarde, sabe que é perigoso - digo tentando mudar de assunto

— Não é comigo que tem que se preocupar - ela diz

— É sim - eu digo e a beijo, um beijo puro, porém intenso

 Penso no quanto ela me faz feliz, no quanto ela tira o "vazio" de dentro de mim e me preenche com algo maravilhoso, talvez eu tenha concerto, talvez ela seja meu concerto, só sei que ela é realmente diferente de todas as outras garotas, e realmente não quero estragar tudo, então apenas me concentro em beijá-la e nada mais, com ela ali comigo, nada mais importa.