— Barry! – Felicity sussurra lentamente, atordoada não pela presença do amigo velocista, mas com o estado lamentável de Tommy.
— Vai me deixar entrar ou esperar que alguém veja a mim e seu amigo nesse estado. – Barry exige tirando-a de seu torpor.
Ela rapidamente se afasta e ele com esforço segue até o sofá deitando Tommy ali, com cuidado.
Tendo voltado a si, Felicity se apressa ao lado de Barry iniciando uma uma inspeção rápida do estado de Tommy e ela tem o súbito desejo de chorar não se decidindo se por tristeza ou raiva por quem quer que tenha feito tal agressão ao amigo. Com cuidado ela abre o olho esquerdo que é o menos atingido apenas para verificar seus reflexos, não notando nada agravante ela toca o contorno do outro olho que começa a roxear e inchar em resposta a, ou as pancadas recentes, e ela se pega imaginado se há algum tipo de dano permanente no nervo óptico, deixando esse pensamento de lado ela passa os dedos pelas contusões vermelhas em ambas as bochechas, seguindo pelo maxilar não menos machucado até chegar a boca sangrenta, ele solta um gemido quando ela toca o lábio rachado e ela não consegue conter o xingamento ao notar a falta de um dente.
— Ele o cuspiu antes desmaiar. – Barry responde a pergunta não dita, aliviando-a de pensamentos de que Tommy pudesse ter engolido o maldito dente.
— Eu... Eu não tenho nada para cuidar dos machucados. – assentindo Barry sai fazendo-a quase engolir os próprios cabelos quando ela abria a boca para falar.
Ele volta nem cinco minutos depois quando Felicity abre o último botão da camisa branca com marcas de sola de sapato em todas as partes. Ele já está apropriadamente vestido, não mais em seu uniforme e ela é distraída por um momento se perguntando quando ele teve tempo de se trocar. Bem ele é um velocista, poderia ter feito isso aqui e não teria notado.
— Me ajude a retirar isto aqui. – ela pede e ele imediatamente se põe ao lado do braço do sofá erguendo o torso de Tommy para Felicity – Oh Deus! – ela ofega ao visualizar uma série de contusões que vão de um lado das costelas a outro.
— Não seria melhor levá-lo ao hospital. – Barry pergunta visivelmente preocupado.
— Não, não, são apenas externos.
— Tem certeza?
— Eu já vi muitas destas em Oliver. Eu só... – ela para, não conseguindo continuar, o ar preso em seus pulmões – Nunca foi ninguém além da equipe e... E ele parece tão frágil, não é como... Como...
— Eu sei. – Barry acalenta com um toque em seu ombro e ela lhe dar um olhar de gratidão.
— Vamos limpar ele antes de cuidar dos ferimentos. – ela diz se recompondo antes de levantar-se e seguir para a cozinha.
Alguns minutos depois ela volta com uma bacia com água e um pano limpo, agachando-se ao lado do sofá se põe a limpar o rosto de Tommy.
— Então, 2007 hem. – Barry comenta para distraí-la.
— Uma longa viagem. – ela morde o lábio inferior e balança a cabeça para impedir-se de chorar – Desculpe... – pede fungando – As últimas quarenta e oito horas tem sido sob muita pressão e... É tão difícil longe de casa, de Oli... – ela para quando houve o som de arrastar de pés no quarto ao lado – Thea, não posso deixar ela ver Tommy nesse estado. – joga o pano sujo na bacia e se apressa em direção ao quarto.

— Hey. – fala agitada quando ao empurrar a porta e entrar quase derruba Thea que estava a ponto de abrir-la.
— Megan, quem está aí? Eu ouvi vozes.
— Apenas um amigo. – fala levando a menina de volta pra cama.
— Um amigo? É Tommy? – tenta levantar-se sendo impedida por Felicity.
— Não, não é Tommy.
— Então quem?
— Ninguém importante, agora volte a dormir, precisa descansar. – aconselha abaixando o tom de voz após perceber que sua crescente agitação está apenas deixando a menina desconfiada.
— Tudo bem, tudo bem. – Thea diz em meio a um bocejo – Se não quer que eu saiba não vou insistir. – afirma entrando embaixo das cobertas.
— Não é isso, é só que... Olha amanhã você vai saber, mas você ainda precisa descansar. – passa a mão pelos cabelos da menina maternalmente.
— Você tá certa. – murmura após um novo bocejo e fechar os olhos.
Felicity volta para a sala no momento em que Barry está terminando de limpar o peito de Tommy.
— Precisamos limpar o interior da boca. – ela assente enquanto ele limpa o pano e o entrega a ela antes de abrir a boca para que ela limpe.
Os minutos seguintes se passam em silêncio com ela aplicando a pomada tópica que Barry felizmente lembrou de comprar, e enquanto ela massageia em cada contusão seus pensamentos voam até a garota dormindo no quarto ao lado e no quanto ela se sentirá culpada quando encontrar Tommy, ela está se sentido culpada por tê-lo envolvido nisso, olhar para seus ferimentos a fazem querer chorar por que ela sabe que ele não foi feito pra isso, ele não é como Oliver, ou Sara ou até mesmo Barry e sua aparente aparência frágil, Tommy é doce e frágil e ele nunca teve que sobreviver por cinco anos em uma ilha ou foi atingido por um raio e por mais que diga o contrário ele sempre vai ser apenas um garoto procurando atenção.
Ela fica tão perdida em pensamentos que é preciso Barry chamar sua atenção para sua presença e Felicity pela primeira vez na noite percebe que está prestes a voltar pra casa.
— Eu não posso ir agora, eles precisam de mim.
— Tudo bem, mas não podemos nos demorar mais.
— Eu sei e não vejo a hora de ir pra casa, é só até Tommy melhorar. Agora – ela levanta-se exausta física e mentalmente – vou limpar essa bagunça e pegar alguns cobertores, sinto muito mas terá que dormir no chão.
— Ah não, eu me viro, vou dar uma volta por aí...
— Mas você não tem pra onde ir e precisa descansar. – ela contesta não dando chance dele continuar falando.
— Eu sou um velocista Felicity, posso entrar e sair onde eu quiser e ninguém nunca perceberá.
— Barry Allen, você não tá falando sério. – se empertiga ao perceber as implicações de suas palavras.
Barry apenas sorri achando graça da careta de Felicity.
— Boa noite Felicity. – despede-se ainda com um sorriso no rosto.
Um pouco mais relaxada Felicity pega cobertores para si e para Tommy, cobrindo-o e lhe afagando os cabelos antes de se acomodar na poltrona para uma noite de vigília que ela sabia que seria longa.
E ela estava certa, seu sono não passou de leves cochilos dos quais ela acordou ou por gemidos de dor do amigo estendido no sofá que ela tentou tranquilizar através de seu sono pesado causado pelos analgésicos que Barry e Felicity o fizeram engolir, ou por seu próprio sono agitado em que na maior parte não era Tommy que estava sendo espancando, mas Thea e em um desses era o próprio Oliver, ela acordou assustada e suada sentindo-se mal por até em um momento que Tommy precisa exclusivamente dela, ela sonha com Oliver. É apenas a distância. Diz a si mesma para explicar estar tão dependente da presença de Oliver.
Ao amanhecer ela está exausta e com dois círculos escuros ao redor dos olhos, ela verifica Tommy e Thea e logo em seguida Barry aparece com café e rosquinhas e se não fosse a forma adormecida de Tommy no sofá ela teria pulado e gritado de alegria.
— Estou realmente necessitada de uma boa dose de cafeína. – ela assume sentando-se em frente a ele na mesa da cozinha.
— Que bom que eu vim preparado então. – ele brinca, mas a seriedade da situação os faz perder toda a alegria.
— Como estão todos e Oliver? Oh Deus, sinto tanta falta dele. – admite baixando o tom de voz sabendo que a qualquer momento os irmãos podem acordar.
— Desesperado! Ele queria vir Felicity, mas não podíamos arriscar ser visto neste período e foi uma coisa boa se pensarmos em com quem me deparei logo no primeiro segundo que pus os pés aqui.
— Eu diria que foi sorte do Tommy você aparecer.
— Mas não daqueles imbecis... – ele sorri maliciosamente recordando com orgulho de como subjugara os valentões – Eu só não consigo imaginar o que ele tenha feito para apanhar tanto.
— Tenho medo de dizer que é minha culpa e tenho ainda mais medo de pensar em quais mudanças encontrarei quando voltar. – assume escondendo o rosto entre as mãos.
— Felicity – Barry chama carinhosamente fazendo-a olhar para ele – essa é uma situação que fugiu do seu controle, não se sinta culpada por nada.
— Você tá certo eu sei que está certo, mas eu também sei que deveria ter evitado muita coisa e eu não fiz, e confesso tomei proveito desses meses para...
— Espera, meses? Felicity de quantos meses você está falando. – Barry indaga surpreso.
— Dois, quase três. – ela nota o amigo soltar o ar lentamente e estreita os olhos desconfiada.
— Quanto tempo se passou para vocês?
— Um pouco mais de dois dias, nós tentamos leva-la de volta assim que você se foi, mas não conseguíamos descobrir onde estava, por nossas teorias poderia estar em qualquer espaço de tempo e por experiência eu sei que o tempo é relativo, mas três meses... – ele se cala quando nota estar balbuciando loucamente e Felicity sente um estranho calor no coração, é apenas Barry, mas ela já sente como em casa estando com esse amigo desajeito e nerd como ela.
— Então me fala, como me encontraram.
— Não encontramos na verdade. – ele assume envergonhado e ela o encara com o olhar de mas você esta aqui agora – Foram as Lendas, tivemos que recorrer a ajuda deles, por isso demoramos, eles estavam um pouco ocupados no momento e Sara queria vir, mas não podia como deve imaginar, pelos mesmos motivos que Oliver.
Ela abre a boca para dizer que entende e está tudo bem quando um grito angustiado de Thea ecoa pelo apartamento. Ela corre para a sala e se depara com Thea desesperada debruçada sobre Tommy não percebendo que sua extrema atenção está o machucando ainda mais.
— Thea, não... – ela tenta tirar a menina que se agarra firmemente ao amigo – Você está machucando ele. – ela admoesta finalmente conseguindo afasta-la.
Ela olha para Tommy preocupada, seus hematomas ainda mais evidentes que na noite anterior.
— Tommy, Megan, foram eles não foram? E é tudo minha culpa. – Thea agora se agarra a Felicity escondendo o rosto em seu ombro – Eu sou uma idiota que faz tudo errado e agora eles machucaram Tommy.
— Não foi sua culpa. – é Tommy quem responde, a voz rouca e baixa.
— Tommy tem razão – Felicity alivia o aperto em Thea – eles são os únicos culpados. Céus Thea! - ela exclama irritada – Nada disso é sua culpa criança. – segurando Thea em seus braços seu olhar se cruza com o de Tommy que balança a cabeça em aquiescência.
— Como eu cheguei aqui. – ele pergunta após um breve silêncio.
— Você me disse como chegar. – é Barry quem responde.
— E quem é você? E o que está fazendo aqui? – Tommy indaga se voltando para Barry, Thea e Felicity fazendo o mesmo.
— Agora essa é uma história engraçada... – ele força um sorriso sem saber como sair da situação.
— Harry por coincidência te encontrou na calçada do prédio. – Felicity se apressa a uma desculpa enquanto recebe um olhar mortal de Barry.
— Certo, eu não me lembro disso, mas obrigado Harry, no entanto ainda não entendo o que está fazendo aqui. – Tommy diz desconfiado enquanto tenta se sentar.
— Aí é que está a história engraçada, eu estava procurando por Fe... Megan.
— Harry é um grande amigo e você não se lembra provavelmente por conta das pancadas e os remédios que tivemos que lhe dar. – Felicity explica ajudando Tommy a se estabilizar sentado no sofá – Está confortável? Sente alguma dor em algum lugar?
— É mais fácil eu dizer onde não sinto dor. – Tommy responde um pouco ríspido.
— Certo desculpe. – ela tenta se afastar, mas Tommy a segura pelo pulso.
— Não, Megan espera. Me desculpe, sempre fico mal-humorado quando estou com dor.
— Tudo bem, eu vou... Vou pegar um analgésico e preparar algo para comerem. – ela sorri minimamente aceitando as desculpas.
— Eu te ajudo. – Barry diz se pondo ao lado de Felicity e seguindo para a cozinha.
Ela está chegando na entrada da pequena cozinha quando houve Thea se desculpando com Tommy.
— Harry, sério? – Barry questiona indignado quando saem fora da visão de amigos, Felicity apenas revira os olhos antes de abrir a gaveta do armário.