MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 29
Capítulo 28 - O Segredo de Taya


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, como vocês vão?
Queria lhes dizer que as férias estão chegando por isso terei mais tempo para escrever. Tentarei compensar os meses sem escrever escrevendo mais OK?
E vamos lá! Precisamos começar uma contagem regressiva. Para quê? Você saberá quando ela terminar.

10...9...



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                                                                 CAPÍTULO 28

O SEGREDO DE TAYA

 

  Estava quente. Kira suava em sua roupa enquanto Harry caminhava ao seu lado, os dois montados em seus cavalos. O poder dele extravasava. O calor não apenas se fazia real quando ele formava aquelas brilhantes chamas. O calor irradiava dele. “Acho que, de acordo com os sentimentos dele, o calor se intensifica ainda mais”, concluiu Kira, “mas, o que ele está sentindo para irradiar tanto calor assim? Acho que é a adrenalina. Acho que ele não vive uma aventura assim há tempos”.

  Kira limpou o suor na testa com a palma da mão. Pelo canto do olho, Harry pareceu perceber, e abaixando os seus olhos, disse:

—Me desculpe!

—O que? Pelo que?

—Por esse calor. Me desculpe!

—Ah, não tem problema. – houve alguns segundos de silêncio. –Então...os seus poderes se manifestam de acordo com os seus sentimentos?

—Sim! Na verdade, todos os poderosos com poderes fortes o suficiente para destruir tem isso. Eu acho que sou um desses. – ele deu uma risadinha tímida.

—O meu irmão também. – disse ela. –Acho que é por isso que ele fez tanta destruição.

—Sim, isso é um fato! Eu sei o que é isso e por isso o defendi.

—Você já destruiu algo indesejado pelos seus poderes?

  Harry concordou, mexendo a cabeça em um movimento positivo.

—Quando era criança, quase queimei todo o quintal da minha tia.

—O que foi isso! – ela respondeu, rindo.

—Uai, eu não tinha a intenção! – ele também riu.

  Mais alguns segundos de silêncio foram o suficientes para a Corriqueira elaborar uma nova pergunta.

—E o seu irmão? Por que ele é tão...mal-humorado?

—Henry?! Ele estava com raiva. Seu temperamento é facilmente “incendiável”. – Kira riu pelo trocadilho.

—Então ele se irrita fácil? – o cavalo da jovem bufou, soltando um ar quente.

—Ele sempre foi assim, sabe? E o seu irmão, como é seu temperamento?

—Jackie? Bem, ele era bem humorado, sempre rindo e fazendo piadas. Acho que era uma forma de tentar esquecer o desaparecimento de mamãe. – ela fez silêncio.

—Lamento! – disse ele.

—Ela...ela era especial, principalmente para ele. Estava sempre com ele, e acho que, quando ela desapareceu, ele sentiu muita falta dela, muita mesmo.

—Como aconteceu? Quero dizer...se quiser, não precisa contar!

—Eu conto! Eu tinha nove anos e Jackie tinha três. Lembro-me que ela havia preparado uma enorme mala e se preparava para ir...ir para algum lugar em Tarinter. Lembro dos meus pais trancados no quarto, eu sentada do lado de fora, na porta, ouvindo os dois conversando sobre o assunto.

 “ ‘O que você quer  fazer lá Lena?’

  ‘Já lhe disse que não posso contar’

  ‘Por que? Lena, nós somos casados. Sempre contamos nossos problemas um para o outro e...’

  ‘Pare! Eu fui chamada para algo. Preciso ir logo para...’

 Eu simplesmente não me lembro do resto do assunto, mas sei que revelaram muito pouco. Depois, me recordo apenas dela indo embora e do meu pai me apertando bem forte e de Jackie chorando, mas eu sabia que...que ela voltaria. – Kira soluçou tristemente. –Mas ela nunca voltou!”

—Não precisa contar mais nada! – Harry olhou em volta à procura de algo que poderia usar para puxar um novo assunto, o que não demorou muito. – Estamos há algumas milhas da costa. A praia não está longe, e o portão está se aproximando. Acha que Jackie poderia ter passado por ele se...

—ESPERE! Repete o que você acabou de falar, por favor.

—Ahn...Está bem! Eu disse que estamos a algumas milhas da costa e chegando perto do portão para Tarinter...

—Sim! E se for isso. Como acabei de falar, mamãe foi para Tarinter. Já procuramos em várias cidades e vilas de Hangária Mindória e não o encontramos. E se ele tiver ido para Tarinter para...

—Procurar por sua mãe. É isso!

    Kira ria de alegria. Sua emoção era forte.

   Acima deles, os galhos fizeram barulho com um esquilo avermelhado que se aproximava para tentar entender o barulho de risada da jovem.

 

***

—Eu tenho poderes! – disse Jessie.

—O quê?  - Isaac deu uma risada irônica e disse: -Você está brincando comigo né? Você é uma Mutante.

—E também uma Poderosa.

—Isso é...

—Impossível? Claro que não! Acha que nunca pensaram em misturar os tipos de humanos? Eu sou uma Composta. Uma mistura de Mutante e Poderosa.

—Não sabia que isso podia acontecer. – disse Luke. – Mas então, qual é o seu poder exatamente?

   Ela hesitou, mas respondeu:

—Eu posso paralisar coisas e seres.

—Como fez com a criatura agora?

—Isso! – ela olhou para o chão, os cabelos ruivos escorregando e caindo-lhe como um véu sobre o rosto.

  O cheiro de madeira apodrecida tomou conta do lugar com ainda mais intensidade.

—Mas, eu tenho mais para contar! Eu preciso contar como cheguei até a casa de Inimigo. – nuvens cinzas  começaram a aparecer sobre o lugar, e o vento da manhã gritou em seus ouvidos. –Eu tinha uma família composta por quatro pessoas: eu, meu irmão Luke, minha mãe e meu pai.

—Espere! O nome de seu irmão é Luke?

—Sim! Acho que por isso gostava da presença de Luke. Além do nome, sua forma de agir lembrava o do meu irmão. – ela não conseguiu segurar algumas lágrimas. –Morávamos em Tarinter, o reino do norte de Andryleen. Um dia, uns guardas de Hangária Mindória invadiram a nossa casa e levaram o meu pai, afirmando traição para com o reino de vocês, e dizendo que para compensar isso, ele deveria trabalhar para a corte na capital da Província Mutante. Eu nunca mais vi ele e o seu sorriso, suas orelhas levantadas sempre como sinal de atenção e proteção à família, e...e a sua voz. – ela se deixou guiar pelo choro. Sua voz foi interrompida pelos soluços. –eu lembro de que chorava e gritava para eles largarem o meu pai. Gritava: “por favor, não o levem”, mas eles nem pareciam se importar. Bateram com tanta força nele que vi seu braço ficando roxo.  Então, eles levaram o meu pai para longe de mim. Fiquei com tanta raiva que fiz as chamas da lareira se  paralisarem ali. Devem estar lá até hoje. Foi então que descobri que tinha poderes.

   “Mas então, outro problema: uma ladra de vidas invadiu sorrateiramente o resto de nós que ficamos: A epidemia Mutante. Ela ceifou a vida da minha mãe e contaminou a do meu irmão. Não sabia como curá-los até que fiquei sabendo de uma erva que poderia e que ficava aqui, na Província Mutante. Minha mãe não resistiu a tempo, mas ainda havia tempo para o meu irmão. Fiz uma viagem até aqui, onde, sem conhecer o lugar, aceitei a ajuda de uma pessoa que parecia muito boa: Amigo. No inicio ele me ajudou, mas depois começou a e tratar-me mal até que ele chegou ao ponto de me aprisionar, como vocês sabem. Acho que com o tempo que demorei, meu irmão deve estar morto.”

   Isaac olhou para o chão, triste. Luke ficou sem palavras, e Taya também. A ruiva ficou com uma expressão de raiva e ódio no rosto, ao mesmo tempo em que seus olhos ficavam vermelhos. Havia lágrimas prontas a escorrerem para fora de seus olhos. Como alguém pode fazer algo tão ruim assim, aprisionar outra pessoa? Quem salvaria a raça humana da maldade dela mesmo? O amor que pode amar a todos.

  Um pingo caiu nas folhas aos pés deles. Depois outro e outro, e então começou a chuviscar. Foi então que todo o peso das lembranças caíram sobre Jessie e ela se deixou chorar. Limpou as lágrimas com a manga direita de sua blusa de manga comprida. Isaac, vendo aquilo, deu alguns passos à frente em direção a ela, mas, estendendo a mão, ela fez um sinal de “pare”.

  Ela virou para a criatura no chão. O que fariam com aquilo? Nem conheciam o bicho.

—Precisamos de algo para comer. – disse Isaac. – Como não conhecemos essa criatura, prefiro não comê-lo.

—Deixe que eu vá caçar. – disse Jessie.

—Então deixe que eu vá com você! – foi um susto. Jessie sabia que alguém diria isso, especialmente Isaac, mas dessa vez quem o pediu foi Taya.

—Bem...ahn...tudo bem! – respondeu Jessie, amarrando seus cabelos em um coque no alto da cabeça. – Vamos caçar.

—Tome essa espada! – ofereceu Isaac, mas Jessie rejeitou.

—Tenho meus poderes, e agora vocês já sabem que os tenho. Posso caçar bem mais rápido com eles! – justificou ela, e o jovem concordou.

  Ela começou a entrar na floresta, e Taya correu atrás dela, seguindo ao seu lado.

 

   A chuva penetrava do alto das árvores e ia em direção ao chão cobertos de galhos, grama e folhas. Ela as molhava, encharcando suas roupas. Taya caminhava com os olhos virados para o chão, enquanto Jessie olhava, opostamente, para o céu. Procuravam algo que pudessem comer.

—Então...como é ter poderes como os seus?

 Jessie continuou olhando para o alto, mas soltou um leve sorrisinho.

—Nem sempre é bom. Às vezes, Corriqueiros e Mutantes acham que é bom, mas, de acordo com meus sentimentos ou do calor do momento, posso fazer uma grande burrada, algo que não deveria fazer.

—Compreendo. – disse Taya. – Jessie, eu tenho algo para te contar. Na verdade, é um pedido.

—Sim, o que foi?

—Eu quero te pedir... – as palavras engasgaram em sua garganta. –perdão!

—Pelo quê?

—Acho que você chegou tão de repente neste grupo que fiquei com...com... – ela parecia não conseguir falar.

—Inveja! – completou Jessie, agora direcionando seus olhos para Taya, e descobrindo que, envergonhada, não conseguia nem olhar para ela.

—Me perdoe! Eles te tratam tão bem, que acho que fiquei com inveja. E via que Luke cuidava muito de você, e acho que fiquei com...ciúmes!

—Ciúmes?  - Jessie achou estranho, mas então compreendeu. –Ah! Você gosta dele?

  A loira apenas balançou a cabeça positivamente.

—Conheço eles desde pequena, principalmente Luke, e acho que ele sempre foi muito especial para mim. Eu...eu não sei o que dizer.

—Você parece não demonstrar muito bem isso! – afirmou Jessie, deixando suas orelhas altas para conseguir captar qualquer som de animal.

—Eu não consigo demonstrar meus sentimentos muito bem.  Já fui melhor e mais simpática, mas agora me sinto muito fechada.

—Mas ele demonstra!

—Você acha? – Taya perguntou, com um certo desânimo no rosto.

—Sim! Observe como ele cuida de você. Veja que ele cuida melhor de você do que cuidou de mim. Está sempre te consolando! – Jessie sorriu. – Acho que deveria contar para ele.

—Acho que não estou pronta. Sem falar que, mesmo que eu conte, que diferença vai fazer? – Taya sentiu a dor e a tristeza voltarem como um rio.

—Taya! – disse Jessie, vendo a menina ter o rosto tomado por uma feição de tristeza novamente. “Fala para ela! Diga! Abrace-a!”, Jessie ouviu como se alguém tivesse falado, e ela reconheceu a voz. Apenas Sou.

  Jessie chegou perto de Taya e a abraçou. A Mutante loira chorou, mas em um abraço que nunca havia recebido. Parecia que não era Jessie que estava a abraçando, mas outra pessoa.

—Ainda há vida quando você achar que está emocionalmente morta! – disse Jessie.

   “Eu sopro nova vida em você. Uma nova alegria!”, alguém pareceu cantar nos ouvidos de Taya e ela sentiu uma alegria nunca sentida antes tomando-a. Ela começou a rir como louca, e Jessie também. Esqueceram que estavam em uma caçada. Pareciam estar em um show de piadas. Suas risadas ficavam mais altas, mas a floresta parecia achar graça junto, e enquanto as folhas e árvores balançavam, os pingos caiam como palmas.

  Depois de um tempo assim, Jessie disse:

—É melhor caçarmos logo senão eles acharão que nós é que fomos caçadas. – elas riram mais um pouco, mas seguiram alguns metros há frente.

—Jessie, olhe aquilo ali! – ela apontou para frente e as duas puderam contemplar um cervo à beira de uma poça de água , bebendo dela.

—Deixa comigo! – respondeu a jovem Composta.

  Ela estendeu a mão e Taya viu o momento em que a criatura se paralisou na mesma posição, sem conseguir se mover mais. A língua da criatura não retornou mais para a sua boca, ficando na água, como que congelada. Não havia mais a pressão do ar nos pulmões da criatura. Ela ficou totalmente paralisada.

—E agora? – perguntou a Mutante.

—Está com fome? – perguntou Jessie.

—Sim! E acho que eles também! – respondeu ela sorrindo, notando a ausência total de sua tristeza, ocupada agora por uma nova alegria.

 

  Depois de comerem, Luke perguntou:

—Vocês viram Taya?

—Ela foi para o pequeno lago que Isaac descobrira perto daqui.

—Está bem! Obrigado!

  Ele ajeitou seus cabelos loiros e seguiu em meio às árvores. Aquela calça molhada pela chuva já estava incomodando-o, e suas asas encharcadas também. Ele sentia-se desprotegido e vulnerável com elas molhadas. Balançou-as um pouco tentando fazer mais água escorrer delas.

  Ele seguiu em meio às árvores. Pulou da rocha de pouco mais de um metro que atrapalhava-os de chegar ao lago, e logo viu as águas esverdeadas balançando algumas árvores à frente. Ouviu alguém cantar baixinho:

  “Se não consigo alcançar,

   Posso sonhar,

  O impossível assim conquistar.

  Sonhar é fonte de esperança,

 Desejo e mudança,

  E nesse ato sei que posso descansar”.

 Era Taya. Se lembrou dessa música, que a ouvia cantar desde pequena. Ele foi se aproximando.

—Taya?

  Ela parou de cantar imediatamente.

—Ahn...sim? Estou aqui!

  Ele se aproximou dela, e, de perto, pode ver que ela mantinha seus pés dentro da água e balançava-os levemente.

  Chegando perto, ele se assentou ao lado dela.

—O que está fazendo? – perguntou.

—Eu estava contemplando isso tudo. Me lembro do lago que ficava perto da plantação dos meus pais!

—O lago do senhor Langban? Aquele mal-humorado?

—Sim! – ela respondeu. –Ele era muito enjoado, mas eu gostava de me assentar à beira do lago e molhar meus pés lá!

—Mesmo sabendo que levaria uma bronca dele? – perguntou o jovem olhando para ela e sorrindo.

—Sim, mesmo assim! – ela respondeu rindo. Focou seus olhos no rosto de Luke, que agora olhava para o lago, distraído. Lembrou que, quando criança, o cabelo dele era três vezes mais claro, e agora, mais velho, seu tom de loiro estava mais escuro. Reparou também na penugem que se tornava barba, também loira, que ocupava seu rosto. Não era mais o mesmo rosto de criança, mas não deixava de ser bonito.

  De repente, ela sentiu algo passar pelos seus pés. Não se controlou e soltou um grito.

—O que foi? – perguntou ele.

—Acho que foi um peixe! – ela respondeu, sorrindo.

—Que susto Taya! – ele respondeu.

  Ela não conseguiu segurar o riso. Depois, voltou a colocar os pés na água. Ficaram um tempo à beira da água em silêncio.

 Depois de um tempo, ouviram a chuva cair novamente. A água saltava em vários pontos à medida que os pingos tocavam-na. A chuva produzia um barulho que acalmava-os.

—Ahn...Luke!

  Ele parecia novamente distraído, olhando para as árvores do outro lado do lago, mas mesmo assim respondeu:

—Sim?

—Eu...eu tenho uma coisa para...para te contar! – ficou com medo de que a voz falhasse, mas na verdade ela já estava falhando de medo. Ele olhou para ela com cuidado, os olhos um pouco fechados para protegê-los da luminosidade. Mas ela só conseguia olhar para a água.

—O que foi?

  Hesitante, ela respondeu devagar:

—Eu queria te dizer que eu...ahn...- ela olhou para a água como que buscando mais força. –Eu gosto de você!

—O quê? – ele perguntou, meio confuso.

—Já faz um tempo que sinto algo diferente por você, mas nunca fui capaz de lhe revelar ou mesmo demonstrar isso! – ela corou. –Eu acho que estou apaixonada...por você!

   Ele ficou alguns segundos em silêncio, sem reação. Mas, depois reagiu. Levou sua mão esquerda até o rosto dela e a fez olhar para ele. Quando os olhos dela se encontraram com os dele, ela sentiu...amor!

—Eu também! – ele respondeu.

  Aproximando seu rosto do dela, deixou que seus lábios tocassem os dela. A chuva pareceu cair um pouco mais forte. Ela envolveu o pescoço dele e com seus braços e sentiu ele a envolvendo-o em um abraço. Depois, afastando seus lábios dos dele, contemplou um pouco mais seus olhos azulados, e em seu rosto, uma expressão de alegria, enquanto ele tentava disfarçar um sorriso.

—Eu te amo! – ele disse.

—Eu também! – ela respondeu.

  A loira voltou a beijar o Mutante, enquanto a chuva caia.


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Notas finais do capítulo

#Lukaya? O que acham?
A propósito: ...8...7...