MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 27
Capítulo 26 - Um Amor Que Pode Amar à Todos


Notas iniciais do capítulo

Há quanto tempo, exploradores de mundos misteriosos!!!!
Estou organizando uma parte da história, mas relaxem porque não vou parar de escrever. Superando a minha preguiça, postei esse novo capítulo (rsrsrs). Espero que gostem...



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CAPÍTULO 26

UM AMOR QUE PODE AMAR À TODOS

 

—Aquelas lá são as três Marias! – disse Kira, sua voz fina de criança.

—Aquela lá é a Ursa Maior! – comentou Lorde Haland, seu dedo apontando para um dos pontos brilhantes que enfeitavam o escuro céu, como lanternas na escuridão.

 A pequena menina pode sentir uma paz que vinha junto com a visão do céu. Seu rosto expunha um pequeno sorriso.

—Mas, eu achava que aquela era a Ursa Menor! – disse ela.

—O quê? – disse o pai da menina, identificando que ela tinha razão. –Então...Ursa Menor! Foi o que eu disse.

—Não foi, não! – disse a menina rindo, fazendo o pai fazer o mesmo.

 Alguns segundos de silêncio pairou no ar.

—Papai!

—Sim...

—Por que a mamãe quis viajar sozinha? Ela sequer levou o Jackie, como sempre faz.

—Bem, sua mãe tem algumas coisas para resolver. Você sabe como ela teve uma criação difícil...

—Ela nunca falou nada sobre a criação dela.

—Assim também, não falou nada para mim. Acho que ela foi criada em meio à Mutantes e têm vergonha de contar isso.

—Mas, qual é o problema? Não somos todos humanos?

—Ela tem vergonha ou mesmo medo, não sei te dizer. – ele disse, seus braços envolvendo a pequena filha, que se ajeitou de forma que o gramado pinicasse menos.

—Será que ela fez alguma coisa ruim no passado? Ela não é ruim como esses doidos!

—Kira, você precisa entender que o passado de alguém não importa quando o seu presente é mudado e seu futuro é guiado à um novo caminho! – ele disse, fazendo sua barba se mexer por sobre o peito. –O passado pode ter sido marcado por algo, mas o que marca o presente pode ser diferente. Alguma coisa pode ter a transformado em uma nova pessoa.

—Mesmo se ela fez algo ruim no passado?

—Principalmente se ela fez algo ruim no passado, afinal, para ser mudado, você precisa adquirir um novo entendimento de tudo. Sendo assim, você passa do mal para o bem.

  A pequena menina ficou alguns segundos em silêncio, pensando naquela inundação de pensamentos. Sua mente tentando compreender o que o seu pai disse. Era contra tudo o que ela compreendia. Alguém que tenha feito alguma coisa ruim no passado vai continuar a fazê-lo. Mas seu pai dissera que algo poderia mudar essa realidade.

—O que poderia tê-la mudado?

—Um grande amor! – ele respondeu.

—O seu amor! – a menina gritou, alegre por ter descoberto a resposta.

—Não! Um amor muito maior. Um amor que pode salvar o mundo. Um amor que pode amar todo mundo!

—Isso é muita gente. Mas eu ainda não entendo...

—Um dia você vai entender, querida, não se preocupe. – ele sorriu para ela.

 Um pequeno gemido veio de trás deles. Ao se virarem, um pequeno menino andava com dificuldade até eles. Era Jackie.

 O pai pôs-se sentado e fez sinal como se para o menino vir até eles. A ama, na porta da varanda que dava para o jardim no terraço do castelo (onde eles estavam), olhou sorridente para o menino.

—Venha cá, Jackie! – disse o pai. O menino se aproximou e foi abraçado pelos braços do pai. Um vento gelado percorreu o ar, fazendo Kira se arrepiar. Lorde Haland viu isso, e a abraçou. O calor de seus braços esquentou-a, junto ao seu irmão.

 

 Kira abriu os olhos. Lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto. Essa lembrança trouxe-a à emoção. Limpou seu rosto com o dedo indicador da mão direita. O frio fez ela se encolher, sozinha, debaixo da árvore pintada pela luz da lua. Sua mente ainda pensava nas palavras que ele lhe dissera. “O amor pode salvar o mundo”.

 Que amor seria esse? Quem a amava mais do que o próprio pai? Ela teria que descobrir. Um amor que pudesse salvar o mundo.

 Passos puderam ser escutados. Ela olhou bruscamente para trás e viu Harry se aproximando. Seus cabelos ruivos brilhando na escuridão. Ele se sentou ao seu lado.

—Frio?

 Ela respondeu mexendo a cabeça positivamente. Ele percebeu as lágrimas, mas sem querer incomodá-la, ficou em silêncio.

—É lindo, não acha? – a jovem perguntou.

—O quê? O céu?

—E as estrelas. Olha aquela ali! Viu? – ela apontou para uma delas. – São as três Marias.

—Acho que aquelas ali são o Cruzeiro do Sul. – ele respondeu, sua mente resgatando de sua memória os nomes.  A jovem sorriu. –E aquela ali?

—Aquela ali é a Ursa Menor! – ela deixou mais algumas lágrimas saírem de seus olhos.

—Achava que era a Ursa Maior! – ele respondeu, pensativo.

—Eu também! – ela escondeu o próprio rosto entre as pernas.

—Ei! Está tudo bem? o que aconteceu? – ele perguntou, um tom de preocupação.

—Nada! O que você acha de um assassino?

—Ainda pensando no seu irmão?

—Agora em outra pessoa, mas também nele.

—Acho que um assassino, que o fez querendo, deve morrer. Morrer pela vida que ceifou!

—Mas, por que, se ele pode mudar?

—Como assim mudar? – ele pareceu curioso.

—Bem, um dia, alguém muito importante me disse que não importa o que as pessoas foram no passado, se algo as muda no presente e as guia à um novo caminho no futuro!

—Então você quer dizer que algo pode mudar alguém tão ruim assim?

 Ela hesitou por alguns segundo, mas respondeu:

—Sim!

—E o que pode fazer isso?

—Amor! Mas não um amor qualquer, como um romance, mas um amor que pode amar à todos.

—E quem nos amaria assim?

  Ela pensou. Ficou em silêncio. Seu pai disse que um dia ela saberia, entenderia, mas aquilo ainda não havia acontecido. Quem faria aquilo?

—Não sei. Deve ser alguém que realmente se importa conosco.

—Nos amar? Com tanta maldade assim?

—Um pai não deixa de amar o seu filho pelas coisas que ele faz. Ele ama pelo que ele é: seu filho. – ela deixou isso escapar de sua boca, surpreendendo a si mesma.

  Harry pareceu parar e pensar nisso. Sua visão perdida nas estrelas demonstrava aonde sua mente ia, pensando nisso. Ela percebeu que os olhos avermelhados dele brilharam na escuridão. Seus cabelos pareciam chamas paradas que não cessavam seu brilho. Ela percebeu que não precisava se encolher mais do frio: um calor a esquentava, como o daquele dia em que também o sentiu junto com Dylan. Mas, o que seria aquilo? Não poderia ser Harry, pois ele não estava lá naquele dia nem Dylan porque não estava ali naquela hora. O que seria?

  Ela apenas deitou-se na grama. Preferia acreditar que, independente de que calor fosse esse, apenas a estava ali para lhe proteger. “É o calor das estrelas”, ela pensou.

 Fechando os seus olhos, agora o calor lhe cercando, parecia que algo a consolava. Suas lágrimas sumiram. Por alguns minutos, parecia ter esquecido Harry e o vilarejo. Era como se tivesse sido arrebatada, levada para as estrelas. “Paz!”, ela pensou. Agora, as lágrimas já não eram de tristeza, mas de alegria. “Há alguém que me ama”.

 

 Uma velha senhora havia hospedado Kira naquela noite, a pedido de Harry. Agora, com a luz do sol entrando pela janela, a jovem acordara. Seu cansaço se fora e ela já estava pronta para procurar Jackie. Ela tinha que achá-lo.

  Afastou as cobertas de cima de si mesma. Lentamente, sentou-se. Sua capa e suas armas estavam ao lado da cama. Seus olhos olharam para aquilo pensando no que havia acontecido na noite anterior. “Um amor que pode amar à todos”.

  Quando seu pés tocaram a madeira sem temperatura, logo sentiu a irregularidade do piso. Pôs-se de pé, seus olhos olhando para a janela, sua visão captando a floresta do lado de fora. Ela andou lentamente até as suas roupas, que estavam dobradas levemente ao lado da porta, no chão. Colocou a calça por cima da simples bermuda que usava. Sua blusa cor preta com o sobre tudo pesou sobre ela, mas já estava acostumada. Aproximando-se da cama colocou a capa e as armas. Ela olhou que ali estava, no chão, ao lado da cama, o seu cordão do dente da fera. Ela abaixou-se e o pegou, colocando-o.

 A jovem abriu a porta de madeira lentamente. Não queria fazer barulho, para não acordar a dona da casa. Ela seguiu pelo corredor simples e escuro lentamente, o chão fazendo barulho à medida que andava. Quando já estava na porta, um ruído veio de trás dela. Era o neto da mulher, um pequeno menino de cabelos negros e olhos castanhos.

—Para onde você está indo?

—Embora! – ela respondeu, desconfiada.

—Sem a vovó saber?

—Não quero incomodá-la.

—Mas...

—Diga à ela que agradeço a hospitalidade e que ela é muito boa. Dê-lhe também o meu “adeus”.

  O menino não respondeu mais nada, mas ficou ali, plantado no corredor, olhando sério para ela.

 Quando ela abriu a porta, o ar gélido da manhã veio de encontro ao seu rosto descoberto. O sol parecia perder a timidez e começar a se expor para o mundo. Ela, pondo os pés na rua, fechou a porta lentamente e seguiu em direção à rua principal.

  Ela andou, os raios tímidos do sol lhe tocando. Quando chegou a rua principal, olhando para a esquerda, viu o caminho de onde ela veio e a torre da cidade. Do outro, o caminho dava para um amontoado de altos pinheiros para onde ela tinha que ir.

  Ela seguiu em direção aos pinheiros. A rua estava silenciosa, pois ela havia acordado cedo, mas algumas pessoas já levantavam para seus trabalhos matinais.

  A jovem andava mais rápido. Não podia perder nem um segundo. Enquanto caminhava, sentia o dente-da-fera lhe espetar, mas ela não se incomodava, afinal, aquilo fazia-lhe lembrar que ela podia conseguir quase tudo o que quisesse.

De repente, ela entrou no amontoado de árvores, os pinheiros lhe cercando e lhe impedindo de ver o que havia além deles. Eles eram altos e apontavam para o céu, os seus troncos enfeitados com arbustos e flores. 

—Para onde acha que está indo sem avisar? – uma voz veio de trás dela. A jovem se virou e se deparou com Harry, seus olhos irradiando chamas, enquanto segurava dois cavalos.

—Bem, embora! Tenho que achar o meu irmão.

—Tome! Vá com o cavalo. Ele vai fazê-la chegar lá mais rápido.

—Ele é de quem?

—De um homem da cidade, mas ele não se incomoda, contanto que você não o machuque.

  Ela se aproximou do animal acinzentado. Tocando o seu focinho, o bicho pareceu um pouco incomodado, mas não ligou muito. Kira analisou-o cuidadosamente enquanto amarrava seus cabelos castanhos. Então, seus olhos se desviaram para o segundo, que era negro e muito escuro.

—E esse é de quem?

—Meu, é claro! – Harry respondeu. –Tenho certeza que vai querer ajuda em encontrar o seu irmão.

 Kira deixou que um pequeno sorriso se desenhasse em sua face.

 

***

 

  Já era noite na capital, e o frio noturno que se espalhou em Hanrraá não impediu Antony de chegar à casa de Horuan, o professor dos jovens reais, filhos de lordes e pessoas importantes.

  Ele bateu na porta de madeira, marcada. O cheiro das árvores da floresta oeste da área real da capital penetrou em suas narinas. A neblina caia lentamente, deslizando pelo ar calmo. Ela parecia trazer à mente de Antony lembranças da infância, pois sua memória começou a resgatar pensamentos já esquecidos há algum tempo.

  Um barulho ecoou em meio às árvores e Antony olhou para a porta, que se abria para apresentar-lhes um homem que demonstrava cansaço. Seus olhos adornados de olheiras demonstravam, junto com suas pesadas pálpebras, que ele pretendia dormir.

—Sim! Posso ajudar, seu guarda? – ele perguntou.

—Sim, você pode! Mas tem que ser lá dentro de sua casa. – disse Antony, já entrando no local, mas parou quando sentiu algo picando seu abdômen.

—Quem é você e o que quer aqui, estranho? – perguntou Horuan, ameaçando enfiar a adaga em sua barriga.

—Calma!  Sou um enviado da rainha e...

—Como posso ter certeza de que você não é o assassino tentando me fazer de vítima?

—Você é um professor de guerra! Tem armas na sua casa.

—E você é um assassino! Como posso saber o que esconde? – ele perguntou, pressionando a lâmina um pouco mais forte contra o homem.

—Eu não sou um assassino!

—Então o que é?

—Um espião da rainha! – Antony respondeu, balançando sua cabeça.

  Horuan ficou parado por alguns segundos ali. Poucos conheciam a existência de espiões trabalhando para a rainha na capital.

  Com uma expressão indecisa, ele disse:

—Certo! Entre!

 Ele abriu passagem, e o espião entrou no local. Seus olhos castanhos deslizaram por sobre o local, que era bonito e detalhado, banhado pelas luzes de tochas nas paredes.

—Me desculpe! Não quero acender a lareira. A fumaça pode chamar a atenção do assassino. – Horuan explicou. – Sente-se!

  Antony se sentou em um banco de pinheiro com detalhes entalhado em seu encosto.

—Então, o que queres aqui? – perguntou o mestre.

—É sobre o seu aluno Aaron!

 O mestre inclinou sua cabeça para trás levemente.

—O que ele fez?

—Então você tem um aluno com esse nome! – disse Antony, mais afirmando do que perguntando.

—Bem, sim! Mas não sei quem ele é exatamente. Fui descobrir seu nome recentemente, por um acaso, em que não sabia como chama-lo e ele me disse seu nome!

—Aaron é filho de Lorde Mut. Dankgan! – disse Antony, sério. –Este, suspeito de assassinato.

  Horuan pareceu se perder em pensamentos em alguns segundos, pasmo com o que Antony dissera.

—Mas, não tem como Lorde Mut. Dankgan ser o culpado das mortes! Ele está na capital da Província Mutante!

—Por isso há a suspeita dele ter usado Aaron para assassinar as vítimas. Aaron chegou recentemente, quase no mesmo tempo em que os assassinatos começaram.

—Espere! Aaron é Mutante?

—Sim!

—Qual a sua mutação? – O mestre perguntou, já atordoado.

—Não sabemos! O pai tem orelhas pontudas.

 Horuan pensou mais um pouco.

—Bem, Aaron tem cabelos que lhe batem nos ombros.

—Acha que é para disfarçar suas orelhas pontudas? – indagou o espião, como se para si mesmo. –Você nunca viu outra indicação de mutação nele?

—Deixe-me pensar... – disse Horuan, sua mente resgatando lembranças. –Não sei.

—Nada?

—Bem, acho que não...Ah! Ele sempre está de luvas! – o homem disse triunfante.

 Olhando para o chão, pensando, Antony respondeu.

—O escrivão da rainha afirma que viu o assassino encapuzado e suas mãos eram escamosas...

—Eu sei.

—O quê? – perguntou Antony, Horuan atrapalhando seus pensamentos com essa fala.

—Eu estava lá, no dia da decisão da rainha. – ele sorriu irônico.

—Ah, sim! Claro! - Antony sorriu. –E como é o comportamento dele?

—Ele é quieto e muito inteligente. Não muito bom nas atividades práticas. –informou Horuan. – Nada para um assassino, imagino!

—Nunca se conhece um assassino apenas pelo comportamento. Geralmente, possuem comportamentos variados.  –Antony continuava meditativo. –E como é sua relação com os outros colegas? Molly, sua aluna,  foi encontrada morta hoje...como era a relação dele para com ela?

 Horuan coçou sua barba negra, que fazia um contraste com sua pele morena.

—Bem, fui informado algumas horas atrás da morte de Molly...Muito triste! Mas, como disse, ele é quieto. Não fica falando com os outros colegas, nem se relaciona muito. –Horuan paralisou-se por alguns segundos – Edward, o melhor amigo de Molly! Ele costuma implicar com Aaron, mas Aaron, às vezes, responde sarcasticamente.

—Como assim? Você quer dizer que Edward implica com o jovem suspeito? E que horas depois, sua amiga foi encontrada morta?

—Bem, sim!

—Isso é suspeito!

—O senhor aceita uma xícara de chá, senhor Antony? – ofereceu Horuan, mas sua oferta fora negada educadamente.

 Os olhos castanhos do homem se perderam na madeira que compunha o chão da casa de Horuan. Ele parecia tentar conectar tudo em sua mente de forma que conseguisse condenar o jovem Aaron.

—E como era a capa dele? Ele costuma usá-la em horário de aula? – perguntou o homem para o professor.

—Se refere à capa encontrada? – Horuan pôs-se a pensar logo quando Antony concordou com a cabeça. –Bem, não posso afirmar, mas acho que é muito parecida com a capa dele!

 Antony ergueu os olhos interessado no que ele disse.

—Então, há a possibilidade de a capa ser dele?

 Horuan hesitou em responder, mas concordou.

—Sim! Acho que sim!

—Só mais uma pergunta. – disse Antony. –Você sabe onde ele pode estar hospedado aqui na capital?

 O mestre pensou um pouco.

—Acho que é com Lorde Clifys! É, acho que sim. Ele comentou alguma coisa sobre.

—O lorde que está defendendo os mutantes de serem condenados? Aquele que acha que o assassino não é Mutante apesar de todos os indícios que provam o contrário?

—Sim! Ele estar hospedado em um dos quartos do castelo dele.

 Antony se levantou bruscamente. Lorde Clifys era um dos suspeitos. “Aaron, Lorde Mut. Dankgan e Lorde Clifys. Quem mais será suspeito?”

—Muito obrigado pela ajuda, mestre Horuan! Tenho que ir!

—Já? Tem certeza que não quer um chá, café, suco, algo? – Horuan perguntou, mas sua pergunta foi negada.

—Adeus, mestre! – Antony foi até a porta, mas ante que pudesse abri-la, um barulho veio do andar de cima da casa. –O que foi isso?

—Apenas um hospede da minha família! – afirmou o professor, sorrindo como para disfarçar.

Antony hesitou, mas então abriu a porta, acreditando no homem. O clima continuava frio do lado de fora da casa, e uma névoa se espalhava lentamente pela floresta. Isso fez com que  Antony apalpasse a sua cintura, conferindo se sua adaga estava lá para caso houvesse um ataque surpresa do assassino.

 Ele olhou para trás e se despediu novamente com um gesto do mestre. Então, seguiu pela floresta silenciosa. Quando estava apenas uns cinquenta metros da casa, a luz das tochas da moradia ainda brilhando e iluminando as árvores, a porta se fechou. “ Horuan entrou dentro de casa”.

 Antony virou-se para trás. a porta fechada permitiu-lhe voltar lento e silenciosamente até perto dela. Encostou os seus ouvidos na porta e ouviu mestre Horuan conversando com alguém.

—Você sabe que se descobrirem você aqui, você vai ser expulso ou até mesmo morto! Ninguém pode saber da sua presença aqui, ouviu Charles? Ótimo! Cuidado com eles, principalmente agora que temos certeza que há espiões trabalhando para a rainha por aí!

 Antony tirou seus ouvidos da porta. Havia alguém ali, mas ele não podia simplesmente pular para dentro da casa. Se fosse o assassino, precisava de provas para que ele fosse castigado. Então, ele desencostou os seus ouvidos da porta e, andando lentamente, olhou a porta da casa uma última vez. Depois, virou-se e seguiu reto pela floresta com as novas descobertas que havia feito no local.

 

ALGUMAS HORAS ANTES...

Antony andou até o amontoado de gente, perto do campo de flores da capital. Vários guardas, entre outras pessoas, cercavam algo. Ele começou a abrir caminho, tocando as pessoas, algumas saindo sozinhas, parecendo se controlarem para não vomitar.

 Quando ele chegou ao centro do pequeno amontoado de gente, sentiu o seu coração bater mais forte. O corpo de uma jovem estirado no chão em meio à uma poça de sangue. Seu rosto lhe parecia familiar, e com alguns segundos, compreendeu à quem se referia: “É filha de algum Lorde!”.

 No meio do círculo, um guarda estava agachado, parecia olhar para algo. Um mulher usando um vestido esverdeado grande e chique parecia estar chocada com algo, e tapava as narinas do cheiro ruim que subia do corpo morto. Ela usava uma coroa em sua cabeça e olhava para o chão, logo para a coisa ao qual o guarda agachado também observava. Era a rainha. Antony esticou o pescoço fazendo um esforço, e logo o seu olhar encontrou com o que chamava a atenção. Uma valeta rasa fora feita em formato de “M”.

—A culpa é minha! – alguém gritou em meio a multidão. A voz masculina era jovem. –Eu deveria estar com ela aqui, para ajuda-la a superar a perda de seu pai, mas, ao invés disso, permiti que ela fosse levada também.

 A rainha se levantou e foi até o jovem que estava pouquíssimos metros atrás dela.

—Edward, a culpa não foi sua! Você não poderia prever que isso iria acontecer...

—Por isso mesmo que eu deveria estar aqui! Não poderia saber que algo ruim fosse acontecer. Para evitar isso, tinha que estar aqui!

—Ah, Edward, meu jovem! Eu também passei por isso! – ela se aproximou do ouvido do jovem. –O rei, ao qual eu amava muito, também morreu. Dói, mas vai passar.

—Mas você não tinha culpa! Eu tenho e...

  Antony desviou sua atenção para o corpo, esquecendo o consolo da rainha para com o jovem. Uma faca pintada de vermelho pelo sangue estava caída no chão em meio à poeira. O guarda tocou na faca levemente, e sua mão se manchou com o sangue.

  De repente, um guinchar de cavalo veio de trás da multidão. Todos se viraram. Os olhos da rainha se dirigiram para trás, e só então viu Antony ali, mas não disse nada. Sua feição de surpresa já foi ótima e disse tudo.

 Então, o dono do cavalo abriu caminho em meio às pessoas. Elas foram abrindo caminho até que um homem vestido com roupas bem caras, com uma barba levemente grisalha e rosto já meio envelhecido, chegou ao centro.

—Vossa Majestade, minha Rainha Mariany!

—Sim! – ela disse, séria.

—Trago uma noticia de um lorde muito importante: Lorde Hemisford! Ele pede que a rainha e as pessoas mais importantes do reino se reúnam na sala do trono, onde quer contar publicamente uma coisa que descobriu sobre...aquilo! -ele mexeu a cabeça em direção do corpo.

—O nome dela é Molly! Respeite-a! – disse Edward, furioso.

—Me referia aos assassinatos! Ele afirma que viu quem é o culpado, mas quer contar publicamente a descoberta!

—Por que? – perguntou a rainha disfarçando sua curiosidade com uma feição de seriedade e desinteresse.

—Não sei! Eu, como mensageiro dele, apenas recebi este recado.

 A rainha pareceu se perder um pouco em seus pensamentos, mas então concluiu:

—É claro! Ordene que todas as pessoas importantes e que estão na Área Real da capital se reúnam na sala do trono.

 Neste momento, outra pessoa entrou no centro do círculo.  Era Dylan. Ele correu até Edward e o abraçou, seu amigo caindo em prantos. Só então Antony observou que as mãos de Edward estavam manchadas de sangue. Ele deveria ter tocado na jovem.

—Rainha! – um guarda veio com uma capa escura nas mãos. –Achamos a capa de alguém em meio às flores. 

  A rainha pareceu um pouco assustada.

—Perece com a de Molly? – ela perguntou, mas após alguns segundos pensando, Edward respondeu negativamente. – Será do assassino? Guardas, quero que descubram quem possui capas parecidas com essa. Agora, ou pode ser tarde demais para outras vidas!

 

  As várias pessoas que se reuniram na sala do trono estavam assentadas em seus devidos lugares. Todas assentadas nos detalhados e caros bancos de madeira que foram construídos uma fileira maior que a outra, de forma que a anterior fosse mais alta que a da frente, como em um estádio de futebol. Isso acontecia por várias fileiras de andares.

  Doze bonitos tronos eram divididos, seis para um lado e outros seis para o outro. Eles eram divididos assim para que seis lordes se assentassem de um lado da rainha e outros seis do outro. 

  E, o mais chamativo de tudo, o trono lindamente construído sobre uma elevação: o trono da rainha. Todos  já estavam assentados em seus devidos lugares quando um porta-voz começou a falar alto:

—Reunidos aqui a pedido do Lorde Hemisford, viemos ouvir algo descoberto por ele, ao qual, ele promete contar, mas somente em público. Por tanto, recebam Lorde Hemisford.

  As portas do salão se abriram e um homem entrou, seus pés ligeiros. Vestido com roupa militar, o Lorde que provavelmente nunca havia lutado em uma batalha, entrou no salão. As pessoas ficaram de pé para recebê-lo, que, com o rosto extremamente sério, ainda demonstrava certa hesitação em relação ao que contaria.

—Boa noite, Vossa Majestade, Lordes e todo o restante das pessoas reais. Vim aqui – ele forçava a voz para lhe fazer ficar alta – para compartilhar algo descoberto, que, admito ser o fim do mistério. Com isso, todos saberão qual é a identidade do assassino. – ele parecia estar suando. –Queria contar-lhes publicamente para que todos soubessem de vez quem é esse assassino...

—Então, conte-nos, quem é! – ordenou a rainha, e todos pareciam estar interessados.

 O homem olhou para a rainha, sério. Ele ficou um tempo daquela forma.

—Conte logo! – gritou a rainha Mariany, mas ele não respondeu. –Conte!

  Mais uma vez o silêncio reinou, mas o olhar do homem expressava hesitação.

—Fale! – ordenou a rainha mais uma vez, mas ele não respondeu. –Ah! Achei que era verdade! Guardas, levem ele para fora daqui!

  Dois guardas se aproximaram lentamente dele. Quando o primeiro tocou-lhe o braço, Hemisford caiu de joelhos.  Os guardas se afastaram com medo. E então, o resto do tronco do homem foi de encontro ao chão, enquanto sangue escorria de sua boca.


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Notas finais do capítulo

Eu tive um trabalhão para escrever o maior capítulo dessa história até agora. Um comentário pequeno não vai te cansar. Escrevam o que acharam do capítulo, please! É rapidinho...