MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 26
Capítulo 25 - Erva Laranja


Notas iniciais do capítulo

Se me permitirem, pegarei o apelido de um dos meus leitores: Eu Voltei! (não morri, tô vivo!)
Esse é um capítulo simples, mas espero que gostem. E se preparem porque vai vir muita coisa boa por aí, hein!



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                                                              CAPÍTULO 25

                                                     ERVA  LARANJA

 

Taya! – gritou Jessie. A jovem conseguiu ver a mulher, dona da hospedaria, retirar uma pequena adaga prateada de detrás do balcão. Ela apontou para Taya, denunciando a sua pouca experiência com a arma.

 Jessie sentiu-se ficar pálida, enquanto uma mistura de frio e calor percorreu todo o seu corpo. Sua barriga chegou a roncar de medo, não pelo que a mulher pudesse fazer em sua defesa – e todos ali sabiam que o quarteto era bem mais forte que ela – mas pelo segredo agora exposto para uma Corriqueira, podendo ser revelado para qualquer um.

 Mas, o que mais assustou foi o que aconteceu em seguida. Taya pareceu deixar de existir, como se outra coisa tomasse o controle de seu corpo. Seus olhos se tornaram como os de um lagarto, fazendo com que as pupilas se transformassem em simples riscos compridos. Em sua boca, presas enormes tomaram o lugar de seus dentes humanos. Jessie sentiu-se tomada por uma tontura. Sua cabeça girou enquanto uma pontada estranha de dor tocou-lhe a cabeça quando viu a jovem daquele jeito.

 Taya sentiu-se como se caísse em um sono, não sentindo mais nada. Era como se outra coisa tomasse o controle sobre ela, dando-a um tempo para descansar. Em sua pele, escamas esverdeadas se espalharam lentamente. Ela pulou sobre a mulher, que caindo assustada no chão, se arrastou para trás. Mas a Mutante olhou-a com os olhos mais selvagens e assustadores que ela já vira, espumando pela sua boca.

 Jessie, cambaleando e andando lentamente – por causa da capacidade de andar recém-recuperada -, foi até a porta do quarto dos meninos. Levantou a mão e bateu na porta, desesperada por ter deixado a mulher e Taya – ou qualquer outra coisa como Taya -. As vozes dos dois puderam se escutadas, e Jessie bateu mais vezes, ouvindo os sons dos gritos da mulher. Antes que pudesse parar de bater, Luke abrira a porta. Parecia estar terminando de colocar uma camisa. Seu rosto aparentava estar sério, principalmente ao ver o desespero de Jessie.

—O que foi?  Ouvi os seus gritos!

—Taya...mulher...descobriu! – Jessie disse, rapidamente, mas foi o suficiente para que o jovem compreendesse.

 Ele correu até a escada. Isaac, logo atrás, seguiu o amigo. Chegaram a tempo de ver a mulher, já cheia de cortes, soltar um grito de dor com mais um corte que Taya lhe proporcionara com suas enormes unhas, manchadas de sangue.

  Luke desceu voando – só forma de falar – as escadas. Quando chegou ao pé das escadas, correu até Taya, que pareceu nem ter o percebido ali. Sua atenção se mantinha na velha senhora. Ele pulou sobre ela, segurando-a pela cintura e puxando para trás, a afastando-a da mulher, que caía aos prantos , enquanto os cortes ardiam pelo ar gelado. O sangue escorria de suas feridas. Sua adaga já estava a metros dela.

 Isaac desceu rapidamente as escadas e tapou a boca da mulher, antes que ela pudesse gritar por socorro. Ela se debateu nos braços dele, mas ele a apertou ao máximo para ela não gritar.

 Taya tentou pular em cima da mulher, gemendo como uma fera. Luke segurou-a com o máximo de força possível, mas não conseguiu contê-la. A jovem conseguiu escapar dos seus braços, pulando em cima da mulher. Ela estendeu suas garras, enquanto Isaac arrastava a Corriqueira para trás, mas Taya conseguiu acertá-la com suas garras, que agora pingavam um estranho líquido esverdeado. A mulher soltou um grito, abafado pelas mãos do jovem que a segurava.

  De repente, Taya caiu ao chão, voltando ao normal. Ela olhou para a mulher e para a ferida terrível em sua perna que se destacava em meio aos outros cortes. A vermelhidão assustava. Os vasos sanguíneos do local estavam salientes, podendo se ver destacado na pele.

—O que eu fiz? – disse a jovem, deixando-se cair aos prantos, com medo de si mesma.

—Calma Taya! – Luke aproximou-se dela e tocou seu ombro. Ao toque, a menina se encolheu. –Calma Taya! Está tudo bem.

 Jessie desceu as escadas lentamente. Seus passos lentos, seus pés ainda se readaptando a andar. Sentia pontadas súbitas de dor, mas ainda assim desceu.

 Quando chegou ao pé da escada, viu que Isaac olhava com olhar sério para Taya. Seus olhos expunham algo silencioso. Jessie se aproximou da mulher e se ajoelhou ao lado dela, observou a estranha ferida. A mulher se debatia, mas Isaac ainda a segurava. Jessie observou que os olhos avermelhados da mulher lacrimejavam. E sangue saia de seu nariz.

—Isso não é simplesmente um liquido esverdeado... – ela se interrompeu e observou o olhar deles sobre ela. Ela hesitou, com seu olhar preocupado em seu rosto, em revelar o que havia acabado de descobrir.

—O que isso é? – indagou Isaac. Ela olhou para o rosto dele, e depois direcionou o seu olhar para o rosto choroso de Taya, que temia o que ela fosse falar.

—Isso é...isso é peçonha!

—O quê? – exclamou Luke, enquanto a mulher se remexia ainda mais nos braços de Isaac ao ouvir o que a Mutante dissera.

—É um tipo de veneno que se encontra em certos animais e...Mutantes!

 Taya sentiu as lágrimas quentes escorrerem por seu rosto, molhando-o. Luke a abraçou fortemente, tentando consolá-la.

—Como vamos resolver isso? – indagou a loura, chorando.

 Colocando-se de pé, Jessie disse:

—Isso é veneno de Mutante! A única forma de resolver isso seria com a erva laranja, usada para curar doenças e outras coisas vindas de Mutantes.

—Mas, onde vamos achar isso? – indagou Luke, lentamente.

  Jessie olhou para o chão de madeira.

—Eu conheço uma pessoa aqui que pode ajudar!

—Você já esteve aqui? Nessa cidade? – Luke demonstrou curiosidade. – Menina, você tem muito o que nos contar.

—Sim! Eu já estive aqui. – seus olhos pareceram marejar com lágrimas, enquanto a sua mente resgatava memórias.

  Ela virou-se para as escadas e as subiu, seus pés doloridos pelos movimentos recém recuperados. Pegou a touca e a capa preta, se preparando para sair. Além disso, o pequeno saco de dinheiro que eles possuíam. Depois, voltou para sair.

—Você vai sozinha? – indagou Isaac.

—Sim!

—Não! Eu vou com você. – ele a interrompeu.

—Por favor! Eu preciso fazer isso sozinha.

—Mas...

—Não! Eu já disse que vou sozinha. – ela disse, assustando-o.

—Tudo bem!

 Ela seguiu até a porta, abrindo-a lentamente. Umas três pessoas se posicionavam perto da porta, provavelmente haviam ouvido os gritos.

—Está tudo bem! Só tem uma pessoa passando mal e sentindo muita dor.

 Eles pareceram ouvi-la, ignorando os sons e seguindo para a movimentada rua da cidade movida pelo comércio.

 

 Taya ainda chorava. Suas lágrimas pareciam queimar seu rosto avermelhado. Suas veias aparentavam carregar chamas de pavor, pavor de si mesma. Mas, de repente, algo dentro dela pareceu diminuir sua tensão, como um líquido que trazia alívio...veneno.

 Luke percebeu-a ainda mais pálida, abraçando-a com mais força. Seus fortes braços a envolviam, tranquilizando-a, mas não foi o suficiente para fazê-la esquecer aquele estranho misto de sentimentos de dor, culpa, pavor e alívio que a invadiu. Ele a beijou no alto da cabeça, mas ela continuava tensa.

—Calma, Taya! Acalme-se!

—Eu matei ele...eu matei ele! O que eu me tornei?

—Não foi culpa sua.

—Eu sempre tive muito medo do perigo, mas nunca imaginei que eu mesma era o perigo! Eu não sei o que aconteceu comigo, mas não era eu.

—Calma Taya! Não era você, nós sabemos. E, olhe para mim... – os olhos esverdeados dela se encontraram com os azuis dele. –Eu estou aqui, e não deixarei nada te machucar, tudo bem?

 Ela concordou, mas sabia que ele não poderia protegê-la dela mesmo, independente do que tenha lhe acontecido.

  A mulher, deitada em uma cama, no andar de cima, onde agora estavam, parecia ter se desacordado. Ainda respirava com dificuldade e sua pele estava tão pálida, que se você prestasse mais atenção, poderia ver o sangue escorrendo em suas veias salientes. Bolhas apareceram no local do corte, que parecia queimar e arder só de ver. O rosto inchado dela revelava que Jessie tinha que correr o mais rápido possível senão seria tarde demais para salvar a vida dela.

 Isaac, que estava ao lado da mulher, derramou um pouco de água, que brilhou à luz da tocha avermelhada pendurada em cima da cama. O líquido escorreu pelas feridas, levando o sangue para o colchão de penas de ganso, manchando-o.

 O jovem, terminando de limpar a ferida, sentou-se na cama, acima da mulher, e observou que o consolo de Luke, logo a sua frente com Taya, parecia estar surtindo pouco efeito na jovem.

—É...Taya! Posso falar com você a sós?

 A jovem olhou com os olhos inchados de lágrimas, e hesitando, concordou. Eles se levantaram e seguiram para fora do quarto, deixando Luke apenas com a mulher no quarto.

 Quando eles realmente se sentiram a sós, Isaac disse:

—Taya, você não se lembra?

  Ela pareceu assustada, mas respondeu:

—Do quê?

—Você se lembra daquela dia, na vila de Steffany, quando você desmaiou após a picada de uma cobra, e acordou no meio da rua, com a cobra estraçalhada?

 A jovem olhou para o chão pouco iluminado, lembrando o que aconteceu. Mais um misto de sentimentos diante da lembrança, expressado pelas lágrimas.

—Era você, Taya! Foi você que matou aquele animal, não uma outra criatura! Por isso acordou no meio da rua, e provavelmente arranhou o chão com suas garras, marcando-o.

 A menina tapou o seu rosto com as mãos, encharcando-as de lágrimas. Agora fazia sentindo. Não havia uma criatura. Ela era a criatura!

 

 Depois de andar muito, Jessie pode ver o escuro beco da cidade, onde ninguém reparava. Um local para os esquecidos. Ela seguiu até ele, onde uma placa de madeira expunha o nome:

“FOLHAS DE PRIMAVERA

Ervas e remédios.

Final da rua”

 A jovem apressou o passo, adentrando o estreito beco escuro. O chão irregular composto de pedra dificultava um pouco, principalmente quem já não estava andando tão bem. Sentia seu tornozelo latejando, a dor subindo por sua perna. E seus músculos pareciam estar cansados e doloridos. Sentia um incomodo que tornava cada passo uma luta. O frio do beco ainda dificultava as coisas, mas se não fosse pela leve luz amarelada no final do beco, que vinha de dentro de uma janela, que repousava ao lado da porta de madeira, já teria tropeçado e caído. Sentia e ouvia ratos e baratas correndo para lá e para cá no chão, o que a fez se arrepiar de gastura. “É surpreendente como, a única coisa que podemos ver na escuridão são essas criaturas asquerosas, que eu não queria nem saber que estavam aqui!”, pensou.

  Quando chegou à porta, levantou a mão e bateu-a levemente, sentindo os seus dedos tocarem a madeira fosca levemente. Ninguém atendeu. Bateu novamente, e dessa vez, contemplou um aviso escondido em meio ao escuro da noite: “Aberto! Entre”.

 A jovem levou a mão à maçaneta, ainda mais gelada pela noite. Levou o seu olhar para a entrada do beco, contemplando as dezenas de pessoas que andavam pela iluminada cidade comercial, desperdiçando o seu dinheiro. Passavam com produtos, segurando lampiões e outros objetos para iluminação. Então, sem esperar mais, ela entrou na loja.

 O lugar estava abafado pelo calor de uma lareira crepitante. Uma dispersa fumaça se espalhava pelo local. Jessie tossiu, descongestionando seus pulmões. Aquela loja era bem parecida com a de Weneryn.

 Ao se aproximar do vendedor, observou que não havia um balcão, mas apenas uma pequena mesa onde ele já atendia uma pessoa.

—As ervas-laranjas são cinco moedas de ouro.

—O quê? – exclamou a pessoa, que pela voz, era um homem. Jessie parou ali mesmo ao ouvir o preço.

—É uma erva cara e rara, muito procurada. Por essa razão, o preço foi aumentado.

 O homem pegou as moedas e as colocou em cima do balcão, os olhos do vendedor se enchendo de satisfação.

—Eu não tenho tudo isso! – exclamou Jessie, interrompendo-os. -Está muito caro! Três moedas de ouro! Eu só quero as ervas e não a loja inteira. – disse Jessie, exagerando.

—Não posso fazer nada, mocinha. Esse é o preço. – o vendedor era tão antipático que parecia nem querer clientes.

—Isso é demais. Eu preciso muito!

 O homem colocou mais dinheiro em cima do balcão. O vendedor a ignorou, deu as duas ervas laranjas( tão laranjas que pareciam ser incandescente, principalmente no escuro), ignorando a jovem. Só então Jessie percebeu que o homem comprara duas folhas de erva, e não uma, como ela pensara.

—Eu não tenho dinheiro para isso, senhor, mas preciso disso urgentemente! - reclamou Jessie, o vendedor nem lhe dando atenção.

—Se não tiver o dinheiro, saia da minha loja!

—Mas...

—Saia!

  Ela olhou para o rosto dele, lhe lançando um olhar furioso, mas depois, seguiu até a porta de madeira. Quando atravessou-a, deixou que a porta fechasse sozinha, fazendo-a bater com força. Começou a andar pelo beco gelado, esquecido pelas inúmeras pessoas que perambulavam pela estrada principal logo à frente.

Psiu!— alguma coisa a chamou. A jovem parou ali mesmo. Sua orelhas escondidas sub o capuz escutaram o barulho dez vezes mais alto. Ele vinha do beco, e ela podia perceber isso, ainda mais porque parecia ser destinado a ela, se destacando em meio aos milhares de sons dentro da cidade.

 Ela conseguiu ouvir uma respiração lenta e calma que vinha de alguém na escuridão. Seus olhos não eram tão bons quantos seus ouvidos e seu faro, mas ela conseguia ver que havia alguém ali.

—Quem é você? – ela perguntou.

—Você não é Corriqueira, é? – era a voz do homem encapuzado que estava na loja. Sua voz era marcada pela rouquidão da idade, pois não aparentava ser jovem.

—Quem é você?

—Você não respondeu à minha pergunta, moça.

—Nem você à minha! Não vou falar nada sobre mim enquanto você não contar quem você é e o que você quer.

 De repente, do meio da escuridão, um brilho alaranjado. Ele jogou um dos ramos de erva laranja no chão.

—O que é isso? – ela perguntou.

—Você não o quer, minha jovem? – ele se aproximou lentamente, e seu rosto pôde ser visto quando entrou na fina linha de luz da loja. Ele retirou o capuz preto. Seu rosto esbranquiçado, manchado, aparentava ter experiência de vida. Seus olhos brilhavam, e sua barba branca parecia pintada por neve.

—Quero, mas porque você está me ajudando? Você sequer me conhece!

—E daí? Se eu só ajudar quem conheço, o que faço demais? Todo mundo ajuda àqueles que conhece. O importante é você conseguir ajudar não apenas quem conhece, mas quem precisa! – os olhos dele pareceram marejar com lágrimas transparentes. –E além disso, não carrego boas experiências relacionadas à isso. Tive pouca ajuda, e não quero que outros sintam aquilo que senti.

—Como se ninguém te olhasse e não prestasse ajuda por ser inferior à eles! – completou a jovem, como se soubesse o que ele sentia.

—Leve e ajuda outras pessoas! – o homem disse.

  Ela concordou com a cabeça, e sussurrou um “Obrigada!” quase que inaudível. Depois, virou-se para frente e seguiu até a entrada do beco, não sem antes olhar para trás. Mas, o homem não estava mais lá. Simplesmente desaparecera.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler e comentem!