MUTANTES & PODEROSOS I - O Segredo dos Poderosos escrita por André Drago B


Capítulo 17
Capítulo 16 - Marcas a Noite


Notas iniciais do capítulo

Sugiro que leiam esta história muito
legal e empolgante. https://fanfiction.com.br/historia/754686/O_Monstro_-_Interativa/
APROVEITEM!



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CAPÍTULO 16

MARCAS A NOITE

 

 Sombras se formavam à medida que a luz da chama do lampião de Kira iluminava o caminho. Nem dava para se ver o céu, escondido atrás de enormes nuvens que derramavam milhares de litros de água de uma única vez.

  A jovem pisou mais uma vez em cima de outra poça de lama, sujando as suas botas. O caminho estava inundado de água. Nos dois lados do caminho havia enormes árvores que compunham a floresta.

 A jovem continuou andando na direção em que as pegadas de Jackie apontavam. Ela segurava na mão a corrente da janela de Jackie, suja de lama. A corrente de prata curta fora esquecida pelo menino fugitivo em direção daquela estrada que derivava da estrada principal. Aquele caminho a levaria até a cidade de Gatyr.

  A jovem continuou andando pelo caminho extenso e comprido. Ele deveria ter quilômetros, mas ainda assim seria provavelmente por ele que Jackie seguiu. A jovem continuou andando, e depois de ter caminhado por meia hora, as árvores acima juntaram as suas copas, impedindo que a chuva chegasse ao solo com tanta facilidade. A lama molhada a dificultava e ela escorregara várias vezes, sempre se agarrando em algum galho ou tronco de árvore. Às vezes, a jovem sentia como se a bota estivesse afundando na lama. Era horrível a sensação, mas ela também sabia que a chuva não era uma coisa apenas negativa. Muitos lagos se originava deste efeito da natureza e as árvores utilizavam-se desta mesma água que penetrava no solo.

  Kira andou mais alguns metros, quando se deparou com uma enorme poça d’água que cobria toda a estrada. Os pingos que conseguiam atravessar as copas das árvores caiam em cima da água, fazendo-a se mexer. A jovem viu que a água da chuva deveria ter escorrido e formado essa poça enorme e funda.

  Ela entrou na poça e caminhou alguns metros. A areia do fundo parecia puxar os seus pés. A água fria batia na altura dos joelhos. Um pedaço da sua capa já havia se molhado na água. A jovem andava com dificuldade, puxando as suas pernas. Era difícil caminhar com o peso da água.

  Ela, com esforço, seguiu por muitos metros até chegar à margem oposta da enorme poça, que na mente dela já era um lago em miniatura. Ao chegar à margem, ela se assustou com algo. O tronco de uma árvore estava torrado, como se alguém tivesse posto fogo ali. Ela se aproximou do tronco. Havia um buraco negro e fundo que cheirava forte a queimado. Uns pontos brilhantes e azulados enfeitavam a madeira torrada. Kira nem se atreveu a tocar neles. Uma dor de cabeça começou a tomar conta dela.

  De repente, um barulho alto soou no ar. Um pouco mais à frente, outra árvore estava caída, e havia caído naquele instante. Kira se aproximou desse tronco, e abaixando-se ao lado dele, observou que estava tão queimado quanto o outro e também havia alguns pontinhos azuis brilhantes. A dor de cabeça voltou aos e aproximar dele.

  Assustada, a jovem se colocou de pé e largou a corrente da janela de Jackie. Andou mais alguns metros onde pode ver marcas de garras enormes no chão. Ela sentiu que a sua dor de cabeça sumiu ao sair de perto do tronco. As marcas apontavam para outras marcas no tronco de uma árvore. Provavelmente eram de um leão-da-montanha. Espere, leão-da-montanha? Se uma fera passou por ali onde Jackie também havia passado, ele poderia ter sido atacado. Kira andou mais um pouco no objetivo de achar algum indicio de que Jackie conseguiu se salvar da fera e seguir em frente, mas o que achou foi pior ainda: manchas sangue pintavam o solo. A luz da lamparina iluminou as manchas, fazendo com que um frio descesse pela espinha de Kira.

  Ela andou mais alguns metros e viu outras marcas de queimado. Provavelmente eram raios que haviam caído do céu, sendo atraídos por alguma coisa. Mas as marcas seguiam pela frente. Várias manchas de sangue, troncos queimados – de raios, segundo Kira – e marcas de garras. Para Kira era bem óbvio que a primeira tinha relação com as duas últimas. Algo havia machucado alguém.

  Kira, assustada e torcendo para que o sangue não fosse do seu irmão, seguiu mais alguns metros para achar nem que fosse uma marca que mostrasse que Jackie conseguiu seguir por ali e que o sangue não era dele. Duas dezenas de metros à frente, Kira pode ver mais duas pegadas do seu irmão, marcadas na lama pegajosa e nojenta. A jovem expirou com força o ar que se armazenava em seu pulmão, aliviada de ver que Jackie continuou seguindo. E ela também não parou.

  Aquelas foram as últimas marcas deixadas que indicava a presença de Jackie. Kira seguiu por mais alguns quilômetros pela estrada, quando, bem dentro da noite, ela viu ao longe as muralhas da cidade de Gatyr. Era uma cidade simples.

  Os muros de pedras acinzentadas que compunham a proteção da cidade estavam extremamente molhados. A água da chuva se derramava, fazendo com que o muro ficasse muito úmido.

  Estava caindo uma chuva forte. Kira, ainda debaixo de uma árvore, se mantinha seca pela capa que já estava pesada pela água nela retida. A jovem sentia frio, mas não podia voltar para a casa de Mestre porque sabia que se ela não achasse o seu irmão, ninguém acharia.

  Ela sabia que ia ter que esperar o sol raiar (ou ao menos amanhecer o dia, pois ela já contava que o dia seguinte seria de extrema chuva), para que a cidade abrisse os seus portões. O portão enferrujado se abriria no dia seguinte.

  A jovem sentou-se no chão úmido coberto de grama esverdeada e com algumas folhas mortas para enfeitá-lo. A sua frente, uma árvore comum pingava por causa da água que batia em sua copa. A jovem retirou das suas costas o enorme bastão para defesa que Mestre lhe dará, para conseguir ao menos sentar-se. Sentiu o incomodo nas costas, provocado pela presença do arco e da aljava cheia de flechas. A espada ela ajeitou-a, de forma que não precisou tirá-la da cintura para sentar-se. Ela, com certeza, teria mais dificuldades semelhantes a aquelas com tantas armas.

  O silêncio da noite fora bloqueado pelo barulho forte da chuva que não cedia nem um minuto. As nuvens com certeza estavam bem carregadas, enquanto relâmpagos iluminavam o mundo abaixo com o seu brilho azulado e seu barulho estrondoso.

  A jovem focalizou a chama que bruxuleava dentro da lamparina. Ela que a mantinha iluminada, dentro daquele objeto que impedia que a água adentrasse. Vários pingos de água se acumulavam pelo vidro que formava a lamparina.

  Então, ali, Kira passou horas até o amanhecer.

 

 O dia estava claro, embora o sol estivesse escondido atrás de enormes nuvens. Acima delas, com certeza a linda visão do sol nascente tornava a paisagem ainda mais bonita. Os raios solares brilhando e deixando o local ainda mais iluminado. Mas no solo, a vários quilômetros abaixo, tudo estava molhado. A chuva havia cessado, mas as outras pesadas nuvens que insistiam em se manter ali anunciavam mais chuva.

 Kira se levantou do chão e sentiu a sua calça molhada - isso por ter se sentado no chão úmido -. Ela pegou o bastão, e o colocou na fivela da aljava. Para isso teve que tirá-la das costas, também para apertá-la mais.

  Na noite anterior, a jovem devia ter dormido no máximo duas horas. O frio e os pingos que caiam em cima dela incomodavam-na o suficiente para não deixá-la dormir. Também havia todos os riscos e perigos de dormir na floresta. Tudo isso colaborou para dificultar – e espantar – o seu sono.

  Kira olhou para o chão e conferiu se não havia deixado nada para trás. E então, pôs-se a andar, rumo à cidade de Gatyr logo a sua frente. O portão já estava aberto e uma multidão de pessoas passava por ali. Pessoas entrando, outras saindo. Kira nunca imaginou que teria tantas pessoas naquela cidade.

   Quando a jovem chegou ao portão, foi até um dos guardas que estavam ali. Ele estava vestido com um gibão de couro. Suas calças coladas ao corpo eram escondidas pelas botas que se estendiam até a canela, também feitas de couro. Mangas compridas escondiam os braços, enquanto luvas negras faziam o mesmo com as mãos. Um capacete de ferro mantinha o homem bem protegido.

—Com licença! O senhor poderia me dizer se passou por aqui um menino de cabelos castanhos, pele branca, olhos negros e que tinha o tamanho mais ou menos de alguém de onze anos?

  O guarda, sem dizer nenhuma palavra, mexeu a cabeça negativamente.

—Nenhum? Como? – mas o guarda continuou mexendo a cabeça negativamente.

 Kira entrou no meio da multidão e seguiu para dentro da cidade. Ela sentiu até calor no meio daquele amontoado de pessoas. Com seus olhos, pesquisou alguém que poderia dar-lhes alguma informação.  Não demorou até andar a outro guarda, vestido da mesma forma.

  Ao fazer a mesma pergunta para este outro guarda, recebeu um “não” como resposta. Decepcionada, continuou a andar até mais à frente. Um pátio enorme se revelou a sua direita. Era a feira da cidade, onde muitas de pessoas se ajuntavam para comprar alimentos.

 A jovem seguiu por aquela direção. Quando chegou mais perto da feira, logo se deparou com um homem gordo e barbudo, que cheirava a suor, sentado em uma cadeira. Ele vendia maçãs. Sem parar, o senhor gritava e fazia propaganda das suas mercadorias. “Ele está atento à multidão, principalmente para as suas vendas”, observou Kira.

  A jovem se aproximou da barraca do homem e deslizou os seus olhos sobre as mercadorias dele, como se fosse uma cliente prestes a comprar suas frutas.

—Posso ajudar a senhorita? – o senhor indagou, se levantando de sua cadeira.

—Sim, você pode! – respondeu Kira, fingindo simpatia.

—Então, aqui nós temos diversos tipos de maçãs: da maiores para as menores, das mais vermelhas até as mais amareladas. Também temos aqui maçãs verdes, deliciosas, como você pode ver e...

—Então! O senhor poderia me dizer se viu um menino que tinha por volta de onze anos de idade, com cabelos castanhos escuros e olhos negros?

—Não! A senhorita pretende comprar minhas maçãs?

—Não! – respondeu Kira. – Apenas quero sua informação. Você é bem atento a qualquer pessoa que passa por aqui! Deve ter visto um garoto como o que descrevi.

—Senhorita, centenas de pessoas passam por aqui todos os dias! Não tem como eu identificar um simples menino e lembrar dele agora. Sem falar que existem muitos como o que você descreveu!

  Kira abaixou a cabeça e balançou-a, positivamente. Ela havia compreendido o que o homem dissera.

—Mas ainda temos maçãs para a senhora comprar!

—Não, obrigada! Não quero maçã nenhuma. – a jovem se afastou frustrada da barraca do homem. O que ele havia dito era verdade. Não teria como se lembrar de um simples menino de aparência comum!

  Kira continuou a andar em meio às barracas. Interrogou mais três vendedores, mas nenhum sabia lhe dizer sobre o tal menino. Algumas pessoas se afastavam de Kira, assustando-se com as armas que ela trazia penduradas em suas costas. Uma menina de dezessete anos carregando tantas armas era algo que assustava os cidadãos. Mas, sem se incomodar, ela continuou a perguntar pelo seu irmão.

—Lamento, mas eu não vi o jovem! – respondeu uma florista depois de Kira ter interrogado ela.

 A jovem seguiu a multidão. Estava frustrada, mas sabia que tinha que achá-lo. Era o que seu pai, Lorde Haland, quer. Ou melhor, iria querer, se não tivesse sido morto. Kira não queria nem pensar nisso.

  Silenciosamente, a jovem fez uma promessa por entre seus lábios: “Eu te acharei, Jackie, e também descobrirei quem matou papai. Eu prometo!".

                                                  ***

 Os três homens estavam de frente para a rainha, que se mantinha assentada em seu exagerado trono de ouro. O salão estava vazio com exceção deles e mais alguns guardas que se mantinham ali para a proteção dela. Ela havia mandado todas as pessoas saírem do salão.

—Jamesie, Antony e Roff. O líder da guarda interna designou-os, segundo o meu chamado, para que vocês sejam os meus espiões secretos. É evidente que vocês já devem tomar conhecimento do acontecimento recente. A triste morte de Lorde Haland mostra que há um assassino entre nós, e devemos descobrir quem é! Portanto, como melhores guardas, vocês agora são os novos espiões. Devem investigar tudo o que pode estar relacionado à morte do nosso querido lorde.  A responsabilidade agora é de vocês. – a rainha estalou o seu dedo, e um guarda trouxe a sua espada longa e transparente.

  Os três homens se ajoelharam diante da rainha e direcionaram a sua visão ao chão. Ela levantou a espada e tocou cada um dos ombros de Jamesie, tal como a sua cabeça, com aquela espada.

—Agora, declaro Jamesie Hagretdsiou o mais novo espião. Você deve ser leal e fiel, e morrer pelo seu trabalho! Jamais deverá revelar as suas novas responsabilidades para ninguém, nem mesmo para os seus parentes de sangue. Mantenha isso em segredo. Nunca deverá nos trair, e se o fizer, morrerá. Portanto, levante-se e jure lealdade!

  O homem fez o que a rainha disse, e se levantando, disse:

—Juro lealdade e fidelidade até a morte. Manterei tudo isso em segredo e não contarei nem aos meus parentes de sangue!

  A rainha mexeu a cabeça positivamente para ele. Ele se manteve de pé.

  Ela foi até o segundo homem e declarou novamente, tocando cada ombro e a cabeça dele:

—Agora, declarou Antony Gretzydouin o mais novo espião. Você deve ser leal e fiel, e morrer pelo seu trabalho! Jamais deverá revelar as suas novas responsabilidades a ninguém, nem mesmo para os seus parentes de sangue. Mantenha isso em total segredo. Nunca deverá nos trair, e se o fizer, morrerá. Portanto, levante-se e jure lealdade!

  Antony, tal como Jamesie, se levantou e jurou a lealdade. Depois de o fazer, permaneceu de pé. A rainha foi até o último, Roff, e o fez jurar lealdade. O homem o fez.

—Agora, vocês são oficialmente os nossos novos espiões. Devem se dedicar a descobrir o assassino de Lorde Haland. Agora, vão! Preciso julgar algumas questões. – disse a rainha.

  Os homens se puseram de pé e seguiram até a enorme porta de madeira avermelhada da sala do trono. Os dois guardas que ali se disponibilizavam, abriram-na. Assim o fazendo, permitiram que os três espiões saíssem da sala. Logo em seguida, uma mulher entrou, amarrada e segurada por três guardas. Ela possuía os cabelos ruivos e olhos negros, mas sua expressão amedrontava qualquer um.

—Vossa Alteza, rainha Mariany – um dos guardas deu um passo à frente - tenho aqui uma mulher, condenada por...

 Um homem entrou correndo dentro da sala do trono. Estava ofegante e vermelho de cansaço.

—Vossa Alteza! – ele interrompeu. Era um simples guarda. – Trago notícias urgentes!

—Você está interrompendo um julgamento, será que não vês? – a rainha ficou irritada.

—Eu sei, Vossa Alteza, e peço perdão! São notícias urgentes!

—É melhor que seja mesmo! O que foi?

—Aconteceu novamente! – o homem disse. Parecia estar bem assustado com as próprias palavras.

—O que aconteceu novamente? – a rainha indagou.

—Assassinato! Ocorreu outro assassinato, ou melhor, assassinatos!

 

 


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Notas finais do capítulo

Já comentou? Curtiu? Recomendou? Está acompanhando? Não?! Então faça isso logo. E não seja egoísta: se você gostou, sugira a história para outras pessoas, please! ^^