A Chantagem escrita por Kaline Bogard


Capítulo 10
Parte 10


Notas iniciais do capítulo

Esqueci que hoje é quinta xD

Boa leitura!!



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Parte 10

  

— Você tem um cliente — pescou um cartãozinho do bolso da calça e o empurrou pelo tampo da mesa junto com a sacola de grife — E vai passar a noite com ele neste hotel, usando essas roupas. Faça tudo o que ele mandar, seu dever é agradá-lo.

—--

Kiba alternou olhares entre o cartão com um endereço e a sacola, nitidamente sem entender as implicações daquela ordem.  Até que a nova orientação veio, e o mundo desabou em pedacinhos.

— Vá se trocar. Não se preocupe com banho, pode tomar no hotel junto com o cliente.

— O quê?! — a esse ponto o garoto recuperou o poder de reação.  Ficou em pé em um ímpeto tão grande que derrubou a cadeira — Você tá louco, cara?! Que história é essa de... “cliente”...?! E roupa?! E BANHO?!!

Aburame não se intimidou com a reação explosiva, pelo contrário. Continuou tão calmo que já deu a impressão de esperar por algo assim.

— Você não entendeu? Quer que eu desenhe? Ou prefere que eu mostre? Temos tempo até o horário marcado...

A insinuação fez Kiba corar de raiva e vergonha. Agindo como o impulsivo que era, em poucos passos contornou a mesa e avançou até Aburame, segurando-o pela gola da blusa com as duas mãos. Foi tão violento que, apesar da diferença de altura, acabou fazendo o dono da casa recuar até bater com as costas contra a parede ao lado da porta da cozinha.

— Vou acabar com a sua raça, maldito!! — rosnou com fúria.

Aburame não se intimidou. Apenas ajeitou os óculos no rosto, que escorregaram um pouco. Então segurou nos punhos de Kiba e os afastou de si.

— Não precisa se aborrecer tanto.

— Filho da puta! — o garoto tentou se soltar, longe de ficar mais calmo.

— Temos alternativas. Se não vai atender esse cliente, tudo bem. Posso cobrar da sua mãe ou da sua irmã.

Kiba nunca sentiu tanta raiva quanto naquele momento, ouvindo as ameaças contra sua família. O impulso foi de libertar as mãos e bater em Aburame para extravasar o desespero e o medo súbito que começou a sentir. Mas não conseguiu, o outro era muito mais forte do que parecia.

— Sei onde sua mãe trabalha e sei que sua irmã tem o sonho de ser veterinária. Sei tudo sobre você, garoto. Não me importo em vazar esse vídeo e deixar todo mundo saber que os Inuzuka criaram um ladrão.

A ameaça atingiu certeira no alvo.  Kiba logo entendeu que por mais inocente em relação ao sumiço do cartão, ainda assim, invadira a casa daquele homem. Tudo estava contra si e se o vídeo fosse divulgado acabaria não somente com sua reputação, mas iria interferir na vida da mãe e da irmã, porque a sociedade preconceituosa não hesitaria duas vezes em condená-las pelo erro do garoto. Tsume seria marcada como uma mãe que falhou em educar o filho do jeito correto. Hana se tornaria a irmã que não conseguiu passar um bom exemplo. Pessoas sofriam perseguição e ijime por muito menos...

Por tudo que o garoto considerava sagrado, seria a ruína das pessoas mais importantes que possuía.

— Elas não têm nada a ver com isso, porra! — apesar da reclamação, a fúria de Kiba amainou consideravelmente.

— Se você não vai devolver meu dinheiro, então alguém tem que devolver.

— Eu não roubei nada! — Kiba protestou, sem esperança de provar a inocência — Você é muito sujo.

Vendo que o pior do descontrole tinha passado, Aburame libertou o outro. Parecia desprovido de misericórdia, pois continuou naquele tom controlado:

— Já perdemos tempo demais. Vá trocar-se, esse cliente não gosta de esperar.

Tal ordem veio dura, e trouxe consigo desespero sem igual.

—--

Kiba não conseguiu acreditar em como as coisas podiam dar tão errado e de um jeito tão inesperado.  Jamais, nunca, em hipótese alguma pensou que estaria naquela enrascada!

Sentado na cama do quarto de hóspedes da casa de Aburame Shino, observava o conjunto de roupas que deveria vestir. Era um uniforme colegial, da escola em que Kiba estudava, mas era a versão feminina: blusa estilo marinheiro e saia de pregas. E uma das mais curtas.

Era difícil respirar. A garganta ardia. Tinha vontade de chorar.

Que tipo de homem pedia que um garoto fosse encontrá-lo em um hotel, vestido de menina...? E que tipo de coisas teria que fazer para “agradá-lo” e ganhar parte do dinheiro que era acusado de roubar?

Nem Kiba era tão ingênuo a ponto de pensar que seria uma noite de videogame ou bate-papo. Não seria um encontro para beber drinques de morango e fingir-se de bons amigos.

Pegou a blusa do uniforme. O tecido era delicado, bonito até. Nunca tinha dado muita atenção enquanto Hinata ou outra colega de escola vestia aquilo.

Respirou fundo.

Que castigo! Tudo porque tentou defender a amiga de um chantagista virtual. E com muita razão: olha o tipo de coisa que ele exigia que fizesse! O que aconteceria se Hinata estivesse em seu lugar?

Uma coisa precisava admitir: era bem mais do que podia lidar.

Talvez, se desde o começo tivesse pedido ajuda para um adulto, tudo teria seguido um rumo diferente?

Mas... então seria Hinata encrencada com os pais e não ele. E desejar que outra pessoa passasse pelos problemas no lugar dele seria uma covardia que nunca faria! Se colocou sozinho na situação.

E sozinho sairia dela!

Mas...

Apertou a blusa com força. Estava há uns bons quinze minutos enfiado no quarto, sem coragem de trocar de roupa, colocar uma saia e ir para um hotel e... e...

A quem Kiba queria enganar?

Estavam falando de sexo ali.

Sexo.

Se envolveu com um indivíduo que não pensou duas vezes em aliciá-lo a um outro depravado, um predador sexual com o qual era esperado que fizesse sexo.

Puta merda.

A realidade pareceu cair toda sobre ele, de uma única vez. Sem subterfúgios ou artifícios. Só os fatos. E eles eram nada bonitos. Eram apavorantes, tenebrosos.

Nem em mil anos conseguiria se travestir e transar com um completo estranho!

Desespero fez os pensamentos lógicos sumirem por completo. Só restou a forte intuição de que deveria fugir dali e escapar pra longe. Quem sabe até fugir de casa, de Konoha. Ir embora de um jeito covarde, levando as consequências consigo, para longe da mãe e da irmã, na única forma em que poderia protegê-las.

A essa altura o medo beirou o pânico. Sequer lembrou-se da mochila largada na cozinha ou do par de tênis que tirou no genkan.  Já tinha passado tanto tempo fechado no quarto que cada segundo a mais seria crucial para uma fuga bem-sucedida.

Agindo como o impulsivo de sempre, foi até a janela que, para sua alegria incontrolável, estava aberta. Ar entrou e o arrepiou todinho.  O outono chegava de mansinho, mas inegável. Os dias se tornavam mais curtos e as noites mais frias.

O quarto ficava no segundo andar, porém já entrara e saíra pela janela do quarto ao lado uma vez. Era ágil feito um ninja, então não se preocupava com altura. Nem com possíveis transeuntes ou testemunhas.

Aquele ponto apenas escapar importava.

Em menos de um segundo passou as pernas pela janela, já sondando como faria a descida com segurança dali pra frente.  Infelizmente o Destino tramou um resultado diferente, já que foi bem na hora em que a porta se abriu e Aburame Shino entrou no quarto.

— Oe! — o rapaz exclamou surpreso com a cena — Pare...

Parar?! Pois a ordem funcionou como incentivo contrário. Deu mais pressa para fugir dali. E fez Kiba agir com imprudência ao tatear o pé em uma saliência da parede, as meias tirando-lhe qualquer firmeza.

Sem apoio o garoto se desequilibrou. E o pior aconteceu.


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Notas finais do capítulo

hohooohohohohohhohohohohohohohoo



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