A Guerra Contra Meus Sentimentos escrita por teffy-chan


Capítulo 4
Capítulo 4 - Sacrifícios de Batalha




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"Sim, eu decidi que estava sendo derrotado quando disse 'Sim, sou eu'
Mesmo que tenha recuado cedo demais, tenho quase certeza
De que esse é o meu limite de mudança"

 

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James, o pássaro de estimação de Oliver, que o seguia para tudo que é lado, até mesmo nas batalhas, pousou delicadamente no ombro de Len.

— Se o James está aqui, significa que o Oliver realmente foi convocado — Len concluiu — Certo, e agora? O que pretende fazer com um pássaro?
— Enviar uma mensagem — Piko respondeu, remexendo na cesta cheia de doces envenenados, que Len descobriu que não continha apenas doces. O garoto retirou um pedaço de papel e uma caneta de dentro dela — Vou escrever um bilhete avisando quem Oliver e Rin estão prestes a enfrentar. James pode levar o recado até eles.
— Você tinha uma caneta aí dentro? — Len exclamou surpreso — E papel? O que mais você trouxe nessa cesta? — ele tentou espiar o conteúdo, mas Piko afastou a cesta dele.
— Nem queira saber — ele respondeu, e já ia começar a escrever quando ouviu o som de disparos e se encolheu, derrubando a caneta no chão. Sentiu Len passar o braço ao redor dele, fazendo com que se abaixasse. James voou para longe, assustado, e então ouviu-se o som de mais tiros.

Tiros contra o pássaro dessa vez. Quem quer que estivesse atacando, devia ter escutado o plano deles e não deixaria que enviassem a mensagem a Oliver e Rin.

Len colocou-se de pé rapidamente e, sacando o fuzil, atirou no ar, fazendo a bala ricochetear com a que estava prestes a acertar James. O pássaro deu meia-volta e pousou onde Piko estava, onde aparentemente era o local mais seguro no momento.

— Finalmente encontrei vocês — o inimigo enfim revelou-se, saindo de trás da montanha de entulho que Len estava observando minutos atrás e colocando-se de pé.

Inimiga, na verdade. Tratava-se de uma garota ruiva, com os cabelos encaracolados presos no alto em duas maria-chiquinhas. Apesar da aparência jovial, era bem mais velha e mais experiente do que os dois. Len já a tinha visto antes, mas nunca a enfrentara de fato, pois sempre estava acompanhado de pessoas mais experientes, que o mandava recuar e ir buscar ajuda ou ir fazer outra coisa. Aquele sim seria um grande desafio.

— Kasane Teto — Len falou, ainda apontando a arma para ela — Eu que o diga. Finalmente resolveu aparecer.
— Oh, lamento tê-los feito esperar — ela disse como quem pede desculpas — Eu teria vindo matar vocês antes, mas precisava checar uma coisa primeiro… e não gostei nada do resultado, sabe? Na verdade, só serviu para aumentar a minha vontade de acabar com vocês dois.
— Do que ela está falando? — Piko sussurrou.
— Não sei e nem quero saber — Len murmurou de volta — Mas agora você precisa se concentrar em escrever a mensagem para minha irmã e o Oliver, depressa. Deixe que eu cuido dela.
— Ah, não, ele não vai fazer isso — Teto falou, surpreendendo Len. Não era possível que ela tivesse escutado os dois daquela distância — Não posso deixar que atrapalhem a luta da Meiko e do Ryuto. Além do mais, eu quero muito acabar com você, Chapeuzinho Branco.
— Como disse? — Piko ergueu uma sobrancelha, levantando-se para encará-la também.
— Foi assim que elas te chamaram. As crianças que você matou alguns minutos atrás — Teto esclareceu — Disseram que uma pessoa com cabelos prateados tinha lhes dado doces de uma cesta que carregava, assim como a Chapeuzinho Vermelho. A pessoa disse que não tinha nome, então elas te chamaram de Chapeuzinho Branco. Elas disseram que começaram a passar mal logo depois de comerem os doces… até que morreram. Quem poderia imaginar que a Chapeuzinho Branco era um garoto, não é? — ela deu uma risada azeda.
— E daí que sou um garoto? Funcionou, não foi? — Piko rebateu.
— Sim, funcionou muito bem. Você matou meus irmãozinhos com seu veneno — Teto respondeu, sem tirar os olhos dele — E agora eu vou vingá-los matando você. Adeus, Chapeuzinho Branco — ela apontou um rifle sniper direto para a cabeça do garoto e atirou. Piko estava tão chocado com o que ela disse que ficou sem reação, e teria morrido na hora se Len não o tivesse puxado pelo braço, obrigando-o a se abaixar.

As crianças que ele envenenou… elas tinham família. Bem, é lógico que tinham. Mas Piko nunca pensou que encontraria algum parente delas no meio da batalha, logo após tê-las matado. Isso nunca tinha acontecido antes. A culpa por ter matado crianças voltou a atormentá-lo, dessa vez mais forte do que nunca.

— Eles eram irmãos da Teto, Len — Piko murmurou enquanto ela ainda tentava acertá-los, sem sucesso. Agora que estavam deitados no chão, no meio da fenda, o ângulo não era favorável — As crianças que matei eram irmãos dela.
— Piko, acalme-se — Len falou com firmeza — Lembre-se de que quase todo mundo aqui já perdeu alguém que ama. A Teto perdeu os irmãos. Eu perdi meu pai. Faz parte da guerra. É triste, mas é a realidade — ele acrescentou, e Piko assentiu. É verdade, Len tinha perdido o pai dele na guerra dois anos atrás. E mesmo assim ainda era tão forte, tão determinado… era disso que Piko mais gostava nele.

E de repente percebeu o quanto os dois estavam próximos. A fenda onde estavam escondidos era muito estreita, então seus rostos estavam muito perto um do outro, e suas bochechas se encostavam quando um deles se mexia. Len ainda estava com o braço ao redor das costas dele. Piko sabia que o garoto provavelmente só estava tentando protegê-lo, mas ainda assim sentia seu coração bater mais forte com toda aquela proximidade. E não queria nem pensar no que Len diria se soubesse os pensamentos que se passavam por sua cabeça agora.

— Você está bem? — Len perguntou, virando-se para encará-lo e fazendo com que suas bochechas se encostassem de novo.
— Claro. Estou ótimo — Piko mentiu, olhando para o outro lado.
— Certo, vou fingir que acredito só porque precisamos muito agora — ele se levantou devagar e sacou a metralhadora outra vez — Faça o que eu te pedi antes. Escreva a mensagem para o Oliver. Eu te dou cobertura.

Piko obedeceu dessa vez. Viu Len correr para fora da fenda a fim de enfrentar Teto sozinho e então virou-se de costas e pegou a caneta que tinha caído no chão, começando a escrever no papel rapidamente.

Era tudo o que ele podia fazer. Escrever um bilhete. Enquanto seu melhor amigo estava correndo risco de vida para protegê-lo, lá estava ele, escondido como um covarde, escrevendo bilhetes. Era por coisas como essas que tantas pessoas caçoavam dele. Era por isso que seus pais exigiam tanto dele, por isso eram tão rígidos. Mas parece que não estava adiantando de nada no fim das contas.

Piko balançou a cabeça, como que para afastar esses pensamentos negativos e amarrou o pedaço de papel na pata de James, que voou para longe com uma velocidade impressionante. Bom, se ele tivesse asas, certamente voaria para longe daquela batalha também.

Ele parou de observar o pássaro quando ouviu Len gritar e virou-se na direção dele. Len estava caído, com um filete de sangue escorrendo de sua cabeça. Piko sentiu o coração falhar por um instante. Será que ele…? Não, não pode ser. Não podia sequer pensar nisso.

Correu até Len e verificou seu pulso. Parecia normal. Então olhou ao redor e viu os cartuchos de bala. Era isso… ou elas ricochetearam de novo e foi muita pressão para o garoto aguentar, ou Teto atirou repetidas vezes no chão, perto dele. Seja lá o que for, causou uma pressão tão grande que o fez voar pelos ares e bater com a cabeça em uma rocha.
Isso era péssimo… Len estava ferido e desacordado. Piko estava sozinho.

— Parece que somos só nós dois agora, minha cara Chapeuzinho Branco — Teto riu com escárnio.
— Eu sou um garoto — Piko falou mal-humorado.
— Tanto faz — ela deu de ombros — Quando eu acabar com você, seu corpo ficará tão irreconhecível que ninguém saberá dizer quem o que você era. Não saberão nem se você era humano — Teto apontou a metralhadora para ele — Pronto para morrer?
— Lamento, mas ainda sou muito jovem — Piko sacou seu revólver — Você, por outro lado… acho que já passou da data de validade.
— Ora, seu pirralho! — ela gritou, atirando em seguida.

Muitos tiros repetidos. Piko nunca tinha visto alguém atirar tanto de uma só vez. Mas também, no que ele estava pensando? Por que estava provocando Teto desse jeito? Pensou em imitar Len, achou que desse jeito teria alguma chance, mas o problema é que não tinha a mesma habilidade em combate que ele. Não conseguia sequer contra-atacar.

Era uma sorte que fosse tão bom em fugir. Ele encontrou uma rocha particularmente resistente perto dali e se escondeu atrás dela. Tinha se afastado da fenda onde estava antes, o que significava que não corria o risco de Len ser atingido por acidente. Ele precisava atacar, não ia ganhar nada se ficasse fugindo o dia todo. Ainda escondido, mirou o melhor que pôde contra a inimiga e atirou.

Os disparos, todos eles, passaram a centímetros da cabeça e dos ombros de Teto, sem ela precisar sequer se mover para desviar. O mais próximo que chegou de acertá-la foi quando uma das balas acertou seu cabelo, arrancando-lhe alguns fios ruivos da cabeça e estragando ligeiramente seu penteado. Mas infelizmente, ter o cabelo atingido não conta como ferimento. A maioria das garotas ficariam irritadas por terem seu cabelo perfurado por uma bala, mas isso só serviu para fazê-la rir.

— Céus, que mira horrível você tem! — Teto exclamou dando risada. Estava tão ocupada caçoando dele que por um momento parou de atacar — O pessoal da facção Shion deve estar desesperado se estão mandando pessoas como você para o campo de batalha!
— Lamento. Minha visão não é das melhores, sabe — Piko resmungou.

Era verdade. Sua mira ruim não era por falta de treinamento ou nem mesmo por causa do medo de ter que enfrentar batalhas reais. Tinha nascido com heterocromia, herdando assim o olho verde direito, igual ao da mãe, e o esquerdo azul, como o do pai. E devido a isso, tinha um pequeno problema de visão. Tinha contado isso para seus pais uma vez, quando era mais novo, mas eles não pareceram acreditar. Apenas lhe deram um longo sermão sobre como isso era uma desculpa esfarrapada para não lutar e que, se fosse mesmo verdade, esse era mais um motivo para ele se empenhar ainda mais no treinamento. Desde então, ele nunca mais comentou sobre o assunto com os pais. Len e Rin acreditaram. Na verdade, Rin deu um sermão ainda mais longo sobre como os pais dele eram injustos e malvados por tratá-lo dessa forma e que deveriam fazer algo a respeito sobre o problema de visão do amigo ao invés de brigarem com ele. Len não disse muita coisa, até porque, não havia nada a ser dito. Eles mal tinham comida e água para sobreviver, não tinham de onde tirar recursos para cuidar de uma pessoa que não enxergava bem. Pensando melhor, talvez tenha sido por isso que os pais dele reagiram daquela forma. Porque sabiam que não podiam fazer nada para ajudar o único filho.

— É realmente uma pena. Você não vai ser nem um desafio para mim — Teto lamentou — Mas também, com uma visão dessas… espere… — ela pegou o rifle sniper outra vez e voltou a olhar para ele pela luneta, embora não pretendesse atirar no garoto naquele momento — Um olho verde e outro azul…  você é o filho do Shion Kaito, não é?
— O que, eu sou famoso? — Piko respondeu com outra pergunta, ligeiramente surpreso.
— Mais do que famoso. Até onde sabemos, o filho do Shion Kaito é a única pessoa da facção de vocês que possui heterocromia, então é fácil te reconhecer — ela esclareceu. E então começou a gargalhar outra vez — Isso é mesmo incrível… e pensar que vou poder vingar meus irmãos e acabar com o único herdeiro da facção Shion de uma só vez… hoje deve ser o meu dia de sorte.
— O dia em que se perde dois irmãos não me parece ser um dia de sorte — Len disse como quem fala do tempo, aparecendo subitamente ao lado de Piko.
— Ah. Então você ainda está vivo — Teto resmungou.
— Pois é, vaso ruim não quebra — Len respondeu — E eu não posso deixar você matar o meu amigo. Na verdade, nem vejo qual seria a vantagem em eliminar o herdeiro da facção Shion, considerando que a facção de vocês sequer tem um.
— Ah, é mesmo. A Luka tinha dito que era para levar o garoto para ela caso o encontrássemos — Teto lembrou. Pela cara dela, não estava feliz com isso — Bem, mas ela não precisa saber que eu o encontrei, não é? Vou matar vocês dois de uma vez.

Ela voltou a atirar. Os dois se abaixaram e se esconderam atrás da rocha onde Piko estava antes. Len contra-atacou, mas poucos segundos depois as balas da metralhadora acabaram. Antes que ele começasse a perder tempo recarregando-a, Piko lhe entregou seu revólver. Era inútil em suas mãos de qualquer forma, pelo menos Len tinha alguma chance de vencer.

A luta estava ficando cada vez mais intensa. Len tinha conseguido acertar Teto em um dos braços, mas ela não desistiu e continuava atirando, decidida a eliminá-los. Piko se ocupava de recarregar as armas que Len já tinha usado com a munição que tinha trazido em sua cesta, mas podia perceber que a rocha que os protegia estava se desfragmentando por causa dos disparos. De repente um pedaço consideravelmente grande dela soltou-se de um dos lados e Teto aproveitou a brecha para atacar. Piko só percebeu o que tinha acontecido quando sentiu Len se jogando em cima dele, derrubando-o no chão outra vez. Ele sentiu o peso do corpo do garoto em cima do seu e já ia dizer para Len que podia se esconder por conta própria quando percebeu seu ombro ferido. Ela tinha acertado uma bala de raspão em seu ombro.

— Você está bem? — Len perguntou sem se mexer.
— Estou, mas você não! — Piko exclamou — Ela te acertou!
— Isso não é nada… já tive ferimentos piores — Len forçou uma risada e acabou cuspindo sangue.
— Len, você está ferido! Não está em condições de lutar — Piko falou alarmado — Vamos recuar… você lembra das ordens, certo? Não precisamos matá-la, apenas deixá-la ferida, e você já fez isso.
— E você? Se lembra do que aquelas crianças disseram? — Len perguntou, saindo de cima dele — Eu sou o Caçador Dourado. Nunca deixo uma presa fugir.
— Eram crianças. Que eu matei, por sinal — Piko lembrou — Eram os irmãos da Teto…
— Bem, então eu vou acabar com ela para que ela possa se encontrar com os irmãos no além — Len tentou fazer um esforço para ficar de pé, mas antes que conseguisse, Piko se levantou.
— Kasane Teto — ele chamou — Tenho uma proposta para você: Eu irei com você até onde a Megurine Luka está, e em troca você deixa o meu amigo ir embora.
— O que? — Len e Teto exclamaram ao mesmo tempo.
— Por que isso de repente, Chapeuzinho Branco? — Teto indagou desconfiada.
— Piko, não! — Len exclamou — Você não pode… — ele interrompeu o que quer que fosse dizer e começou a cuspir sangue novamente.
— É o único jeito de você se salvar, Len! — Piko exclamou, sem conseguir encará-lo. E então voltou a encarar a inimiga — É a mim que você quer, certo? O herdeiro do clã Shion — ele lembrou — Meu amigo não tem nada a ver com isso. Então deixe-o ir e me leve até a sua líder. Eu irei sem resistir.
— É uma bela oferta — Teto admitiu — Mas eu já disse que estou mais interessada em te matar pessoalmente do que te entregar para a Luka.
— Certo… que assim seja então. Apenas deixe-o ir — Piko respirou fundo e fechou os olhos. No fim das contas, era a única coisa que podia fazer. Não sabia lutar. Não tinha uma boa mira. Talvez assim fosse lembrado como um herói de guerra. Pessoas que morrem em batalha costumam ter o que os outros chamam de "uma morte honrosa". Quem sabe assim seus pais finalmente sentiriam orgulho dele?
— Tanto sacrifício apenas para salvar um amigo… vale mesmo a pena? — Teto perguntou, mirando na cabeça dele.
— Vale muito a pena — Len respondeu depois de atirar no coração dela.


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Notas finais do capítulo

Heey~ pessoas!
Mil desculpas pelo sumiço, eu inventei de escrever duas fics para o Desafio de Férias do grupo do Facebook e não tinha condições de manter tantas fics ao mesmo tempo... mas agora que o desafio acabou, eu estou de volta! o/
E aqui está a imagem da vilã da vez:
Teto:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/57d13205a2dda84a1f56042cbc02f5ab_zps1o30r1qe.jpg.html

O que acharam do capítulo? Demorou, mas a cena de batalha finalmente saiu! Eu espero que tenha ficado boa =D
Deixem reviews por favor e façam uma autora feliz! *-*



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