A Guerra Contra Meus Sentimentos escrita por teffy-chan


Capítulo 12
Capítulo 12 - Vencendo a Guerra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748037/chapter/12

"As palavras estão fluindo
Minhas verdadeiras intenções vão ser liberadas
Além da mão trêmula estendida,
Deixe o som do coração disparar"

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

 

Na facção Shion, quem não tinha ido lutar estava no hospital, ajudando Gumi como podia a cuidar dos ferimentos das pessoas que começavam a retornar aos poucos. Todos pediam notícias de seus parentes e amigos, ansiosos para saber como estava a situação do outro lado, mas os sobreviventes estavam tão feridos que mal conseguiam falar, de forma que eles precisavam aguentar a ansiedade por mais algum tempo.

— Como será que está o Len? — Rin perguntou pelo que devia ser a quinta vez enquanto enxugava o suor da testa de um homem inconsciente — Se ele e o Piko realmente encontraram aquele garoto contra quem nós lutamos…
— Rin, acalme-se — Oliver pediu enquanto enfaixava o braço do homem. James, seu pássaro de estimação, puxava mais bandagens de uma caixa aos seus pés com o bico para perto do dono com alguma dificuldade — Eles vão ficar bem. Seu irmão é forte. E o Piko praticamente não tem autorização para morrer, ele é o herdeiro dos Shion afinal — o garoto lembrou — Eu avisei ao Len que eles deveriam fugir se encontrassem o Ryuto, lembra? Vai dar tudo certo.
— Sim, você avisou. Só resta saber se eles vão escutar o seu aviso — a garota suspirou — Francamente, aqueles dois só me dão preocupação…
— Bem, eu não tenho família, então não posso dizer que entendo. Não sei como é ter um irmão para se preocupar — Oliver falou como quem se desculpa, enquanto recolhia as bandagens do bico da ave — E agora também tem o Piko, não é? Vocês dois vão mesmo se casar? — ele perguntou. Parecia chateado.
— É claro que não! — ela jogou o pano encharcado de suor para o alto, virando-se para encará-lo — Aquela foi uma ideia estúpida do senhor Kaito e da senhora Miku, mas não vai acontecer! Francamente, Oliver, não ouviu quando eu disse que tenho vários outros motivos para me preocupar com ele e com o Len?
— Ouvi, mas… o que você quis dizer com isso então?
— Que é dele que o Piko gosta — Rin respondeu como se estivesse explicando uma coisa tremendamente óbvia — E eu acho que o Len também gosta dele, o que é só mais um motivo para… — ela interrompeu-se ao notar que o garoto parou o que estava fazendo para ficar encarando-a de boca aberta com o único olho visível arregalado. Parecia no mínimo chocado — Oliver? Ah, não me diga que você é contra? Eu sei que eles são dois garotos, mas, francamente, no mundo em que vivemos hoje, com tantas batalhas e mortes acontecendo, acho que essa é a última coisa com a qual deveríamos nos preocupar hoje em dia…
— Não é isso — Oliver interrompeu — É que me ocorreu que os pais do Piko inventaram de fazer esse casamento arranjado para unir a família deles com a sua, certo? Mas, se é do Len que ele gosta e não de você, então significa que ele vai ter que se casar com o Len?
— Eu não tinha pensado nisso, mas é uma linha de raciocínio muito interessante — Rin falou em tom de aprovação, abrindo um largo sorriso.

Rin lembrou-se então que o verdadeiro objetivo disso tudo era gerar um novo herdeiro para os Shion e estava prestes a contar que isso não era mais necessário devido a recente gravidez de Miku, quando foi interrompida, dessa vez não por Oliver.

— Irmã! Oliver!

Rin ouviu a voz de Len ao longe e, ao se virar, viu o garoto se aproximando dela, acompanhado de Piko, Kaito e Miku. Ela piscou algumas vezes para ter certeza de que não estava imaginando coisas, em seguida correu até eles. Oliver foi atrás da garota assim que percebeu que ela só queria abraçar o irmão e ver como ele estava. Lembrou-se de que cuidar dos ferimentos deles era prioridade no momento e a ajudou a levá-los até o hospital improvisado.

Kaito era o que estava em pior estado. Tinha sobrevivido à viagem de volta, mas também tinha levado tiros e perdido muito sangue. Gumi foi cuidar dele assim que chegaram. Miku ficou ao lado do marido durante todo o processo, de forma que os garotos se uniram a Rin e Oliver para contar as novidades.

— Sério isso, Len? — Rin não cansava de perguntar — Não acredito que perdi tudo isso!
— Mas foi bom você não ter ido. As coisas por lá estavam feias, olha só o nosso estado — Len indicou o braço quebrado e apontou para a cabeça de Piko, onde um dos lados estava coberto de sangue seco — Ah, é mesmo, temos boas notícias. O menino que te fez perder um olho está morto, Oliver.
— Sério? Vocês conseguiram acabar com o Ryuto? — o garoto exclamou pasmo. Por mais que odiasse admitir, estava ligeiramente feliz.
— Na verdade o Piko conseguiu — Len indicou o amigo com a cabeça — Foi a primeira vez que ele matou alguém sem usar os doces!
— Eu não me orgulho disso — Piko resmungou.
— Pois devia. Agora seus pais não vão ter do que reclamar — Rin argumentou.
— Eu não sei se isso tem alguma importância a essa altura. Descobri que sou adotado e a guerra finalmente acabou — Piko lembrou.
— Ah é, tem isso, né… — Rin coçou a cabeça sem graça por ter se esquecido desse detalhe.
— Eles te amaram a vida inteira, Piko. Não é porque você descobriu que é adotado que vão deixar de gostar de você — Len sorriu para ele, tentando encorajá-lo.
— É, acho que você tem razão. Apesar de esse não ser o momento certo para conversar com eles sobre isso.
— Veja por esse lado: Pelo menos você tem pais adotivos — Oliver argumentou — Se quiser trocar comigo e ir para o abrigo, sem problemas.
— Olha só o que você fez, Piko! Magoou ele! — Rin deu uma cotovelada no garoto, fazendo-o soltar uma exclamação de dor.
— Ai! Está bem, desculpe! Vou parar de reclamar — Piko exclamou, esfregando o braço — Credo, Rin, você bate igual a um garoto.
— Você que é muito mole — ela rebateu.
— Ei, parem com isso. Eu só estava brincando — Oliver se espantou com o exagero de reação da garota. Em seguida ouviu a voz de Gumi ao longe, pedindo por mais bandagens — Desculpe gente, eu preciso ir — ele pegou a caixa com bandagens e correu para onde a mulher estava.
— Irmã — Len chamou depois que o amigo se afastou deles — Você gosta do Oliver, não é?
— O que? — Rin deu vários passos para trás, pega de surpresa — Eu? Gostar do Oliver? Que absurdo! É claro que não! De onde tirou isso?
— Essa sua reação exagerada te denuncia, Rin — Piko observou, erguendo uma sobrancelha — Se tem alguma coisa que eu sei fazer na vida é mentir, e vou te contar, você mente muito mal.
— Ah, está bem! — ela bateu o pé, resignada — Eu já sei o que vocês vão dizer. Que ele é muito novo, e que ele provavelmente nem pensa nessas coisas ainda, que talvez não seja uma boa ideia já que ninguém sabe quem exatamente eram os pais dele, nem sobrenome o Oliver tem, e…
— Eu não ia dizer nada disso — Len interrompeu — Só ia dizer que vocês formam um casal fofo.
— O que? — ela piscou os olhos azuis, surpresa.
— É, e qual é o problema com a idade dele? São apenas dois anos de diferença — Piko acrescentou — Minha mãe se casou com 16 anos. Seu caso com o Oliver não é nada comparado a isso.
— Vocês… acham mesmo isso? — Rin perguntou. Parecia uma pessoa completamente diferente da garota ameaçadora que tinha batido em Piko instantes atrás — Mesmo ele sendo órfão e não tendo sobrenome… acha que a mamãe não ficaria zangada se soubesse?
— Metade das pessoas aqui são órfãs — Len recordou — Ele é só mais um da lista. Nós mesmo somos órfãos de pai. E o Piko também é órfão, ele só teve a sorte de ter sido adotado.
— E o azar de ter sido escolhido como herdeiro do clã Shion — Piko acrescentou.
— Enfim — Len ignorou o comentário dele — Isso não é motivo para a mamãe criar problemas com ele.
— Obrigada, Len… vocês dois, obrigada por me apoiarem — ela sorriu sem jeito — Espero um dia poder apoiar vocês dois dessa forma também.
— O que? — os dois perguntaram ao mesmo tempo.
— Vou ver se a Gumi precisa de ajuda. Até mais tarde! — ela saiu correndo, deixando a pergunta pairando no ar.

 


—-----------------------

 


No dia seguinte após a vitória, Miku tinha feito um esforço descomunal para retornar ao território da facção Megurine (ou seja lá que nome tivesse agora, já que Luka tinha morrido e não tinha herdeiros) uma última vez, para assinar um acordo de trégua entre as duas facções. Kiyoteru, ela descobriu, havia conseguido preparar um antídoto a tempo de não perder suas cordas vocais. Ele assinou o documento de má vontade, mas ao mesmo tempo parecia aliviado em saber que não seriam mais atacados pela facção Shion. Aquele homem definitivamente não tinha nascido para ser um líder.

Dias se passaram, trazendo com eles uma paz com a qual ninguém estava acostumado. As pessoas ainda estavam se recuperando da última batalha, dessa vez realmente a última. As que já tinham retornado para suas casas se perguntavam o que fariam dali para frente agora que não precisariam mais lutar, outras ainda estavam no hospital. Kaito era uma delas. Gumi havia garantido que seu estado era estável e que ele estava fora de perigo, mas demoraria algum tempo para se recuperar completamente. Bom, não havia mais tanta pressa. Não agora que eles não corriam mais o risco de serem atacados a qualquer momento.

Piko também tinha se recuperado, embora ainda sentisse ocasionais dores de cabeça no local onde tinha batido dias atrás. O braço de Len também tinha melhorado. Ele não poderia ser enviado para uma batalha, caso fosse necessário, não estava completamente recuperado ainda, mas não havia mais batalhas para lutar.

Quer dizer, havia uma última batalha. Uma que ele sabia que precisava travar há muito tempo. Mas ele já havia considerado perdida.

— Ainda não consigo acreditar que a guerra realmente acabou — Len comentou enquanto olhava para o céu nublado. Ele estava sentado em cima de um tronco oco de árvore, perto da tal nova fonte de água potável que sua irmã havia descoberto há o que parecia ter sido anos atrás. Quando foi explorar o local com Piko, descobriu que não passava de um rio com água barrenta — Quero dizer, eu passei a vida inteira com a preocupação de sofrer um ataque a qualquer momento, e agora essa preocupação simplesmente sumiu? Não sei se consigo me acostumar com isso.
— E eu então? Passei a vida toda sendo treinado para ser o futuro líder, para aprender a lutar direito, e agora isso não é mais necessário — Piko respondeu — Não sei o que vou fazer daqui para frente.
— Falando nisso, você resolveu aquele assunto com seus pais? — Len perguntou — Sobre você ser adotado e tudo o mais…
— Bem, não tem muito o que se fazer quanto a isso — ele falou — Quero dizer, eu conversei com eles depois que meu pai melhorou o suficiente para poder falar. Eles já haviam me contado que meus pais biológicos morreram na guerra e que eles precisavam de um herdeiro… eu te contei isso — Piko lembrou e Len assentiu — Eles também sabiam que meu pai biológico tinha falta de melanina no corpo e que, como isso é hereditário, eu também nasci com heterocromia. Talvez, com o fim da guerra, eles possam procurar um jeito de tratar a minha visão. Se encontrarmos recursos para isso, é claro — ele acrescentou — Mas eu confesso que também tive uma reação exagerada quando descobri a verdade e precisei pedir desculpas para eles. Os dois me criaram afinal, só porque descobri que sou adotado não significa que deixei de amá-los.
— É, esse tipo de sentimento não muda tão facilmente — Len comentou, embora se referisse a outro tipo de amor — Não se pode deixar de gostar de alguém do nada, mesmo que você queira.
— Len, eu gosto de você — Piko falou abruptamente
— Bom saber — ele deu uma risada fraca — Mas não é para mim que você tem que dizer isso. Já cumpriu a sua promessa? — Len perguntou — Você prometeu que, se voltássemos vivos, você iria se declarar para a pessoa de quem você gosta.
— Acabei de fazer isso.

Len virou a cabeça para encará-lo, pasmo, e viu que Piko não conseguia fazer o mesmo. Estava de cabeça baixa, encarando o rio lamacento abaixo de seus pés, as mãos trêmulas cerradas em punho e o rosto terrivelmente corado.

— Desculpe não ter contado antes. Eu queria ter contado logo depois que você me beijou, na verdade, mas fazer isso no meio de uma batalha não me pareceu o momento mais propício — Piko continuou. Len geralmente concordaria com ele, mas estava pasmo demais com o que o garoto dizia para falar qualquer coisa — Depois que voltamos… bem, teve toda aquela coisa de assinar o Acordo de Trégua, cuidar dos nossos ferimentos, e eu fiquei preocupado que o meu pai pudesse morrer, você viu como ele estava ferido… enfim… — Piko respirou fundo e tirou coragem sabe-se lá de onde para encará-lo — Já faz muito tempo que eu queria te dizer isso, Len. Não… na verdade eu não queria dizer. Tinha medo de que você descobrisse. Medo da sua reação, medo de que você se afastasse de mim, que me odiasse… eu não fazia a menor ideia de como você poderia reagir se soubesse disso, então eu tentei me livrar desse sentimento, e quando vi que não conseguia, fiz de tudo para esconder isso de você, esconder isso de todo mundo. E acho que consegui fazer isso direito, sou um bom ator, você sabe. Mas, naquela hora… quando você me beijou… eu não consegui acreditar que estava mesmo acontecendo. Que alguma coisa boa estava acontecendo na minha vida enquanto ela estava desmoronando.
— Piko — Len chamou, acariciando o cabelo dele — Você mentiu para mim. Não acredito que me enganou — ele ficou tão surpreso por não ter conseguido perceber a verdade que nem sequer ficou zangado por Piko ter mentido para ele. Sempre conseguia perceber as verdadeiras intenções do garoto apenas com uma troca de olhares… mas dessa vez Piko realmente conseguiu enganá-lo perfeitamente — Por quanto tempo exatamente você esteve escondendo isso?
— Eu não sei… uns dois anos, eu acho — Piko arriscou. Viu os olhos azuis do amigo se arregalarem ainda mais — Pelo menos foi quando percebi que comecei a gostar de você. Desculpe… eu não podia te contar isso, estava com medo da sua reação. Está zangado comigo?
— Estou zangado por termos perdido tanto tempo — Len respondeu, puxando o garoto para perto dele e selando seus lábios. Piko arquejou de surpresa, mas assim que entendeu o que estava acontecendo fechou os olhos, sentindo o rosto esquentar.

Ele sentiu a mão de Len envolver seu corpo, trazendo-o para mais perto de si, enquanto a outra ainda afagava seus cabelos. Piko lembrou-se de Len contando  que gostava de acariciar os cabelos dele quando se declarou. Parece que faria aquilo com muito mais frequência dali para frente. Ele enlaçou o pescoço de Len com uma das mãos e o abraçou pelas costas com a outra. Como imaginava, Len era surpreendentemente forte para a idade que tinha. Estando assim tão perto, podendo tocá-lo, dava para perceber com mais clareza, bem como as cicatrizes adquiridas ao longo das batalhas que enfrentara. Mal conseguia acreditar que podia tocá-lo assim, tão livremente. Que podia finalmente liberar seus verdadeiros sentimentos.

Por mais que desejasse aprofundar o beijo, Len não fez isso dessa vez. Lembrava de como tinha roubado o primeiro beijo de Piko à força no meio de uma batalha, e não queria causar outra experiência ruim no garoto. Sem contar que ele também não era nenhum especialista no assunto. Estava sendo o mais cuidadoso possível, e um tanto desajeitado também. Mas era difícil de se conter, considerando o tempo que desejava poder fazer aquilo. Len abraçava o garoto com força e ternura ao mesmo tempo, em uma tentativa de aproximar ainda mais seus corpos, enquanto deslizava a mão para cima e para baixo, acariciando as costas dele. Era engraçado como Piko tinha cicatrizes de guerra, mas possuía uma pele macia ao mesmo tempo. Ah, é mesmo, ele lidava com a parte da espionagem, devia ser por isso. Len podia sentir o coração do garoto batendo forte e acelerado junto ao seu, no mesmo ritmo.

No entanto, nenhum deles era experiente o bastante para continuar com aquilo e, por mais que desejassem, a necessidade por oxigênio falou mais alto, e eles tiveram que encerrar o beijo.

— Len, você… é muito… exagerado — Piko falou ofegante enquanto puxava o oxigênio de volta para dentro de seus pulmões — Me deixou completamente sem ar. E isso é constrangedor, vá com calma…
— Dois anos. Eu passei dois anos fingindo que não sentia nada mais do que amizade por você, Piko — o garoto ergueu dois dedos na frente do rosto dele — Então me desculpe se exagerei um pouco. E não reclame, você bem que gostou. Deu para notar.
— Ainda assim, é constrangedor — Piko cruzou os braços e desviou o olhar, envergonhado — Dois anos, é? Vou contar isso para a Rin depois. Ela está toda cismada por causa do Oliver, pensando que ele ainda é jovem demais para pensar nesse tipo de coisa, mas na verdade eu também me apaixonei por você quando tinha doze anos. Talvez isso a deixe mais feliz.
— Ficou louco? — Len exclamou — Não pode contar isso para a minha irmã! Se ela souber sobre a gente, vai sair espalhando para todo mundo!
— Ela já sabe, Len — Piko voltou a encará-lo — Bom, pelo menos sabe que eu gosto de você.
— O que…?
— Eu não contei para ela — Piko se apressou a dizer — A Rin percebeu sozinha. Lembra quando meus pais tinham decidido que deveríamos nos casar? Eu disse a ela que um dos vários motivos pelos quais eu não podia fazer isso era porque ela é como uma irmã para mim, e fiquei curioso para saber o que eu significava para ela, então perguntei. E a Rin me respondeu que sou algo como um cunhado.
— Meu Deus, ela sabe…!— Len deu um tapa na própria testa.
— Bom, veja por esse lado: Ela parece nos apoiar. E conseguiu guardar segredo durante todo esse tempo — Piko observou.
— É, você tem razão — Len admitiu — Mas tem alguém que não faz ideia disso, e que precisamos contar.
— Quem?
— Nossos pais.

 


—-----------------------

 


Eles combinaram de fazer isso ao mesmo tempo. Len voltou para casa e Piko foi até o hospital, onde seu pai estava, e onde sua mãe provavelmente estaria junto. Surpreendeu-se quando Gumi lhe informou que seu pai havia recebido alta e voltado para casa com sua mãe algumas horas atrás. O garoto então mudou seu caminho e voltou para casa. Encontrou os pais na sala conversando. Felizmente estavam sentados. Precisariam estar para a notícia que ele estava prestes a dar.

— Oi Piko. Finalmente apareceu — Miku disse assim que o garoto entrou — Onde esteve?
— Estava com o Len — ele respondeu, perguntando-se como diria aquilo — Oi pai. Fico feliz que já teve alta.
— Sim, a Gumi falou que eu posso me recuperar em casa, só preciso ficar de repouso — Kaito respondeu — Mas você não parece muito feliz. O que aconteceu?
— É que… bem, eu estava me perguntando se vocês ainda vão insistir naquela história de eu precisar me casar com a Rin — ele resolveu começar pela parte menos difícil, e também mais necessária — Quero dizer, a guerra terminou, e a mamãe vai ter outro bebê, vocês vão ter outro herdeiro… não tem necessidade disso, tem?
— Ah… — um ar de compreensão passou pelo rosto de Kaito — Realmente… nós precisávamos garantir que houvesse outro herdeiro caso acontecesse alguma coisa durante a guerra, mas agora… bem, não teremos mais batalhas pela frente, então não há mais motivos para apressar as coisas. Nem te obrigar a casar com uma garota que você não ama. Vamos conversar com a Lily mais tarde e desmanchar esse noivado.
— É muito bom saber disso, porque na verdade eu gosto do Len.

Piko tirou coragem sabe-se lá de onde e soltou a frase toda de uma vez só. Provavelmente porque seus pais ainda se sentiam culpados por terem mentido para ele sobre a adoção e estavam tentando ser gentis e agradá-lo como podiam ultimamente, então esse parecia um bom momento para contar. Mas pensando bem, talvez não tivesse sido uma boa ideia. Só depois que falou aquilo é que se lembrou que sua mãe estava grávida e que seu pai tinha acabado de receber alta do hospital. Se alguma coisa acontecesse com eles, Piko não queria ser o responsável por isso de jeito nenhum.

— O que foi que você disse, Piko…? — sua mãe perguntou depois de longos segundos de silêncio constrangedor. Ela parecia estar pensando que não tinha ouvido direito. Ou talvez achasse que ele estava brincando.
— Disse que estou apaixonado pelo Len — Piko repetiu, começando a ficar com medo da reação deles.
— Piko… você gosta de garotos…? — Kaito perguntou lentamente.
— Bom, o Len é um garoto, e eu disse que gosto dele, então acho que isso responde a sua pergunta — ele falou — Achei que já soubessem. Ou que desconfiassem. E que era por isso que sempre foram tão rígidos comigo, e depois inventaram aquele casamento idiota…
— Eu achei que podia estar enganada, mas… — Miku passou a mão pelos cabelos compridos. Então eles realmente desconfiavam. Isso explicava o motivo de toda aquela rigidez na sua criação — Você já disse isso para o Len?
— Sim. Ele sente o mesmo — Piko contou. Isso pareceu deixar os dois ainda mais surpresos — Olhe, eu geralmente pediria desculpas por ter decepcionado vocês… estou vendo que vocês não parecem exatamente felizes com essa notícia… mas não vou me desculpar pelo que eu sou. Eu só queria contar pessoalmente antes que vocês ficassem sabendo por outra pessoa.
— Piko, espere — Kaito segurou o filho pelo ombro antes que o garoto saísse de casa outra vez — Não estamos zangados. Você só… nos pegou de surpresa.
— Suponho que sim — o garoto suspirou. Eles tinham reagido melhor do que ele esperava, na verdade — Ah, é mesmo. Vocês podem ir dizer à senhora Lily que vão desmanchar oficialmente aquele noivado idiota? Eu não posso ficar comprometido com a irmã do Len, isso pega mal, sabe.
— Agora? — Miku perguntou, surpresa com a pressa dele.
— Sim, agora — ele respondeu — Qual é o problema? Eles moram aqui do lado!
— Ele não vai calar a boca enquanto não fizermos isso, Kaito — Miku suspirou.
— Está bem — Kaito fez um esforço para se levantar — Vamos lá.

Depois de poucos minutos de caminhada eles chegaram na casa do clã Kagamine. Piko bateu na porta e Lily atendeu quase que imediatamente. Parecia muito surpresa com alguma coisa.

— Senhor Kaito, senhora Miku… — ela murmurou — O que…?
— Boa tarde, Lily — Miku cumprimentou, sem saber por onde começar — Não vamos tomar muito o seu tempo. Bem… você deve se lembrar, é claro, quando conversamos com você sobre como estávamos preocupados com o futuro do destino da nossa facção. Que era possível que precisássemos de um novo herdeiro, e perguntamos se sua filha estaria disposta a se tornar parte do clã Shion.
— Sim… sim, é claro que me lembro — Lily respondeu. Embora conversasse com eles, sua mente parecia estar divagando, pensando em algo completamente diferente — Mas o que tem isso?
— Bom, agora que a guerra acabou — Kaito prosseguiu — Nosso filho tem insistido que não quer se casar com ela… quero dizer, não se ofenda, por favor, a Rin é uma ótima garota, mas o Piko simplesmente não está apaixonado por ela — ele explicou da melhor maneira possível, tentando não mencionar o nome de Len — Então, nós viemos perguntar se você e a Rin concordariam em desistir dessa ideia.
— Ah, mas é claro! — pela primeira vez ela parecia estar prestando atenção na conversa. Parecia aliviada também — A Rin também gosta dele, mas não desse jeito, sabe, é de um modo mais fraternal, creio eu… ela vai ficar feliz quando souber disso.
— Sentimos muito, Lily — Miku desculpou-se — Por ter envolvido sua família em nossas questões pessoais… nós é que somos os líderes da facção afinal, deveríamos ter arranjado outro jeito de resolver esse assunto. Você e a Rin não tinham nada a ver com isso.
— Ah, não se preocupe com isso. Eu entendo que era necessário — Lily respondeu, mas era evidente que estava aliviada por isso não ser mais necessário.
— Certo. Então, desculpe mais uma vez — Kaito falou. Em seguida acrescentou para o filho em voz baixa — Certo, Piko, fizemos nossa parte. Você resolve o outro assunto.
— O que? Vocês vão embora? — o garoto exclamou incrédulo.
— Você nos pediu para desmanchar seu noivado com a Rin e nós fizemos isso — Kaito respondeu — O resto é com você.
— Não se preocupe, Piko. Eu já contei para ela — Len surgiu na entrada, colocando-se ao lado do garoto. Lily voltou a ficar atordoada enquanto olhava de um para o outro. Finalmente Piko entendeu porque ela parecia tão distraída enquanto conversava com seus pais.
— Ah… então você já sabia — Miku desistiu de ir embora e voltou para onde estava.
— Sim… o Len tinha acabado de me contar quando vocês chegaram — Lily respondeu. Ela passou a mão pelos longos cabelos loiros — Desculpe, eu ainda estou tentando processar a informação. Vocês falaram muita coisa ao mesmo tempo, o namoro dos dois, o cancelamento do noivado da Rin…
— Namoro? — Miku repetiu — Você não nos contou nada sobre namoro.
— Ei, você não disse para eles? — Len sussurrou para o garoto.
— Não achei que precisasse ser tão explícito. É meio óbvio que quando duas pessoas apaixonadas se declaram, elas começam a namorar, não? — Piko argumentou — Aliás, você não me pediu em namoro.
— Mas você mesmo acabou de dizer que é óbvio que quando pessoas apaixonadas se declaram, elas começam a namorar! — Len replicou.
— Vocês dois, será que podem fazer o favor de ficarem quietos? — Lily pediu e os dois se calaram — Escute, Len… — Lily se abaixou para poder encará-lo melhor, apoiando as duas mãos nos ombros do filho — Você sabe que eu sempre te dei liberdade para fazer suas próprias escolhas. Eu conheço o Piko desde que ele nasceu, sei que ele é uma ótima pessoa, mas… desse jeito o nome da nossa família vai morrer com você…
— Eu não acredito que, de todas as reações que você poderia ter, a sua preocupação é o nome Kagamine — Len falou abismado.
— Pelo menos a sua mãe não é contra você gostar de um garoto — Piko falou baixinho.
— Não se preocupe, mãe. Eu também gosto de garotos — Rin, que parecia ter brotado do nada ao lado da mãe, falou com um enorme sorriso — Aliás, parabéns vocês dois!
— Rin, entre agora! — Lily exclamou, colocando-se de pé.
— Mas não é justo! Eu também quero ouvir as boas notícias! — a garota reclamou — Como o fim do casamento que eu nem queria, por exemplo. Viu só, Piko? — ela encarou o amigo — Foi por isso que eu te disse que gostava de você como se fosse meu cunhado.
— Obrigado, eu acho… — o garoto falou, sem saber o que responder — Se puder nos ajudar com a sua mãe, eu agradeço.
— É, mãe! Pare de fazer drama e deixe os dois serem felizes! Não se esqueça de que um dia eu vou me casar também — Rin lembrou.
— Querida, eu realmente admiro a sua disposição em ajudar o seu irmão, mas você é uma garota — Lily lembrou — Você irá herdar o sobrenome do seu futuro marido, seja ele quem for.
— Mas, se me lembro bem, o Oliver não tem sobrenome, não é? — Len recordou.
— É, ele não sabe nem quem eram os pais deles — Piko concordou — Aposto como não se importaria em herdar o sobrenome Kagamine.
— O que o Oliver tem a ver com isso? — Lily voltou-se para eles.
— Nada! Não tem nada a ver! — Rin fez menção de tampar as bocas dos dois, mas os garotos correram para longe dela. Rin correu atrás deles mesmo assim.
— Acho que o seu problema está resolvido, Lily — Miku deixou escapar uma risada enquanto observava a cena.
— É o que parece — ela respondeu, pensando em todas as informações que despejaram sobre ela naquele curto espaço de tempo.
— Ah, céus… o que vamos fazer agora? — Kaito murmurou.
— Pensei em investir em agricultura — Lily falou de repente — Eu nunca havia percebido, mas o solo nos fundos daqui de casa parece ser fértil. Agora que não temos mais que nos preocupar com ataques surpresa, posso tentar plantar alguma coisa.
— Eu estava me referindo ao Piko e ao Len… — Kaito falou lentamente.
— Ah. Acho que não há nada a ser feito — Lily deu de ombros — Assim como não há nada a ser feito sobre o fato de vocês terem adotado o Piko, escondido isso dele e o garoto ter descoberto isso por acidente depois de grande — ela disse como quem fala do tempo, mas os dois entenderam aonde a mulher queria chegar — Céus, eu fui tola pensando em manter o sobrenome da minha família. Independente do que a Rin disse, eu devia ter pensado na felicidade do Len primeiro… preciso me desculpar com ele depois.
— Você não se importa com o fato de ele gostar de um garoto? — Miku não conseguiu evitar de perguntar.
— Eu conheço o garoto em questão há anos, e sei que se trata de uma boa pessoa, então não. E mesmo que me importasse, não adiantaria de nada proibi-los de ficarem juntos, isso só os aproximaria ainda mais — Lily respondeu, voltando a observá-los — Além do mais, eles parecem felizes, não acha?
— É… parecem mesmo — Miku teve que admitir — Agricultura parece uma boa ideia — ela falou de repente — Talvez possamos tentar também.

Por alguma motivo o assunto mudou para agricultura.

 


—-------------------------

 


Depois de se cansar de correr atrás dos garotos, Rin avisou que iria até o hospital (onde eles sabiam que Oliver ainda estava ajudando a cuidar dos mais feridos na última batalha) e despediu-se deles. Os dois se afastaram o suficiente até terem certeza de estarem fora do alcance da vista de seus pais e sentaram-se em uma pedra alta e plana.

— Não acredito que foi tão surpreendentemente fácil — Len comentou — Como conseguiu fazer seus pais aceitarem?
— Eles ainda se sentem um pouco culpados por terem escondido a verdade sobre a minha origem, então eu aproveitei o momento — Piko explicou — Mas acho que isso deve ter esgotado toda a cota de culpa que eles ainda pudessem estar sentindo.
— Provavelmente sim — Len deu uma risada — Eu ainda não consigo acreditar que a minha mãe estava mais preocupada com sobrenome Kagamine do que com o fato de eu gostar de um garoto.
— Uma sorte a Rin ter resolvido esse detalhe — Piko riu.
— Pena que tivemos que contar isso para minha mãe — Len comentou — Só espero que seja recíproco.
— Claro que é. O Oliver também gosta dela, dá para notar. Só não sei se ele mesmo já se deu conta disso — Piko respondeu — E mesmo que a Rin não tivesse dito nada, eu não me importaria de usar o sobrenome Kagamine se fosse para a sua mãe nos deixar ficar juntos.
— Ei… você disse algo muito comprometedor agora.

Piko repassou a última frase mentalmente e percebeu que Len tinha razão. Ele sentiu o rosto esquentar arregalou os olhos bicolores, surpreso com o que havia dito. Céus, aquilo era praticamente um pedido de casamento! Mas como assim casamento, eles mal tinham começado a namorar… espere, eles estavam namorando? Não, pensando bem, não tinham sequer chegado a um acordo sobre isso… céus, o que estava acontecendo com ele? Parecia absurdo quando se comparava aquilo com casamento, mas fazia sentido quando ele pensava que era Len… como isso era possível?

Ah… é por que era Len. Simplesmente isso. Lembrou-se do escândalo que fez quando seus pais tentaram lhe obrigar a casar com Rin. Era um absurdo, realmente, ele só tinha quatorze anos, não tinha idade para se casar com ninguém. Mas era porque ele não gostava de Rin. A amiga era algo como uma irmã para ele, mas era Len que ele amava. Se fosse Len, ele concordaria em passar o resto da vida ao seu lado sem pensar duas vezes.

— Ah… não, é que… eu só… bem, quero dizer… não foi isso que você pensou, eu só quis dizer que… que…
— O que? — Len segurou o garoto pelo queixo, obrigando-o a encará-lo — O que você quis dizer?
— Que eu gostaria… de continuar vivendo junto com você… até nós crescermos, e virarmos adultos… e sempre… — ele fez um gesto vago com a mão, indicando o futuro — Você não quer isso?
— É claro que quero — Len sorriu, a mão que segurava seu queixo passando a afagar sua bochecha — Embora você não tenha me pedido em namoro nem nada.
— E por que eu é que tenho que fazer isso? — Piko afastou-se dele alarmado.
— Certo… acho que podemos pular essa parte e simplesmente concordar que estamos namorando. O que acha? — Len propôs.
— Acho que essa foi a melhor ideia que você teve o dia inteiro — Piko respondeu e o beijou em seguida.

Len estava certo. Eles haviam desperdiçado dois longos anos. Tudo porque Piko não havia conseguido reunir coragem suficiente para dizer a Len como se sentia em relação a ele. Porque tinha medo, não só de lutar em um campo de guerra, mas também de ser rejeitado. Tinha tanto medo de perder uma amizade importante que jamais cogitou a possibilidade de poder ganhar algo muito maior. E ele conseguiu isso, graças a Len. Finalmente a guerra tinha acabado. As duas guerras, na verdade, e Piko venceu ambas. Tanto a guerra contra a facção Megurine quanto a guerra contra seus sentimentos.

 


~*~ THE END ~*~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá pessoas lindas!
É.. acho que eu me empolguei um pouco escrevendo esse final XD Mas eu espero que vocês tenham gostado!
Len e Piko finalmente ficaram juntos, eu ouvi um amém? o/
A guerra terminou e a fic também...estou triste por ser o último capítulo, mas também estou feliz por ter conseguido terminar essa história que eu amei escrever ♥ Espero que vocês tenham gostado dela tanto quanto eu!
Muito obrigada a todos que acompanharam a história do início ao fim, a todos que pegaram a fic pela metade e a todos que comentaram, seus reviews me incentivaram muito a continuar escrevendo! ♥ Obrigada a todos que leram essa história!
Deixem reviews por favor, quero muito saber o que vocês acharam do final!
Nos vemos em uma próxima fic o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Guerra Contra Meus Sentimentos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.