A Guerra Contra Meus Sentimentos escrita por teffy-chan


Capítulo 1
Capítulo 1 - Disputa Egoísta




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"Para começar, você é sempre assim. Fugindo e se escondendo em algum lugar.
Por isso vou dizer, você poderia me mostrar
Seus verdadeiros sentimentos, sem esconder nada?".

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

 

Essa guerra já dura vinte anos. Piko não sabia muito bem como tudo isso começou. Pelo que seus pais contaram, um experimento de um cientista que costumava ser muito famoso na época deu errado, causando uma grande explosão e destruindo metade do país. Desde então os sobreviventes começaram a se ajudar como podiam. Isto é, pelo menos no começo. Assim que perceberam como a comida e água potável haviam se tornado escassas, as pessoas começaram a guerrear entre si. Hoje não existe mais diferença entre ricos, pobres, status social, nada disso importa. A única prioridade é sobreviver.

Com o passar do tempo, as pessoas perceberam que não conseguiriam sobreviver sozinhas, então decidiram formar alianças entre si e viver em grupos. Antigamente haviam vários, mas, depois de tanto lutarem e matarem uns aos outros, os grupos foram reduzidos a apenas dois. O grupo ao qual ele pertence e o seu atual inimigo. Agora, é claro que eles poderiam tentar fazer um acordo e deixar essa guerra estúpida de lado, afinal, eles estão ocupando metade do que sobrou do país, enquanto seus inimigos estão ocupando a outra metade. Então por que cada um não pode ficar com a sua metade e pronto? A resposta é ridiculamente óbvia:
Humanos gostam de brigar.
Tudo por causa de uma estúpida disputa por território.

Atualmente Piko é o único herdeiro dos líderes da facção a qual pertence, para seu azar. Ele não se parece muito com seus pais, nem fisicamente e nem na personalidade. Deles, herdou apenas a cor dos olhos, o direito verde, igual ao da mãe, e o esquerdo azul, como o do pai. Mas não sabia de quem havia herdado a cor de seus cabelos prateados, ou sua pele pálida. Algumas pessoas diziam que ele havia herdado as feições delicadas de sua mãe, o que talvez seja verdade. Não que isso seja bom. Ele poderia ter herdado tanta coisa deles. A coragem de seu pai. A determinação de sua mãe. Mas não. Nasceu sendo um completo covarde, que odeia ser recrutado para missões, que dirá lutar. Era o pior herdeiro que Kaito e Miku, os heróis de sua facção, poderiam ter.

Também não é como se ele não tentasse ser um bom filho para eles. É claro que ele se esforçava nas missões, dava o melhor de si para cumprir sua parte e alcançar o objetivo. Mas parece que o seu melhor nunca era o suficiente. Tinha medo de lutar e sua mira era horrível. Simplesmente não tinha nascido para viver em um mundo de guerras. A única coisa em que era realmente bom era em recolher informações e espionagem. É claro, para espionar os outros, é preciso ocultar sua presença, e se esconder como um covarde é o que ele faz de melhor. E quanto a recolher informações, bem… na verdade, quando invadia o território inimigo, ele costumava interrogar as crianças. O motivo é simples: Elas escutavam coisas que não devem dos adultos e eram alvos fáceis. Basta fingir que estava perdido, que era uma vítima que perdeu a família durante uma batalha, ou fingir que perdeu a memória, ou contar qualquer outra historinha triste que elas caíam facilmente e diziam tudo o que sabiam. E é incrível como elas sabiam de tanta coisa. Sinceramente, os adultos de lá eram muito desleixados com seus filhos. É claro que ele não se orgulhava de enganar crianças inocentes, mas era melhor do que ir direto para o campo de batalha. Sem falar que isso é algo em que ele é realmente bom. Mentir. Provavelmente é a única coisa na qual era bom.

Mas sua vida não é tão ruim assim. Quando estava se sentindo um lixo, costumava ir visitar o clã Kagamine, que são seus vizinhos (não que se possa chamar essa paisagem destruída de vizinhança). Eles foram um dos primeiros clãs a se tornarem seus aliados, então tinham uma boa relação. Atualmente, só estão vivos a matriarca Lily e os gêmeos Len e Rin. O marido dela faleceu há dois anos na guerra.

Len e Rin tinham a mesma idade que ele, então, quando não estavam no meio de uma batalha, fingiam ser crianças normais e brincavam juntos. Mas eles já estavam com quatorze anos agora, então isso ficou no passado. Mas não significa que tinham deixado de se ver com frequência. Embora Rin pareça estar evitando-o ultimamente. Piko se perguntava às vezes se a amiga estava zangada com ele.

— Oi, Piko! Você tem aparecido com mais frequência, hein? — Rin observou ao abrir a porta de madeira e dar de cara com o garoto. Havia uma rachadura nela que a garota dizia há semanas que ia consertar, mas ela continuava ali — O que foi dessa vez? Levou bronca do seu pai? Fracassou em alguma missão?
— Não, eu só vim fazer uma visita mesmo. Mas se estou te incomodando, vou embora — ele já ia dar meia-volta quando sentiu a garota segurá-lo pelo braço.
— Espera, eu só estava brincando! — Rin exclamou. Piko sabia que ela não fazia isso por mal, mas, francamente, Rin tinha um péssimo senso de humor — Desculpe. Você veio ver o Len, certo?
— Na verdade eu vim ver vocês doi…
— Len! — Rin gritou alto, fazendo o garoto tampar os ouvidos para não ter seus tímpanos perfurados — O Piko está aqui!
— Pare de gritar, desse jeito até o pessoal da facção Megurine vai saber que temos visitas — Len reclamou, surgindo na entrada — Oi, Piko. Entre.
— Não precisa, eu não vou demorar…
— Mesmo? Nesse caso eu vou terminar os meus afazeres. Divirtam-se vocês dois, com licença! — Rin fechou a porta a trás de si, aumentando minimamente a rachadura que havia nela e saiu correndo na direção contrária a de onde Piko tinha vindo.
— Afazeres? — Piko repetiu.
— Ela achou uma nova fonte de água razoavelmente limpa. Disse que queria tomar um banho decente e lavar o cabelo antes que mamãe a encontrasse e decidisse usar a água para bebermos — Len revirou os olhos.

Len sentou-se em uma pedra retangular diante da porta que servia como degrau. Ele era apenas alguns centímetros mais alto do que Piko. Tinha olhos azuis como safira e cabelos loiros, presos em rabo-de-cavalo. Era completamente idêntico à irmã e, ainda assim, muito diferente. Rin era alegre e espontânea, adorava uma confusão e justamente por isso era boa nas batalhas, embora não participasse muito delas por ser uma garota. Já Len era mais sério e mais decidido. Também era confiante e bom nas lutas, um excelente atirador. Piko não entendia como alguém tão diferente dele podia ser seu amigo.

— A Rin está zangada comigo? Ela parece estar me evitando ultimamente — Piko comentou, sentando-se ao lado dele.
— Acho que não. Se estivesse, ela não perguntaria sobre o que nós conversamos sempre que você vem aqui e ela nos deixa sozinhos — Len respondeu. Piko franziu o cenho, tentando entender o significado daquilo — Mas ela tem razão em se preocupar. Você tem vindo aqui quase todos os dias. Não que eu esteja reclamando, é claro, você é sempre bem-vindo. Mas, sempre que você aparece, está com uma cara horrível. O que está acontecendo?
— Não é o que está acontecendo, Len. É o que aconteceu.
— Não precisa me dizer nada. Seus pais estão exigindo demais de você de novo, não é? — Len adivinhou e o garoto confirmou com um aceno de cabeça. Se conheciam há tempo o suficiente para saber o que o outro estava pensando, sem precisar de palavras — Escute, você precisa parar de fugir desse jeito, Piko. Querendo ou não, você é o único herdeiro do clã Shion, é por isso que eles são tão rígidos, você sabe disso. Você não pode fugir do seu destino. Sei que é difícil ter tantas pessoas exigindo coisas de você, mas…
— Não, você não sabe! — Piko o interrompeu — Como você poderia saber? Teve a sorte de nascer um Kagamine, não precisa carregar a responsabilidade de ser o próximo líder do clã caso algo aconteça com seus pais, não tem uma porção de pessoas ao seu redor exigindo coisas de você, sendo que você não sabe se vai conseguir corresponder às expectativas delas… talvez eu não consiga, Len. É, eu provavelmente não vou conseguir — ele baixou a cabeça e enterrou o rosto nas mãos.
— Você vai sim. Eu sei que vai — Len apoiou a mão no ombro dele — Você tem razão. Nossas famílias podem ser aliadas, mas você que é o herdeiro oficial, e não eu. Não sei como me sentiria se estivesse no seu lugar, sendo pressionado desse jeito. Desculpe.
— Você não faz ideia de como é — Piko tirou as mãos do rosto e encarou os próprios sapatos, velhos e surrados — Ao mesmo tempo em que existem pessoas que exigem muito de mim, existem aquelas que caçoam. As que dizem que eu nunca conseguirei chegar aos pés do meu pai. Que tiram sarro da minha aparência e dizem que eu sou, bem… muito delicado… — ele se encolheu, envergonhado ao dizer aquilo.
— O que? Mas você é um garoto — Len pareceu espantado ao ouvir aquilo.
— Exatamente por isso é que tiram sarro — Piko respondeu — Isso só serve para deixar meus pais mais irritados e exigirem mais coisas de mim. Minha mãe disse que eu puxei os traços dela, o que talvez até faça sentido, mas eu não sei…
— Acho que só estão inventando isso para implicar com você — Len opinou — Porque, veja, se alguém aqui deveria ter traços delicados, então deveria ser eu. Tenho uma irmã gêmea afinal. Ou por acaso eu tenho uma aparência feminina não percebi? — ele brincou.
— Não, nem um pouco — Piko deixou escapar uma risada.
— Viu só? É pura implicância — Len afirmou — Aposto como só estão com inveja porque você é o herdeiro do clã Shion, e eles não.
— É, talvez — Piko respondeu — Mas isso não muda o fato de eu ser um inútil nas batalhas.
— Você não é um inútil! — Len exclamou convicto — É o melhor espião que nós temos! Sem você, não teríamos conseguido extrair metade das informações que obtemos da facção Megurine. Sem falar que você é ótimo em lidar com crianças.
— Eu sou bom em enganar crianças — Piko corrigiu com um resmungo.
— É tudo a mesma coisa — Len deu de ombros — É como se você fosse… como era mesmo aquela história que sua mãe contava quando éramos pequenos…? — Len tentou puxar pela memória — Ah, é isso mesmo! É como se você fosse o Lobo Mau, que engana as criancinhas para roubar os doces delas! Só que ao contrário! — Len começou a dar risada.
— Acho que a história não era bem assim — Piko comentou — Ou você está pensando na história errada.
— É mesmo. E você não se parece muito com um lobo — Len inclinou-se para perto do amigo e subitamente afagou os cabelos dele — Ainda mais com esse cabelo prateado. A menos que seja um lobo branco… minha mãe disse que existe, se chama lobo-do-ártico, mas eu nunca vi um.
— Nem eu — Piko virou o rosto para o lado, afastando-se dele. Não podia encarar Len agora, sabia que devia estar corado.

Isso mesmo. Esse era o seu outro "problema", aquilo que o atormentava todos os dias. Não era apenas por causa de sua aparência que as pessoas diziam que ele era delicado demais. Entretanto ele não podia conversar sobre isso com Len. Provavelmente não poderia contar nunca. Len era um dos poucos amigos que tinha, seu melhor amigo, ele não tinha a menor ideia de como o garoto reagiria ao ouvir aquilo. Se o perdesse por causa de algo assim… aí sim a guerra seria o menor de seus problemas. Na verdade, a guerra entre as duas facções não era nada se comparada à guerra que ele enfrentava contra si mesmo para esconder o que ele era e suprir os sentimentos que não deveria ter.

— Piko? — Len chamou — Tudo bem?
— Tirando todos os problemas que eu já mencionei, está tudo ótimo — ele mentiu o melhor que pôde, embora ainda não conseguisse encará-lo.
— Bem, não se preocupe tanto com o que as pessoas dizem sobre você. Se continuar duvidando de si mesmo, sempre pode vir até aqui para conversarmos. Eu sempre vou estar ao seu lado, não se esqueça disso, então continue seguindo em frente.

Piko enfim conseguiu encará-lo e viu Len sorrindo para ele. Aquele sorriso confiante e decidido, que ele não sabia de onde Len tirava tanta coragem para exibir, mas que ele adorava admirar.

— Promete?
— É claro! — Len estendeu a mão e bateu na palma na de Piko, depois deu um soco, em cima, embaixo, depois bateram as palmas de novo e apertaram as mãos. Um "aperto de mão secreto" que Piko, Len e Rin inventaram quando se conheceram, para confirmar se eram eles mesmos durante as missões ou se alguém tinha sido clonado. É claro que aquilo não fazia sentido, mas eles só tinham 6 anos quando inventaram isso, então era compreensível. Ainda assim, não haviam esquecido o "aperto de mão secreto", e ainda o usavam antes de enfrentarem alguma batalha, ainda que fosse apenas para dar boa sorte.

Mas eles não pareciam estar com muita sorte agora. Mal apertaram as mãos quando ouviram uma sonora explosão, não muito longe dali. Quase que instantaneamente, Lily irrompeu na entrada da casa.

— Mãe? — Len chamou, um tanto atordoado — Isso foi…?
— Um ataque — Lily confirmou antes que o garoto terminasse a frase. Em seguida olhou para os dois e notou que eles ainda estavam de mãos dadas — O que estão fazendo?
— Nada — Piko puxou a mão de volta rapidamente, desviando o olhar para o lado.
— Vocês já estão bem grandinhos para ficarem fazendo essa coisa de "aperto de mão secreto" — por incrível que pareça, Lily adivinhou o que eles estavam fazendo. Foi mesmo uma sorte. Pelo menos para Piko — Temos coisas mais importantes para nos preocuparmos, como a guerra que está acontecendo nesse exato instante, por exemplo — ela falou, ao mesmo tempo em que escutaram outra explosão, dessa vez mais alta — Vamos, levantem-se. Precisamos contra-atacar.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas!
Bom, essa história está sendo baseada na música "Dai Ichiji Jibun Sensou" (The First War Against Myself), como eu disse lá na sinopse, por isso vou deixar trechos da letra da música nas notas iniciais de todos os capítulos para quem não a conhece. Não tem problema se você nunca assistiu o vídeo, dá para entender a história perfeitamente bem mesmo assim, mas acho que seria legal se você pudesse gastar 3 minutinhos do seu tempo assistindo para conhecer a base da história :)
Então… eu realmente não sei como essa história acabou ganhando um plano de fundo de guerra XD É sério, gente, eu queria desenvolver apenas os sentimentos dos personagens, mas por algum motivo a história acabou ganhando um cenário de um mundo onde batalhas acontecem todo o tempo… e eu não sei mesmo como isso aconteceu e nem como vou lidar com isso, porque nunca escrevi uma fic sobre esse tema antes, então tenham paciência comigo, por favor.
Enfim, eu espero que vocês tenham gostado do capítulo! Eu shippo muito o Len e o Piko juntos (É um shipp improvável? Creio que sim, mas eu só tenho shipps loucos mesmo XD) então espero que tenham mais pessoas aqui que shippem eles juntos também XD

E se por ventura alguém aqui não conhece Vocaloid, vou deixar algumas imagens dos personagens para vocês nas notas finais conforme eles forem aparecendo na história. O Piko e o Len já aparecem no vídeo, mas vou deixar imagens deles também assim mesmo:
Piko:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/29695194_1637590096324574_2714842866386993152_n%201_zpseif3vp83.jpg.html

Len:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/kagamine_len_render_by_syury07-d3jvtfp_zpsobngickn.png.html

Rin:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/Kagamine.Rin.full.864169_zpskzfpighj.jpg.html

Lily:
http://s1151.photobucket.com/user/teffy-chan88/media/lily__vocaloid__full_by_poggiezas-d70yv2h_zpsvssfnb0b.png.html

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