Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 73
MESTIÇO - De pé por um fio


Notas iniciais do capítulo

demorou mas saiu. desculpa a demora. acho bem difícil escrever porradas.



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MESTIÇO

Eu tinha só uma leve noção do que estava acontecendo ao meu redor. Ouvia vozes e movimentos mas meus olhos estavam pesados demais e minha cabeça leve demais. Uma combinação estranha e até desconfortável. Ainda mais se fosse juntar à isso o frio que sentia principalmente na ponta dos meus dedos. Estava meio difícil também lembrar em que situação a gente estava. Por um momento, achava que estava em mais um dos treinamentos em Valhalla mas, pouco a pouco, fui lembrando que estávamos no México, lutando contra um monte de deuses e monstros diferentes e que eu tinha apanhado feio tentando proteger dois pirralhos.

Lembrar disso me fez ficar irritado quase que instantâneamente… irritado, envergonhado e irado. Tinha que concertar aquela burrada que acabei causando. Mas antes eu tinha que conseguir ao menos abrir meus olhos. 

Não foi tão fácil como possa parecer ok? Mas consegui abrir os olhos e vi um gos pirralhos, o menino, logo ao meu lado chorando e com catarro escorrendo pelo nariz. Dali ficava meio ruim de ver, mas acho que estava rolando alguma briga na escada e, antes dessa escada, estavam três monstros. 

O garoto então notou que eu havia acordado e olhou para mim com um olhar assustado.

— Cadê a garota? - perguntei num sussurro olhando para os monstros que estavam de costas para nós. Não ousei levantar não só pela minha cabeça estava meio aérea, mas também para que eu pudesse voltar rapidamente a fingir que estava dormindo caso olhassem para nós.

— O garoto de cabelo verde e rosa levou… - sussurrou ele de volta.

— Bom… - eu disse o mais baixo que pude começando a me levantar devagar.

Eu não sou exatamente uma referência muito boa para ninja, mas tentei ser o mais silencioso que pude enquanto me aproximava de um pedaço de madeira, como um taco, com várias lâminas embutidas. Não queria saber como aquela coisa, obviamente uma arma e típica deles julgando pelos detalhes que enfeitavam a madeira (que incluía até o desenho de uma caveira caveira), havia chegado até ali. Só queria me aproveitar de sua presença. Na minha aproximação silenciosa, ouvi a voz de Zia vindo da escada.

—S-Solta… ele! - exclamava ela.

Claro que eu tava preocupado com a luta deles, mas tinha que focar na que eu enfrentaria no momento. A luta de Zia devia estar interessante, pois os meus três alvos olhavam para ela rindo e se divertindo, a distração perfeita para mim. Eles só me notaram no último segundo, quando minha mão já estava quase agarrando o taco de aparência letal.

— Oye! - exclamou o mais perto de mim ao me notar. 

Era hora de ignorar dor e cansaço e nada mais motivacional para conseguir fazer isso do que dar um grito enquanto agarra um taco e então junta toda sua força para dar uma tacada na cabeça de um monstro. Recomendo. É bem terapêutico também. Quase conseguia sentir minha raiva saindo de mim.

O taco e suas lâminas causaram um estrago na cabeça do monstro que acabou deixando o taco meio sujo de sangue. Poderia ficar um tempo comparando aquele taco com o meu machado que torcia que estivesse na praia ou em algum lugar, mas não era tempo para isso. Eu tinha monstros para derrotar e não podia deixar meus braços sequer pensarem em ficarem pesados.

O monstro que atingi cambaleou mas não de fato caiu, mas foi quase. Se segurou em uma das paredes de pedra que nos cercavam enquanto o sangue escorria pelo ferimento. Quanto a mim, aproveitei a deixa para lidar com o segundo monstro que vinha para cima de mim. Eu gritava tentando puxar forças quando atingi o segundo inimigo  com o bastão bem no braço que soltou um barulho de algo se quebrando. Chamo de “inimigo” e não de “monstro” porquê não tinha cara de monstro. Parecia bem mortal e normal se não fosse a pele levemente azulada.

Claro que um mero golpe no braço não era suficiente para acabar com o cara azul, exatamente por isso eu estava preparando já meu próximo ataque na exata fração de segundo seguinte. Mas meus planos tiveram que mudar rapidamente quando uma pequena explosãozinha de fogo atingiu a lateral do rosto de meu adversário. 

Rapidamente notei que o ataque, uma bolinha de fogo ou explosão pela cara, havia sido jogada pelo garoto maia que agora estendia a mão na nossa direção (provavelmente a origem do ataque). Embora sua ajuda não tenha sido grande coisa, foi o suficiente para distrair meu adversário e fazer ele dar dois passos para o lado oposto do golpe. Passos esses que deixaram ele bem na frente do portal que levava para fora da pequena… não sei… “capela de sacrifícios”, conhecendo a fama das pirâmides dos povos pré-coloniais.

Eu vi a oportunidade e na hora agarrei ela. E isso significou ir correndo gritando para ele na curta distância que nos separava e dar uma forte ombrada na altura de seu peito. A importância do elemento surpresa, foi que ele não pode fazer muita coisa quando acabou sendo empurrado escada abaixo.

Mas o problema era que se livrar (talvez temporáriamente) de um dos três monstros não era suficiente. Eu estar ofegante e pingando de sangue também não era muito animador. Estava tentando evitar pensar em que tinha chances de eu morrer estando ali fora e tudo mais até que o terceiro monstro, que ainda não havia entrado de vez na nossa pancadaria, resolveu que não queria mais ser um mero espectador e agarrou o menino maia pelos cabelos forçando ele a se levantar e dizendo coisas que não entendi uma só palavra pois não era espanhol. 

E pra piorar, lembra do primeiro monstro? O que levou uma tacada na cabeça… Pois é. Ele me agarrou por trás agarrando meu pescoço com força num golpe de estrangulamento, um mata-leão, infelizmente muito bem feito. Minha garganta doía e minha respiração, que já não estava vindo tão fácil, ficou pior ainda.

No meio do golpe, ele resmungou algo que eu não entendi no meu ouvido. Pelo tom de voz, dificilmente era simpático. 

—Fala… algum… - tentei dizer mas não é exatamente fácil falar no meio de um mata-leão. 

Eu sentia minha cara ficando vermelha e meu corpo mole. Se eu não fosse um bersercker, já teria caído faz tempo. Ou melhor, nem teria me levantado para mais. Mas acho que eu estava chegando no meu limite, pois não conseguia juntar tanta força dentro de mim para fazer o contra-golpe do mata-leão que havia aprendido num mini-curso de "Jiu-jitsu e você" em Valhalla. 

Já estava pensando em usar uma abordagem diferente com o taco cortante que havia pegado mas eis que tudo muda quando o monstro solta um guincho de dor. 

Os braços dele ao redor de minha cabeça e pescoço afrouxaram e isso me deu uma ótima oportunidade para dar uma cotovelada no alto da barriga dele. Isso foi o suficiente para ele me soltar e, quando me virei para ele, vi Jacques perfurando as costas dele. 

—Jacques!- exclamei surpreso e talvez meio ofegante. 

— Viemos salvá-lo, donzelo em perigo. - exclamou Jacques saindo das costas do monstro que caía no chão.

—Não sou um donzelo em perigo.- respondi me virando para onde o menino maia estava sendo segurado pelos cabelos pelo terceiro monstro. 

— Eu cuido desse. - disse Jacques - Termina com o outro de vez primeiro. 

Cansado do jeito que eu estava, não discuti. O monstro que segurava o garoto não havia levado nem um golpezinho ainda enquanto o nosso único outro adversário, estava de joelhos no chão. 

—E os outros? Como estão? - perguntei enquanto preparava o meu taco firmemente nas minhas mãos para fingir que a cabeça do monstro era uma bolinha de golfe. 

Enquanto eu preparava um jogo de golfe grotesco, Jacques parecia estar numa luta de esgrima bem estranha. Primeiro porque seu adversário ainda segurava o menino maia pelos cabelos com a mão livre enquanto a outra mão segurava um taco como o meu. Era contra esse taco que Jacques lutava.

—Magnus tá cuidando do Carter. - explicou - Levou uma queda meio feia. Zia e Alex tão brigando com o deus cobra lá, Kukulcan. Ele tá querendo subir até aqui. Notou a bagunça que você começou. 

—Quando terminar aí, pede pra Alex levar o moleque. - pedi atingindo a cabeça do monstro com um golpe forte que gerou um som bem nojento. 

Depois do golpe, apoiei o taco com a ponta no chão e me permiti uns segundos para respirar até que olhei a situação de Jacques com o canto do olho. Já estava difícil ignorar a tontura de minha cabeça e fingir não notar as gotas de sangue no chão. Convenci a mim mesmo de que talvez a maioria era dos monstros, não meu.

Jacques estava até indo bem no 1 x 1 contra o monstro, mas achei que ele precisava de uma ajuda. Por isso, respirei fundo juntando minha força ignorando que já estava ofegante. Eu sou um berserker, tinha que conseguir lutar nas horas de maior dor por mais que eu já tivesse perdido algum sangue. Foi então gritando e talvez com uma grande expressão de ódio que eu me juntei à Jacques e atingi o monstro no braço que segurava o menino maia. 

Apressadamente puxei o menino para longe do monstro agarrando-o pelo braço. Talvez de um jeito meio doloroso, porque ele chiou de dor. Mas foi a pressa. 

Jacques, que foi bem esperto, aproveitou a chance para dar um golpe final bem feio no monstro bem no pescoço. O monstro caiu no chão e, tal como o que eu fiz de bola de golfe, começou a virar poeira. 

—Vou atrás da Alex imediatamente. - exclamou Jacques. 

Cansado, eu me apoiei contra a parede enquanto Jacques saía voando. Tentei recuperar meu fôlego por alguns segundos enquanto segurava o quadril onde uma dor constante, que eu não lembrava qual era a causa, me incomodava. Nesse momento, notei também o olhar de assombro e medo do garoto maia. 

—Qual era seu nome mesmo? - perguntei em espanhol mesmo para ajudar o garoto. 

— Fernando… - respondeu ele. 

—Fernando…- disse parando um pouco para juntar um ar - porquê não fez de novo aquilo que fez antes? Com o fogo.

—E-Eu não sei controlar direito… - justificou ele - e tenho medo de fogo. 

— Medo do próprio poder?- disse achando um pouco de graça mas não deixando o menino notar isso - Você é o que? Filho do deus maia do fogo?

— Mais ou menos… - disse ele abaixando a cabeça constrangido enquanto Alex aparecia depois de ter subido as escadas.

—Não temos tempo. - disse ela - Zia e Jacques não vão conseguir segurar Kukulcan por muito tempo. 

—Leva logo ele. - apressei e ele olhou para mim com uma cara de assombro - Vai ficar tudo bem garoto. Logo vai estar dormindo tranquilo e com a barriga cheia. 

Alex se transformou então num pássaro enorme. Eu chuto que ela deve ter passado um tempo pesquisando pássaros grandes que conseguem carregar peso, pois aquilo era um pássaro bem diferente, meio branco e cinza. Parecia uma águia e ao mesmo tempo não parecia. Complicado, eu sei. De toda forma, o pássaro era sinceramente enorme. Tão grande que ela teve que agarrar o Fernando do lado de fora da porta antes de sair voando com ele para longe embora parecesse estar sofrendo com o peso dele. 

Só que, pra deixar a situação desesperadora, eu não fiquei muito tempo sozinho ali. Foi meio dramático e preocupante ver a imagem de Kukulcán aparecendo conforme ele calmamente subia as escadas à minha esquerda.

—Hum, então foi assim que vocês levaram a outra garota embora. - disse ele vendo com uma calma estranha Alex ir embora - Não vai conseguir fugir assim. Nenhum pássaro normal existente conseguiria carregar um homem do seu tamanho. 

— Sei bem disso. - respondi me desgrudando da parede e me preparando para o que provavelmente seria uma batalha muito desvantajosa… pra mim.

Dada toda a desvantagem que eu claramente estava, achei melhor ficar na defensiva. Eu não sabia direito o que ele era capaz de fazer. Prestei atenção em cada movimento que ele fazia e ainda bem que fiz isso pois, quando a mão dele do nada se transformou em uma cobra e se esticou na direção de meu pescoço, eu consegui desviar mesmo que quase tropeçando nos meus pés. 

Ele não pareceu gostar nada disso, seu rosto se transformou mais ainda numa cobra enquanto sibilava horrivelmente. Cada uma das presas era facilmente um pouco mais longa do que meu dedo e foi com a bocarra escancarada que ele rapidamente foi em minha direção. A velocidade dele foi invejável, pois não tive tempo de fazer nada. Mas, apesar de eu esperar uma mordida, o que eu recebi foi uma perfuração com unhas bem na minha barriga. 

—É triste… - disse ele - Ouvi dizer que lutou bravamente na praia e estou de fato surpreso por ainda estar lutando. Se não estivesse tão machucado e sangrando, quem sabe eu poderia levar essa briga mais a sério. 

—Está apenas brincando é?- perguntei com um sorriso debochado tentando parecer mais valente do que eu realmente me sentia no momento. A tentativa de sorriso com certeza não chegava aos olhos já que não conseguia mais abrir direito um deles e minha visão ficava turva. 

— Procurando por motivos pra fazer eu lutar à sério? - perguntou ele com um sorriso frio e um tanto psicopata.

Por pior que estivesse minha visão a essa altura, eu notei quando outra pessoa entrou ali onde estávamos. Eu não conseguia mais ver direito a pessoa, mas parecia um homem adulto, principalmente julgando pela voz que falou alguma coisa que eu, de novo, não sabia o idioma. Apesar de não entender, peguei umas palavra solta familiar no diálogo "Teotihuacan".

Lembrando bem que aquele era o lugar onde o resto do pessoal estava, eu me forcei a prestar mais atenção na cena na minha frente. Notei então como Kukulcan pareceu extremamente irritado antes de me julgar não mais tão interessante e me largar no chão. 

—Parece que nossa briga vai ter que esperar um pouco. - disse ele indo para o portal - Tenho coisas mais urgentes a resolver em outro lugar. 

—Problemas em outro lugar? Teotihuacan talvez? - perguntei e senti o olhar frio do deus sobre mim. 

—Nunca deixe outros fazerem seu serviço se quer algo bem feito. - disse Kukulcán dando uma olhada fria de cima a baixo para o homem que havia entrado com as notícias fazendo ele se encolher ao seu lado - Principalmente deuses fracos e covardes, né? Ixquitecatl. Voltarei depois, quem sabe tenham algo mais interessante para me mostrar numa briga até lá.

Kukulcán saiu então pelo portal e se transformou numa cobra. Uma cobra enorme. Grande o suficiente para comer uma pessoa numa mordida só. Grande, verde e com uma espécie de coroa dourada de penas na cabeça. Ou talvez as penas fizessem parte da cabeça, pois combinavam com as penas que saíam das asas que por algum motivo ele também tinha. Não apenas mais uma cobra gigante, uma cobra gigante voadora que explicava bem o apelido de “A serpente emplumada”. Entendi bem também como ele não tinha lutado a sério.


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Notas finais do capítulo

espero muito q n tenha ficado muito forçado o capítulo considerando que o Mestiço tá todo machucado e tal... pq ele é um Bersercker... aguentar a dor e lutar na dor é meio q uma especialidade. mas isso n quer dizer q ele n tá por um fio de desmaiar tbm. enfim, acho q vcs vão ter mais noção do estado dele quando a adrenalina dele abaixar kk



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