Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 62
FRANK - A sala roxa secreta


Notas iniciais do capítulo

tarda mas não falta. bem vindos ao cap 62!
boa leitura



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FRANK

Acho que posso colocar no top 10 de experiências mais estranhas da vida eu e Sam fazermos parte da SAIA feita de COBRAS de uma deusa asteca. Uma das preocupações que tínhamos com o plano de Annabeth era de as outras cobras não gostaram de ter duas intrusas entre elas. Felizmente, tivemos finalmente alguma sorte no nosso dia pois não foi isso o que aconteceu. Na verdade, as outras cobras não só não pareciam ligar para a nossa presença, mas pareciam torcer para que a gente derrotasse Coatlicue. Eu não sei… talvez tenha alguma coisa a ver com Coatlicue sentar em cima das cobras toda vez que se sentasse já que estava tratando elas como um pedaço de roupa. Eu nem queria contar para as cobras que tem humanos que fazem bolsas com a pele delas, por mais que eu óbviamente não fosse um deles.

Por mais desconfortável que eu estivesse durante todo o papo da Annabeth e dos outros com Coatlicue, eu tentava ficar quieto para que ela não notasse algo de errado em sua estranha saia. O máximo que eu me atrevia era trocar um olhar de preocupação com Sam. Queria ter a habilidade de telepatia, porque em certo ponto eu já ficava em dúvida se eu estava encarando uma cobra qualquer ou realmente Sam.

Eu havia prestado atenção em cada parte da conversa. Especialmente quando Coatlicue disse:

— … o que construíram em comum… importante…

Bem, a filha de Atena e especialista em arquitetura era Annabeth, mas não foi tão difícil assim chutar que talvez fossem os templos ou pirâmides ou algo do tipo. Mas bem, pelo menos, pelo olhar de Annabeth e dos outros, eu percebi que eles também tinham pegado a importância daquela informação.

A gente costumava odiar tanto profecias e coisas do tipo, mas agora eu notava como elas, por piores que fossem, ao menos nos davam ideia de o que deveríamos fazer. Ainda me sentia tão perdido no meio dessa confusão. Podíamos até saber que estávamos com problemas aqui no México e que tínhamos que fazer algo com os obeliscos egípcios mas… exatamente o que tínhamos que fazer com os obeliscos egípcios? Alguma coisa mágica, mas exatamente o quê? E porquê justamente aqui no México? Será que o chute das pirâmides era mesmo o ideal? Acho que ouvi falarem que Carter mencionou que o pessoal dele no Egito teve que fugir para o Sudão e, parando para pensar, era claro que as pirâmides egípcias eram as mais famosas do mundo. Mas quanto era realmente coincidência a gente estar tão perto das segundas pirâmides mais famosas? Seja lá qual delas for a segunda mais famosa por aqui.

De toda forma, não tive muito tempo para pensar pois logo Coatlicue começou a forçar as faixas de linho e, assim como queríamos que acontecesse, ela se soltou e fugiu. Sim, a gente queria que ela fugisse mesmo. Fazia parte de nossas apostas.

Se manter na saia da Coatlicue com ela em movimento era estranhamente mais fácil do que eu imaginava. Parecia que a saia dela tinha um imã para cobras que não parecia perceber que haviam duas cobras lá que não eram exatamente cobras.

Em alguns poucos segundos estávamos no alto da Pirâmide do Sol. Caso você não tenha visto nenhuma imagem da Pirâmide do Sol alguma vez na vida, vou tentar descrever ela para você. A Pirâmide do Sol era bem diferente das pirâmides egípcias. A Pirâmide do Sol era a pirâmide mais alta ali por perto. As faces dela não eram totalmente lisas, era como se a pirâmide fosse feita de andares e, na frente dela, tinha uma longa escada que levava até seu topo. Foi lá no topo onde Coatlicue parou.

Ao redor de Coatlicue, dois deuses a encararam de braços cruzados. Meu coração gelou com medo de que eles tivessem nós descoberto. Tentei me convencer de que não mas ao mesmo tempo ficar alerta. Afinal, eles não lançaram sequer um olhar para a saia de Coatlicue. 

Um dos deuses era uma mulher de olhos azuis sérios, nariz grande e lábios grossos. O cabelo dela era bem preto, liso e mal cobria o pescoço dela todo. Ao redor da cabeça dela tinha um fio do mesmo tom de azul que as duas listras verticais que marcavam sua bochecha, cada uma em uma. Ela era até bem baixinha não só em comparação com Coatlicue, como também em comparação com o cara ao seu lado. 

O cara ao lado da deusa parecia ainda cansado. Nem sabia que isso era possível. Um deus ficar cansado. Mas era sem dúvida o que parecia pelas olheiras que estavam embaixo dos olhos dele. Ele era alto e usava um poncho vinho sobre um vestido reto branco. Ele segurava um bastão cuja ponta brilhava levemente com o mesmo tom da barreira que rodeava aquela parte de Teotihuacan.

Eu não tinha muita ideia de quem era nenhum dos dois, mas chutaria que a mulher era a Chal-alguma-coisa, a esposa de Tlaloc. E o homem era provavelmente o tal deus dos feitiços que mencionaram antes. Desse eu nem lembro o nome. Mas claro, eram apenas chutes isso. Nada impedia de serem outros deuses.

Talvez eu tivesse confirmado a identidade deles se eu conseguisse entender a conversa que os três começaram a ter entre si. Eles conversaram com raiva com o homem participando menos da conversa e se contendo mais em revirar os olhos e suspirar. Infelizmente, eu realmente não entendi uma palavra sequer. Não sei que língua os astecas falavam, mas era provavelmente essa que eles estavam usando. A discussão terminou alguns poucos minutos depois com o homem falando alguma coisa para Coatlicue e ela dando as costas para os dois.

Ela andou até um ponto da pirâmide onde algo estranho aconteceu. Não pude ver direito pela posição em que estava mas, foi como se o chão estivesse brilhando. Ela disse alguma coisa e então o chão começou a abrir e ela desceu pelo buraco aberto por uma escada que parecia feita de pura luz. Não acho que os arqueólogos, historiadores, guias ou turistas do lugar sabiam que aquilo existia.

Aquele cômodo escuro embaixo do topo da pirâmide era claramente mágico, e não falo isso só por causa da escada feita de luz. As paredes dele brilhavam com coisas escritas com luz, o pilar de luz rocha que saia do topo da pirâmide parecia começar ali também, saindo de uma grande bola roxa de luz. 

Depois que Coatlicue entrou ali, a escada se desfez e a entrada se fechou. Felizmente, era tanta luz ali que o cômodo não ficou escuro mesmo sem ter uma abertura por onde o sol pudesse entrar. Ao ver outras cobras saindo da saia de Coatlicue descendo pelas pernas dela sem ela ligar muito, notei que talvez ali fosse uma boa hora para considerar a parte da missão de entrar sem ser notado como um sucesso.

Eu sai da saia de Coatlicue também enquanto ela estava concentrada em encarar o pilar de luz roxa que saía dali e atravessava o teto cruzando então o céu.  Já no chão nas costas de Coatlicue eu parei e ergui a cabeça procurando Sam ao menos por alguns segundos antes de ir para a próxima parte do plano. Foi nesse momento que vi uma segunda cobra me encarando. A tal cobra pareceu afirmar brevemente com a cabeça e piscar os olhos enquanto isso. Eu fiz o mesmo de volta pois aquilo foi como um sinal, a tal cobra era Sam. Ou ao menos eu esperava que fosse. Quais as chances de uma cobra comum fazer essa sequência de movimentos?

Bem, o próximo passo tinha que ser rápido. Por isso, com uma respirada funda… ou o mais perto que uma cobra conseguia disso… eu me transformei num guepardo e assim que a transformação estava suficiente para que usasse as garras, eu fui para cima de Coatlicue e arranhei-a nas costas com as garras afiadas. Coatlicue quase caiu no chão com o golpe e não tentou evitar dar um grito de dor que foi não só consequência de meu ataque, mas também do de Sam pois, ao meu lado, ela havia se transformado numa leoa e atacado quase ao mesmo tempo que eu.

— O q-que… - gaguejou Coatlicue se virando para nós com o olhar de raiva.

Não queríamos dar muito tempo para ela se recuperar, sem falar que também estávamos torcendo para que ela no mínimo estivesse ainda um pouco cansada da batalha anterior. Nessa hora ela pegou uma das cobras que permaneciam em sua saia para transformar numa espada, tal como ela havia feito antes, mas Sam foi mais esperta e rápida. Um tapa foi tudo o que a enorme pata de leoa de Sam precisou para arranhar a cintura da deusa que quase, só quase, perdeu o equilíbrio.

Eu não deixaria aquilo só por isso mesmo. Assim, quando Coatlicue ergueu sua espada visando se vingar de Sam, eu aproveitei a deixa para, por mais nojento que isso fosse, morder o braço de Coatlicue. Ela urrou de dor e me deu um tapa com a outra mão que foi mais do que um simples tapa. Não sei bem o que havia ali mais, só sei que foi como uma energia ruim estivesse misturada com o ar e que ajudou a me empurrar para longe dela caindo no chão ralando o braço contra a pedra áspera. Com o empurrão, meus dentes rasgaram mais a pele dela e, felizmente para mim, ela não parecia ter sangue algum para eu acabar engolindo sem querer. Mesmo assim, fiz uma nota mental para escovar os dentes com mais dedicação depois dessa.

— Não ousem me subestimar… já basta Mictlantecuhtli fazendo isso. Posso ter perdido minha importância para outros deuses.. deuses homens…  - resmungou Coatlicue com nojo incluindo até uma cusparada no chão para expressar seu desgosto - .. mas eu ainda sou uma deusa.

As cobras dela sibilavam enquanto eu me levantava mais uma vez. Sam estava ao meu lado voltando para sua forma normal encarando Coatlicue com um olhar tão ameaçador que eu tinha dúvida de qual das duas estava mais perigosa.

— Por mais justo que seu argumento seja… - disse Sam preparando seu machado em suas mãos - Isso não é motivo para sair por aí causando confusão pelo mundo e se juntando com deuses assassinos.

— Todo deus tem ao menos uma morte em sua lista, garota. - disse Coatlicue aproveitando para pegar outra cobra de sua saia para fazer outra espada. A espada que já estava na mão dela antes começou a se alterar até ficar igual a segunda espada. Elas ficaram com o formato exato de duas espadas que foram feitas para serem usadas juntas, não individualmente.

Aproveitei a conversa para silenciosamente voltar para minha forma normal também. Espera que Sam conseguisse deixar Coatlicue ainda focada nela. Ao menos nos breves segundos que levei para conseguir preparar meu arco com uma das flechas que ainda me sobravam. Meu braço ralado ardia a cada pequeno movimento que eu fazia. Eu tentava ignorar o sangue que saia dele em alguns pontos e a enorme vermelhidão que com certeza deveria continuar para dentro da manga da camiseta inclusive.

— São se pode generalizar as coisas… - disse Sam.

— Talvez não. - disse Coatlicue dando de ombros - Mas quase todo deus é um assassino de toda forma. De mortais e imortais. Muitas vezes o trabalho nos exige, outras vezes é resultado de nosso ego. Seja qual for o método, deuses como Huitzilopochtli, eu ou Tlaloc ou Quetzalcoatl. Deuses do continente colonizador como Zeus, Atena, Apolo, Hades, Odin, Thor, Loki, Morrigan ou Ogma. Ou do outro lado do mundo, Tsukuyomi, Susanoo ou Xiwangmu. Também aqueles do continente tantas vezes ignorado e subjugado como Nanã Buruku, Ogbunabali ou até Anúbis, por mais diferente do resto da África que o Egito seja, e não lhe vi reclamando dele.

— Mas… - disse Sam enquanto meus dedos paravam no arco e flecha talvez mais preso pela conversa do que eu deveria estar.

— Mas… o que? Pode ser até que algumas mortes sejam acidentais… ou que tenhamos responsabilidade indireta por foram feitas não por nós, mas em nosso nome… - disse Coatlicue - Aliás, não dá para te confundir… está amarrada ao redor de sua cabeça escondendo seus cabelos a prova. É muçulmana. Acha mesmo que seu D…

Foi mal. Não queria que a Coatlicue terminasse a frase que achei que ela fosse falar. Acho que a Sam não ia gostar de ouvi-la mas… acho que mesmo assim ficou óbvio. Assim, foi nessa hora que eu atirei minha flecha mirando bem no rosto de Coatlicue. Não que tenha dado muito certo assim, pois ela desviou a cabeça na hora certa. Tudo que minha flecha fez foi passar de raspão na bochecha dela.

— Não atrapalhe a conversa entre duas damas. - reclamou Coatlicue.

— Desculpe, de verdade. - eu disse - Mas não estava gostando tanto assim do assunto.

— Nem eu. Vamos terminar logo isso que tenho mais o que fazer. - disse Sam.

Acho que a Sam estava mais sem paciência do que eu, pois ela foi a primeira a partir para cima de Coatlicue. Ela começou a atacar a deusa com seu machado enquanto eu atirava com as flechas. 

As cobras se afastavam da luta não querendo virar vítimas acidentais e eu tentava atrapalhar Coatlicue o máximo possível acertando as flechas no melhor ponto. Lutar contra alguém que usava duas espadas não era nada fácil. Não sabia se conseguiria ajudar Sam de perto, então tentava de longe para evitar ao menos que ela se machucasse seriamente. Mas não consegui evitar alguns cortes que ela acabou ganhando nos braços e na perna esquerda.

Foi uma flechada certeira na panturrilha dela combinada com um ataque de Sam que fez toda a diferença. Pois, na movimentação para frente e para trás da batalha, as duas chegaram perto daquele pilar roxo que cruzava o teto. Por causa da flecha e do ataque, Coatlicue perdeu o equilíbrio bem para cima do pilar roxo. Seu braço esquerdo inteiro e uma boa parte do lado esquerdo de seu rosto e corpo entraram dentro do pilar roxo e literalmente começaram a fritar. Coatlicue gritou de dor e tudo o que eu e Sam conseguimos fazer foi ficar encarando aquilo boquiabertos enquanto a pele da deusa ia lentamente trocando de cor em meio a dor.

Não demorou mais do que uns segundos e então a parte do corpo dela dentro da coisa roxa queimou completamente e num piscar de olhos Coatlicue era só um amontoadinho de poeira no chão.

— Que bom que a gente não tocou nesse treco. - eu disse depois de uns segundos de silêncio ainda meio chocado.

— Sim… - disse Sam aparentando estar igualmente chocada - Talvez eu tenha achado meio fácil demais?

— Não fale isso. Não é algo bom de se dizer! - reclamei enquanto respirava profundamente aliviado tentando também não deixar o cansaço chegar.

Com o braço ardendo, me aproximei de Sam para ao menos ver de perto como ela estava. Ela, pensando o mesmo, olhou para meu braço enquanto segurava um ferimento do seu braço esquerdo que sangrava.

— Tudo bem com você? Esse braço tá bem feio. - disse Sam.

— Acho que a feiura e a dor não estão compatíveis com a gravidade. Foi só um arranhão bem feio. - eu disse enquanto rasgava na marra um pedaço da minha camiseta e dava para ela - Toma, para estancar esse seu ferimento ao menos por enquanto.

— Valeu. - disse ela com um sorriso enquanto pegava o pano.

Logo me toquei que seria melhor eu amarrar para ela já que teria as duas mãos livres e foi o que fiz enquanto ela ficava encarando as paredes brilhantes ao nosso redor. Haviam muitos símbolos ali, muitos mesmo. Mas nenhum que realmente fizessem sentido para mim e duvido que para ela também.

— Olhe ali! - disse Sam apontando para a parede com a mão livre.

Como já tinha terminado de amarrar o pedaço de pano no ferimento dela, eu me virei para onde ela apontava. Lá, pude ver os símbolos estranhos roxos brilhando e andando pela parede. Mas, o que chamou a atenção dela foi provavelmente o fato de que alguns deles estavam começando a mudar para o alfabeto que conseguimos entender.

— Legal. Um feitiço bilíngue. Acho que todo vilão deveria fazer isso para deixar a competição mais justa. - comentei.

 


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Notas finais do capítulo

estou trabalhando em ideias novas para os capítulos seguintes :) espero que eu consiga montar elas e elas fiquem legais. mas não vai ser pra capítulos tão imediatamente próximos pq eles já tão tudo planejados.
eu tenho uma organização geral da história inteira já dividida em partes. mais ou menos, quanto mais longe da parte que escrevo, menos detalhes já tenho planejados. tirando 2 pontos que são mais importante. eu tenho a ideia principal dessas partes e coisas que tem que acontecer, mas os detalhes eu ainda tenho que construir. eu fico constantemente trabalhando nisso :) enfim, só quis compartilhar com vocês isso.



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