Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 55
BLITZEN - Cidade que vale uma fortuna


Notas iniciais do capítulo

MIL DESCULPAS pela demora. MUITA coisa aconteceu esse mês, nem todas boas, aí eu acabei ficando toda atrasada nas datas.



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BLITZEN

    Eu imaginava que minha primeira reclamação seria a demora para finalmente chegar a minha vez de contar o que aconteceu, mas tenho que dar preferência agora para minhas reclamações com essa droga de sol forte. A combinação do sol com o calor do clima certamente fazia minhas roupas ficarem bem claustrofóbicas e quentes por mais que eu tivesse preparado elas para serem fresquinhas enquanto me protegiam totalmente do sol. Acho que eu subestimei o sol mexicano.

    Aparentemente, a base dos maias era basicamente alguma vila no meio da floresta que, embora ficasse no caminho entre Chichén Itzá e Tulum, ficava mais perto de Tulum. Preocupados com a situação em que encontramos os amigos maias de Victoria, Daniela e Fernando, concordamos em deixar eles descansando no navio. Isso deu muita briga, pois concordamos que seria bom deixar alguém com eles em caso de acontecer alguma coisa. Ninguém realmente quis ficar para trás. Uns queriam vingança, outros queriam lutar, eu só queria ficar por perto e de olho nos outros, principalmente no Hearth e no Magnus.

    Tiramos na sorte e o escolhido para ficar para trás foi Mestiço. Óbviamente ele reclamou, especialmente porque algumas pessoas nem participaram desse sorteio já que seriam muito importantes na luta contra Quetzalcóatl e seja lá mais quem estivesse do lado dele. Por exemplo, Victoria e Zia. Victoria porque ela era basicamente nossa guia e Zia por ser a com mais afinidade com fogo.

    Seguimos então para dentro da floresta seguindo uma pequena trilha de terra batida montados em bicicletas para aumentar a nossa velocidade embora, segundo Victoria, a distância fosse caminhável. Conseguimos, felizmente, alugar bicicleta para todos. Eu só esperava que a gente fosse conseguir devolver as bicicletas depois. O interessante foi que, por motivos que envolviam falta de habilidades com bicicletas, Zia também foi na garupa do Carter.

    - Não é tão frequente assim encontrar alguém que não sabe andar de bicicleta. - comentou Alex.

    - Assim que essa confusão acabar vou botar na lista de problemas que resolverei. - comentou Zia.

    - O que será que encontraremos lá em… como é o nome mesmo? - questionou Magnus.

    - Ojer kanoq ochoch. - disse Victoria - Significa “antiga casa”.

— Isso não é espanhol de jeito nenhum. - comentei.

— Não. - disse Victoria - É K’iche.

— K’iche? - perguntou Magnus.

— É o idioma falado pelos povos maias. - explicou Carter um pouco vermelho provavelmente por causa dos braços de Zia se segurando nele- Ainda é falado inclusive acho, até onde eu sei.

— Oh… não é todo mundo que sabe isso sem eu ter que explicar. - disse Victoria olhando para Carter com o canto do olho com certa surpresa que eu e Alex imitamos.

— Meu pai era egiptólogo. - explicou Carter - Tá, por mais que o foco dele fosse o Egito, não dá pra evitar aprender um pouco sobre outros povos também.

Era com certeza meio deprimente não conseguir conversar com Hearth durante o trajeto. Talvez eu tenha me distraído um pouco com isso, pois quase caí quando Alex, que estava logo a minha frente, bruscamente freiou a bicicleta.

— Porque paramos? Já chegamos? - perguntei.

Olhei para Magnus logo ao meu lado e vi ele descer com pressa da bicicleta deixando ela cair no chão indo atrás de Victoria que também saía de sua bicicleta com o rosto totalmente sem cor. Eu desci da bicicleta ao mesmo tempo que Alex descia da dela e finalmente vi qual era o motivo da expressão fechada que surgia no rosto de todos. Ali, jogado entre arbustos, estava o corpo de alguém.

Todos ficaram em silêncio em sinal de respeito ao jovem que não conhecíamos enquanto Victoria e Magnus se aproximavam dele. Ela caiu de joelhos deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto enquanto Magnus apenas negava com a cabeça olhando para nós respondendo a pergunta silenciosa que tínhamos feito. Seja lá quem fosse aquele garoto, ele estava morto.

Deixamos Victoria lidar com a perda daquele amigo enquanto olhávamos ao redor em busca de qualquer sinal do que tinha acontecido ali. Olhando ao redor, Zia logo disse:

— Com certeza teve lutas e talvez até monstros aqui. - disse ela - Muitos galhos altos das árvores estão quebrados, algumas árvores estão chamuscadas.

— Ali tem até uma árvore caída. - eu disse traduzindo o que Hearthstone havia sinalizado.

Todos então ficamos quietos em respeito à Victoria e a seu amigo cujo nome não sabíamos até que ela se levantou. A mão dela tremia enquanto se fechava em um punho. Ela se virou para nós e deu para ver os olhos cheios de lágrimas e de raiva.

— Vamos continuar, estamos quase lá. Agora as bicicletas vão ser inúteis. Melhor deixar elas aí. Ninguém vem até aqui. Não vai ter problema. - disse Victoria com raiva e seriedade na voz - Vamos achar Quetzalcóatl e fazer ele em pedacinhos.

— Você vai… deixar ele aí? - perguntou Magnus.

— Não levá-lo agora. Não sabemos o que tem mais pra frente. Depois voltarei para pegar-lo. - disse ela com a mão tremendo e respirando fundo provavelmente lutando com as lágrimas - Voltarei para pegar-lo depois que fizer Quetzalcóatl pagar.

— E vamos te ajudar nessa com todo prazer. - disse Alex com firmeza pousando sua mão no ombro de Victoria.

Estar ali no meio das árvores parecia até deixar aquele calor insuportável menos intenso e toda aquela cena triste e pesarosa quase fazia o clima ficar mais gelado (além de com certeza mais depressivo). No meio do caminho, encontramos outro provável amigo de Victoria só que, dessa vez, ela não parou tanto tempo quanto antes. Apenas checou os sinais vitais do amigo e abriu mão tirar uns minutos de luto. Contudo, quando ela se levantou, deu para sentir toda a raiva e tristeza que emanava dela.

— Aquele é o garoto que vi nas memórias do Fernando... - sussurrou Magnus para mim enquanto começamos a andar de novo - Ele ajudou eles a escaparem ou algo assim. Ele rasgou a roupa para colocar no ferimento do Fernando.

— Eles não vão gostar de saber que ele não se salvou então. - sussurrei de volta para Magnus.

— Não. - concordou ele com tristeza.

Eu tinha que admitir que a força daquela garota estava me deixando surpreso. Mesmo que eu pudesse ouvir ela fungando o nariz enquanto nos guiava pelo caminho até o ponto onde ela parou na frente de uma árvore. Victoria então tirou uns arbustos do meio do caminho, revelou um buraco praticamente perfeitamente circular que estava no chão.

— Só precisamos pular aqui. - disse Victoria com olhar sério e pesado, mas ao mesmo tempo desprovido de qualquer alegria - Vai nos levar direto para Ojer kanoq ochoch. De lá, podemos pegar outro para ir para Chichén Itzá.

— Vocês chegam até lá com um buraco no chão? - perguntou Alex - Tipo a Alice?

— Não bem tipo a Alice. - disse Victoria dando de ombros - É mais um escorregador gigante mágico já que ele funciona dos dois lados. Talvez tenham tentado usar ele para fugir, por isso que vimos…

— Vamos checar se tem algum sobrevivente em Oj… Ojer ka… ochoch? - disse Carter tentando falar o nome do lugar.

— Claro que sim - disse Victoria dando as costas para nós e encarando o buraco por alguns segundos.

Ela resmungou alguma coisa provavelmente naquele idioma até então desconhecido que ela tinha usado antes e o buraco emanou uma fraca luz azulada. No meio da frase complicada que ela falou, tenho quase certeza que pude ouvir o nome de cada um de nós sendo falado. Ela suspirou e então virou para gente.

— Assim vocês conseguem passar. - explicou ela - Agora é só pular.

Depois de dizer isso, ela imediatamente pulou no buraco. A primeira de nós a pular foi Zia, seguida então de Carter. Sinalizando para Hearthstone, falei que estava indo e assim pulei.

A melhor definição para o que havia do outro lado do buraco, seria falar que ele realmente não passava de um escorregador ou até um tobogã, mas, mesmo assim, dava para ver e sentir a magia que havia ali enquanto eu escorregava e escorregava. Mesmo assim, era estranho ver as paredes do túnel ocasionalmente mudando de cor e irradiando luz levemente conforme escorregava. Contudo, mais estranho mesmo era sentir que, por mais que eu estivesse descendo e descendo sem parar, eu quase podia sentir que, na realidade, não era isso que estava acontecendo. Era como se eu mal tivesse mudando de profundidade com relação à quando eu pulei no buraco.

Essas duas sensações diferentes ao mesmo tempo estavam começando a me deixar com dor de cabeça. Já estava me perguntando se teria um bom analgésico do outro lado daquele escorregador, quando ouvi um rugido vindo da direção do final do escorregador.

Tenho que admitir que eu talvez tenha gritado quando vi  a cara de um enorme morcego se aproximando do final do escorregador, tal como os que nos atacaram mais cedo. Até tentei parar de cair ou arrancar algum pedaço da pedra que me circulava para tacar no rosto do morcego, mas eu não conseguia parar de cair nem conseguia arrancar pedaços do túnel. Era estranho notar que quase toda habilidade que eu pudesse ter com as pedras daquele túnel estava inútil ou confusa.

Devo ter usado toda a minha sorte do dia quando o morcego sumiu no último segundo. No segundo seguinte eu caía de mal jeito no chão de uma caverna e era recebido pela visão de Carter segurando o morcego pelo pé e jogando com força para longe do buraco enquanto Zia transformava o morcego em churrasco. Quase que ao mesmo tempo, Victoria arrancava, com sua espada, a cabeça de uma cobra que saltava no ar em sua direção com a boca escancarada.

— Já comitiva de boas vindas? - perguntei.

— Pela cara, sim. - disse Carter olhando preocupado para Zia provavelmente para checar se ela estava bem depois de derrotar o morcego.

Enquanto Hearthstone e então Magnus chegavam, eu parei para ver a caverna em que estávamos e, pude infelizmente notar mais meia dúzia de semi-deuses maias de várias idades diferentes mortos que provavelmente tentaram fugir pelo túnel que tínhamos acabado de usar. A presença deles ali parecia fazer a caverna parecer ainda mais escura, silenciosa e depressiva do que antes.

Eu já estava admirando toda a resistência de Victoria de continuar seguindo em frente sem chorar mas, acho que aquilo foi demais para ela. Ela caiu de joelhos ali e começou a chorar e soluçar. Nos entreolhamos rapidamente e abaixamos a cabeça até que Zia se aproximou dela, se abaixou ao seu lado e passou o braço ao redor de Victoria tentando a consolar. Não demorou muito então para Victoria abraçar Zia e começar a chorar mais ainda.

O momento de consolação não durou muito, pois logo Victoria se soltou e começou a se levantar mesmo que devagar.

— Não temos tempo a perder… - disse ela - cada segundo conta se alguém tiver ficado para trás e sobrevivido. Vamos.

Apesar da determinação que ela tentava mostrar, era óbvio que ela estava abalada. Mas mesmo assim, seguimos andando adiante para a entrada da caverna. Conforme andamos, mais plantas cresciam na caverna, mas nenhum animal ou inseto andava por ela. Chegamos então num ponto onde a caverna se bifurcava em um Y. Nós estávamos saindo de uma das bifurcações que eram separadas por uma enorme placa de pedra moldada com o desenho de dois homens sobre um ser mágico que parecia uma mistura de cavalo com um dragão chinês.

— Hunahpu e Xbalanque. - explicou Victoria ao notar que eu e Carter paramos para olhar a placa de pedra por alguns segundos - Os heróis mais famosos da mitologia maia. E o outro caminho é o que seguiremos quando formos para Chichén Itzá.

— Eles que criaram essas passagens? - perguntei traduzindo a pergunta de Hearthstone para ela.

— Não. - respondeu Victoria com secura e luto na voz - Mas eles são bem importantes. Tipo… sei lá.. Hércules.

— Acho que… - começou Magnus a dizer mas, qualquer coisa que ele fosse dizer se perdeu quando a caverna terminou.

Diante de nós estava a visão incrível de uma cidade inteira feita de ouro. Sim, ouro. Por mais surreal que isso possa parecer. Na verdade, existe algo que seja surreal depois de viajar pelos nove mundos, conhecer semideuses gregos, magos egípcios ou jantar em Valhalla? Difícil. Mas mesmo assim, por mais deslumbrante que Asgard pudesse ser, por mais irritantemente brilhante que Alfheim pudesse ser, aquele lugar era diferente.

Um enorme templos de ouro se erguia na nossa frente chamando bem mais atenção do que as casinhas, também de ouro, que estavam à seus pés. Ele era quase tão alto quanto um prédio de quatro andares e lembrava uma pirâmide com degraus que, de um jeito bem bonito, se encaixava perfeitamente no cenário formado pelas as árvores coloridas e pela cachoeira que caía à esquerda.

— N-Nossa… - disse Zia completamente boquiaberta.

“É bem mais… pacífico e bonito.. do que Valhalla ou Alfheim” sinalizou Hearthstone e eu afirmei com a cabeça para ele quando ele disse exatamente o que eu pensava “Embora um pouco triste, pois… bem… parece bem vazio e detonado depois de seja lá o que aconteceu por aqui”.

— I-Isso… - gaguejou Alex - El Dorado?

— Ninguém nunca disse que os espanhóis acharam tudo que tinha para ser achado por aqui. - disse Victoria continuando a andar com certeza ansiosa para achar sobreviventes.

 


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Notas finais do capítulo

vou tentar não demorar tanto assim mais nos próximos capítulos. não está sendo fácil escrever recentemente. ando bem mal. enfim, até o prox cap :3



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