Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 54
MAGNUS - Verão raiz e Verão Nutella


Notas iniciais do capítulo

desculpa a demora. eu fiquei meio mal por um bom tempo, o q deixou as fics meio atrasadas. aí quando dei uma melhorada eu fiquei doente hehe. enfim, divirtam-se com o cap novo ♥



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MAGNUS

Apesar de ter o bananão guardado no meu bolso, optamos por usar o barco de Carter. Talvez tenha rolado uma certa vergonha com a cor chamativa do bananão por parte da Alex e especialmente do Blitzen quando tivemos que decidir qual dos dois barcos usar. Assim, deixamos para trás a praia de Tuxpan e seguimos cortando o Golfo do México ao meio em direção à Tulum.

O barco podia até ser rápido, mas o Golfo do México não era exatamente pequenininho. Por isso, tive a sensação de que demorou mais do que parecia ter demorado para finalmente começar a ver um pouco de terra de novo. Durante todo esse tempo, além de conversar com os demais, também fiquei olhando para a água do mar que era de um tom azul tão belo e cristalino que parecia ridículo meu pai, Frey, ter o título de Deus do Verão num lugar tão gelado como onde fica os países Nórdicos. O mar e as praias ali eram tão lindas que o conceito de Verão podia facilmente ter nascido ali e todo o resto não passava de uma imitação barata. Aquilo sim era Verão de verdade.

— Você cozinha todo dia para todo mundo por lá? - dizia Zia ali perto enquanto conversava com Victoria - Não dá muito trabalho?

— Ah, nem todo dia eu cozinho por lá, mas é a maioria dos dias sim. A gente fica se revezando mas ainda meio que sou a líder da cozinha. - disse Victoria.

— Sua comida estava mesmo deliciosa. - disse Blitzen traduzindo a fala de Hearthstone.

— Obrigada! - disse Victoria abrindo um sorriso e então encarando o chão do barco - Cozinhar me relaxa, sabe? Eu sempre fui muito brigona e estressada. Já fui expulsa de algumas escolar por ter arrumado briga com vários meninos.

— E você ganhava? - perguntou Mestiço curioso.

— Geralmente sim… - respondeu Victoria coçando a nuca sem graça.

Ao meu lado, Alex se espreguiçava e então se apoiava na amurada do navio de costas enquanto, com os olhos fechados e um leve sorriso no rosto, deixava o vento bater em seu rosto. Talvez isso tenha atraído minha atenção demais, pois fiquei encarando-a por alguns segundos até que ela abriu os olhos e olhou para mim.

— Que é? - perguntou ela.

— Nada. - respondi sem graça desviando o olhar e voltando a fitar a água cristalina.

— Se não fosse a batalha iminente, quase dava para parecer que estávamos num cruzeiro né? - disse Alex.

— Se alguém me contasse que eu iria estar agora passeando de barco por aqui, eu iria chamar a pessoa de doida. - admiti bem lembrando de como qualquer coisa longe de Boston ou que se parecesse ao menos remotamente com umas férias bem caras eram algo completamente fora da realidade anos atrás quando eu ainda morava nas ruas.

Aquele cruzamento estava sem dúvida demorando mais do que eu imaginava enquanto as praias de areias branquinhas e águas cristalinas passavam ao nosso lado. Uma olhada no Google Maps de Alex com o GPS ligado ao menos dizia que estávamos perto de Tulum.

O fato de várias turistas estarem na praia aproveitando o calor e tudo mais fazia com que aquilo parecesse mesmo cada vez menos como uma missão. Contudo, eles logo foram sumindo quando as palmeiras e as demais árvores da costa foram dando lugar para enormes pedras e antigas construções de pedra que ficavam na beirada de barrancos que paravam na praia.

— Tulum? - perguntei olhando para Victoria.

— Tulum. - confirmou ela com o olhar sério - Não era para estar tão vazio assim. Sempre foi cheio de turistas também.

Quando todos preparavam já suas armas e o barco vencia os metros finais até a praia, pudemos ver o lugar mais de perto. Certamente eu poderia ver Tulum como um ímã para turistas, especialmente depois que eu vi as latinhas e demais lixos amontoados perto de uma pedra, provas de que realmente muita gente passava por ali sem ligar muito pela beleza do lugar. Mas eu tinha certeza que os dois jovens descendo com dificuldade e pressa pelo barranco pedregoso não fazia parte das atrações turísticas.

Os dois estavam sendo perseguidos por um monstro muito feio (como se algum fosse bonito pra começo de conversa). O monstro tinha olhos vermelhos assustadores e era encurvado como o Corcunda de Notre-Dame e, por mais que seus pés descalços fossem como os de um humano qualquer, seu rosto era uma mistura estranha entre uma cabra e um cachorro. Só que aqueles chifres enormes, negros e levemente arredondados mas também retorcidos que saíam da cabeça dele só me faziam pensar que ele devia mesmo era ser uma mistura de um cachorro e o próprio capeta.

— Fernando! Daniela! Aquí! - gritava Victoria quase pulando do barco mas sabendo que ele venceria a distância até a praia mais rápido do que ela nadando.

No mesmo segundo em que os dois nos viram, Alex também se transformou rapidamente num pássaro e voou até eles. Antes de pousar, ela já estava voltando a sua forma normal e atacando o monstro com seu garrote. Esse pequeno espaço de tempo foi suficiente para que o barco se aproximasse o suficiente da praia para que todos pudéssemos então pular na água e tentar correr até a luta que começava apesar da água tentando atrapalhar o movimento. Bem, atrapalhar o movimento de quase todos.

— Eu vou logo pra lá! Você é muito lerdo! - Jacques pedia do meu pescoço enquanto a água ensopava a minha calça jeans completamente e, ao meu lado, Mestiço rugia correndo para a luta com facilidade como se a água não fizesse mais do que molhar ele um pouco.

Tirei Jacques de sua forma de pingente e ele rapidamente foi voando empolgado até Alex ajudando-a na luta contra o monstro que tentava a acertar com suas enormes garras. Ao meu lado, Blitzen se segurava fortemente ao seu arpão reclamando que não deveria ter vindo para um lugar tão ridiculamente ensolarado.

Em seguida, eu corri até Fernando e Daniela que, graças aos esforços de Alex, Jacques, Victoria e Zia, já estavam bem longe do monstro. Victoria lutava com uma ferocidade tão grande que acho que eu entendi porque, segundo ela, ela tinha que vir com o nosso grupo lutar contra Quetzalcóatl. Até porque, aparentemente, o cara era um lutador e tanto. A ferocidade com a qual Victoria lutava me lembrava de outra pessoa lutando, Mestiço, e acho que ele também notou isso.

— Garota! - disse ele rindo ruidosamente enquanto arrumava o machado em suas mãos e fitava seriamente um ponto da mata onde a vegetação se mexia como se alguma coisa quisesse pular em cima dele - Realmente vou querer fazer um combate contra você depois. Pode deixar marcado em sua agenda.

— Anotado! - respondeu Victoria enquanto dois monstros realmente pulavam em cima de Mestiço.

Os dois monstros que pularam em Mestiço eram dois morcegos enormes, maiores do que um cachorro, de olhos vermelhos e com os braços, estranhamente musculosos, com tatuagens com padrões quadriculares que se enrolavam como espirais. Além disso, eles ainda usavam cada um pesado colar de ouro com pingentes em formatos nada fofinhos de caveiras e, na cabeça deles, havia ainda uma espécie de chapéu ou coroa ou sei lá também feita de ouro só que com penas coloridas saindo delas.

Felizmente, os morcegos gigantes e assustadores nem duraram muito pois, enquanto eu ajudava Daniela a levantar Fernando, que parecia estar muito pior do que ela, para que pudéssemos tirá-los de perto da briga, Mestiço deu uma forte machadada bem no meio da cabeça de um deles.

Quanto ao outro morcego, Hearthstone usou uma de suas runas para que ele não conseguisse completar o caminho de seu pulo até Mestiço. Foi como se o morcegão tivesse ficado mais lento ou meio que congelasse no ar. Seja lá o que Mestiço fez, foi tempo o suficiente para Carter o atacar fortemente com sua espada esquisita.

O primeiro morcego até que morreu de primeira, mas o segundo ficou agonizando no chão. Para acabar de vez com a dor dele, Blitzen usou o seu arpão enquanto eu ajudava Fernando a sentar-se em uma das pedras que haviam ali.

Apesar de ambos estarem bem ralados, provavelmente por causa da tentativa de descerem aquele barranco de pedras, era visível que Fernando estava bem pior. O alto do braço dele estava amarrado com um pedaço amarelo de pano que tinha cara de um dia ter sido o pedaço da roupa de alguém. Como nenhum deles usava roupas amarelas, me pergunto de quem que era e se a pessoa estava bem. A mancha vermelha no pano também mostrava o tanto de sangue que tinha saído do ferimento de Fernando que o pano tentava estancar.

Mesmo o braço dele estando em uma situação bem preocupante, o que mais chamava a atenção era o olho esquerdo dele que estava extremamente inchado a ponto de que eu nem conseguia checar se ele era do mesmo tom de castanho que o outro olho. Um pouco acima do olho saudável dele, também tinha um corte superficial que abria uma trilha pelo cabelo preto e cacheado dele. Esse machucado logo foi tampado pela mão de Daniela que, preocupada, tentava evitar qualquer sangramento extra aplicando pressão usando um pedaço de pano colorido que até uns segundos antes funcionava como uma espécie diferente e meramente decorativa de cinto para seu short rosa.

— Eu vou… curar ele primeiro, ok? - disse para Daniela sem saber se ela conseguia ou não falar qualquer palavra de inglês.

O monstro metade cachorro metade bode estava com a garganta presa ao garrote de Alex e então começando a pegar fogo pela magia de Zia quando comecei a curar Fernando. Eu estava torcendo para não acabar pegando alguma memória dele sem querer, já sei bem que isso pode ser meio invasivo, mas logos as memórias começaram a chegar até mim.

Parecia uma cena recente, pois a primeira coisa que vi foi Daniela com as mesmas roupas que estava agora só que sem machucados. Ela tentava tirar o tronco de uma árvore que havia caído sobre Fernando mas, felizmente, sem o machucar. Ela falava rapidamente e de forma ofegante algumas várias palavras em espanhol que eu sinceramente não entendia muito bem, mas o que eu entendi bem foi o desespero dela. E não era para menos, ali tudo estava o caos. Estava literalmente chovendo fogo. Pessoas corriam para todo lado e outras estavam caídas no chão.

Eventualmente Daniela conseguiu tirar Fernando debaixo da árvore e, tentando dar um pouco de apoio para ele, os dois começaram a correr tentando fugir não só do fogo, como também de vários monstros diferentes. Reconheci, ao longe, alguns morcegos monstruosos tal como Mestiço havia enfrentado com Carter, Blitzen e Hearthstone. Contudo, Daniela e Fernando continuavam a correr evitando qualquer combate, o mesmo não poderia ser dito para todos os outros semideuses, ao menos estou julgando que eram semideuses, que estavam ali naquela mesma situação.

Era triste ver eles correndo e o olhar de medo, desespero e preocupação em seus rostos que só piorava cada vez que passavam pelo corpo de algum provável amigo. Eventualmente, no meio da correria, Daniela rapidamente jogou os dois contra o chão escondendo-os na vegetação alta. Me perguntei qual o motivo, até que vi um homem enorme, com braços provavelmente maiores que minha coxa andando calmamente como se estivesse se deliciando com a situação.

A pele do homem era de um tom de verde meio barroso e em sua cabeça estava um enorme adereço cheio de penas vermelhas e amarelas. Tinha também sapatos vermelhos como sangue e braceletes e um colar da mesma cor. Toda a região da ponte do seu nariz até o seu queixo estava pintada da mesma cor. Pra completar o visual, ele tinha uma enorme serpente que se apoiava em seus ombros e sibilava enquanto subia para sua cabeça calmamente enquanto ele a acariciava com dois dedos como um bichinho de estimação ameaçador.

Daniela e Fernando pareciam prestes a chorar de medo enquanto o homem, um deus provavelmente, olhava ao redor com olhos, que mais pareciam com os de uma serpente, como se procurasse qualquer sobrevivente naquela parte da floresta.

Enquanto eu ainda tentava processar a imagem daquele cara estranho, a cena mudou. Estava de noite e um outro cara rasgava um pedaço da própria camisa e amarrava no braço de Fernando que resmungava de dor segurando o braço enquanto Daniela corria em direção aos dois.

Daniela e o rapaz que eu não sabia o nome trocaram algumas palavras rápidas em espanhol que eu não sabia bem o significado, só sei que o desfecho foi o garoto sem nome indo na direção da qual Daniela tinha acabado de vir.

No! No! Venga a la playa con nosotros!— entendi Fernando dizer fracamente enquanto Daniela o levantava e puxava para correr junto com ela.

De repente, a memória acabou e eu estava olhando para Fernando que não parecia mais estar machucado. Aparentemente aliviada pela segurança do amigo, Daniela o abraçou.

Gracias! Gracias!— repetia Daniela enquanto, atrás de mim, o monstro metade cabra, metade cachorro, caía no chão se transformando num humano e então virando poeira junto com os morcegos demoníacos.

Apesar do cansaço que foi chegando até mim por causa da cura, eu fiquei feliz em ver a gratidão dela que foi tanta que ela nem pareceu ligar para o fato que eu estava brilhando um pouco. Ou talvez seja algo comum entre os maias também. Vai saber.

Não demorou muito para que Victoria se aproximasse preocupada com os dois e os três começassem a falar apressadamente em espanhol. Eu sinceramente não fazia a menor ideia nem de o que eles estavam falando. Felizmente, Alex chegou ao meu lado colocando a mão em meu ombro me impedindo de me sentir deslocado naquele momento.

— Hey. - disse ela - Está com uma cara meio assustada.

— Eu talvez tenha visto um pedaço um tanto recente da memória do Fernando quando fui curar ele … tinha um cara medonho e… um outro garoto que espero que esteja bem. - respondi.

— Espero que consigamos encontrar mais gente bem. - disse Carter olhando pensativo para a floresta e as construções centenárias de Tulum - Não dá pra escutar nenhum pássaro nem nada. Só eu que estou todo arrepiado.

— Não mesmo. - disse Blitzen respirando fundo.

— Que bichos eram aqueles, aliás? - perguntou Zia.

— Aposto que o primeiro era um chupa-cabra - eu disse.

— Os morcegos gigantes eram Camazotz. - explicou Victoria enquanto tirava de sua mochila um pedaço de sanduíche embrulhado em papel alumínio para Daniela e outro para Fernando - Significa ‘morcegos da morte’.

— Muito agradecido por não terem feito juz ao nome deles. - eu disse.

— Eles geralmente ficam no caminho para Xibalba, o submundo. Só o fato de eles estarem aqui já é bem preocupante. - explicou Victoria.

— Ficamos escondidos a noite toda deles… como Hunahpu e Xbalanque. - respondeu Fernando se abraçando todo cabisbaixo.

— Hunahpu e Xbalanque? - perguntou Mestiço - Quem são esses?

— Heróis dos contos maias que passaram por várias provações em Xibalba. - respondeu Victoria - Líamos muito as histórias deles no Popol Vuh, um dos mais importantes textos da mitologia maia. Temos várias versões na nossa biblioteca, tanto aqui em Tulum como na Base Del Quinto Sol.

— E o chupa-cabra? - perguntei.

— Huay Chivo, não um chupa-cabra. - explicou - Um monstro, um feiticeiro. Aparece nessa área com certa frequência.

— Não temos tempo a perder aqui conversando. - disse Fernando se levantando devagar enquanto falava com a boca cheia de sanduíche - Temos que… temos que voltar logo. Los otros que se quedaron atrás… Os outros… temos que ir salvá-los.

Fernando… calma. - disse Daniela olhando para nós e abrindo a boca meio insegura algumas vezes - Não sou boa em inglês. Desculpe. Mas… ele não viu, mas nós vimos ele. Quetzalcóatl. Ele fez… chover fogo.

— Não acho que guarda-chuvas funcionem com chuvas de fogo. - eu disse preocupado.

— Deixe os fogos dele comigo. - disse Zia apontando para si com determinação, fiquei até com invejinha da pose de herói dela - Vamos encontrar mais sobreviventes, chegar até Chichen Itza e derrotar todos que estão fazendo o caos na casa de vocês.


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Notas finais do capítulo

provavelmente o Blitzen vai narrar o próximo pq ele n teve essa honra ainda, coitado :/

o título é por causa da comparação do Magnus com os verões dos países nórdicos e no México. n resisti.

aos leitores de "Amor abençoado pelo Nilo" eu dei uma editada em alguns capítulos pq a anta nem lembrava/sabia que os avós da Sadie sabem de todo o paranauê mágico da família.

até o prox cap >



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