Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 40
SAM - De Frankfurt à Boston


Notas iniciais do capítulo

primeiramente, desculpa a demora. eu passei por uma fase de falta de criatividade, depois fiquei mal, depois fiquei enrolada com o TCC. a boa notícia é q defendo o TCC semana que vem, então vou ficar livre dele! yeeey! bem, desculpa a demora novamente. espero que gostem do capítulo. foi bem difícil fazer ele.



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SAM

Por mais divertido que viajar possa ser em situações normais, a tensão do momento não me permitia simplesmente relaxar. Bem que eu queria tirar uma pequena soneca tal como minha avó estava fazendo ao meu lado enquanto esperávamos o avião que iria nos levar para Boston chegar. Seria legal também ter mais energia para poder passear pelo aeroporto de Frankfurt. Esse lugar é enorme! Infelizmente não tivemos tempo de explorar o aeroporto. Por um lado até que isso foi bom, já que com certeza já estávamos atraindo olhares demais enquanto simplesmente sentávamos na área de esperar o nosso avião. Com certeza não era um momento muito bom para ser claramente muçulmano no meio da Europa. Claro que eu tinha muitas coisas na ponta da língua prontas para serem ditas para cada um que me lançava um olhar torto. Mas, considerando que eu realmente queria pegar o vôo tranquilamente e não ser deportada, achei melhor ficar quieta. Me pergunto como eles estariam olhando para mim se soubessem que eu carregava um machado, embora todos o vissem como um violino.

— Você deu sorte deles terem deixado você trazer esse violino para o avião. - dizia meu avô - Devia ter despachado junto com as bagagens.

— E arriscar que eles perdessem ele por aí? Não mesmo… - eu disse me sentindo meio mal por estar mentindo para ele de novo.

Talvez Amir tenha notado isso, pois me olhou com olhar questionador. Meus avós estavam entre eu e ele, então não poderíamos conversar com mais discrição. De forma discreta, tentei responder o olhar de preocupação dele com o mais simples e discreto balançar da minha cabeça. Só que Amir, insistentemente preocupado, conseguiu pensar mais rápido do que eu.

— Ahm… - disse ele - Tem uma lanchonete aqui. Melhor aproveitar para comer agora né? A comida do avião é meio ruim.

— M-Me parece uma boa ideia… - eu disse.

— Eu e a Sam podemos comprar e trazer para cá - disse Amir - Para que vocês não tenham que se levantar.

Meu avô encarou Amir por alguns segundos antes de bufar e se remexer na cadeira se acomodando mais.

— Contanto que se comportem. Estou de olho! - disse ele enfatizando bem a segunda parte.

— Vai querer alguma coisa, vô? - perguntei enquanto me levantava levando meu fiel martelo-violino comigo.

— Só se tiverem croissant. - disse ele pegando algumas notas de euro no bolso e me passando - Se tiverem algum biscoito de chocolate também… seria bom. Sua vó vai gostar quando acordar.

— Anotado. - eu disse.

Dava pra sentir o olhar do meu avô sobre mim enquanto me distanciava das cadeiras e ia em direção à uma pequena lanchonete que tinha ali perto. Mantendo certa distância de mim para meu avô não surtar, Amir falou baixinho.

— Tá tudo bem? - perguntou Amir.

— Poderia estar melhor… mas também poderia estar pior - eu disse com um suspiro.

— O que tanto te pertuba?

— Além do óbvio? - disse bufando de leve enquanto encarava as opções de comida que a lanchonete fornecia - Todos esses olhares pra gente, essa viagem demorar terminar, estar carregando esse… violino… no meio de uma viagem, TJ, tudo o que aconteceu em Israel.

— Coisa demais né? - disse ele suspirando - Sobre Israel, você tem estado bem calada desde lá.

— Motivos é o que não faltam. - respondi.

— Sei disso. Sei disso. Mas… sabe que pode contar comigo né? Nem que seja para pelo menos desabafar. Afinal, sei que posso ser um completo inútil no meio dessas batalhas que surgem. Sem falar que não estou nada acostumado.

— Não fale assim, você não é inútil - eu disse, mas ele simplesmente deu de ombros com um pequeno sorriso torto no rosto.

— Sou sim. Só sei ficar em perigo - disse ele dando uma leve risada.

Depois disso, ficamos alguns poucos minutos sem nos falar enquanto pedíamos e então pagavamos pela comida para nós e meus avós.

— Você ajudou muito naquela hora com os cachorros gigantes. - eu disse enquanto pegava as moedinhas de troco.

— Obrigado - disse ele rindo - Mas… voltando a falar dessa hora dos cachorros. Mais especificamente na hora que B-Behemoth apareceu… acha… acha que era mesmo…?

— Que ele era quem diz ser? B-Behemoth… ? - eu disse tão insegura quanto ele. Nomes têm poder e aquele foi um nome que eu não queria ter ouvido naquela situação. - Eu não sei…

Qual meu problema com Behemoth além dele ser Behemoth? É bem simples, no meio de tantos seres como Thor, Loki, Odin e Fenris, eu, a muito custo, consegui separar a ideia deles da ideia de religião. Mas… Behemoth… ele é mencionado na bíblia e o pulo de bíblia para alcorão não é tão grande assim. Definitivamente menor do que o pulo entre apocalipse e ragnarok.  Talvez por isso eu tenha hesitado como Reyna falou, talvez por isso eu estava tão pensativa desde então. Certamente eu queria poder só desativar esses pensamentos da minha cabeça e seguir viagem, mas era difícil. Especialmente considerando que não tem muito o que fazer antes de entrar num avião e nem depois de entrar.

Eu e Amir ficamos com nossas preocupações para nós enquanto voltávamos para onde estávamos sentados antes. Eu podia notar que a cabeça dele estava a todo vapor pensando em alguma coisa enquanto uma das funcionárias da empresa aérea anunciava que o embarque iria começar para nosso voo. Como estávamos perto de meus avós, agora ambos acordados, eu não quis perguntar sobre o que ele tanto pensava já que imaginava que não seria o tipo de conversa que eu poderia ter perto de meus avós.

Resolvi então me render à normalidade enquanto nos levantávamos com nossas coisas e entravamos no avião para dar início à um longo vôo até Boston. Se eu soubesse tudo que iria acontecer nele, com certeza eu teria feito questão de dormir mais na noite anterior ou até tirar uma soneca antes de entrar. Infelizmente, eu não tive esse luxo.

Dentro do avião, nos sentamos bem no meio. Os vôos internacionais são diferentes dos vôos nacionais. Enquanto os nacionais tem três cadeiras em linha, depois um corredor e depois mais três cadeiras, aquele avião seguia o esquema de duas cadeiras, corredor, quadro cadeiras, corredor e duas cadeiras. Como éramos exatamente quatro, acabamos ficando no meio. Eu fiquei em uma ponta e o Amir ficou na outra.

O lado ruim de um avião é a falta de espaço, eu queria ficar com meu machado mas perdi a batalha contra a aeromoça e contra minha avó para deixar ele comigo.

— Deixa o violino em cima - disse minha avó - Só vai ocupar espaço.

— Espero que você planeje tocar mesmo… - disse meu avô.

— C-Claro que sim. - eu disse.

— E nada de deixar os estudos de lado - disse minha avó.

— Quando te dei dinheiro para comprar o que quisesse na viagem, não esperava que fosse voltar para o hotel com um violino.

Enquanto eles falavam, eu guardava meu machado no bagageiro e então voltava a sentar. Sendo lentamente tragada pela normalidade do momento, abracei a mim mesma querendo usar meu casaco para me proteger melhor do ar condicionado do avião. As horas se passaram lentamente e eventualmente caí no sono.

No meio da noite, acordei querendo ir ao banheiro. Era para ser algo que não era nada demais. Eu me levantei da cadeira, notando que meus avós e Amir dormiam, assim como boa parte do avião. Lá fora parecia chover. Achei interessante pensar que naquela altura também havia chuva. Mais tarde, eu iria pensar que talvez o motivo daquela chuva era mais mágico do que natural. Enquanto eu andava o corredor me aproximando do banheiro, um comissário de bordo vinha na direção contrária pelo mesmo corredor. Ele tinha olhos saltados, um nariz adunco e sua aparência geral indicava alguma origem latina, talvez mexicana. Eu nem teria olhado para ele por mais de dois segundos se não fosse o fato de ele me olhar tão fixamente. A velocidade que eu andava foi diminuindo até que notei, quando ele abriu um sorriso grande como o Coringa só que com duas presas de bônus, que ele não era um simples comissário de bordo.

Tentei resistir a tentação de virar de costas e sair correndo para pegar meu machado. Não era uma sábia ideia dar as costas à um inimigo. Assim, a cada passo que ele dava em minha direção, eu dava outro para trás ansiosa por chegar perto o suficiente de meu machado.

— Algum problema, senhorita Al-Abbas? - perguntou ele enquanto sua pele ia lentamente mudando de cor para um tom entre azul e verde musgo. - Se houver algo com o qual a tripulação possa ajudar-lhe, basta apertar o botão sobre o seu assento.

— Não sei… - respondi - Sua equipe não me parece muito competente.

— Ah, mas que ofensa. - disse ele - Sou muito eficiente sim. Prova disso é que te encontrei.

— O que quer de mim? - perguntei.

— Ah não, não vou cair no clichê do vilão que revela todas as suas intenções.

— Pelo menos reconhece que é o vilão então. Temos um avanço aqui. Achei que todo vilão se acha o herói da própria história.

— Ah, realmente me acho o herói da minha, mas isso não quer dizer que não sei imaginar como deve ser de seu ponto de vista. Aqui, num avião à vários pés de altura, sozinha com sua família, seria uma pena se algo acontecesse com eles, não é mesmo?

— Com licença… - disse uma terceira pessoa se metendo na conversa. Um passageiro aleatório.

Provavelmente o homem achava que o comissário de bordo queria fazer algo comigo, não sei. Só sei que ele se manteve entre eu e o estranho comissário. Claro que eu acho que eu poderia me defender sozinha caso algo acontecesse, mas estava querendo evitar justamente que algo acontecesse. A pequena comoção fez outras pessoas ali perto acordarem e prestarem atenção na conversa. O fato de o comissário não fazer nada me fazia pensar que ele queria que tudo permanecesse calmo também. Ah mas como eu estava enganada. O comissário botou a mão na garganta do homem e faíscas foram emitidas como se ele fosse o Super-Choque em pessoa. Muito aconteceu ao mesmo tempo, o homem gritou de dor, tentei dar um chute no comissário mas gritei de dor também ao levar um choque e o caos começou no avião. Admito que tentar chutar o Pikachu gigante pode não ter sido uma boa ideia, mas foi uma medida desesperada para salvar o passageiro que parecia uma pessoa normal e simpática.

O caos começou, as pessoas acordavam, saíam de seus assentos, perguntavam assustadas sobre o que estava acontecendo. Dessa vez, não pensei duas vezes antes de virar de costas e sair correndo de volta para meu assento pegar meu machado.

— SAM? O que está acontecendo lá na frente?! - perguntou minha avó que estava de pé tentando entender tudo.

— Sam… q-quem é..? - perguntou Amir fazendo uma pergunta mais direcionada e menos perdida.

— Não sei ainda. - respondi enquanto meus dedos mexiam apressadamente na trava do bagageiro para pegar meu machado.

Só ousei olhar para trás quando uma luz atraiu minha atenção. O comissário brilhava com uma luz azulada, ele tentou chocar todos aqueles que estavam ao seu redor de uma vez só, mas não conseguiu pois uma garota de cabelos negros e curtos que estava à três fileiras à minha frente e no outro corredor do avião sugou toda a energia elétrica com um sorriso triunfante no rosto. Aparentemente tinham mais pessoas singulares e poderosas dentro daquele avião. Esse fato se confirmou mais ainda quando uma segunda garota, ao lado da primeira, pegou nas mãos um saquinho, tirou um punhado de areia de lá e soprou. A areia se espalhava de forma estranha, quase como se estivesse embaixo d’água. Depois de uns segundos, todos dentro do avião caíram desacordadas no chão ou de volta à suas cadeiras.

— O QUE VOCÊ FEZ?! - gritei ao notar meu avô caindo ao meu lado.

Consegui colocá-lo na cadeira novamente ao largar rapidamente meu machado que estava quase em minhas mãos. Infelizmente, eu não conseguia alcançar minha avó ou Amir para fazer o mesmo, mas eles não pareceram se machucar ao caírem mais ou menos certos e mais ou menos desengonçados sobre o assento deles.

— Eles estão só dormindo. Assim não atrapalham. - disse a garota dando de ombros e apontando com seu arco e flecha para o comissário de bordo - Deveria dizer de nada, garota.

— Sam - eu disse.

— Prazer, Kowalski - disse a garota.

— E você, você deve ser Tlaloc, o deus asteca das chuvas e dos trovões - disse a garota de cabelos curtos que parecia ter faíscas irradiando de seu corpo - ah, e eu sou Thalia - ela completou me olhando por uma fração de segundo.

— Semi-deusas gregas… - disse o comissário estalando a língua, que, embora não tenha confirmado se o nome era Tlaloc mesmo, decidi chamá-lo assim - Não… mais do que isso, caçadoras de Ártemis.

— Bom ver que nossa fama acompanha - disse Thália.

Sem nenhum aviso, a tal de Kowalski começou a atirar suas flechas contra Tlaloc. As primeiras ele incinerou com o poder de seus trovões, mas não conseguiu fazer o mesmo com as outras pois foi como se ele e Thália estivessem brigando para controlar os trovões pois a sensação que dava era que ela estava fazendo com que ele errasse a mira ao jogar seus próprios trovões em direção aos dele.

— Por favor, não me atinja! - eu gritei para a garota enquanto segurava firme meu machado e corria na direção de Tlaloc.

— Vou tentar!

Ela não só se manteve fiel à sua tentativa, como também ficou tentando fazer com que eu não fosse atingida por nenhuma descarga elétrica muito forte. Contudo, por mais que eu estivesse contando um pouco com o solado de borracha do meu All Star para me salvar um pouco, eu ainda conseguia sentir um formigamento em meus braços a cada golpe cuidadoso de meu machado. Tinha que tomar cuidado, eu não queria atingir ninguém por acidente o que era muito fácil já que tinha até pés no meio do caminho ameaçando fazer-me tropeçar enquanto eu e Tlaloc íamos para frente e para trás no corredor continuando a luta. Embora ele tivesse conseguindo se desviar, eu senti que meu machado conseguiu atingir o alvo ao menos 3 vezes.

Tlaloc certamente estava passando por alguns maus bocados tendo que desviar de meus golpes e das flechas de Kowalski enquanto Thalia travava com ele uma batalha de relâmpagos e trovões. Me admirei com como Kowalski conseguia encaixar as flechas perfeitamente nas aberturas de Tlaloc sem nem me atingir! Mas eu não podia dizer os mesmos de toda a eletricidade que era trocada entre Tlaloc e Thália embora eu imaginasse que boa parte desta Thália estava levando para longe de mim. Me pergunto se ela queria se juntar a briga mais de perto. Ou até Kowalski. Contudo, não era como se fosse fácil lutar num corredor de um avião. Eu e Tlaloc lutávamos em um enquanto Thalia e Kowalski ajudavam-me do outro corredor. Em certo momento se tornou claro o fato de Tlaloc não estar lá sozinho, pois ouvi a voz de Kowalski:

— QUEM É VOCÊ?! - perguntou ela.

No instante seguinte, ela largava seu arco e flecha e partia para uma luta de espadas contra o estranho que se aproximava. A troca de arma foi provavelmente devido a aproximação dele. Ele estava muito perto para um arco ser útil. O homem também tinha um nariz adunco, mas também tinha um bigode volumoso e um sorriso um pouco arrepiante.

— Não falei para você esperar eu terminar de ir ao banheiro, Tlaloc? - reclamou o hoem.

— Ninguém mandou ter uma bexiga tão minúscula, Zababa - respondeu Tlaloc.

— Cala a boca! - reclamou o homem, Zababa - Pela cara ainda não conseguiu fazer seu trabalho mesmo!

Talvez eu tenha me distraído um pouco mais do que deveria devido a chegada de um novo inimigo, só sei que levei um forte soco no estômago. Um bem cheio de eletricidade. Caí no chão de joelhos tentando medir o estrago pelo nível da dor.

— Não se preocupe. - disse Tlaloc - Não a queremos morta.

— Saia de perto dela! - exclamou Thália segurando uma lança e cruzando, com dificuldade e gastando algum tempo, um espaço mais folgado entre duas fileiras de cadeiras tentando chegar no corredor onde a luta entre mim e Tlaloc parecia me deixar em desvantagem.

Com um grito, Tlaloc fez aparecer em suas mãos um pequeno bastão de cerca de meio metro de comprimento cuja extremidade inferior era uma cobra com a língua para fora. Com esse mesmo grito, ele levantou o bastão aos céus e ouvi a tempestade ficar mais forte, cheia de trovões. Meu coração gelou quando o avião começou a se inclinar e sofrer turbulência, pois me perguntei quem estaria pilotando se os pilotos estiverem dormindo também.


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Notas finais do capítulo

e por hoje é isso! desculpa a demora de novo! vou tentar não demorar tanto no prox pra dar uma compensada. Até lá!



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