Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 29
NICO - Uma pergunta sem resposta


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar o cap, gostaria de dizer que ele foi escrito com muito cuidado e que foi muito difícil de escrever. Foi o primeiro capítulo que outra pessoa leu por completo (que não fosse eu, óbvio) antes deu eu postar. Quero salientar também que depressão é coisa séria. Procure um psicólogo ou psiquiatra. Em caso de ideias suicidas, ligue para 188, o Centro de Valorização da vida. https://www.cvv.org.br/ Eles realmente atendem! Falo isso pq vamos passear um pouco pela depressão.




CONTÉM SPOILER DE PROVAÇÕES DE APOLO: LABIRINTO ARDENTE



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NICO

Foi estranho ver aquele monte de pessoas chegando ao mesmo tempo na Casa do Brooklyn por mais que tivesse pessoas que eu já conhecia entre eles. Foi bom também rever Hazel, já fazia algum tempo que não a via.

Depois que Sadie emprestou uns quartos para Reyna, Hazel e Frank, eles imediatamente foram tentando se sentir em casa. Talvez para aproveitar a chance de ter um lugar legal para dormir. Não era sempre que isso acontecia em uma missão. Bem, pra falar a verdade era bem raro mesmo.

— Estou cansado…  - disse Frank soltando um suspiro - Acho que vou dormir.

— Normal. Afinal, já está ficando bem tarde. Perdemos bastante tempo conversando. - disse Reyna.

— Já vai dormir também? - perguntei.

— Não. Ainda não. Tenho que pensar em umas coisas - ela respondeu.

— E você? Já vai dormir? - perguntou Frank olhando para Hazel que negou com a cabeça.

— Quero conversar com Nico e Will - disse ela abrindo um enorme sorriso.

— Ok. Boa noite então - disse Frank abrindo um sorriso também.

Meu olhar acompanhou enquanto ele se aproximava dela e eles trocavam um beijo simples de boa noite. Não, não foi ciúmes que senti dentro de mim, mas não foi um sentimento que eu me orgulhei. Eu virei o rosto de lado dando as costas para o grupo. Frank se jogou na cama dele e, como ele parecia bem exausto, achamos melhor não interferir. Reyna, por outro lado, sentou-se na sua cama e ficou com uma cara de quem estava fazendo meio mundo de teorias e planos. Contudo, meus planos de fuga foram interrompidos quando Hazel me alcançou e abraçou meu braço.

— Vamos, quero conversar com vocês. - disse ela.

— Pra quê? - perguntei.

— Botar o papo em dia… ver se você está bem. - disse ela com clara preocupação no olhar.

Eu podia imaginar vários motivos pelos quais ela queria checar se eu estava bem. Poderia listar todos eles. Assim, eu e Will nos reunimos com Hazel em seu quarto embora eu não estivesse muito afim de conversar no momento. Só queria ficar quieto. Dando uma explicação bem mais simplificada, acho que posso dizer que levantei do lado errado da cama.

— A quanto tempo estão aqui? - perguntou Hazel sentando-se na cama e pulando algumas vezes sentada aproveitando o tanto que ela era fofinha.

— Desde pouco depois do Ano Novo. - disse Will.

— E tirando todas essas coisas tensas que estão acontecendo, estão bem? - Hazel perguntou.

— Quer dizer tirando o mundo tentando se destruir mais uma vez? - perguntei.

— Acho que você pode descrever assim - disse Hazel rindo.

— Estou bem - disse Will com aquele típico sorriso radiante que fez com que um pequeno sorriso nascesse em meu rosto.

Talvez eu tivesse me perdido no sorriso do Will por tempo demais porque logo Hazel estava me olhando esperando minha resposta.

— Estou bem… - eu disse, mas talvez não tenha sido tão convincente.

— Bem mesmo? - perguntou ela.

— O mais “bem” que posso te oferecer no momento - disse suspirando pesadamente.

Eu senti o olhar dela de preocupação sobre mim mas eu desviei o olhar enfiando as mãos no bolso e fitando um ponto aleatório no chão do quarto que foi emprestado para ela.

— Você está cuidando dele né? - perguntou Hazel olhando para Will.

— Eu não p -  - comecei a dizer mas fui interrompido por Will.

— Ele é um paciente teimoso, mas o Dr. Solace aqui faz o melhor que pode - disse Will abrindo um sorriso e dando uma piscadela para mim fazendo com que eu talvez ficasse um pouco vermelho.

Hazel começou a rir imediatamente me deixando ainda mais envergonhado.

— Por favor, me chame pra ser madrinha de vocês no casamento - disse ela fazendo com que até Will corasse.

— Acho que você está adiantando as coisas um pouco demais! - eu exclamei totalmente desconcertado pelo comentário.

Ainda mal tinha digerido todo esse namoro, quem dirá um casamento. A ideia me deixou um tanto desesperado e aflito então, já não tão interessado em conversar, eu me levantei para ir embora e não parei mesmo quando ouvi os pedidos de desculpas de Hazel.

— Hey, Nico, pera. - ouvi Will dizer quando eu deixei o quarto de Hazel para trás.

Ignorei o chamado de Will e segui indo até o quarto que foi emprestado para mim que, depois de tantos dias, já estava lentamente quase parecendo meu quarto. Meu quarto. As duas palavras juntas soavam bem estranhas. Fazia tempo que eu não tinha realmente um quarto normal, especialmente se eu não contar o chalé de Hades que era todo meu.

Fechei a porta do quarto e me joguei na cama para minutos depois escutar três batidas na porta do meu quarto. Não sabia quem era e também não respondi. Provavelmente a pessoa esperou uma resposta minha mas, ao não ouvir nenhuma, decidiu falar, era Will.

— Não fique com raiva dela. - disse Will.

— Não estou - respondi de dentro do quarto sem ter aberto a porta.

— Ela só está preocupada com você. - disse Will.

— Não preciso de tantas pessoas se preocupando comigo.

— Não pode culpar ela por se preocupar com seu único irmão especialmente quando o histórico dele não é tão bom e… principalmente depois do Jason…

— Não quero ouvir esse nome agora - resmunguei querendo esquecer da morte de Jason na longínqua Califórnia depois de uma dessas missões idiotas que os deuses vivem inventando.

— Nico, abre a porta, por favor. Vamos conversar.

Eu pensei por uns segundos e suspirei ao levantar da cama para abrir a porta para Will. Ele provavelmente não esperava que eu abrisse a porta, pois me olhou com uma expressão de surpresa. Aquele realmente não era um dia bom. Eu não estava no humor para ter uma daquelas conversas com meu namorado. Não enquanto tantas coisas enchiam minha cabeça. As coisas de sempre e também coisas novas. Porque basta uma coisa acontecer para várias das coisas antigas começarem a encher minha cabeça de novo. É um saco isso. A coisa nova, no caso, seriam os frascos deixados por meu nada querido pai. A mera presença tão perto de frascos contendo água (se é que posso chamar de água) dos rios do submundo era no mínimo arrepiante, imagina ter que pensar no uso deles. Eu teria que beber? Me molhar com eles? Misturar no meu café da manhã? Nenhuma das ideias parecia animadora mesmo sendo pequenos fracos e não toda a água dos rios mais perigosos que eu conhecia.

Eu me virei e deitei na cama enquanto Will decidia se entrava ou não. Decidindo por entrar, ele fechou a porta atrás de si e sentou na beirada da cama.

— Não pode a culpar por estar preocupada com você, ela é sua irmã. - ele disse.

— Não a culpo. Só não estou num bom dia para ficar aguentando certos comentários.

— Entendo que não se aceite tão bem m-...

— Não Will, você não entende. - eu disse cortando ele e sentando na cama para olhar em seus olhos melhor -  Pode até entender uma pequena parte, mas não o todo. Você é o filho de Apolo perfeito e bonitão que provavelmente vai entrar em uma das melhores universidades do país num curso de medicina. Você não sabe como é ser a pessoa que você mais odeia.

— Que momento horrível pra eu registrar você me chamando de bonito. - disse Will soltando um suspiro triste - Tente explicar então e eu tento entender.

— Pra quê? De que iria adiantar?

— Pra te entender melhor, pra estar do seu lado quando precisar.

— Meus problemas são meus para carregar. - respondi.

— Mas nada me impede de te ajudar a carregá-los - Will disse dando de ombros - Achei que tivesse melhorado depois que derrotamos Gaia.

— Não é assim que funciona. - respondi suspirando - Tenho meus dias. Bons e ruins.

— Esse foi qual?

— Um ruim.

— Porquê? - perguntou Will num tom calmo olhando-me dentro dos olhos como se tentasse ver minha alma.

Será que as habilidades de medicina dadas por Apolo incluíam habilidades de psicólogo? Perguntaria para ele outro dia. No momento, apenas foquei na pergunta que ele me fez e respirei fundo tentando elaborar minha resposta. Sentimentos e ideias não são coisas fáceis de botar em palavras. Nunca sai exatamente como você queria dizer. Nunca a ideia completa é passada.

— Porque… foi. Não é uma mera questão de tentar acordar de bom humor, Will. - eu disse abaixando meu olhar para o cobertor da cama - Minha preocupação com os frascos que meu pai deixou, no começo era só isso. Mas outras coisas foram surgindo e geralmente bobas que vão desencadeando outras coisas ruins que guardo… que enterro… bem fundo dentro de mim. Acha que não notei como você estava feliz com sua mãe? Que não noto como Frank e Hazel e outros casais não tem medo de mostrarem o que sente? Às vezes parece que eu estou me afogando e todos os outros estão cheios de ar. Disse que ainda não me aceito bem, é verdade. Não me aceito, me odeio. Alguns dias posso dizer que estou melhor, outros que estou pior, mas em todos ainda me sinto alguém que não se encaixa nesse mundo. Me sinto errado. Ainda me lembro de ver algumas matérias no jornal de quando era pequeno punindo as pessoas por gostarem de alguém do mesmo sexo, também me lembro como as pessoas no acampamento conseguem facilmente olhar para mim com medo só por ser filho de Hades. É fácil ter medo de mim.

— Muita gente também tem medo da Annabeth - disse Will depois de uns segundos de silêncio nos quais ele esperou para ver se eu não tinha mais nada para falar - E quanto à parte das punições, as coisas estão mudando.

— Estão mesmo? - eu perguntei olhando em seus olhos - Não finja que não vê na internet todas as coisas que acontecem quanto à isso ao redor do mundo. Não falo só disso também, Will. Todos que eu realmente me importava são lentamente tirados de mim! Minha mãe, Bianca, Jason… Tenho medo que todos esses problemas que acontecem façam com que eu perca os as pessoas importantes que ainda me restam.

Por algum motivo, estava fácil falar. Will era um bom ouvinte, mesmo que eu sentisse as lágrimas se juntando em meus olhos e lutasse para não deixar elas rolarem pelo meu rosto.

— Não diga… Não diga que sabe como é. - Eu disse - Não diga que sabe como é se sentir culpado pela desgraça que acontece ao seu redor. Não diga que sabe como é a dor de acordar sendo a pessoa que mais odeia. Não me diga que sabe como é se sentir um erro num mundo onde você não se encaixa. Pode dizer que é coisa da minha imaginação, que a culpa não é minha, que não sou uma pessoa odiável, que não sou um erro, mas é o que minha cabeça me diz todo dia. Alguns dias eu tento contrariá-la, é bem mais complicado do que simplesmente levantar da cama de bom humor. Mas eu estou melhorando… ou eu acho que estou. Antes eu me levantava da cama tentando convencer a mim mesmo de que eu não era gay, tentava me fazer gostar de garotas e coisa e tal, mas hoje já não faço mais isso. Me odeio? Sim! Mas tenho plena consciência de que eu gosto de você e dificilmente algo vai mudar isso.

— Nico… - disse Will provavelmente sem saber o que dizer.

— As vezes tento encarar tudo isso de frente. Às vezes “lutar” não é levantar a espada, às vezes é ter a coragem de sair da cama. Às vezes tento por mim, às vezes tento pela Bianca, às vezes tento por você, porque você merecia um namorado melhor do que toda essa bosta que eu sou.

— Você não é uma bosta, Nico - insistiu Will botando as mãos em cada um de meus ombros me olhando intensamente - Nunca mais diga isso. Nunca mais pense isso.

— Fácil pra você falar - respondi.

— O que eu tenho que fazer para você acreditar que você não é uma bosta? - perguntou Will.

Soltei uma leve risada diante da complexidade de uma pergunta cuja resposta eu também sempre quis saber. Assim, respondendo-o, me contive em dar de ombros.

Ele me olhou por uns segundos com um olhar de preocupação que eu não consegui ler até que se aproximou abraçando-me fortemente colocando uma das mãos sobre a parte de trás de minha cabeça fazendo com que eu deitasse em seu ombro. Meu rosto corou com o toque repentino enquanto o cheiro dele invadia meu nariz. Um cheiro amadeirado e suave, que por algum motivo me lembrou da alegria de ver o sol brilhar no fim do inverno e do sol refletido nas águas dos canais de Veneza.

Eu o abracei mais forte aproveitando de seu cheiro e seu calor. Depois do que pareceu uma eternidade, ele me soltou. Aceitaria mais outra eternidade o abraçando mas ele se aproximou de mim olhando-me seriamente nos olhos segurando meu rosto entre suas mãos e deixando o próprio rosto bem perto do meu.

— Pois vou fazer de tudo para que você não se ache uma bosta e para te ajudar à carregar os problemas e medos que pesam em seus ombros.

Eu não sei o quão vermelho eu já estava à essa altura. Só sei que perdi a batalha contra as lágrimas e deixei que elas escorressem leves pelo meu rosto. Sem mais nada dizer, Will limpou as lágrimas traidoras, se aproximou mais ainda e me beijou. Fechei os olhos quando seus lábios tocaram os meus torcendo para que eles pudessem levar minhas preocupações e medos para longe. Bem que isso seria uma boa habilidade para se ter como filho de Apolo. Claramente não foi o que aconteceu. Mas só de ele estar ali, realmente tentando ajudar e entender e me dando forças, eu senti o peso que apertava constantemente meu coração se suavizar um pouco mais.


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Notas finais do capítulo

estou definitivamente orgulhosa desse capítulo. :)
mereço comentários por ele? Quem vcs querem ver narrando no próximo? Eu ainda estou em dúvida quanto à qual lado da história mostrar no prox kkk