Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 28
SADIE - Perguntas que merecem ser respondidas


Notas iniciais do capítulo

a prova de q eu estava ruim é q hoje é dia de cap duplo



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SADIE

Acho que à essa altura eu posso dizer que minhas definições de novidade se alteraram muito rapidamente. Como todos tinham muita coisa para resolver e nossos novos amigos nórdicos tinham que ir para um funeral em Valhalla, nossa discussão passou à ser sobre como ajudar os nossos também novos amigos, os romanos, à chegar do outro lado do país.

— Talvez pudéssemos simplesmente usar o canal do Panamá e dar uma carona pra eles. - disse Mallory.

Ela tinha mencionado que Magnus, também conhecido como Bela Adormecida, tinha um barco amarelo no bolso. Dei uma olhada com o canto do olho para onde ele estava sentado cabisbaixo tentando lidar com a notícia da morte do amigo. Ao seu lado, estava Alex. Os dois não conversavam, talvez não soubessem bem o que dizer.

— Com os portais sem funcionar, locomoção fica bem mais complicada. - disse Anúbis.

— Carter foi mais cedo hoje atrás de um portal que estivesse funcionando para visitar Tio Amos no Egito. Ver como estão as coisas por lá… acha que ele conseguiu passar.

— Não sei - disse Anúbis dando de ombros. Ainda bem que ele tinha voltado inteiro, depois eu perguntaria para ele mais detalhes sobre o que ele estava fazendo e sobre coisas que… coisas que andei pesquisando e queria ouvir a versão dele.

— Se eu fosse chutar, diria que as coisas não estão nada bem por lá também - disse Zia.

— Mas primeiro temos que ir até Valhalla. A carona pode ficar para amanhã ou depois. - sugeriu Mestiço. Acho o nome dele bem estranho.

— Um dia a mais ou dois não vai fazer tanta diferença né? - perguntou Hazel.

— Creio que não - disse Reyna.

Como os romanos deram de ombros, acho que aceitaram que os lados ruins eram até aceitáveis. Foi nessa hora que a porta se abriu e, calmamente, como se nada tivesse acontecido, entrou Carter. Ele começou à falar antes que notasse a presença do enorme grupo em nossa sala de estar.

— Sadie… não achei nenhum portal funcionan…. - disse ele parando de falar ao ver o tanto de gente - Erm… oi?

— Pessoal, eis meu irmão, Carter - eu disse apresentando ele e então suspirando - Os portais não estão funcionando. Nenhum.

— Nenhum? - perguntou Carter querendo afirmar se tinha entendido certo.

— Era exatamente sobre isso que estávamos discutindo mais cedo aqui. Mas chegou meio atrasado. - eu disse.

— Porque realmente precisamos ir - disse Mallory - Voltaremos assim que possível.

Carter ficou olhando meio perdido quando Mallory, Mestiço, Magnus, Jacques e Alex passaram por ele e então saíram de nossa casa. Depois que eles passaram e fecharam a porta, Carter se virou para mim atrás de respostas mas Zia interviu.

— Eu explico - disse ela.

— Vou ajudar nossos hóspedes à acharem um cantinho pra dormir, já que vão ficar aqui - eu disse olhando para Frank, Hazel e Reyna.

Subi as escadas com eles e também com Will, Nico e Anúbis. Dei para cada um deles um quarto no mesmo corredor onde Will e Nico estavam e fiz todas aquelas etapas de mostrar onde estava o banheiro, roupas extras, falar para se sentirem em casa… essas coisas. Frank, Hazel e Reyna estavam com cara de cansados. Não os culpo. Pelo o que contaram, passaram por muita coisa até conseguirem chegar aqui em casa. Pelo menos por essa noite eles teriam o luxo de uma cama, comida e água quente.

Segui o caminho até meu quarto puxando Anúbis pelo pulso. Ele estava com uma cara de curiosidade que eu achava bem fofa.

— Porque acho que você ainda tem muita coisa que quer falar comigo? - perguntou ele.

— Provavelmente porque eu realmente tenho - eu disse puxando ele pra dentro do meu quarto.

Eu fechei a porta atrás de mim e encostei as costas nela. Anúbis simplesmente ficou parado ali no meio do meu quarto tentando entender o que eu queria. Já eu, não sabia por onde começar. A cabeça dele virando levemente para o lado, bem como a de um cachorro, era a prova de que ele também se perguntava por onde eu iria começar.

— Eu andei pesquisando no Google sobre umas coisas que a Zia disse… - eu disse sem coragem de olhar nos olhos dele.

— Sobre? - perguntou ele ainda meio perdido.

Ousei levantar o olhar para ele antes de falar.

— O chacal governador dos nove arcos - eu disse e, imediatamente, o olhar dele se abaixou para o chão, fugindo do meu olhar.

Estaria o deus da morte com vergonha?

— O quanto o Google te disse? - perguntou ele.

— Que “nove arcos” era um termo para os representar os inimigos tradicionais dos egípcios. Mas os textos não deixavam muito claro o que você tinha haver com isso. Só que tinha algo haver… - eu disse olhando para ele em busca de respostas.

Ele entendeu o meu olhar e afirmou com a cabeça duas vezes antes de tomar um suspiro talvez pensando por onde começar.

— Os nove arcos… - disse ele soltando outros suspiro - Quem eram eles geralmente dependia de quem era o faraó no momento. Hititas, líbios, núbios, outros povos nômades que você nunca deve ter ouvido falar e outros… De um jeito menos pesado de se falar, meu trabalho com eles era fazer com que se curvassem diante do faraó. Aceitassem seu controle.

— Imagino que não fosse pedindo “por favor” - eu disse e ele negou com a cabeça.

— Não era um trabalho no qual eu fosse muito necessário já que Hórus não gosta que intervimos muito nos assuntos dos humanos - ele explicou.

— E isso que você está fazendo agora não é exatamente intervir? Diretamente ainda? - eu perguntei sem evitar dar um sorriso acusador e divertido e ele abriu um sorriso de culpa.

— Ainda bem que ele não está aqui para ver. - disse ele - Mas, de toda forma, por mais que, no final das contas, seja mais um título do que um papel que eu exercesse muito, não posso negar que fiz coisas que você não gostaria de saber. Tanto sob esse título como sob outros.

Aquelas palavras atingiram meu coração do jeito que eu achei que elas iriam. Eu respirei fundo tentando fazer a pergunta que estava entalada na minha garganta. Eu tinha medo da pergunta e mais medo ainda da resposta.

— T-Tipo… tipo matar? - perguntei e ele afirmou com a cabeça.

— Tipo matar - ele disse. Não havia sorriso em seu rosto. Ele sabia o peso das palavras que havia dito.

— Quando… Quando foi a primeira vez que…. ? - eu disse deixando a pergunta no ar, mas acho que ele pegou o resto da pergunta.

— Eu tinha 5 anos.

— CINCO?! - eu repeti surpresa.

Fiquei surpresa com a resposta. Primeiro, porque era estranho pensar que ele alguma vez teve uma idade normal para se ter. Segundo, e mais importante, porque foi um número assustadoramente baixo. Me perguntei como seria. Uma pequena criança, de meros cinco anos, matando alguém. Como será que ele era quando pequeno? Com certeza não tinham fotos para matar a curiosidade de minha imaginação.

— Foi um acidente… mais ou menos.. - ele disse.

— Desculpe se acho difícil acreditar que uma criança de cinco anos consegue matar sem querer - eu disse.

Ele não pareceu se incomodar com a resposta que dei. Na verdade, acho que até achou o comentário bem válido.

— Eu estava com raiva. Irado. - disse ele explicando - Um adolescente estava atirando pedras num filhote de chacal. A raiva anuviou minha mente. Eu ainda não sabia controlar meus poderes. Na verdade, eu mal sabia que os tinha ou quais seriam. Quando dei por mim, ele só era um pequeno monte de restos no chão.

Eu levei um tempo para digerir aquilo. Deixei minhas costas escorregarem pela porta e me sentei no chão de olhos fechados. Soltei um pesado suspiro como se ele me ajudasse a processar tudo aquilo. Não sei bem quanto tempo ficamos ali em silêncio, mas foi ele quem o quebrou.

— Eu… posso ir embora se pref-

— NÃO! - eu disse, talvez alto demais, interrompendo ele - Eu só… preciso de um tempo pra digerir isso. Quer dizer… claro, já imaginava que… que…

— Que eu já tivesse matado - ele completou e eu afirmou com a cabeça.

— Se arrepende? - perguntei.

— De algumas - ele disse cruzando os braços com uma expressão pensativa no rosto - Outras… nem um pouco.

— Não sei se devo levar em conta enquanto penso de que você viveu numa época que era bem olho por olho, dente por dente. E que talvez não teve escolha, ou até estava defendendo alguém. Sinceramente não sei o que pensar. - eu disse, já começando à tagarelar - Claro, lembro que já fez isso uma vez para me salvar e talvez, se não tivesse feito, eu nem estaria aqui. Então.. talvez algumas sejam até bem justificáveis. Mas uma vida ainda é uma vida e… e…

Eu parei de falar quando senti suas mãos nas minhas. Estava tão concentrada tagarelando que não tinha notado que ele tinha ido até mim e se sentado no chão à minha frente.

— Sadie. - ele disse calmamente - Eu fiz coisas de que não me orgulho e tive minhas más décadas. Não é pra menos que, antes mesmo de me conhecer, Thoth me descreveu para você como mal-humorado.

— Eu lembro disso… - eu disse não conseguindo evitar soltar uma pequena risada.

— Eu tenho as coisas que me arrependo. E esses arrependimentos são meus para carregar e encarar. - ele disse - Mas, se eu tiver que matar para proteger algo ou alguém que é importante para mim, eu farei. Não posso dizer que coisas você deve levar em conta na sua opinião sobre mim. Você quem tem que decidir isso.

As palavras dele me deixaram meio… bem… sem palavra alguma. Eu afirmei brevemente com a cabeça ainda sem saber bem o que pensar. Acho que uma decisão não sairia assim tão rápido.

— Eu… Eu ainda não sei - eu disse com toda a sinceridade.

— Não tem problema. - disse ele dando um sorriso pequeno, triste, mas encorajador - Leve seu tempo.

— E, quando eu souber, te contarei - eu disse e ele afirmou com a cabeça aparentemente satisfeito.

Soltei outro suspiro para afugentar o clima pesado daquela conversa. Ao me levantar, ele se levantou também. Eu andei até a mesinha onde estava o meu computador e desconectei o celular que carregava nele. Virei o aparelho em minhas mãos uma, duas vezes. Não era muito novo, era meu celular antigo que achei socado em uma gaveta com a tela quebrada. No tempinho que Anúbis passou fora, eu aproveitei para trocar a tela quebrada dele e comprar uma capinha preta para esconder o fato de que ele era meio rosa.

— Tem outra coisa… - eu disse ainda de costas para ele - Ahm… Estávamos reforçando os feitiços ao redor da casa. Uma contribuição sua na forma de um ou dois feitiços extras seria muito bem vinda. Por favor.

— Será feito - ele disse.

— E mais… ahm… - eu disse virando para ele com o celular em mãos - Você é um saco pra entrar em contato. Não sei quantos tracinhos de sinal você conseguiria no Duat mas… achei meu celular velho e… assim… ele ainda funciona. Troquei a tela e botei uma capinha preta. Fiquei com medo de quebrar seu visual preto monocromático ou que talvez você sofresse da tal masculinidade frágil.

— Masculinidade frágil? - perguntou ele perdido.

— É. - eu disse rindo - Dizem que poucas coisas são mais frágeis do que masculinidade hoje em dia. Meio que porque um bando de homem não tem coragem de, por exemplo, admitir que alguma coisa é fofa, mostrar sentimentos ou… ou… ah! A tal marca de vinho que lançou vinho em latinha para quem se acha machão demais pra beber em taça. É que… o celular é rosa… nada muito exagerado… mas ainda é rosa. A capinha preta cobre quase tudo mas… ainda é rosa.

— Mas… É só uma cor… - disse ele se entender.

Viram meninas? Dica. Namorados do tempo de Antes de Cristo. Claro que eu ainda dou uma sorte enorme por ele não ser mente fechada e achar que lugar de mulher é na cozinha. Não que ele tenha falado nada do tipo alguma vez. Na verdade, pelo o que Cleo estava me mostrando um dia, parece que os egípcios eram um dos que mais tinham igualdade de gênero nas redondezas na época. Mas enfim… não é o foco da conversa agora isso. Estou desviando do assunto.

Eu estendi o celular para ele e ele o pegou com um ar curioso.

— Não liga para a cor? - perguntei.

— Não - ele disse revirando os olhos - O importante é quem deu. Obrigado.

E… pronto… lá vai minha cara ficar toda vermelha. Todas as palavras fugiram da minha mente. Vamos formar uma frase, Sadie! Pode ser? Tentei organizar as palavras de novo na minha cabeça.

— Também botei umas músicas para você. - eu disse chegando perto para apertar na tela touch screen do celular e o mostrar - Acho que consegui pegar todas que você já mencionou alguma vez e outras mais que achei que combinavam … Iron Maiden, Apocalyptica, My Chemical Romance, System of a Down… Mas eu tinha que botar Adele ok?

— Não esperaria menos de você - ele disse com uma leve risada fazendo eu abrir um sorriso também.

— Se tiver algum outro… só falar… - eu disse.

— Ahm… tem um. Não acho que você conheça.

— Não acredito que o velhote acabou de questionar meu conhecimento musical! - eu disse de forma dramática e ele revirou os olhos sorrindo.

— Certo. Então, diga-me oh conhecedora das músicas, conhece Soliman Gamil?

É… ele me pegou. Eu nunca tinha ouvido falar aquele nome. O sorriso vencedor que abriu-se no rosto dele era a prova de que notou que eu não conhecia.

— Era um compositor egípcio. - ele disse - As músicas dele são um tanto… nostálgicas.

— Espero que não seja velho demais a ponto de não ter na internet. - eu disse.

— Não acho que seja uma preocupação já que creio que até Mozart tem na internet - ele disse.

— Alguém está aprendendo mais sobre a internet… - eu zombei empurrando ele de leve até minha cadeira e botando ele para sentar lá - Vamos para à sua aula de “Como botar música no celular” … você já teve um celular alguma vez?

— Não.

— Tá… e vamos incluir a aula de “Como mexer no celular”


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Notas finais do capítulo

sim, vamos passar pelos outros ships e também pelas amizades e inimizades no grupão. Agora é hora de desenvolver as relações interpessoais ou destroçar elas! MUAHAHAHA



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