Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 21
CARTER - De papiros à gritos


Notas iniciais do capítulo

oioi! olha o cap novo! era pra ter saído no domingo mas usei ele pra planejar mais da treta geral da fic hehe
não sei se notaram, mas além da treta geral da fic com os deuses e tudo mais, também quero criar umas tretinhas internas entre os personagens.
Uso esse capítulo para terminar de plantar a sementinha da discórdia em uma dessas tretas. Outras com outros personagens virão ♥


Sem mais delongas, vamos ao capítulo :)



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CARTER

Eu me sentava em minha cama, cabisbaixo e com o telefone na mão. Encarava as não sei quantas ligações não atendidas e mensagens não visualizadas que tentava enviar para tio Amós. A situação toda me preocupava. Não queria deixar todos sozinhos por tempo demais para ir até o Egito descobrir se estava tudo bem. Mal tínhamos nos superado do ataque à nossa casa e também à morte de Walt. Não queria ter que deixar os iniciados, minha irmã e Zia sozinhos. Mas ser Faraó da casa da vida tinha lá suas escolhas difíceis, e como o primeiro Nomo não respondia....

— Nada ainda? – perguntou Zia ao entrar no meu quarto e se ajoelhando sobre a cama atrás de mim.

— Nada... – respondi-lhe enquanto suas mãos logo passavam pelos meu ombros massageando-os e, como consequência, me deixando todo corado.

— Você está todo tenso. E não sem motivo. O que pensa em fazer? – disse Zia enquanto eu tinha plena ciência de quão perto ela estava e de suas mãos massageando o meu ombro. Sentia o cheiro de seu cabelo recém-lavado, o cheiro de perfume com o aroma de alguma flor (provavelmente) que eu não sabia identificar. A presença dela estava com certeza me atrapalhado um pouco os pensamentos.

— A-Agora que as coisas parecem mais estáveis por aqui, pensei em deixar a casa aos cuidados de você e de Sadie e pegar algum portal até o Egito para ver se está tudo bem por lá – expliquei enquanto ela continua a massagem e eu tentava ignorar o quão vermelho meu rosto estava – Will e Nico estão aqui também. Espero que consiga pedir para eles ficarem um pouco mais. Ao menos tempo o suficiente para eu ir e voltar.

— Isso se a situação lá não exigir que fique mais tempo... – disse Zia expressando uma das preocupações que eu também considerava.

Eu me virei para olhar para Zia e notei que a mesma preocupação estava estampada em seu olhar. Zia sentou-se sobre a cama e eu segurei-lhe a mão e fiquei olhando as mãos dela enquanto falava.

— Você ficaria aqui e protegeria tudo junto com a minha irmã? – perguntei. Aquela situação me fazia lembrar de Apófis, só que tudo muito pior.

— Preferiria ir com você, mas sim, fico – disse Zia.

— Seria uma boa chance para você e Sadie voltarem a se dar bem – sugeri e olhei bem a tempo de ver ela revirando os olhos.

— Ah, não entre nesse assunto de novo. Não agora, por favor. O momento estava ficando legal.

— Desculpe – disse com um suspiro e então me levantando para sair do quarto. Mas não sem antes dar um beijo no topo de sua cabeça.

Eu abri a porta do quarto para ir em direção ao portal mais próximo, ou talvez usasse a Agulha de Cleópatra para aproveitar e ver se algo mudara por lá. Havia ido algumas vezes depois da escola, mas ela permanecia com a aparência inalterada como se nada tivesse acontecido. Foi quando abri a porta que ouvi os passos pesados e apressados de Cléo e o grito que ela deu ao encontrar minha irmã.

— SADIE! CHAME TODOS! TEMOS UM PROBLEMÃO! – gritou Cléo.

Qualquer coisa que até então estava em minha mente se apagou e eu e Zia corremos para onde Cléo estava.

 - O que aconteceu?! – Will perguntou ao correr atrás de Sadie junto com Nico.

Cléo se virou e começou a correr em direção à biblioteca enquanto explicava apressadamente a situação.

— Tenho arrumado a biblioteca desde o ataque checando se todos os livros ainda estão lá! – explicava ela – Achei que ele estivesse se perdido no meio da bagunça, mas já chequei em todos os lugares e usei até magia para procurar!

— O que? – perguntou Zia em tom tão preocupado e apreensivo quanto Cléo.

— O Livro de Thoth sumiu! – disse Cléo.

Um olhar de desespero cruzou o meu rosto e o de Sadie quando nos entreolhamos. Não tive tempo de notar o olhar de incompreensão que cruzou o rosto de Will e Nico quando todos nós aceleramos o passo para a biblioteca.

A disposição dos livros e pergaminhos dava bem a entender que Cléo revirara a biblioteca de cima a baixo mais do que uma vez. Livros e mais livros, pergaminhos e mais pergaminhos estavam separados em montes e pilhas com post-its colados escritos “checado” sobre as pilhas ou sobre as prateleiras pelos andares da biblioteca. Havia uma separada onde o livro de Thoth ficava protegido. Como a melhor forma de esconder uma árvore era em uma floresta, o livro anteriormente ficava normalmente dentre os outros pergaminhos e livros, no entanto, vários feitiços protegiam tanto o livro individualmente, quanto a prateleira em que ele estava e também a biblioteca como um todo. Mesmo as shabtis que pareciam ter ajudado Cléo com a reforma e a busca pareciam tão desoladas quanto ela por não encontrarem o poderoso livro.

— Tem certeza disso? – perguntou Sadie desesperadamente enquanto olhava pela pilha de livros mais próxima e Zia olhava pela outra.

— Sim! Olhei livro por livro, pergaminho por pergaminho. Um de cada vez com ajuda das shabtis. O livro já não estava onde eu havia deixado antes, mas achei que talvez tivesse caído ou algo do tipo por causa do ataque. Usei tanto de métodos normais quanto magia. O livro não está aqui.

Eu gelei. Odiava imaginar todo o poder contido no livro de Thoth nas mãos de Naunet e sabe-se lá mais quem.

Enquanto isso, Will e Nico se encaravam fazendo uma pergunta silenciosa. Foi Nico, no entanto, que fez em voz alta a pergunta que ambos pensavam.

— O que é esse Livro de Thoth? – perguntou Nico.

— É o livro que o deus Thoth escreveu quando era jovem. Tenho tentado decifrar as informações desde que o tiramos de Setne, mas foi muito pouco que descobri. É quase como um enorme livro minuciosamente codificado, só que pior do que isso. Ele contém coisas muito perigosas para estarem em mãos erradas. Mapas, informações do Duat, como matar um deus, onde estão as sheuts de cada um...  - explicou Cléo.

Alguns poucos segundos depois de Cléo dizer aquilo, vi que os joelhos de Sadie balançavam como gelatina e seu rosto estava branco como osso com uma expressão de puro terror e como se tivesse acabado de juntar uma peça importante.

— Sadie? Você está bem? – perguntei segurando-lhe o cotovelo com medo de que ela desabasse ali mesmo.

— Carter! Não vê? Eles pegaram! – disse Sadie.

— Sim, deduzi até essa parte.

— E eles queriam recrutar Anúbis, não era? Ficaram tentando seduzir ele com as memórias dos poderes no passado....

— Onde quer chegar?

— Carter! Pensa! O livro tem a localização de todas as sheuts dos deuses! – dizia Sadie desesperada e então entendi onde queria chegar. Imagino que a memória da morte de Walt ainda estava muito fresca na memória de minha irmã caçula – Se eles... a sheut de Anúbis... ele morre! Nada de ir pro Duat e depois voltar! Nada de cura rápida! Morte final e definitiva!

— Sadie... – tentei dizer tentando ignorar que ela soltou uma informação tão importante e secreta na frente de Will e Nico.

— E-Eu não... – gaguejava Sadie preocupadíssima – de novo não... mamãe, papai, Iscandar, Bastet, Walt... Tio Amós não responde, Khufu e Felipe estão com ele... de novo não... de novo não...

Entendi o que Sadie queria dizer. Entendo que... bem... embora papai, que agora estava fundido com Osíris, e Bastet não estivessem exatamente mortos, não estavam na terra, e sim no céu ou seja lá onde os deuses vão quando querem tirar férias, imagino que não faça uma grande diferença assim para Sadie. Especialmente quando não se sabe quando eles vão voltar. Podia ser em 3 anos, 10, 50, 100 anos. E Hórus que decidia isso, aparentemente. E tendo ela ficado tão pouco com nosso pai no decorrer de toda sua vida... Eu fui quem viajou com ele pra cima e pra baixo estudando e descobrindo coisas sobre a história, ela que foi criada na Inglaterra pelos nossos avós.

— Sadie, vai ficar tudo bem – eu disse colocando as mãos nos ombros de minha irmã firmemente – Aquele livro é muito difícil. Não é uma informação tão facilmente achada. Além disso, olha o trabalho que foi conseguirmos só uma sheut. Vamos recuperar esse livro, prometo. E também, relaxe né? Anúbis tem 5 mil anos. Aposto que ele já se safou de muitas situações complicadas.

Ela pareceu considerar minhas palavras e começou gradualmente a relaxar mais. Bom. Enquanto isso, comecei a pensar em demais alternativas, e eu ainda tinha que dar um jeito de ir para o Egito. Comecei a ter esperanças de que lá descobriria algo sobre a localização do livro, mas algo me dizia que não.

— Não podem fazer um feitiço de localização ou algo do tipo? – sugeriu Nico.

— Não que eu saiba algum que funcione nessas circunstâncias. – disse Cléo.

— Será que... aquela caixa.. – disse Will olhando para Nico – Não acho que tenha muito haver mas... esperança é a última que morre, né?

— Que caixa? – perguntei perdido.

— A que Hades deixou – disse Sadie embora seu rosto ainda estivesse pálido.

Nico mostrou a caixa em suas mãos e abriu a tampa. Dentro dela, estavam seis frascos de vidro com líquidos coloridos. Um deles, estranhamente, parecia ter fogo dentro. Os frascos eram aqueles de laboratório e estavam tampados cada um com uma rolha. Nico pegou um dos fracos e leu o nome que estava em seu rótulo e então arregalou os olhos.

— Estige! – disse Nico surpreso. Ele rapidamente botou o frasco de volta na caixa e foi vendo os rótulos dos frascos seguintes – Lethe. Cocytus. Acheron. Phlegton.  

— Os cinco rios que percorrem o submundo. – disse Will surpreso – Seu pai te deu frascos de água dos rios?! Isso é perigoso demais!

— O que te perigoso? – perguntou Zia curiosa.

— A água dos rios tem efeitos sobre as pessoas. – explicara Nico - De perda de memória à invulnerabilidade. Podem tanto deixar alguém completamente doido ou poderoso, mas também matar.

— Nada que mostre localizações de livros divinos milenares? – tentou Sadie e Nico negou com a cabeça enquanto voltava a fechar a caixa deixando a todos nós decepcionados.

— Acho que era esperar demais, de toda forma. – disse Will.

— Provavelmente serão úteis posteriormente. – sugeriu Nico dando de ombros e eu afirmei com a cabeça.

Gastamos boa parte do dia insistindo na procura e ponderamos o que poderíamos fazer, onde procurar, a quem pedir ajuda. Quando já estávamos todos de barriga vazia ansiosos pelo almoço já atrasado, decidi achar um portal para ir até o Egito.

Antes, no entanto, decidi falar com Nico e Will. Eles já estavam começando a se sentir em casa, notei. A casa era grande e, por isso, levei um tempo para encontrá-los. Eles estavam no telhado. Depois de subir vários lances de escada, os encontrei lá. À minha esquerda, estava Frek, nosso grifo, que dormia tranquilamente. À direita, Will e Nico. No meio de toda a confusão da luta aquele dia, me envergonho em não ter subido correndo para ver Frek. Meu coração ficou pesado ao pensar nisso. Mas, no momento, torci com todas as minhas forças para que ele tivesse fugido voando. Depois que voltamos para a casa do Brooklyn, achei Frek machucado, mas bem. Acho que ele lutou com alguns dos monstros que chegaram voando e derrotou boa parte.

Quanto a Will e Nico, eles estavam cabisbaixos sentados sobre um banco que botamos lá uns meses atrás. Seus dedos estavam entrelaçados e conversavam em vozes baixas sobre algo que eu não ouvia e não ousava interromper. Nico pareceu ter suspirado depois de dizer algo e Will pegou-lhe a mão, disse algo que não pude ouvir também e beijou o torso da mão de Nico fazendo um pequeno, mas triste, sorriso aparecer no rosto do filho de Hades.

Fiquei corado e constrangido ao presenciar a cena. Especialmente depois que Will me notou com o canto do olho.

— Hey Carter... – disse Will sem muita animação – Nada do livro né?

— Não – respondi – Aliás, queria fazer uma proposta e um pedido para vocês.

— Pode falar – respondeu Will.

— Boa parte das reformas já foram feitas, então... se quiserem, podem escolher algum dos quartos do terceiro andar para ficarem. Caso queiram um lugar em Nova Iorque e tudo mais – ofereci.

— Sério? Valeu! – perguntou Will surpreso e afirmei com a cabeça.

— Podem pegar quaisquer dois que quiserem e que esteja livre. – completei.

— E quanto ao pedido? – perguntou Nico.

— Vou ver se encontro algum portal para ir até o Egito – respondi  - Teria como vocês ficarem aqui até eu voltar? Não creio que nossas defesas estejam boas o suficiente para outro ataque ainda. Tentarei voltar o mais rápido que conseguir.

— Pode deixar! – disse Will com um sorriso radiante que quase me fez esquecer como aquele dia tinha ido por água a baixo.

— Obrigado – respondi.

Depois disso, voltei a descer os andares até a porta de entrada mas meu caminho foi interrompido por uma discussão que acontecia no corredor do segundo andar.

— Você não sabe do que está falando! Porque não para de me irritar por isso? – perguntava a voz de Sadie.

— Porquê penso no seu bem! – replicava Zia – Não sabe se pode confiar nele!

— Se ele quisesse fazer algo comigo, já teria feito – rebateu Sadie – Pode não ter notado também, mas foi o deus que mais nos ajudou na confusão toda com Apófis! Foi ele quem nos contou informações que ninguém queria contar!

— O que está acontecendo aqui? – perguntei, mas fui completamente ignorado.

— Esquece-se, Sadie, que ele tem mais de 5 mil anos. – disse Zia – CINCO MIL! Tem ideia de quanto tempo é isso? Com certeza tem mais coisas dele que você não sabe do que coisas que você sabe.

Sadie fechou a boca (Algo raro) enquanto remoía o que Zia falara provavelmente achando que ela tinha razão ao dizer isso.

— O que sabe sobre ele? Sobre o passado dele? Não ouviu o que Zababa disse aquele dia? Ele lutou na Batalha de Kadesh! Não se lembra da luta final contra Apófis? Ele matou, sem pensar duas vezes, a Sarah Jacobi.

— Para me proteger! – disse Sadie – Ela estava tentando me matar!

— Mesmo assim, não me pareceu que sentiu nada. Duvido que tenha sido a primeira pessoa que ele matou. Se acredita tanto assim que ele é um santo, pergunte-o qual a história por trás do título de “O Chacal governador dos nove arcos”.

— Gente! Gente! Chega! – reclamei – Sério! Não aguento mais vocês duas brigando por causa disso!

Eu abri a boca para falar alguma coisa mais, mas Zia foi para um lado do corredor batendo os pés com força no chão e Sadie foi para o outro. Suspirei e massageei as têmporas. Tinha coisas mais importantes com o que me preocupar no momento. E assim, voltei a descer as escadas para tentar achar uma solução para a perda do Livro de Thoth.


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Notas finais do capítulo

ah, outra coisa. quando o grupo estiver dividido assim, eu vou ficar alternando entre cada lado da história. ou seja, no próximo Alex vai ter as honras de narração.

comentem e até lá!



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