Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 9
sem saída




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Ao contrário dos meus pais que agiam como se eu estivesse prestes a ser nomeada á presidentes da república, eu estava indiferente, afinal, era apenas uma formatura, e eu não via motivos para tanto alvoroço.

—Por favor —,pedi enquanto retocava minha maquiagem—vão na frente.

 Minha mãe andava de um lado para o outro em meu quarto e o barulho que o seu salto produzia, irritava-me diretamente, incomodando os meus ouvidos.

—Acho melhor mesmo. —Ela olhou para o meu pai que já afrouxava a gravata.

 —Isso...Vão e logo menos nos encontramos, o Marcus já deve estar chegando. —Eu praticamente os expulsei.

 Sentia-me tão sem paciência, que mesmo uma mosca voando próxima a mim, já era o bastante para me tirar do sério. Prestes a fechar um ciclo, eu nunca antes me sentira tão insatisfeita, nem tão estagnada como naqueles últimos dias.

Como se seguisse á risca a cartilha da vida, eu não gostava nada de como meu cérebro vinha trabalhando contra mim, reproduzindo cenas do que eu queria estar vivendo e colocando em xeque as minhas decisões.

Quando Marcus chegou, eu já estava na sala, á sua espera.  Balancei a cabeça tentando me livrar de todos aqueles pensamentos que me afligiam.

 Abri a porta e o vi descendo do carro, de smoking preto e cabelos alinhados, Marcus que era lindo, ficou ainda mais ao lançar-me um sorriso largo.

—Meu amor...você está muito bonita! —Ele me abraçou e eu notei que havia algo em suas mãos.

—Você também está muito bonito... —Sorri depois de ele ter me beijado com muito cuidado, evitando borrar meu batom grená.

—Seus pais já foram? —ele indagou, colocando os braços para trás.

—Graças á Deus. —Ergui as mãos. —Eles estavam me enlouquecendo, nunca os vi tão nervosos.

Marcus jogou a cabeça para trás, rindo.

—Lia, é sua formatura, é normal que estejam eufóricos — Ele tentou ponderar.

—Não. —Balancei o dedo. —Aquilo não era euforia não.

Marcus começou a me encarar, sabia que ele tinha algo para me dizer, eu conhecia bem os tipos de olhares do meu namorado.

 —O que foi , Lia?

 —Anda Marcus, eu sei que você está escondendo um presente aí. —Apontei para suas mãos ainda ocultas em suas costas.

Ele franziu a testa e olhou para baixo, parecia estar incerto quanto a minha afirmação.

—Nem sei como fazer isso... —Ele respirou fundo, parecia sem jeito. —Na verdade, dependendo do que me disser, o presente será meu e não seu.

—Não entendi, como assim...? —Balancei a cabeça estranhando seu comportamento inédito.

 Diante da minha confusão, ele trouxe seus braços para frente, depois esticou-os em minha direção. Era uma caixinha de joias, e pelo tamanho, só podia ter uma coisa ali dentro.

Não precisava ser nenhum gênio para perceber o que estava prestes á acontecer, tanto, que mesmo antes de qualquer outra ação vinda dele, meu coração entendeu que deveria trabalhar á todo vapor.

 —Maria Cecília Cortezi... —ele começou a falar enquanto se preparava para dobrar os joelhos. —Você aceita ser a senhora Demetri? Aceita se casar comigo? —Marcus concluiu o pedido já na tradicional posição, exibindo um anel com uma pedra de brilhantes enorme.

  Boca seca, dor no estômago, enjoo, tremedeiras e falta de ar. Poderiam ser sintomas de alguém à beira da morte, mas não, essa foi a forma com que me senti diante daquele pedido. Fechei os meus olhos sem acreditar no que acontecia, e apesar de tudo parecer perfeito, não era. Minha vontade foi de sair correndo, de desaparecer sem dar a ele resposta alguma.

Eu não queria ter sido pedida em casamento no dia da minha formatura, muito menos aos vinte e três anos de idade, e pior, num dia em que eu estava convicta de que vivia sob  imposições.

 Enquanto centenas de milhares de coisas passavam pela minha cabeça, Marcus permanecia ali de joelhos, oferecendo á mim aquele anel que parecia emitir flashes.

 Pensei em fingir um desmaio, ganharia tempo, mas e depois? O que eu faria depois?

 Um pedido de casamento naquelas circunstâncias, não era algo que se podia negociar. Eu não podia olhar para ele e dizer:

“Olha Marcus, guarde esse anel por mais alguns anos, então, quando eu me sentir pronta, te aviso. Você repete essa cena, e eu juro que vou gritar um sim, bem cinematográfico.”

Não dava, diante dos fatos era sim ou não, e eu sabia que para Marcus, a resposta seria positiva, certamente ele achava que aquele era meu maior sonho.

 Não era. Eu só não sabia como falar aquilo para ele.

—Marcus, eu... —comecei a dizer sem ter ideia de como continuar.

Ele sorriu, suas mãos tremiam e ele pegou a minha mão direita, depois o anel, em seguida, eu tinha o dedo envolto por um acessório que comprometia a minha solteirice, o símbolo do nosso comprometimento.

 —Eu sei que você foi pega de surpresa —ele se levantou e seus olhos estavam marejados —, mas você é a mulher da minha vida e a futura mãe dos meus filhos, é com você Maria Cecília, que eu quero viver para sempre.

Comecei a chorar, involuntariamente as lágrimas escorriam pelo meu rosto, levando com elas meu rímel, pó, blush...A maquiagem que eu levara horas para fazer. Sentia-me uma farsante. Ouvir de Marcus todas aquelas declarações, me fez perceber que talvez, ele não me conhecesse tão bem como pensava. Aquilo acabava comigo.

 O mal de toda mentira, ou mesmo omissão, é exatamente esse, começa pequeno, e você acha que vai conseguir esconder, enfiar de baixo do tapete, só que quando menos se espera, aquilo vai tomando uma proporção gigantesca e então, ou você tem coragem para colocar tudo em pratos limpos, ou faz como eu fiz, se encolhe e luta apenas para não ser engolida.

 Para Marcus, minha reação ou falta dela, foi interpretada como um sim. Sem ver outra saída e me calando, acabei por concordar.

                                          *************

—Ela aceitou? —meu pai questionou Marcus, assim que nos encontramos no salão de festas.

Ele com uma empolgação impar, segurou minha mão e ergueu-a como um troféu.

—Vocês sabiam? —indaguei entendendo assim, o motivo de todo aquele nervosismo anterior.

Minha mãe me abraçou, estava emocionada.

—Claro Lia, ele pediu sua mão para nós, tradicionalmente —ela afirmou com orgulho.

Enquanto os três trocavam abraços em meio a frases do tipo: “Bem-vindo a família”, ou, “ Não vejo a hora de começarmos os preparativos”,  corri meus olhos aflitos pelo salão. Eu precisava falar com alguém, ou melhor, eu precisava falar com a Gabi.

—Mãe, a Gabi já chegou? Viu ela por aqui? —perguntei com a ansiedade estampada em minha voz.

—Sim, suas amigas estão lá na mesa. —Ela apontou para sua esquerda. —Eu não comentei nada com elas, tive que me segurar.

Marcus colocou-se ao meu lado e depois de me beijar, entregou seu braço para mim.

—Vamos juntos contar a novidade para elas. —Ele era a felicidade materializada.

Caminhamos por entre as mesas, passávamos pelas pessoas que eu conhecia, todas riam e mostravam-se felizes por um motivo em comum. Eu deveria estar da mesma maneira, ou mais, afinal, tinha dois grandes motivos para comemorar, no entanto, tudo o que passava pela minha mente, era o peso daquele anel...Em todos os sentidos.

—Lia, até que enfim! —Gabi foi a primeira a me abraçar, depois, vieram a Marina e Emily.

—Vocês estão lindas meninas! —elogiei-as porque verdadeiramente estavam. —E a Carol, ainda não chegou?

As três se entreolharam e depois, Emily sorriu.

—Ela foi ao banheiro, não está passando bem.

—Sei que ainda não sou formado, mas eu posso dar uma olhada nela. —Marcus preocupou-se.

—É, não sei agora, mas certamente no futuro ela vai precisar de você, Dr. Marcus. —Gabi foi irônica e eu logo entendi.

—Não me diga que ela está...? —indaguei sentando-me ao lado da Marina.

 —Gravida, prenhe, de barriga e tudo mais que resume esperar um bebê... — Gabi confirmou com seu jeito Gabi de ser.

—Que horror você falar desse jeito! —marina a repreendeu depois de rir.

—Nossa! E eu achando que seriamos nós, a dar a notícia da noite! —Marcus interveio sentando-se também.

Emily que tomava um gole de alguma coisa quase se afogou.

—Não! Você também, Lia? —Ela arregalou os olhos.

Gabi e Marina me encararam com espanto.

—Não, claro que não. —Balancei a cabeça freneticamente.

 —Na verdade , ainda não —Marcus acariciou meu rosto —,um passo de cada vez e hoje  avançamos mais um . —Ele me olhou e sorriu, depois voltou-se para as garotas. —Eu pedi e ela disse sim.

Eu não tinha dito sim, de qualquer forma não discuti. Levantei minha mão e exibi meu anel, tentando sorrir enquanto meus lábios ficavam travados.

—Ai. Meu. Deus! —Gabi em um segundo abraçava-me .— Que alegria!

—Estou me sentindo mal, uma grávida e a outra noiva, enquanto eu estou aqui, afundada em leis —Emily reclamou, também me envolvendo em seus braços.

 —Mentira dela, eu a vejo almoçando cada dia com um advogado diferente. —Marina riu.

—Louca! É o pessoal do estágio! —Ela arregalou os olhos. —Quer que eu a processe?

 Todos riam e logo Carol retornou à mesa. Ela também estava linda, com seus cabelos negros na altura da sua cintura fina, mostrava-se encantadora em um longo vestido dourado. Inevitavelmente olhei para sua barriga que continuava lisa.

 Carol sempre foi de nós quatro, a mais preocupada com sua forma física, e enquanto nós nos afundávamos nas guloseimas, ela evitava tudo o que tivesse mais de cem calorias.

 Eu não imaginaria jamais que ela seria a primeira a engravidar, ainda mais daquela forma, solteira e jovem. Apesar de não estarmos lá tão grudadas como antes, eu saberia se ela estivesse namorando e talvez por isso, me surpreendi tanto com a notícia.

—Oi Lia —sua voz estava fraca— ,já soube da novidade? — Ela sentou-se em minha frente.

—Já, e não esperava por isso... —admiti esticando meus braços para tocá-la.

Ela sorriu.

—Imagine a mim...Mas passado o choque eu fiquei feliz —ela falou sem parecer convencida do que dizia.

— Olhe para a mão direita da Lia. —Gabi indicou.

Carol olhou para o anel, depois para mim e então para o Marcus.

 —Vão se casar? —Ela parecia incrédula.

—Ficamos noivos —corrigi, mesmo sabendo que uma coisa levava à outra.

Gabi me olhou rapidamente e eu fiz um sinal com os olhos, ela entendeu.

 —Vou ao banheiro. —Ela se levantou. —Vem comigo, Lia?

 —Claro. —Levantei-me e de soslaio notei que os pais de Marcus se aproximavam, junto dos meus. —Eu já volto —avisei com urgência em sair dali.

 Imaginei que os quatro deveriam estar discutindo como seria nosso casamento, onde moraríamos e bem... Eu não estava pronta para nada disso.

 —Não demore amor... —Marcus piscou para mim.

 —Não se preocupe Marcus, vou enviar uma foto desse anel para um amigo joalheiro, se essa pedra for de verdade, ficará tudo bem... —Gabi lançou mais uma de suas piadas.

 — Deus, eu preciso respirar! —reclamei, assim que entramos no banheiro.

—Eu já sei... Você deve estar morrendo de curiosidade para saber quem é o pai do bebê da Carol, não é?

 —Claro que não! —sussurrei temendo ter mais alguém ali. — Na verdade, eu até fiquei curiosa, mas—levantei minha mão direita e apontei o anel—isso é maior que qualquer outra coisa.

 Gabi piscou algumas vezes, depois segurou o meu dedo.

—Amiga, esse anel é perfeito! —Ela estava de olhos arregalados. —Onde está o problema?

As portas dos sanitários estavam semiabertas, mas por via das dúvidas, abaixei-me para me certificar de que realmente estávamos a sós.

 —O problema Gabi, é que eu não quero me casar, não sob essas circunstâncias. — confessei.

Gabi abriu a boca e depois segurou-me pelos ombros.

—Lia! —ela me deu um chacoalhão. —Não vai me dizer que tem a ver com o furacão Alex...

—Tem Gabi! —Levei minhas mãos à cabeça sentindo que estava prestes a enlouquecer. —Claro que tem. —Continuei falando baixinho. —Eu me sinto uma mentirosa, farsante... Marcus acha que vai se casar com uma pessoa, quando na verdade eu não sou nada do que ele imagina...

 Ela franziu a testa.

—Tudo isso por que você dormiu com outro cara enquanto vocês estavam separados? —Ela cruzou os braços sem mais paciência comigo.

—Sabemos que não foi só isso...

—Lia, podia ser muito pior. —Ela encostou-se na pia e eu fiz o mesmo. —Imagine se casar sem ter tido nenhuma outra experiência. Essa coisa de se amarrar com o primeiro e único homem é papo de livro e filme... Tipo Crepúsculo e Cinquenta tons de cinza, na vida real,  as coisas não são assim.

—Do que está falando Gabi? —Revirei meus olhos. —Acho que sou mesmo uma louca por pedir conselhos á você.

 Ela deu de ombros.

—Como sei que está falando da boca pra fora, vou ser boazinha e te dar mais um deles. —Ela encarou-me séria. — Pense naquela semana, como uma despedida de solteira antecipada. — Gabi com toda a naturalidade do mundo abriu sua bolsa, pegou um batom e começou a retocar sua boca.

Acabei ainda mais perdida.

                                                **************

Como era de se esperar, Monte Real tinha assunto para pelos menos um mês. Meu noivado e a gravidez da Carol, seguiam empatados no primeiro lugar do ranking de assuntos mais comentados da cidade.

Sobre a gravidez, sei lá, eu até entendia, afinal, o pai do bebê da Carol era um de seus professores de faculdade e isso soava pior do que verdadeiramente era, agora meu noivado...

Onde quer que eu fosse tinha que estar estendendo minha mão para que pudessem ver o anel com maiores detalhes, sem contar que todos queriam saber se já havia alguma data certa. Havia também aqueles que iam além, perguntavam por coisas que eu sequer pensara.

“Quem vai fazer o bolo?” “ E os doces?” “Vai pedir alguma banda da capital?” “E o vestido? Como vai ser o modelo?”

Talvez por trabalhar nesse meio, atendendo noivas e participando de cerimonias, desde as menores, até as de centenas e centenas de convidados, meu desejo não era de casar-me com tanta pompa. Honestamente, eu sequer me imaginava casando.

Véu, grinalda, altar. Isso nunca foi um sonho meu, e viver dentro desse universo, havia meio que me causado um trauma.

Cheguei a presenciar noivas que quase morriam porque as flores estavam num tom mais claro do que deveriam, ou quando as toalhas das mesas pareciam estar mais escuras que as escolhidas há meses. As mulheres, em sua grande maioria, transformavam-se em seres perturbados quando a palavra “casamento”, passava a fazer parte do seu cotidiano.

O pior, era que Marcus pensava diferente, ele e seus pais almejavam um casamento que reunisse a cidade inteira, algo gigantesco e com todos os pormenores a que se tem direito.

Minha mãe era outra que não cabia em si, tudo o que via de novidade, pensava em colocar nesse bendito casamento.

—Vai servir de referência e vai entrar para a história da cidade e região, essa festa! —Ela comentava com todo mundo que tocava no assunto.

Dezoito meses. Era o tempo que me restava como solteira. Marcus se formaria em um ano, e seis meses depois, estaria me desposando.

Ás vezes eu me sentia uma expectadora da minha própria vida, todos ali, falando como seria isso ou aquilo da cerimonia e da festa.

 Os pais do Marcus nos presentearam com uma casa em Monte Real, na mesma rua em que eles moravam, e eu já previa a mãe dele vivendo mais lá do que na própria residência.

Tudo sendo resolvido e eu parecia fazer questão de me abster de toda e qualquer decisão. Não por querer, não era proposital, eu só não conseguia fazer parte daquilo.

Uma tarde, Marcus e eu caminhávamos de volta para minha casa após termos ido até a padaria, era domingo e as ruas estavam cheias de gente, avistamos a Carol, sua barriga já estava bem aparente, ela caminhava sozinha e parecia distraída.

—Nossa! Como cresceu desde a última vez que nos vimos. —Marcus assustou-se.

Ela passou a mão pela barriga e sorriu.

—Entro no sétimo mês, semana que vem.

—Já? —Coloquei a mão sobre a minha boca, o tempo parecia mesmo voar.

—Recebeu o convite do chá de bebê? —Ela olhou para mim.

—Sim, a Emily me entregou, estarei lá.

—Seus pés estão inchados, tem acompanhado isso? —Marcus observou, e então eu olhei para baixo, aflita por vê-la com dois pães dentro de um chinelo de tiras finas.

—Sim, mas seu pai me disse que á essa altura é normal, só preciso de mais repouso. — Ela pareceu-me um tanto desanimada.

—Então, nos vemos no chá —despedi-me, notando seu cansaço.

Carol caminhou e eu a acompanhei com os olhos, ela em nada se parecia com a garota vaidosa e ácida de tempos atrás. As mudanças iam muito além do seu corpo, era como se ela estivesse apagada.

—Ela não me parece muito feliz —comentei com Marcus.

Ele arqueou as sobrancelhas.

—Deve ter a ver com esse rolo do pai do bebê —ele baixou o tom da voz —,o cara era casado, ou namorava, sei lá.

—Ou talvez, ela não estivesse pronta para ser mãe tão jovem —falei mais para mim que para ele.

—Eu não acho que ela seja, ou melhor, que nós, sejamos muitos jovens para sermos pais. —Ele parou em minha frente. —Eu mesmo não quero esperar muito, depois que nos casarmos, quero logo encomendar nosso bebê.

Acreditando que ele estava brincando, joguei minha cabeça para trás e comecei a rir.

—Nem brinque com isso! —Voltei a caminhar.

—É serio Lia...Eu não quero esperar muito não, depois, fica como meus pais, esperaram pelo melhor momento e então, acabaram por ter apenas um filho. —Ele ficou sério.

—E você pretende ter quantos? —indaguei, incomodada com aquela conversa.

—Vamos ter três filhos —ele me respondeu, como se aquilo fosse algo já resolvido.

—Você está louco Marcus, Deus me livre de ter três filhos. —Objetei. —Só de ver a Carol ali, toda inchada e desanimada, já fiquei em pânico, agora imagine passar isso, duas ou três vezes.

Marcus ficou me olhando com um ar de decepção, era como se eu tivesse falado a coisa mais terrível do mundo.

Tudo bem que acabei me excedendo um pouco, mas o jeito com que ele afirmou, como se meu futuro estivesse traçado, acabou me tirando do sério. O pior foi que aquela conversa sobre filhos não parou por ali.

Nos dias sequentes, Marcus sempre dava um jeito de comentar sobre aquilo, frisava o tempo todo, o quanto gostava de crianças, e que por isso escolhera a carreira de pediatra, além de estar sempre falando em como a mulher se recupera melhor quando tem filhos antes dos trinta , mais um monte de outras coisas que vinham me irritando dia após dia.

—É por isso que não quero me firmar com ninguém. —Gabi afirmou fazendo uma careta. —Odeio todo e qualquer tipo de cobrança.

Estávamos fazendo os lanches para levar à casa da Emily, seria lá o chá de bebê da Carol.

—Nem me fale Gabi—coloquei os pães dentro de uma bolsa térmica —,ultimamente tudo o que venho recebendo são cobranças.

 Gabi encostou-se na mesa da cozinha onde estávamos, e cruzou os braços.

—Eu vou ser bem sincera com você Lia, eu não sei mesmo se quero ser mãe, tipo, eu não me vejo barriguda e tudo mais. —Ela balançou a cabeça como se aquela ideia a incomodasse.

—Gabi, eu não vejo problema nisso, essa imposição ou obrigação, de ser ou fazer isso, ou aquilo, é revoltante —confessei, pensando enquanto era complicado nascer mulher.

—Exatamente Lia. —Gabi bateu palmas. —Fico revoltada quando ouço alguém dizer que mulher nasceu para fazer assim, ou que mulher não pode fazer assado, mas eu, não estou nem aí, tudo o que quero é viver da maneira que me pareça certa. —Ela finalizou antes de partirmos rumo ao chá de bebê.

Confesso que sentia inveja da autonomia que a Gabi tinha. Ela realmente fugia das convicções e nunca se incomodava com a opinião alheia, enquanto eu, era justamente o contrário.

Quando chagamos, havia pouco mais de uma dúzia de mulheres ali. Todas sentadas em cadeiras que formavam uma roda. A decoração estava linda, tudo em tons de rosa e marrom e letras coloridas, grudadas na parede, formavam o nome Michele.

 —Onde está a Carol? —perguntei à Marina, depois de nos cumprimentarmos.

 —Está lá dentro, teve uma crise de choro há pouco —ela sussurrou para mim. — A Carol está irritada porque roupa nenhuma serve mais.

 Respirei fundo.

—Deve ser estranho passar por tantas mudanças, não é?

 —É, ainda mais alguém como ela... —Marina continuou comentando em voz baixa.

 Gabi que fingia olhar a decoração, voltou com as mãos cheias de docinhos.

 —Roubei pra você, Lia...Brigadeiros. —Ela entregou-me as guloseimas.

 Pisquei algumas vezes, Gabi não sabia, mas eu vinha evitando aquele doce, ele trazia-me memórias que eu gostaria que fossem apagadas.

 Perdida em meus devaneios, animei-me assim que Emily e Carol finalmente juntaram-se a todas nós, e embora sentisse-me  perdida na dinâmica daquele ritual, fora uma tarde divertida. Ninguém saiu ileso, meu saldo final foi rosto pintado com batom e cabelos cheios de farinha de trigo.

 Cinco semanas mais tarde, Marcus avisou-me que Carol dera entrada no hospital, Michele nascera saldável e com quase quatro quilos. Combinei com as outras três meninas, de fazermos uma visita juntas.

 Montamos uma cesta com flores, chocolates, balões e bichinhos de pelúcia. Estávamos ansiosas para conhecer a mais nova moradora de Monte Real.

 Ao chegarmos, nos deparamos com nossa amiga, amamentando a filha e não seria possível explicar a emoção que aquela cena me causou. Pensei que há pouco tempo éramos cinco meninas dividindo um pote de sorvete, cheias de sonhos e planos, e agora, cada uma seguia por um caminho diferente e cheio de responsabilidades.

 Carol então era a primeira de nós cinco a se tornar mãe, estava formando sua própria família, e embora não fosse algo eventual, a mim, pareceu mágico.

 Aproveitei o fato de estarmos reunidas, e as convidei, ou melhor, comuniquei que as quatro estavam convocadas a serem minhas damas de honra.

—Meu Deus! —Carol levou as mãos até a boca. —Será que consigo entrar em forma em tão pouco tempo?

Todas rimos.

—Eu posso te ajudar —Gabi sorriu afetada —,posso ser sua personal trainer.

 —Gente, calma! — Marina interveio. —Dá tempo da Carol ter até outro bebê , se quiser.

 Todas nos entreolhamos sem entender se aquilo era uma piada.

 —Não vou nem respondê-la. —Carol balançou a cabeça em negativa.

Marina levantou a mão como se pedisse uma trégua.

—Meninas, eu só estava brincando! —Ela fez uma carranca.

Todas rimos baixinho para não assustar a bebê, no entanto, confesso que pensar que em menos de um ano eu estaria casada, acabou por me causar arrepios.


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Notas finais do capítulo

Será que esse casamento sai?



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