Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 5
E agora?




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—Gabi S.O.S.! —quase gritei, assim que ao décimo toque ela me atendeu.

 —Lia? Aconteceu alguma coisa? —Sua voz estava rouca, eu tinha a acordado, afinal era domingo, sete e pouco da manhã.

 —Aconteceu...Eu estou em Santo Valle e preciso que você venha me resgatar, por favor —choraminguei.

 —Lia, como assim, está em Santo Valle? —Ela parecia confusa e estarrecida.

—Eu te explico depois, só diz que vai me ajudar... Posso te esperar no posto de combustíveis na entrada da cidade? —pedi, observada por Alex, seu ar era de reprovação.

 —Claro...daqui uns quarenta minutos chego aí —ela confirmou.

Respirei aliviada.

—Ótimo! E por favor, não comente nada com ninguém. —instrui-a, mesmo sabendo que nem precisava ter feito aquele pedido.

Desliguei o telefone e me joguei na cama de Alex, ele parecia mesmo chateado por eu não ter levado sua sugestão á sério.

 —Vai ficar aí com essa cara? —Chamei-o com as mãos.

 Ele respirou fundo, a testa estava franzida, como a de um menino mimado que acabava de ser contrariado.

 —Você é mesmo muito chata. —Ele estreitou os olhos e cuidadosamente deitou-se sobre mim, encolheu as pernas fazendo com que seus joelhos segurassem meus quadris, depois suas mãos abriram meus braços e seguraram meus pulsos naquela posição.

No mesmo instante passou a beijar meu rosto, meu pescoço, meu colo e eu ali, naquela posição de submissa, aceitando seu carinho.

—Então é isso? Vai tentar me manter em cárcere privado? —brinquei deliberadamente.

 —Não exatamente. —Seus lábios tocaram os meus enquanto uma de suas mãos já subia por dentro da minha blusa. —Estou tentando dar a você, motivos para ficar.

 Soltei meu outro braço e agarrei seus cabelos forçando um beijo, depois inverti as posições, dessa vez era eu quem estava sobre ele, do mesmo jeito que ele tinha feito comigo.

 —Os motivos são bons, eu confesso, mas chegou a hora de voltar para a realidade — decidi ,sabendo que aquela aventura não duraria para sempre.

Chegamos ao posto de combustíveis antes da Gabi, e eu já imaginava que passaria por um inquérito. Alex estava quieto, parecia pensativo, assim como eu.

Naquele momento as coisas foram se desenhando, eu estava com a mesma sensação de quando uma viagem perfeita chega o fim. Toquei sua mão.

 —Está com sono? —perguntei perdida no que dizer.

—Um pouco —ele foi vago.

Nossa, eu estava com vontade de falar tantas coisas para ele, na verdade eu estava mesmo era com vontade de pedir para ele dar meia volta e fazer o que havia me proposto. Queria me trancar naquele quarto com Alex e não sair nunca mais.

— Acho que é sua amiga. —Ele apontou para o carro vermelho que acabava de chegar. Era mesmo a Gabi.

—É ela —confirmei com pesar. —Então essa é minha deixa... —Inclinei-me e beijei seu rosto.

 Alex segurou meus ombros e sugou minha boca para dentro da sua, nos beijamos por minutos , intensa e significantemente.

—Obrigado. —Ele sorriu. —Por tudo.

 Sorri de volta sentindo um frio em minha barriga, desci do carro dele e caminhei até o da Gabi. Alex baixou o vidro do seu lado e colocou a cabeça para fora se despedindo com um aceno.

Olhei para ele antes de entrar no carro da minha amiga, foi estranho deixá-lo.

—O que foi isso? — Gabi olhava-me como se acabasse de descobrir vida em Marte.

Joguei a cabeça para trás e escorreguei meu corpo no banco do passageiro. Cobri meu rosto com minhas duas mãos, sentindo um grande vazio voltando a me engolir.

—Eu nem sei por onde começar Gabi, mas tudo o que posso dizer é que essa aqui, não é sua amiga, Maria Cecília. —Respirei fundo. —Na verdade ela foi abduzida e me colocaram no lugar dela, ou eu sou apenas um clone.

 Gabi deu partida no carro, incrédula, balançou a cabeça demostrando estar inconformada.

 —Tudo bem ovelha Dolly, eu espero devolverem a verdadeira... Tenho um domingo inteiro e então vou querer saber de tudo.

 Olhei para ela enquanto avançamos no sentido da rodovia que nos levaria de volta para Monte Real, meus olhos queimavam de sono e meu corpo pedia uma trégua.

 —Gabi, eu vou te contar tudo, com detalhes, mas depois...Agora tudo que preciso é dormir. —Fechei meus olhos sem ter mais forças nem para falar. —Eu estou morta ,ou vou estar em breve.

 —Meu Deus! Quem vai morrer de curiosidade vai ser eu —ela reclamou e eu sabia que teria mesmo de contar toda a história, não só para sanar sua curiosidade, mas porque eu tinha que falar sobre aquilo com alguém.

 Cochilei por todo o trajeto de volta e nas vezes em que abria meus olhos, lá estava ela, minha amiga mais louca, lançando-me olhares furtivos.

 —Lia...

—Eu já sei — abri a porta do carro e desci — ,nos vemos depois do almoço. Eu prometo.

 Não sei como consegui chegar até meu quarto, agradeci aos céus por não ter encontrado meus pais, eles ainda dormiam, e foi perfeito, poupou-me de contar uma mentira.

 Deitei em minha cama e adormeci instantaneamente, entretanto, antes de fechar meus olhos, pensei nos dele.

—Obrigada Senhor! — sussurrei. Minha mãe sempre dizia que devíamos agradecer pelo dia, antes de dormir....

                                                          *******

—Lia...acorde! —Uma voz ecoava longe e invadia meus sonhos.

 Pisquei algumas vezes e o rosto dela foi tomando forma.

—O que foi mãe? — Encolhi minhas pernas e virei-me de lado.

—Já são quase três da tarde...Precisa se levantar e comer alguma coisa. —Ela foi  abrindo a janela e o sol me atingiu de forma incômoda. —Sei que ontem foi um dia puxado, mas já descansou bastante.

  Sentei-me e as lembranças da madrugada surgiam como flashes, por um momento cheguei a duvidar que tudo aquilo acontecera mesmo.

 — Está com uma cara, Maria Cecília... —Minha mãe estava parada me observando da porta do meu quarto.

 —Vou tomar um banho e depois como alguma coisa. —Tentei disfarçar, morrendo de medo de que ela pudesse ler pensamentos.

 —Antes que eu me esqueça —ela voltou—, a Gabi já ligou umas trezentas vezes. Disse pra você ir até a casa dela e que era urgente...Essa menina deve ter aprontado alguma!

“Não mãe...dessa vez fui eu!” —pensei achando graça daquilo tudo e claro, a Gabi  não estava se aguentando de curiosidade, se bem que em seu lugar, eu também estaria.

 Não respondi nada, estava letárgica e caminhei até o banheiro, pronta para uma ducha. Fechei a porta e me olhei no espelho enquanto organizava meus pensamentos.

Alex. Seu rosto perfeito e todo o resto me trouxeram novamente um frio na barriga, e era tão bom. Em contra partida, eu realmente começava a sofrer com minha ressaca moral.

 Eu tinha dormido com um completo estranho e agido de um modo totalmente avesso ao que fui ensinada. Apesar de todos os elogios que Alex fizera sobre mim, eu tinha ciência de como os homens num modo geral, costumavam julgar as mulheres que faziam o que eu tinha feito.

              Senti-me péssima imaginando que ele pudesse estar pensando mal de mim, que achasse que aquilo era algo costumeiro. Era um pensamento machista, eu sei, no entanto, inevitável.

Tentando me livrar daquelas especulações, comecei a me despir, quando passei minha blusa pela cabeça, o perfume de Alex invadiu o meu olfato, forte, marcante e não era só na blusa, estava impregnado em mim, na minha pele, nos meus cabelos e na minha alma talvez.

 Lavei apenas meu rosto e desisti do banho. Comi uma besteira qualquer , estava sem apetite algum.

 Na cozinha o assunto em pauta era o casamento da irmã do Alex, de forma que mesmo que eu quisesse, não teria como não pensar nele.

 A casa da Gabi ficava á poucos quarteirões da minha. Caminhei até lá tomada por uma sensação estranha. Vivia um conflito de sentimentos e precisava de uma segunda opinião.

—Você fez o quê? — minha amiga sibilou, depois de ouvir um resumo do que tinha sido meu dia anterior.

 Estávamos em seu quarto, ela na cama e eu no chão, debrucei minha cabeça no colchão e mantive meus olhos nela.

—Eu seu que foi uma loucura, mas essa foi a primeira vez na minha vida em que eu não pensei, apenas agi.

—Lia...Quando a vi aos beijos com esse cara, juro, era como se eu tivesse vendo uma miragem —ela abraçou as pernas —,agora você vem e me conta que transou com ele...

—Nossa! Parece horrível quando você fala desse jeito —reclamei fazendo uma careta.

—Não. —Ela tocou meu braço. —Não tem nada de horrível nisso, eu mesma já transei num primeiro encontro, e não foi só uma vez...É que você Lia, bem, você é toda certinha e além do mais, tem o Marcus. Como ele fica no meio de tudo isso?

 Marcus. Ali com a Gabi me dei conta de que era a primeira vez que ele não fora meu primeiro pensamento do dia, e para ser sincera, Alex estava ocupando tanto espaço em minha mente, que se ela não tivesse tocado em seu nome, provavelmente naquele domingo ele ficaria de lado.

 —Estamos separados, não é? —Dei de ombros depois de pensar em tudo novamente. —Por fim, acho que aceitei as investidas do Alex pra tentar tirar o Marcus dos meus pensamentos.

 —Isso é perfeitamente normal...

 —É, só que isso foi no começo, depois esse já não era mais o ponto. —Suspirei. — Depois Gabi, foi por ele e pra ele, Meu Deus! Esse cara é fantástico e eu me perdi em seu mundo, em seu corpo, porque com ele tudo é á cima das expectativas.

 Ela arregalou os olhos e balançou a cabeça em negativa.

 —Eu vi o tal Alex, e o cara é mesmo lindo... —Ela empolgou-se.

 Cobri meu rosto com minhas mãos e sorri como uma boba pensando em todas as outras qualidades que ele tinha.

—Não é só beleza por fora, não. —Olhei para cima escolhendo as melhores definições para ele. —O Alex é educado, tem um bom papo, é cavalheiro e nossa...Ele sabe mesmo como tratar uma mulher... —destaquei sentindo meu rosto queimar.

  Ela que me ouvia atenta a cada detalhe, inclinou-se em minha direção e estreitou os olhos.

—Que merda Lia! —Gabi segurou minhas mãos. —Você está apaixonada por esse cara!

 —Claro que não! —gritei. —Nos conhecemos ontem, eu acabei de sair de um relacionamento amando meu ex- namorado , sem contar que não sei nada sobre a vida do Alex.

 Ela não parava de balançar a cabeça enquanto eu listava meus problemas.

—Certo, eu entendo o que você quer dizer, mas isso tudo é teoria gata... Na prática as coisas não funcionam assim , portanto, as chances de você estar apaixonada por esse Alex, são muito grandes.

 —Imagina Gabi...Eu nem posso, mesmo que hipoteticamente falando, engatar um outro relacionamento. Marcus e eu temos uma história, foram anos juntos e ontem, no fundo eu sabia que seria isso, apenas uma aventura, algo para eu me lembrar na minha velhice. —Sorri.

 —E para ele? Acha que só foi isso também?

 —Acho que sim...Eu não me vejo na vida dele, nossas realidades são bem diferentes —concluí e no mesmo instante senti um grande incomodo com aquele raciocínio.

 Gabi franziu a testa com um ar dúbio.

—Sei lá...Mas agora vamos ao que interessa. —Ela me puxou pelos braços e eu me sentei ao seu lado na cama. —Quero detalhes...Inclusive os mais sórdidos.

  Conversar com ela era de certa forma um afago. Gabi sempre foi solta, o tipo de pessoa que não se apegava a convicções. Sexo para ela nunca fora um tabu, então sabia que não seria criticada, talvez por isso, enquanto caminhava de volta para minha casa, eu não estivesse me sentindo melhor. Pode parecer loucura, no entanto eu queria ter sido criticada ou acusada, não sei bem.

 De qualquer maneira, mesmo diante desse turbilhão de emoções, a verdade era quando virei á esquina, gostaria de ter me deparado com um carro estacionado em frente a minha casa, e não era o carro do Marcus que eu desejava ver ali.

 Em meu quarto voltei a me deitar, estava cheia de lembranças e sem nada para me apegar. Constatei que Alex e eu não deixamos nenhum gancho, nem reticencias, nada do tipo: “continua...”, eu estava enlouquecendo com isso, por outro lado, loucura mesmo era cogitar um novo encontro com Alex, quando em minha vida havia um capítulo incompleto.

 Eu não podia ignorar o fato de ter saído de um relacionamento longo, com um termino feito por telefone. Agora para ajudar tinha Alex, e quando eu pensava em tudo num contexto geral, nada parecia certo, mas o que fazer quando algo que era para ser único, deixa um gosto de quero mais?

—Mãe, como vai fazer amanhã para retirar as coisas da mansão em Santo Valle? —Perguntei vendo naquilo um fio de esperanças para ver o Alex outra vez.

 Ela olhou para o meu pai, eles já estavam na cama.

 —Acabávamos de falar sobre isso Lia... —Ele tirou seus óculos para me encarar.

 —Vamos seu pai e eu, mais dois dos meninos que ajudaram ontem. —Ela cruzou os braços. —Lembra que a Lucia começa amanhã na floricultura, não é?

 Eu tinha esquecido, minha mãe vinha há dias comentando sobre essa pessoa que seria contratada para nos ajudar, e que eu ficaria incumbida de explicar a dinâmica das coisas a ela.

 Lucia era prima do dono do único supermercado da cidade e vinha da capital. Escolheu Monte Real para se recuperar de um divorcio conturbado, tinha experiência com flores, trabalhara em uma floricultura das grandes em sua cidade e seria de muita ajuda para nós.

 — Bom, então tudo bem...Amanhã falto da faculdade e cuido de tudo por aqui. —Assenti, pensando que talvez fosse mesmo melhor daquele jeito...

  Seria um ato de desespero aparecer na casa de Alex, mesmo que á trabalho, ele poderia pensar que eu era uma louca em busca de casamento e a meu ver, eu não tinha deixado para ele, as melhores primeiras impressões.

                                                   ***********

 —Acho que vou adorar trabalhar aqui —Lucia comentou enquanto eu mostrava as repartições da nossa floricultura.

 Ela tinha uns quarenta e poucos anos, era simpática e muito refinada. Entendia muito de flores e eu sentia que nos daríamos bem.

—Vai gostar sim... —afirmei, desejando que ela realmente se acostumasse a viver em uma cidade como a nossa.

Ali, era difícil encontrar alguém que soubesse a diferença entre um cravo e uma rosa,  Lucia sabia muito além disso.

—Seus pais me disseram que eu podia montar uns arranjos, uns vasos, para que vejam quando voltarem. —Ela mostrou-se empolgada.

 —Claro! —Dei a volta no balcão. —Vou pegar umas coisas pra você se divertir. —Segui até a sala onde eram feitos os buquês e ramalhetes.

  Sobre uma das mesas, estavam empilhadas as caixas que levamos para o casamento da irmã de Alex. Segui até lá e no mesmo instante fui tomada por uma melancolia, algo parecido com o que sentimos ao terminar um bom livro, ou ao assistir um filme lindo que não vai ter continuação. Estava perdida naquele lugar inventado por mim, quando Lúcia apareceu na porta.

 —Lia, tem um cliente querendo fazer uma encomenda e eu ainda não sei nada sobre valores. —Ela franziu a testa. —Pode atender?

Respirei fundo e peguei uma caixa cheia de fitas.

—Vamos lá! —Respondi de volta á realidade.

Sem nem imaginar quem poderia estar na floricultura tão cedo, querendo fazer uma encomenda, tive a mais grata das surpresas assim que coloquei meus pés de volta ao salão do nosso show room.

—Você! —exclamei, sentindo que meu coração tentava rasgar meu peito.

 Ele Sorriu. Vestia uma camisa polo branca com listras azul marinho, as calças eram claras, e na cabeça seu boné vermelho da Ferrari; mas o que mais me chamou a atenção, foram seus olhos verdes e o domínio que eles tinham sobre mim.

 —Bom dia Maria Cecília. —Alex se aproximou, e ouvi-lo dizer meu nome com sua voz grave, soava como um elogio.

Lucia estava parada nos olhando, parecia confusa.

—Você é irmão da noiva de sábado...Alex, certo? —Tentei disfarçar, afinal, não sabia o que Lucia sabia sobre mim. Sem contar que o pessoal do supermercado, era do circulo de amizades da família de Marcus.

 —Isso. —Ele encostou-se no balcão. —Eu queria encomendar um arranjo, uma coisa bem especial. —Alex entrou no jogo.

 —Algo específico? —Senti meus lábios tremendo.

 Ele arqueou as sobrancelhas e correu os olhos em nossa volta.

—Sim, quero peônias e orquídeas brancas. —Sua voz era sexy, desnecessariamente sexy. —Pensei em algo grandioso, que possa dar a pessoa que vai recebê-lo, a dimensão do quanto ela é especial.

  Respirei fundo, a forma com que ele mantinha seus olhos fixos nos meus era perturbadora. Olhei para Lucia e ela estava indecifrável, quanto a mim, talvez meus sentimentos estivessem estampados na minha cara, piscando como neons.

—Bom, me acompanhe, vou mostrar alguns vasos e você vai me dizendo o que acha, aí montamos pra você... —inventei, sabendo que precisávamos sair dali. —Lucia, as fitas estão nessa caixa, pode ir fazendo o que quiser, eu já volto.

 Alex deu a volta no balcão e me seguiu, assim que chegamos a uma das estufas, voltei a olhar para ele.

 —Você é louco mesmo...Vir até aqui! —reclamei, quando no fundo estava mais do que feliz.

 Ele não respondeu nada, apenas avançou sobre mim e laçou minha cintura com seus braços.

—Que saudades eu senti de você, Maria Cecília... —ele sussurrou antes de me beijar.

 Eu também estava, tinha de admitir. Alex me fazia tão bem...

 —Ontem passei o dia todo pensando em você e hoje acordei cedo achando que a veria em minha casa. — Ele sorriu. —Já tinha tudo preparado para sequestrá-la.

 —Não perguntou sobre mim aos meus pais, não é? —Preocupei-me com a hipótese.

 Ele balançou a cabeça de forma positiva.

—Claro que sim.

 —Você é impossível Alex —tentei me soltar dele — ,eles não são bobos, vão desconfiar.

 —E daí? —Ele estreitou os olhos. —Qual o problema?

 —Você não entende... —Tive de ser vaga, eu não queria falar sobre o recente fim do meu relacionamento. —Agora anda, me beija antes que a Lucia venha atrás de nós.

 —Ah, Maria Cecília... Não precisa pedir duas vezes. —Ele me prensou contra a parede quase que selvagemente.

                                                 ***********

—Quanto vai me custar o vaso então? — Ele me perguntou quando já estávamos de volta à frente da floricultura.

 Lucia nos olhou e achei que não tivesse percebido nada.

—Trezentos e cinquenta reais —afirmei sentindo vontade de rir.

Ele tirou a carteira do bolso e me entregou um cartão de crédito.

—Pode passar no débito, por favor.

 Obedeci, ele digitou a senha e lá estava Alex, pagando por flores que sequer tinha visto a cor.

—Vai querer que entreguemos ou passa para retirá-las?

 —Quero que entreguem. —Ele piscou para mim. —Você tem um cartão?

  Coloquei sobre o balcão um cartão branco e uma caneta. Alex demorou um minuto escrevendo e depois colocou o papel dentro do envelope e me devolveu.

 —Muito obrigado Maria Cecília...O atendimento de vocês é mesmo espetacular... —falou antes de sair.

Assim que ele virou as costas, Lucia que estava terminando de montar um arranjo de rosas vermelhas, veio até onde eu estava.

—Que graça de rapaz —ela elogiou. — E que sortuda a garota que vai ganhar o vaso, hein?

 Com o cartão em minhas mãos e ainda atordoada com o que acabava de acontecer, apenas balancei a cabeça.

 —É, talvez ela seja mais sortuda do que pode imaginar... —Virei-me para ler o que ele tinha escrito.

 

 

                    “Hoje na minha casa ás 19:00 horas,

                se não aparecer, juro que venho buscá-la e

                    ainda falo com seus pais sobre nós!

                       P.S. Isso é uma ameaça mesmo...

                   Não me tire do sério, Maria Cecília.”

Sorri mesmo sem querer e aquilo foi um estado permanente. Meus lábios pareciam ter paralisado curvados para cima.

 À tarde separei as mais belas orquídeas brancas, as mais graúdas peônias e as entreguei para Lucia. Ela já tinha provado que era boa naquilo.

—Você faz...Monte um vaso lindo para o Al...Para aquele rapaz. —Fiquei meio sem jeito.

—Deixa comigo, vou surpreendê-la... —Lucia sorriu misteriosa.

 Fui para minha casa, dessa vez me arrumei de acordo com a ocasião. Da lingerie às sandálias, tudo pensado com muito cuidado, eu não cogitei nem por um segundo sequer, a possibilidade de não ir.

 Pronta, segurei o frasco de um perfume que eu pouco usava, era marcante e naquela noite era exatamente o que eu queria. Dei três borrifadas no ar e o spray cintilou sob a luz antes de tocar meu corpo.

 Respirei fundo e aquele aroma agradou meu olfato, senti uma vertigem boa imaginando que em pouco tempo aquele cheiro estaria misturado ao de Alex.                  

—Lia, a Lucia me contou que aquele vaso é uma encomenda feita pelo irmão da noiva de Santo Valle .—  Minha mãe estava animada.

 —É, ele veio hoje pela manhã fazer esse pedido. —Caminhei até a mesa onde o vaso estava. —Meu Deus, ficou lindo Lucia. —Surpreendi-me com a beleza daquele arranjo de flores.

 —Que honra...Eles gostaram mesmo do nosso trabalho! —Ela se mostrou feliz.

 “Realmente, o Alex gostou muito do trabalho que você e o papai fizeram, há vinte anos ...” —pensei.

 —Eu vou sair, então aproveito para fazer essa entrega, a garota estuda na mesma faculdade que eu — menti, com o vaso nas mãos.

 —Quem é a garota? E, aonde você vai toda produzida assim? —ela começou com o inquérito.

  —Vou exatamente comemorar o aniversário dela com o pessoal da faculdade, e não adianta eu dizer quem ela é, você não conhece... —menti mais uma vez, ou não, já que a dona do vaso, realmente minha mãe não conhecia. Não, sua nova versão.

 Entrei no meu carro e dirigi até Santo Valle, ansiosa, mas não nervosa. Quando dobrei a esquina da rua de Alex, o relógio no painel do meu carro acusava 19:20.

  O carro dele estava na rua, manobrei para estacionar atrás dele e assim que desliguei o motor, ele desceu da SUV preta.

  Saí com o suntuoso vaso nas mãos, Alex veio ao meu encontro.

 —Boa noite, vim fazer uma entrega...Acho que esse é o endereço —brinquei.

  Alex estendeu-me os braços e tomou o vaso de mim, depois correu seus olhos dos meus pés até a minha cabeça.

 — Maria Cecília, essa produção é para mim? —Ele olhava-me com desejo.

 Coloquei as mãos na cintura.

—Sim, esse vaso foi desenvolvido especialmente para o senhor. Nós da floricultura A Florista esperamos que tenha atendido as suas expectativas.

  Alex tinha um jeito de transparecer o que estava pensando, que era só dele, de olhos estreitos ele se aproximou, devorando-me a cada piscada.

 —Você é mesmo impossível, Maria Cecília...

 Seguimos direto para a área gourmet da casa, o mais interessante foi que não havia nem vestígios de que, há dois dias aquele casarão tinha sido palco de um casamento tão grandioso, como o que tinha acontecido.

 A mesa de madeira rustica estava posta com requinte. Pratos, taças e champanhe, claro.

  —Eu encomendei a comida , a bebida é a mesma do casamento da Chiara. —Ele parecia meio tímido.

 Sentei-me depois que ele puxou a cadeira para mim.

 —Eu... Nem sei o que dizer! —Estava impressionada e sem palavras.

 —Diga que gosta de massa, afinal tive que arriscar pois a senhorita fez-me o favor de não dizer qual é seu prato favorito, e brigadeiro...Só de sobremesa.

  Ele tinha acertado em cheio e mesmo que eu não gostasse de massa, passaria a fazê-lo, afinal, como é que uma pessoa em sã consciência, ou quase isso, poderia encontrar defeito em um jantar como aquele? Ainda mais depois de Alex ter colocado o vaso no centro da mesa.

 —Tem ideia de que se demorasse mais cinco minutos para chegar, eu estaria a caminho de Monte Real? —Ele segurava uma de minhas mãos enquanto eu bebia mais uma taça de champanhe.

 —Caramba, eu me atrasei o quê? Vinte minutos?

 —Tive medo de que não viesse, afinal, eu nunca vi alguém tão difícil. —Alex permaneceu com olhos grudados em mim.

Não tive como não rir, aquela afirmação era no mínimo contraditória.

 —Eu estou sendo mesmo muito difícil... —Fiz uma careta. —Chega de álcool Alex. —Apontei o dedo para ele.

 Ele balançou a cabeça, se levantou e voltou com uma travessa de vidro nas mãos.

 —Torta de brigadeiro belga —ele anunciou.

 Arregalei os olhos com água na boca.

—Hum... —gemi assim que coloquei a primeira colherada na boca.

 —É bom? —Alex estava com o rosto apoiado em uma das mãos, observando-me como se tudo o que eu fizesse fosse espetacular.

  —Muito! —respondi de boca cheia.

Alex se levantou e virou uma cadeira para sentar-se ao meu lado, depois, puxou a que eu estava sentada, encurtando nossa distância.

 —Deixa eu provar. —Ele se inclinou para um beijo com gosto de chocolate. —Realmente é muito bom... —Alex murmurou.

 Passei para seu colo e ficamos um bom tempo trocando beijos com sabor de champanhe e brigadeiro. Um tempo depois, ele carregou-me em seus braços e levou-me até a piscina.

 —Quer entrar? —ele sugeriu.

 —Não... —Ri sentindo o efeito do álcool em meu sangue.

 —A piscina é aquecida. — Ele levantou uma das sobrancelhas.

 —Eu não trouxe roupa de banho, então... — avisei já descendo o zíper do meu vestido preto.

 Quando ele caiu no chão, a expressão de Alex se transformou, de maxilar contraído seus olhos brilhavam enquanto me observavam. Eu havia caprichado mesmo, usava um conjunto de lingerie preto e dourado de renda. Tinha guardado para uma ocasião especial, quando ainda namorava o Marcus. Por fim, a estreia não fora com ele, mas pareceu-me justa, ou mais do que isso.

 Praticamente sem piscar Alex se despiu, agarrou-se a mim e saltamos dentro d’agua, a temperatura estava mesmo agradável.

 —Não tem ninguém aqui? —sussurrei enquanto ele tentava desabotoar meu sutiã.

  Ele balançou a cabeça em negativa.

 —Não, Maria Cecília, — roubou-me um beijo rápido —somos só você e eu. —Alex fez meu corpo todo se arrepiar falando em meus ouvidos.

       Passava das duas da manhã quando cheguei em casa. Meus cabelos molhados e meu riso frouxo denunciariam o que eu estava fazendo. Subi as escadas na ponta dos pés, e não foi difícil, eu estava mesmo nas nuvens.

 —Lia? —meu pai gritou do seu quarto quando ouviu que eu abria a porta do meu.

 —Sim pai, sou eu e está tudo bem! —respondi tratando de entrar rapidamente e passar as chaves na fechadura.

 Meus pais vinham sendo bem compreensivos comigo, com o fim do meu namoro eles estavam me respeitando e não ficavam me enchendo de perguntas, o que estava sendo bem providencial.

 No dia seguinte as coisas com Alex continuaram do mesmo jeito. Fui até sua casa novamente e ele sugeriu que assistíssemos a um filme.

 —Jogo de amor em Las Vegas? —Alex fez careta quando escolhi esse, a outras três opções dadas por ele.

 — Acho o Ashton lindo... —Pisquei, deitando-me ao seu lado.

Ele balançou a cabeça me repreendendo.

—Maria Cecília...Não me provoque...

—Alex, pode parar de ficar falando meu nome desse jeito...Isso é... —Tentei escolher as palavras para definir como aquilo me impactava.

Bem...Não conseguimos ver o filme.

Alex e eu tínhamos uma conexão que era coisa de outro planeta. Não falávamos sobre o futuro o que de certa forma era bom. Estávamos vivendo um dia de cada vez e talvez por isso, eu não me sentisse culpada por ter esquecido o Marcus tão rápido.

 Na quarta-feira, quando saía da faculdade, avistei o carro dele estacionado ao lado do meu.

 — O quê faz aqui? —perguntei surpresa, não havíamos combinado nada.

 Alex suspirou e abriu a porta do seu carro para que eu entrasse.

—Vim, porque apesar das minhas tentativas de adiar isso —ele tocou meus cabelos—,vou ter que fazer uma viagem rápida. —Ele mostrou-se bastante chateado.

 —Hum... —Baixei meus olhos sem saber o que dizer, mas eu não estava gostando daquilo.

Alex olhou para o volante e depois voltou a me encarar.

—Então...Era para eu ter ido já na segunda-feira, no entanto, uma garota que conheci dias desses, fez com que eu mudasse meus planos; só que hoje eu fui intimado e não tenho escolha —ele explicava enquanto beijava os dedos da minha mão direita.

 —E pra onde você vai? —Quis saber sentindo um frio na barriga, e dessa vez não era bom.

 —Argentina, mas volto já na segunda, isso se eu não der um jeito de retornar antes.

 Claro que eu não gostei nada da notícia. Estar com Alex, mesmo que por poucos dias, foi tão intenso que havia me tomado completamente e se tornado algo necessário, era como um vício.

Sem contar que eu não tinha boas experiências com essa coisa de distância. O pior era que eu nada podia fazer. Eu não tinha o direito de questionar, muito menos cobrar o que quer que fosse.

 —Vai a passeio? —indaguei tentando fingir naturalidade.

 —Não. —Ele entrelaçou seus dedos nos meus. — Sabe que sou arquiteto, não sabe?

 Eu não sabia, por isso balancei a cabeça em negativa.

 —Eu nem imaginava... Nem sei quantos nos você tem? —Dei-me conta de que em todas as nossas conversas, tudo sempre girava em torno de mim.

 —Não vou dizer. —Ele imitou uma resposta minha de dias atrás.

Acabei rindo.

 —Sério mesmo...Eu nunca parei pra pensar nisso...

  Alex se ajeitou no seu banco e permaneceu me encarando.

 —É, só eu fiz uma resenha sobre você, e não houve reciprocidade.

  —Certo...Mas o que faltar de informações, você completa —apontei o dedo para ele —,como eu fiz.

 —Justo. —Ele cruzou os braços aguardando que eu começasse.

  Antes de iniciar, olhei para ele e nossa, eu poderia dizer tantas coisas, mas precisava escolher as principais, então sorri e depois respirei fundo.

—Seu nome é Alexandre Collerman, mas você prefere Alex e eu também. Não sei sua idade e apesar de ter esse rostinho de dezoito anos, acho que você tem mais de vinte e três... —Fiz uma pausa para ver se ele se manifestava.

 Alex não deixou nada transparecer.

—Vamos...prossiga...

 —Descobri agora que você é arquiteto; você gosta de massa e embora devore todos os tipos de doces, camafeu de nozes são seus preferidos. Seu poder de persuasão é altamente perigoso e esse seu jeito sedutor inocente deve ter feito muitas vítimas — ele balançou a cabeça negando — ,você é lindo e sabe disso, é gostoso... E seus olhos são os mais bonitos que eu já vi.

 —Acabou? —Ele parecia sério.

Balancei a cabeça negando.

—Já deve ter conhecido vários lugares do mundo e visto coisas de mais, mesmo assim, é dono de uma simplicidade e de um altruísmo que fazem de você uma das melhores pessoas que eu já conheci. —Acariciei seu rosto.

 Alex não desviou seus olhos nem por um instante enquanto eu falava, suas expressões foram as mais diversas durante meus pareceres, mas ao final, ele estampava um grande sorriso nos lábios.

 —Adorei...Mas a minha réplica não será feita agora...Na sua vez estávamos de costas um para o outro e sob o efeito do álcool.

 —Trapaceiro! —reclamei.

 Alex piscou algumas vezes e depois me puxou para mais perto.

—Chega de conversa Maria Cecília, eu ainda tenho alguns minutos e quero gastá-los de um jeito mais interessante. —Segurando minha nuca, ele cerrou seus olhos e então nos beijamos longa e calmamente.

  Soube por ele que seus pais eram sócios de uma empresa de arquitetura na Argentina, estariam inaugurando uma nova sede lá, esse era o motivo pelo qual Alex tinha de fazer aquela viagem. Tive um impulso de pedir para ir junto quando ele disse adeus, mas preferi acreditar que era apenas trauma mesmo.

 Na quinta-feira o telefone da floricultura tocou bem cedo, era ele, fui para os fundos e passei mais de uma hora conversando com Alex. Parecíamos dois adolescentes apaixonados, na verdade, tirando a parte do “adolescentes”, eu estava mesmo...Apaixonada e morta de saudades.

  Na sexta-feira passei a manhã toda na estufa, estava separando flores para um batizado que aconteceria no sábado. Eu passei a adorar aquele lugar desde que Alex esteve por ali.

 Olhei para o relógio em meu pulso, passava das duas da tarde eu ele ainda não tinha me ligado. Ansiosa e precisando ouvir sua voz, me assustei quando Lucia apareceu chamando meu nome.

 — Lia...Tem um rapaz querendo falar com você.

 Balancei a cabeça sentindo uma onda de felicidade tomar conta de mim. Imaginei então que aquele fora o motivo de sua falta de notícias...Alex e suas surpresas, sorri resignada sobre ter sido enganada por ele.

 Corri para o salão pensando que não conseguiria me conter, eu teria de ser forte para não me jogar em seus braços.

 Como alguém que está correndo e dá de cara com uma vidraça, senti exatamente esse tipo de impacto quando o vi ali, parado com os olhos perdidos.

—Marcus? —Mal consegui pronunciar o seu nome, tamanha a minha surpresa. Ou seria decepção?


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Notas finais do capítulo

Marcus de volta? Prevejo problemas...



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