Mais que uma escolha escrita por nanacfabreti


Capítulo 13
Escolha




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Existem momentos na vida em que você liga o piloto automático e apenas executa suas obrigações sem raciocinar, depois daquela conversa com Alex, foi isso o que eu fiz. Dei um jeito de achar uma forma de escapar da realidade, de desconectar-me dos meus sentimentos, tanto, que esperei alguns minutos, voltei com a fita que Lucia me pedira anteriormente e continuei trabalhando como se nada tivesse acontecido.

Alguns chamam isso de estado de choque, eu chamo de instinto de sobrevivência.

—Lucia, não comente nada com minha mãe sobre aquele —comecei a falar quando vi minha progenitora chegando de volta à floricultura.

—Não houve nada de diferente aqui Lia, ao que me consta, nós trabalhamos sem descanso por todo esse tempo, apenas nós duas. —Ela quis demonstrar sua discrição.

No final, era bem como ela havia dito, observadora como era, certamente sabia de tudo o que estava acontecendo entre mim e Alex, desde a sua primeira ida à floricultura anos atrás.

—Hoje às três horas você vai fazer a prova do vestido e da maquiagem, Lia —minha mãe avisou-me. —Pior, que não sei se vou poder ir junto com você.

—Não precisa. —Fui sincera. —Eu prefiro ir sozinha.

Ela lançou um olhar de estranhamento para a Lucia e depois para mim.

—Tudo bem, mas se chamar sua sogra, ela vai ficar feliz em acompanhá-la —ainda insistiu.

Respirei fundo e contei até dez.

—Como eu disse, vou sozinha. —Não fiz questão de esconder meu mau humor.

Mantive-me introspectiva por todo o tempo, sabia que estava por um fio qualquer coisinha desencadearia uma avalanche dentro de mim.

 Quando faltava meia hora para a prova do vestido, aproveitei que minha mãe atendia um fornecedor para escapar. Eu realmente não precisava da sua empolgação.

Caminhei até o atelier, como quem caminha pelo corredor da morte e, enquanto era envolvida por aquela volumosa peça branca, nada passava pela minha cabeça, meus pensamentos não fluíam, eu apenas me olhava refletida no grande espelho em minha frente e não identificava-me com aquele reflexo, aquela não parecia ser a minha vida.

Sentei-me na cadeira e duas mulheres desconhecidas por mim, tagarelavam sobre o que ficaria bom em meus cabelos. Preso, solto, coque alto ou coque baixo... Para mim, não fazia mínima diferença.

 —Faça o que achar melhor... —respondi, ao ser intimada a opinar.

  Sendo penteada e maquiada eu me sentia vazia, e isso em todos os aspectos. Eu não estava sofrendo, nem pensando na discussão que tivera com Alex, na realidade, eu não pensava em nada, e isso era estranho.

 —É a noiva mais linda que já vi... — Uma das mulheres elogiou, virando a minha cadeira para o espelho.

 Nos minutos seguintes, três ou quatro pessoas tagarelavam sobre como aquele batom tinha valorizado o meu rosto e que no dia do casamento passariam menos blush.

 Elogios e mais elogios eram feitos e chegavam aos meus ouvidos como ecos, enquanto eu apenas tentava me identificar, me reconhecer naquela bela mulher refletida em minha frente.

 Realmente, eu ficara muito bonita, tanto, que em nada combinava com a maneira em que me sentia por dentro.

 Antonieta, a costureira, aproximou-se com o véu em suas mãos, era cumprido e todo bordado com rendas e cristais.

—Vamos ver como fica... —Ela já o prendia no topo da minha cabeça. —Fique em pé, vamos apreciá-la por inteiro.

 Fiz o que ela pediu, de forma automática.

—Deise, pegue a câmera, vamos fotografar a Lia, ela está magnífica. —Antonieta parecia encantada.

 De alguma forma aquilo mexeu comigo, foi como levar um tapa na cara, ver-me vestida de noiva me içou de volta para a realidade, como se a vida acabasse de me chacoalhar e então eu percebi, finalmente percebi no que eu estava me metendo.

 Um nó se formou em minha garganta e se desmanchou sem lágrimas escorrendo dos meus olhos. Uma angustia crescia em meu peito e começava a me tirar o ar.

—Lia...é normal se emocionar... —Antonieta tocou minhas costas. —Sua mãe tinha de estar aqui para acompanhar esse momento tão especial.

 Eu não conseguia responder nada.

—Tome um gole de água. —Uma das cabeleireiras entregou-me um copo descartável.— Se chorar desse jeito no dia do casamento, as fotos vão ficar horríveis...

  Balancei minha cabeça e tentei engolir um gole daquela água, mas nada descia, eu sequer estava conseguindo engolir a minha saliva.

 —Eu preciso de ar... — balbuciei caminhando em direção à porta do atelier.

—Está louca Lia! —Antonieta segurou-me pelo braço. —Imagine se o seu noivo passa agora aqui em frente e a vê assim, antes do dia... Isso dá azar!

 Descontrolada, ignorei suas palavras e todas as pessoas que aflitas tentavam me acalmar. Mesmo com aquele vestido volumoso me incomodando, acelerei meus passos em busca de ar, eu sentia que precisava de um lugar aberto. Meu desespero era tão grande que minha cabeça começou a girar, apoiei-me então em uma das paredes e me forcei para conseguir alcançar uma das poltronas, sentei-me certa de que não demoraria muito para desmaiar.

 —Eu preciso tirar esse vestido! —comecei a gritar, me livrando daquele véu.

 Antonieta já estava perto de mim, lúcida de meu desespero, tirava os alfinetes que marcavam os ajustes que precisariam ser feitos e as outras três pessoas, apenas nos acompanhavam sem esconder o espanto em seus rostos.

 —Pronto querida, agora levante os braços... — A costureira mantinha um tom paciente comigo.

 Quando finalmente me livrei daquele pesadelo branco, me vesti rapidamente. Aos poucos o ar conseguiu encontrar o caminho dos meus pulmões e eu pude voltar a respirar.

 Não falei mais nada, saí do atelier ainda transtornada , no momento em que coloquei meus pés na calçada, avistei um táxi que acabava de parar no sinal vermelho.

—Pode me tirar daqui? —Debrucei-me na janela e acabei por assustar o motorista.

 —Desculpe moça, mas estou indo buscar um passageiro — o senhor de meia idade me respondeu de forma simpática.

 —Eu pago o dobro...o triplo. — Quis persuadi-lo.

 Ele me olhou confuso, no entanto, meu argumento funcionou.

—O triplo? —Ele ainda quis confirmar.

Balancei a cabeça concordando e em segundos estava sentada no banco traseiro do seu carro.

—Para onde quer que eu a leve? —Ele ligou o taxímetro.

—Para Santo Valle —respondi sem pensar.

Aquela cidade tinha muita relevância para a mim, nela vivi meus momentos mais importantes e cruciais. Minha primeira vez com Marcus e nossa despedida quando ele ingressou na universidade, dois fatos tão marcantes e Santo Valle fora o pano de fundo para eles.

  E quanto a Alex? A cidade onde o conheci, o lugar para onde fugi uma, duas, três vezes ao seu encontro, onde vivi sem sombra de dúvidas, meus melhores momentos e também um dos meus piores, quando saí de lá o deixando para trás. Por fim, eu conhecera o céu e o inferno naquela cidade e talvez por isso a necessidade de ir até lá.

Quando chegamos na entrada, o motorista olhou-me através do retrovisor.

—E agora, pra que lado quer que eu vá?

 Respirei fundo.

— À direita, por favor —indiquei a direção em que ficava a casa da família de Marcus, onde agora funcionava uma clínica.

Pedi para que ele parasse em frente ao sobrado azul e fui atendida por ele. Permaneci por uns bons momentos relembrando o que vivera ali, com riqueza de detalhes. O nervosismo de perder a virgindade e ao mesmo tempo a sensação de que seria para sempre, porque Marcus era mesmo tudo o que eu queria naquela época e, eu o amei mesmo, muito.

Nossa história com enredo de amor adolescente foi linda, doce e até mesmo pueril. Descobrimos tantas coisas juntos, sem contar que sempre fomos tão cumplices. Relembrei nosso primeiro beijo e também antes disso, quando cada toque nosso era planejado, era construído para que nosso final fosse aquele que parecia o mais certo, nos casarmos.

—O senhor conhece o casarão da família Collerman? —perguntei depois de um tempo.

Ele balançou a cabeça e seu semblante não era dos mais sutis, certamente estava me achando uma louca.

—Quer ir até lá?

—Quero...

 Alex em nosso primeiro rompimento, se é que essa classificação se encaixa no que fora aquela conversa desastrosa, me dissera na época, que não tinha como competir com a história de amor de Marcus e eu, só que ele estava enganado...Mesmo tendo sido tão pouco o tempo que tivemos, conseguimos produzir uma coleção de bons momentos e de lindas recordações.

 Aquele casarão que eu observava de dentro do taxi era outro símbolo, algo emblemático em nossa breve relação. Foram dias que significaram mais do que anos, e eu estava entendendo melhor a frase dita por Alex no hotel: “Quando se trata de amor, o tempo é relativo...”

  Era mesmo, era exatamente isso, no caso de um sentimento tão inexato, números e colocações de regras são totalmente dispensáveis.  Minha história com Alex servira para comprovar isso, que os únicos números que se faziam válidos, eram a quantia de beijos que trocamos, quantos abraços demos, quantas vezes nossas mãos se tocaram e ao final desse balanço uma constatação: Ainda parecia pouco.

  Assim, depois de muito ver, lembrar, pensar e sentir, me deparei com aquele  momento da vidaem que você finalmente abre os olhos e enxerga tudo com uma clareza incólume, aquele momento que marca sua existência para sempre por que enfim, você percebe que todas as suas dúvidas eram infundas, ou como no meu caso, tinham outro fundamento.

 Enquanto eu me martirizava com a clássica duvida de escolher entre Marcus e Alex, eu me esqueci de que na verdade, era eu, a peça central do quebra cabeças, aquela que faltava para completar o jogo.

Na verdade, minha escolha resumia-se em que tipo de pessoa eu queria ser; sim, porque cada um deles revelava uma Maria Cecília única. Por fim, era apenas isso, eu só precisava reunir meus pedaços, voltar a respirar e escolher como me montaria.

—Moça, o taxímetro está rodando... —A voz desconfiada do motorista me trouxe de volta.

Sequei minhas lágrimas com as mãos em um ato automático.

—Tudo bem... —Pigarreei, limpando a minha garganta. —Podemos voltar à Monte Real.

Ele balançou a cabeça incrédulo, e quanto a mim? Eu finalmente voltei a sorrir, sabia exatamente o que fazer e mais, acabava de compreender que nem um dos dois , nem Marcus e nem Alex, mereciam metades minhas.

 Ambos tiveram suma importância na minha vida e me mudaram de alguma forma. Ambos teriam um lugar especial em meu coração, mas apenas um deles teria espaço em minha vida, e eu estava pronta, mais do que isso, ansiosa para ser finalmente inteira dele, enquanto o outro, nossa história seria uma lembrança boa e uma marca permanente em mim.

Cheguei em casa ao anoitecer, e já imaginava o que me esperava.

—Maria Cecília, o que aconteceu? Onde você estava? —Meu pai foi o primeiro com quem cruzei.

 —Pai, por favor... eu preciso descansar, só hoje... —Fui vaga, caminhando para meu quarto.

—Sua mãe está louca atrás de você, a dona Antonieta contou que você teve uma coisa, na hora que provava o vestido —ele continuou falando atrás de mim.

Toquei seu braço e sorri.

—Eu só fiquei nervosa pai, mas agora estou melhor... — Estava calma. —Só confie em mim, e por favor, peça à mamãe que me deixe descansar. Sabem que meus próximos dias serão muito desgastantes...

 Ele me encarou com estranheza e eu dei graças a Deus por ser ele e não minha mãe, meu pai era bem mais fácil de ser dobrado.

 —Tudo bem Lia, mas ligue para o seu noivo, ele já telefonou umas dez vezes.

Balancei minha cabeça de forma afirmativa.

—Eu vou ligar. —Fechei a porta do meu quarto. Sabia que tinha mesmo de me explicar com ele, eu estava agindo de forma tão estranha nos últimos tempos que Marcus só não percebera por conta de sua rotina puxada de trabalho.

 Peguei meu telefone e enquanto discava, fazia uma oração interna para que ele pudesse atender.

—Marcus que bom... —Respirei aliviada. —Não sei o que chegou aos seus ouvidos, mas agora está tudo bem.

 —Lia, eu estava morrendo de preocupação ! —ele quase gritou do outro lado da linha.

 Sentei-me no chão.

 —Eu sei...mas amanhã nos encontramos , eu tenho que te explicar um monte de coisas.

 Marcus ficou em silêncio por alguns segundos e depois suspirou.

—Tudo bem Lia, mas nossa... eu estou morto de saudades, esses dias têm sido... —Ele parecia mais calmo. — Eu só preciso ver você.

 —Eu sei, eu também preciso te ver —afirmei, pensando em como faria para me explicar com ele.

 Assim que desliguei, algo me ocorreu, uma ideia que estava na minha cara e que me pareceu a melhor maneira de fazer com que Marcus pudesse me ouvir, me entender.

Peguei um caderno, uma caneta e lá fui eu, noite à dentro escrevendo uma resenha para Marcus. Coloquei minha alma naquelas palavras e então, vinte rascunhos depois, ela estava pronta.

Respirei fundo e li aquele papel sentindo o impacto e a veracidade de cada linha escrita ali.

Já passava das duas horas da manhã quando finalmente consegui adormecer, eu precisava muito descansar, aquele dia seria decisivo e eu tinha de estar bem.

                                          **************

—Lia, você conseguiu me deixar sem palavras agora — Gabi falou-me com a voz rouca, depois que li na integra o que escrevi para Marcus. —Você é mesmo muito corajosa. —Ela me abraçou.

Não era nem sete horas da manhã e eu estava na porta de sua casa, precisava muito da opinião dela, não que a minha fosse mudar, mas Gabi era para mim como um porto seguro.

—Obrigada minha amiga, agora eu vou até a clínica, Marcus deve já está lá. —Abracei-a antes de seguir em frente.

 —Mantenha-me informada! —Ela gritou enquanto eu entrava em meu carro.

Sorri para ela e acelerei.

 Quando pisei na clínica onde Marcus estava trabalhando, me deparei com a Carol, estava sentada na sala de espera com a Michele adormecida em seu colo.

—Algum problema? —sussurrei para não acordar a garotinha.

—Garganta inflamada —Carol sorriu e dava para ver que ela estava muito cansada. —,mas fique tranquila, ela vai estar bem para seu casamento.

Toquei sutilmente seu pequeno bracinho e voltei-me à Carol.

—Vai sim, ela está em boas mãos —afirmei, assim que Marcus apareceu na porta.

Aquela manhã de maio estava gelada, o outono começava a dar suas caras e por isso, Marcus vestia por baixo de seu jaleco uma blusa de linha com gola alta, estava lindo como sempre, mas em seu rosto a exaustão era eminente e, embora eu soubesse que a vida de um médico era cansativa, não consegui deixar de sentir pena dele.

—Que surpresa! —Ele me abraçou com força. — O pior é que agora de manhã tenho inúmeras consultas —ele lamentou, depois de me beijar rapidamente.

 —Tudo bem —acariciei o seu rosto—,eu só vim para entregar-te isso... —Estendi a ele um envelope lacrado. —Quero que leia quando estiver com tempo e por favor, me prometa que vai ler até o fim.

 —O que é isso, Lia? —Ele olhava para aquele envelope sem entender nada.

—Só me prometa. —Segurei suas mãos. — Coloquei minha alma em cada palavra e espero que possa me entender.

—Agora você me deixou curioso, Lia. —Ele riu com um certo nervosismo.

  Encarei-o e enquanto seus olhos castanhos estavam sobre mim, entendi o quanto eu gostava de Marcus, e por isso joguei-me em seus braços abraçando-o com toda a minha força.

 —Eu te amo...e quando estiver pronto para falar comigo, me procure. —Afastei-me  enquanto me sentia inundada de emoção.

 Marcus encolheu os ombros e sorriu.

—Também te amo, Lia.

Balancei minha cabeça e parti, outra paciente acabava de chegar e eu não queria atrapalhá-lo.

Acenei para Carol me despedindo, ela já entrava no consultório com Michele que no momento chorava alto.

  No meu carro permiti que algumas lágrimas caíssem, uma parte do que havia me proposto a fazer estava concluída, agora eu tinha que dar o próximo passo, e aquele me deixava mais nervosa.

“Bem- vindo a Santo Valle”, a placa gasta anunciava na entrada da cidade. Sim eu estava mais uma vez lá e sabia bem para que lado deveria ir.

 Estacionei o meu carro em frente à casa de Alex, do outro lado da rua; movida por um ímpeto de coragem, caminhei até ela e apertei o interfone.

 Eu não havia planejado nada, até porque, não sabia o que esperar. Só estava seguindo meus extintos e deixando as coisas acontecerem.

 —Olá, quem é? —Uma voz feminina ecoou pelo auto falante do equipamento eletrônico.

—Oi, eu queria saber se o Alex está? —perguntei, sentindo minha pulsação descoordenada.

—Ele já foi para o aeroporto, está voltando para a Argentina.

Eu já imaginava que isso pudesse ter acontecido, eu de fato imaginei que ele não estaria mais no Brasil.

—Será que você poderia me dar um telefone que eu consiga encontrá-lo, ou melhor, seu número de celular? —pedi, sem ao menos ter ideia de que com quem estava falando.

—E você...de onde conhece meu irmão? —Obtive minha resposta quase que instantaneamente.

“Que ótimo!” —Pensei. A irmã dele, a mesma que nos contratou para decorar seu casamento... Eu começava a ficar morta de vergonha por estar ali.

—Sou Maria Cecília —falei acreditando que ela nem imaginaria de quem se tratava. —Eu sou uma... uma amiga dele. —Fiz uma careta sentindo-me uma idiota.

Houve um silêncio depois do que eu dissera, estava certa de que era a minha deixa, eu teria que descobrir sozinha como falar com ele. Já começava a caminhar  de volta para o meu carro, quando o portão eletrônico, depois de produzir um barulho alto, começou a se abrir.

Senti meu corpo gelar, imaginando que Alex pudesse estar ali. Movi minha cabeça e então avistei Chiara, a reconheci imediatamente. Seus cabelos agora eram mais escuros e ela exibia um barrigão, estava grávida.

—A garota da floricultura? —Ela apontou o dedo para mim.

Corri meus olhos em desespero, ela se lembrara de mim.

—Eu... na verdade —passei a mão pela testa, estava desconcertada —,é, eu trabalhei aqui no seu casamento. —Meu rosto queimava.

Ela baixou a cabeça e começou a rir.

—Entra. —Ela fez um sinal com a mão. —Meu irmão deve voltar à qualquer momento, ele estava tão perdido que esqueceu o passaporte aqui.

Bem, eu não estava entendendo nada, e me surpreendi com a forma que Chiara vinha me tratando, de qualquer maneira, se realmente Alex estivesse voltando, finalmente o destino mudara de lado.

—Pode esperá-lo no quarto dele. —Ela cruzou os braços e me encarou. —Acho que você ainda se lembra do caminho, não é?

Pronto, agora sim as coisas clareavam. Ela não se lembrara de mim da floricultura, mas sim porque Alex certamente falara sobre mim, sobre nós, e eu não sabia aonde enfiar minha cara.

—Eu vou... vou esperar lá, então. —Sequer consegui encará-la.

 Virei-me com o rosto queimando de vergonha e sim, eu lembrava-me do caminho que levava ao quarto de Alex. A porta de madeira trabalhada estava apenas encostada, quando empurrei-a, o cheiro do perfume dele atingiu o meu olfato, comprovando que há pouco tempo Alex estivera ali. Dentro daquele cômodo, meus olhos varreram todo o canto daquele lugar, as memórias da última vez que estivera ali, não era as melhores.

Cada palavra dita por nós dois foi tão carregada de tristeza e, diferente de como sentia-me naquele momento, da outra vez, confusão era palavra de ordem.

 Cinco anos depois, e mesmo com algumas mudanças, aquele quarto também me trazia boas recordações. A king size coberta com roupas de cama claras, tinha mudado de lugar, mas de qualquer forma, senti minha barriga fisgar relembrando a primeira vez que estive ali.

 O relógio na parede era o mesmo, eu não me esqueceria jamais, fora ele que marcou as melhores horas da minha existência. Em dos cantos, fora montado um espaço office, e sobre a sua mesa, um porta retratos prateado, exibia uma fotografia de Alex em preto e branco, sério e lindo.

 Segurei-o por alguns instantes e pensei que, dependendo do desfecho daquela história, eu o levaria para mim, era justo.

  Voltei para a sua cama e notei o passaporte sobre um livro de arquitetura moderna. Lembrei-me de como ele fora firme em nossa última conversa, convicto de que iria me esquecer, e realmente, ao final, parecia ser o que ele tentava fazer, já que estava mesmo partindo.

Peguei seu passaporte em minhas mãos e o folheei, os tantos carimbos imprimiam todos os lugares pelos quais ele passara só naqueles últimos anos. Austrália, Europa, Chile, Egito, eram apenas alguns dos países que Alex visitou, e era engraçado pensar que mesmo estando tão longe ele ainda pensava em mim.

 Mesmo distraída, minha audição continuava aguçada, a casa era silenciosa, e um estalo prendeu minha atenção. Acredito que existam níveis de nervosismo, ali, eu acreditava estar no máximo do meu, mas quando ouvi o barulho de passos apressados vindos do corredor, percebi que há algo além do máximo em alguns casos.

 Eu já estava em pé quando a maçaneta girou e a porta se abriu.

—Maria Cecília? —Alex levou a mão ao peito, ele realmente havia se assustado. — O que está fazendo aqui?

Respirei fundo, havia tanto a ser dito e eu nem sabia por onde começar.


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Notas finais do capítulo

Aiiii, será que agora vai?
Beijos e até a próxima!



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