O Pântano escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 1
Certas lendas deveriam se manter no oculto


Notas iniciais do capítulo

Queria fazer uma fic em que se passava num pântano. Mas eu queria fazer diferente do que a gente vê nos filmes onde, geralmente, o vilão é sobrenatural.

Também foi a fic que mais me deu trabalho, pois odeio escrever capítulos enormes e em forma de one-shot. Por isso demorei as outras postagens e a ler meus acompanhamentos. Agora posso dizer que estou livre.

Boa Leitura.



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REC - 05.16.2016 12:07

A câmera ligou, revelando uma mulher de mais ou menos quarenta anos de idade. Ficou olhando para os lados enquanto tentava ajustar o objeto possivelmente num tripé. Loira, com alguns traços de rugas por causa da idade, vestindo uma calça militar com botas e jaqueta marrom. Perguntou ao assistente se estava apresentável. A pessoa ao lado, um homem, concordou.

— Aqui é Denise Kocian, a investigadora profissional de casos misteriosos. Percorro todo o território dos Estados Unidos em busca de mistérios de lendas ou o sobrenatural. Fui eu quem desvendou o mistério das luzes perto da Área 51, Nevada. Fui eu quem visitei o Havaí em busca do monstro de Honolulu. Já fui para o Alasca atrás do Yeti e agora estou aqui na Louisina a fim de conhecer lendas acerca do Pântano de Manchac. Será que eu irei desvendar esse mistério?

 

A pessoa que assistia ao documentário amador desligou a TV e foi ao banheiro tomar um banho. Ela despiu-se, entrou na banheira e ficou por um bom tempo descansando. Pensou naquele filme amador que a polícia da Luisiana havia entregado. Vivia sob a sombra do sumiço de sua irmã mais velha, Denise Kocian. Desde que resolvera desvendar um mistério no sudeste do país, a caçadora de lendas nunca mais voltou.

Mergulhou na banheira, ficou por alguns segundos em meditação. As palavras da irmã mais velha pouco antes de viajar ficou martelando na sua mente por dias. Era como se ela estivesse prevendo o que iria a acontecer. Nada mais arrepiante e perturbador do que prever a própria morte.

Faltou-lhe ar. Levantou no mesmo instante, passou as mãos sobre o rosto, deslizando pelos cabelos. Estava ofegante, porém com o semblante fleumático. Era uma mulher que quase nunca se surpreendia.

Kyla Kocian, uma jovem jornalista investigativa de apenas vinte e nove anos. Sempre teve uma boa relação fraternal com a irmã mais velha, porém não concordava com a sua profissão de caçadora de lendas. Certos segredos devem manter-se ocultos, haja vista pessoas mal-intencionadas ganham a vida com o pavor alheio. Mexer no calo de gente assim é pedir para morrer.

E foi essa a conclusão que a jornalista chegou: não havia nada de sobrenatural naquele lugar, e sim alguém que fizera mal à Denise.

Saiu do banheiro com o roupão, enxugou-se e foi pentear o cabelo. Escutou a campainha do seu apartamento tocar. Foi atender a porta. Um homem com um buquê de flores apareceu.

— Com licença. É aqui que mora a senhorita Kyla Kocian?

— Sim.

— Tenho uma entrega para fazer. — Ele pegou na mão dela e levou para o seu peito. — O meu coração.

Kyla praticamente pulou sobre o homem. Deu-lhe um beijo caloroso e entrou com o sujeito, fechando a porta logo em seguida.

— Eu trouxe a cerveja pra gente passar a noite namorando, vendo algum filme? — O homem viu Kyla mexendo no celular. — O que faz?

— É sobre a Denise.

— Já conversamos sobre isso. A polícia não encontrou o corpo dela, apesar das buscas de dois meses consecutivos. Isso faz mais de um ano, sabia?

— Eu não me conformo, Nick. Eu sei que as autoridades não encontraram o corpo dela. Só que há algo dentro de mim que não quer acreditar.

Nick revirou os olhos e sentou no sofá ao lado da namorada. Deixou as duas latinhas de cerveja na mesa de centro e foi ver o que a moça fazia. Esta acessou os vídeos pelo celular e pôs na função para passar na smart TV. As imagens iniciais de Denise ajeitando a câmera e conversando com a outra pessoa não saíam da sua cabeça.

— O cara que ia com ela. Ainda está vivo?

— Não. Partes do corpo dele foram achadas centenas de metros num lago. Parece que algum crocodilo comeu-o vivo ou não. Eu só quero saber se ela se hospedou em algum lugar antes de ir ao pântano.

— Só não acho uma boa ideia você sair daqui de Tampa para Nova Orleans só pra isso. É arriscado. — Ele pegou em sua mão, tentando convencê-la do contrário.

Kyla abaixou a cabeça por alguns instantes. A jornalista sabia que era praticamente uma loucura continuar as buscas de forma independente. Porém, algo dentro dela dizia que a alma de Denise clamava por justiça.

— Já conversamos sobre isso. Se não quiser me acompanhar até Louisiana, entenderei. Por isso chamei a minha amiga, Tina, para ir comigo.

— Tina, a mulher macho sim senhor.

— Para com isso. Ela é só a minha amiga. O fato de ser lésbica não lhe dá o direito de julgá-la de maneira errada. Ela não vai me agarrar. Só que eu preciso dela para me acompanhar.

Nick pediu desculpas, a pegou nos braços e a beijou. Aceitou ir com ela para o outro estado em busca de respostas para o desaparecimento de Denise Kocian. Ambos beberam o resto da cerveja, beijaram-se e se prepararam para ir ao quarto.

— Já ouviu Jennifer Rush? — perguntou enquanto beijava o pescoço de Nick.

— Não.

— Vai conhecer. Aguarde um momento.

Ela pegou um disco de vinil, colocou no aparelho de tocar disco e botou na sua canção favorita, Power of Love.

 

The whispers in the morning

Of lovers sleeping tight

Are rolling by like thunder now

As I look in your eyes

I hold on to your body

And feel each move you make

Your voice is warm and tender

A love that I could not forsake

 

Kyla retirou o roupão, deixando à mostra o seu corpo nú à vista do seu namorado. Este pôs as mãos em sua cintura, puxou-a para o sofá e iniciou uma sessão de beijos e carícias. Desde que a conheceu na porta da emissora, sabia que era a mulher da sua vida.

O casal se conheceu num dia qualquer de uma emissora local. Tampa era uma grande cidade da Flórida, atrás apenas de Miami e Orlando. Nesse dia, Kyla brigou com o ex-namorado, e por isso desdenhava de um relacionamento sério com outro homem.

— Nada melhor do que transar ouvindo uma música romântica.

— Bom, eu prefiro ficar no silêncio, mas estou na sua casa e por isso tenho que te agradar.

— É isso aí.

 

'Cause I am your lady

And you are my man

Whenever you reach for me

I'll do all that I can

 

Ele a segurou nos braços e levou-a para o quarto. Dois meses que não transavam, pois a mulher viajara a trabalho como correspondente em Nova Iorque.

 

We're heading for something

Somewhere I've never been

Sometimes I am frightened

But I'm ready to learn

'Bout the power of love

 

Desligaram o toca disco e voltaram ao momento íntimo entre quatro paredes.

Aeroporto Internacional de Tampa

— Já são quase oito da manhã e a sua amiga não aparece.

— Ela vai chegar! Ela vai chegar!

Uma pessoa chegou por volta das 7:45 da manhã. Tina tinha uma aparência de um adolescente baixo. Por conta de sua sexualidade e seu gosto por se vestir com roupas masculinas, muitos a confundiam com um homem.

— Cheguei.

— Tina! — As duas se abraçaram calorosamente. — Quero que conheça o meu namorado, Nick.

— Prazer, Nick.

— O prazer é meu — disse com certa timidez.

Entraram no avião, sentaram-se nas poltronas reservadas. Nick ficou ao lado da janela.

— Ainda querendo entender o porquê de não irmos de carro. Louisiana é relativamente perto daqui.

— Levaríamos horas para chegarmos até Nova Orleans. Ou o meu namorado tem medo de altura viajar de avião?

— Medo de avião? Imagine! Eu sou o homem da relação, lembra?

Kyla sorriu para o Nick e o beijou. De fato, o moço tinha pavor de viajar de avião.

 

REC - 05.16.2016 15:35

Denise filmava com a sua câmera digital enquanto viajava pela estrada no banco do carona. Conforme a filmagem vai se desenrolando, duas pessoas estavam com ela. O produtor do programa e um amigo biólogo que serviu de cinegrafista amador em boa parte do tempo.

— Olha só essa paisagem, meus queridos. Como a natureza é exuberante aqui em Akers.

— Denise, vamos encontrar com quem mesmo? — perguntou o amigo biólogo.

— Vamos nos encontrar com o guia da região. Estou tão ansiosa, porque ouvimos rumores de que uma bruxa vivia aqui no século retrasado.

— Quanta besteira desse povo local. Da mesma forma como foi uma grande besteira as outras lendas desvendadas. Lenda é pra jacú, como dizia o Woody Woodpecker — resmungou o produtor.

— Não diga isso, Brian. Olha que eu mando essas filmagens aos moradores locais e eles irão atrás de você com enxadas e tochas.

— Tá gravando? Não sei pra que isso, Denise.

— Deixa de ser chato, Brian. Estou filmando para a minha irmã mais nova. Vou mandar esta filmagem para a Flórida.

A imagem da câmera foi cortada para quando o trio desceu do carro. Isso foi uns vinte minutos até chegarem ao local onde o guia os levaria ao pântano. A filmagem mostrou uma casa perto das águas.

— Olha isso. Olha este local sinistro. Vamos começar a filmagem. Gael, segura a minha câmera enquanto filmo o programa?

O biólogo assentiu. Denise Kocian gravou uma parte do programa enquanto o produtor Brian servia de cinegrafista.

— Então quer dizer que há a lenda de uma bruxa aqui. Conte mais essa história.

— Muitas pessoas acreditam que longe, bem longe, dentro do pântano, há uma bruxa maligna que mata os visitantes. Não sei se é verdade, mas muitos pescadores desapareceram nessas águas e jamais voltaram. Com certeza há um mistério por aqui.

— Então acredita que há uma possibilidade da lenda ser verdadeira?

— Sim. Não posso dar certeza de nada, se eu não tenho certeza. Concorda?

— Acho válido.

Gael continuou filmando amadoramente. Durante a filmagem dentro da cabana do pescador, ele viu, pendurado na parede, um apito em peculiar. O objeto era feito de osso, aparentemente.

— Terminamos essa parte. Pode me dar, Gael.

O biólogo reconheceu que o apito era feito de osso. O pescador praticamente expulsou os três.

 

— Ainda vendo as filmagens da sua irmã?

— Uhum. Acordou? Pra quem tem medo de avião, você pegou no sono rápido.

— É que eu não dormi direito com a minha namorada cavalgando em cima de mim.

— Fala baixo.

Nova Orleans, Louisiana

O avião pousou, os três desembarcaram no outro estado. Pegaram um táxi e foram para um hotel da cidade. Um guia, contratado por Kyla, recepcionou os três.

— Esse não é o hotel que eu imaginava — disse Tina observando um motel daqueles vagabundos que existem na beira de estrada.

— Bom, vocês passarão pouco tempo então resolvi fazer as reservas aqui mesmo. Ah, meu nome é Louis.

O guia, um homem de aparência acima dos quarenta anos e que ostentava uma calvície proeminente, deu o cartão aos três. Kyla agradeceu e foi falar com a recepcionista do hotel.

— Louis, preciso conversar contigo. Antes, vou me instalar no quarto.

— Sem problemas. Estarei no bar aqui ao lado.

Kyla, Nick e Tina ficaram em quartos diferentes. O casal ficou no mesmo lugar enquanto a baixinha ficara ao lado.

Minutos após colocarem suas mochilas nos quartos, o trio retornou para a recepção e posteriormente foram ao bar. Louis acenou e pediu que entrassem. Eles sentaram em frente ao balcão onde um senhor, gordo e bigodudo, mexia nas garrafas de bebidas alcoólicas.

— Então, Louis, serei sincera contigo. Não vim por turismo. Vim para desvendar um mistério.

— Pode falar.

— Há pouco mais de um ano, uma mulher veio aqui para tentar desvendar um mistério no Pântano de Manchac. Ela foi com dois colegas: um biólogo e um produtor. Os três adentraram na floresta da região de Akers e nunca mais voltaram. O mais incrível é que eles pesquisavam os desaparecimentos de pescadores locais, o que deu margem para uma interpretação bizarra de uma lenda urbana.

O guia tomou um gole de licor e pediu mais um pouco. Continuou em silêncio, apenas escutou.

— Essa mulher era Denise Kocian, a mulher do Mistérios do Mundo da Discovery. Ela... era a minha irmã. Desaparecida desde então. As autoridades só acharam a câmera com as filmagens que eu tenho agora.

— Sinto muito. Deve ter sido um choque para a senhorita saber que jamais verá a sua irmã. Infelizmente, eu não tenho nenhuma forma de ajudá-la. Estou prevendo que você deseja saber sobre as lendas locais. Se sim, saiba que estou tão por fora desses assuntos locais. Para um guia, a cultura de lugares não são triviais, mas eu sou novo nesse ramo e quase desconheço aquela região. Só sei que há um lago por lá.

— Deve haver um jeito de saber a história daquele lugar — disse Nick.

O guia negou mais outra vez saber algo sobre as lendas locais. Kyla ficou desmotivada.

— A lenda da bruxa. Querem saber? — perguntou o dono do bar.

— O senhor sabe de alguma coisa?

— Claro que sei, minha cara. Estamos falando de uma história que surgiu há mais de duzentos anos.

O dono do bar pediu que aguardassem mais um pouco, porque havia muitos clientes naquele horário. Kyla decidiu esperar a boa vontade do velho.

— Bom, vocês são  pacientes. Decidi contar.

— Por favor, sim. É imprescindível para eu saber o que tem naquele pântano, por favor.

— Senhorita, se quer saber a verdade então toma. Muitos moradores daquela região acreditam que uma bruxa assombra o pântano durante décadas, e que o sumiço dos pescadores deve-se a ela. O que acham?

— Besteira. Como esse povo acredita nesses absurdos? — desdenhou Tina.

— Você não pode menosprezar, mesmo não acreditando. Reza a lenda que uma bruxa negra, praticante da magia  e vodú, foi acusada de praticar a feitiçaria. Ela foi presa até a sua morte. Para se vingar dos seus algozes, lançou uma maldição nesta região. As árvores assumiram vida e formas demoníacas, as águas ficaram turvas e animais como os crocodilos começaram a gostar de carne humana. O nome da bruxa, Marie Laveau, é muito conhecido em Nova Orleans por mais de um século. Há quem diga que a mesma causou um furacão que destruiu cidades em 1915. Outros dizem que ela era uma farsa, que tinha informantes nas casas dos antigos patrões e que assustava os empregados para darem informações da vida pessoal dos nobres. O certo é que ela existiu e praticou vodu, porém o resto é lenda.

O dono do bar parou repentinamente a sua explicação. Os visitantes ficaram atentos a cada palavra que ele dizia.

— Tem uma outra lenda que diz que Marie Laveau não morreu. Ela supostamente vive naquele pântano amaldiçoado e que mata quem se aventura por lá. Acreditam nessas coisas?

— Claro... que não — respondeu Louis, tremendo.

Kyla agradeceu a explicação do dono do bar. Para ela e os demais, as lendas, não passavam de uma besteira.

— O que achou daquela explicação do dono do bar? — Nick perguntou enquanto caminhava atrás da namorada.

— Um sujeito loquaz e que deve ganhar a vida amedrontando os turistas. A mim ele não me engana. Denise fora assassinada e eu vou descobrir como isso aconteceu. Bruxa no pântano? Sinto muito, mas não estamos no filme da Bruxa de Blair.

O guia turístico continuou bebendo um pouco no bar. Louis ficou impressionado com a explicação do mais velho.

— Estou desesperado. Sou um guia iniciante, apesar dos meus quarenta e dois anos. Essa bruxa me deixou com o coração na mão.

O dono do bar gargalhou.

— Vamos ser sinceros. Isso é só lenda. Amanhã quando você for ao pântano, no máximo, um crocodilo daquele arranca teus membros.

— Isso não é menos pior.

Do lado de fora do hotel, havia um tipo de pracinha com alguns bancos e mesas de concreto. Alguns hóspedes eram vistos circulando pra lá e pra cá. O trio sentou-se num banco.

— Então, a partir de amanhã iremos bem cedinho para Akers. Esse papo de bruxa rainha do vodu é mais falso que a bunda da Nicki Minaj.

— Mas você acha que a sua irmã foi assassinada?

— Sim.

— Temos duas opções — falou Tina —, ela morreu assassinada por um animal ou morreu assassinada por um humano.

— É, mas o último vídeo que ela gravou parece estar fugindo de algo. Um crocodilo jamais faria aquele espanto todo.

 

REC - 05.17.2016 - 05:55

— Acorda, Bela Adormecida. Temos um trabalho pela frente — disse Gael, acordando Denise de dentro da barraca.

— Deixa eu dormir mais um pouquinho...

— Nada disso. Precisamos encerrar as filmagens até amanhã. O Brian acordou e está de mimimi no meu ouvido.

Denise, ainda sonolenta, levantou-se e colocou a mão na lente da câmera a fim de Gael parar de filmar.

A filmagem cortou para a cena em que Denise escovava os dentes. Um som de música tocou ao fundo.

— Isso é Guns N' Roses?

— Claro que sim. A banda mais foda da América! — esbravejou Gael enquanto ouvia uma música pelo Spotify.

— Os dois, melhor se aprontarem. Vamos sair em dez minutos — falou Brian.

Mais um corte, agora com Denise cantando November Rain com Gael enquanto caminhavam pela floresta.

 

When I look into your eyes

I can see a love restrained

But darlin' when I hold you

Don't you know I feel the same?

'Because nothing' last forever

And we both know hearts can change

And it's hard to hold a candle

In the cold November rain

 

We've been through this such a long long time

Just tryin' to kill the pain

But lovers always come and lovers aways go

And no one's really sure who's lettin' go today

Walking away

If we could take the time to lay it on the line

I could rest my head

Just knowin' that you were mine

All mine

 

So if you want to love me

Then darlin' don't refrain

Or I'll just end up walkin'

In the cold November Rain

 

— Eu adoro Guns N' Roses! — esbravejou Denise.

 

— Eu também, mana. Eu também — Kyla pôs o celular em cima da mesa e se deitou na cama. Nick a abraçou por trás e os dois dormiram de conchinha.

...

No dia seguinte, o trio tomou um café da manhã no bar do hotel. Por volta das sete horas da manhã, Louis chegou num jipe preparado para guiar os turistas ao local do pântano. Colocaram as mochilas e entraram no carro. Durante o trajeto, um silêncio perdurou por minutos.

— Ninguém quer falar nada?

— Falar o quê? — retrucou Tina.

— Sei lá. Qualquer coisa. Vocês são muito silenciosos. Enfim, se não vão falar, eu falo. Eu me chamo Louis Fawcett, tenho quarenta e dois anos, estou há dois meses trabalhando como guia florestal e sou muito medroso com lendas urbanas. Já fui casado, sou divorciado e não tenho filhos.

— Gostei do joguinho. — Tina se apoiou no encosto do assento de Louis, pois ela estava logo atrás. — Meu nome é Tina Green, sou lésbica, ou seja, gosto de mulher pra caralho, gosto de me vestir com roupas masculinas e ter esse cabelo curto. Curto rock, odeio Lady Gaga e cantoras semelhantes, sou pegadeira, pego as minas mesmo. Eu sou muito feliz, sou uma piada ambulante. Esses dois são os namoradinhos, Nick e Kyla. Ela é jornalista e trabalha numa emissora lá na minha cidade. Não gosta de frutos do mar, vive pouco nas redes sociais e tem vinte e nove anos. O Nick... sei lá, conheci esse cara ontem.

— Parece que temos uma fiscal aqui, hein? — ironizou Nick.

— Louis, chamo-me McKayla Kocian ou Kyla Kocian. Mas pode me chamar de KK se quiser.

— Tudo bem KK. Estamos quase chegando.

Quase duas horas de carro, os quatro chegaram na pequena cidade de Manchac, ao lado do pântano homônimo. A cidadezinha era pacata, apesar do ano ser 2017. Uma igreja protestante em frente a uma pracinha era o único prédio histórico daquele lugar. Mães levando os seus filhos à escola, pessoas indo trabalhar ou estudar, comerciantes abrindo os seus comércios, moradores colocando os animais para passear, ou seja, um lugar normal.

— Precisamos falar com o policial Neil. Ele é o responsável principal da cidade e não vai liberar o nosso passeio para Manchac se irmos sem a autorização dele. Houve uma série de desaparecimentos lá e a polícia não quer que ninguém vá lá — explicou Louis.

O policial Neil olhou os documentos dos visitantes. Um homem alto, negro, ostentador de um bigode proeminente, com uma barriga saliente. Fez uma cara amedrontadora que fez Tina tremer de medo.

— Sabem que ocorreram desaparecimentos naquela floresta. Sabem disso?

— Sim, senhor. Mas estamos preparados para qualquer imprevisto — respondeu Kyla.

— Sujeitos como vocês sempre vêm à esta cidade querendo alguma aventura naquela floresta. Eu sempre proíbo, mas acabam indo mesmo assim. Estão com sorte, porque desta vez vou liberar. Este ano ainda não ocorreu nenhum incidente. Só não busquem confusões.

Kyla agradeceu ao oficial Neil. Estavam liberados para acamparem no pântano.

O passeio com o jipe durou mais alguns minutos. Atravessaram a ponte perto do lago Maurepas e logo chegaram a uma casa que servia de ponto de parada para os turistas. Eles viram alguns carros parados em frente, mas quase nenhuma pessoa. Entraram na propriedade e ficaram aguardando sentados, perto de um balcão onde um rapaz novo e alto atendia.

— Próximo — o jovem chamou KK para autorizá-la ao passeio de barco pelo pântano.

— Nossos documentos e o aval do oficial Neil.

— Vocês vão acampar em Manchac? São muito corajosos. Se bem que há tempos não ocorre nenhum incidente.

— Acho que isso é pra nos deixar felizes. Odeio florestas, rios, lagos. Lembra que há mosquitos canibais sugadores de sangue humano — falou Nick sentado na cadeira de espera em frente ao balcão.

Tina não suportou esperar mais, estava apertada para ir ao banheiro. Avisou a Nick que se ausentaria por alguns minutos.

O atendente foi até uma estante e entregou o documento do barco para o guia responsável. Louis agradeceu ao homem.

— Ora, ora, seu nome é McKayla Kocian. Kocian é um sobrenome um tanto famoso.

— É só coincidência mesmo.

O atendente encarou Kyla como se conhecesse o seu nome há muito tempo. Logo após explicou que havia um pescador morando no pântano e, caso precisassem de alguma ajuda, poderiam pedir a ele. Kyla agradeceu a informação.

Tina procurou desesperadamente pelo banheiro feminino. Depois de muito procurar, conseguiu encontrar a porta. Abriu e deparou-se com uma mulher. Esta achou estranho um "homem" entrar ali, mas Tina explicou rapidamente o mal entendido. Entrou numa das cabines, sentou em um dos vasos, mesmo estando sujo de urina. Não se importou muito e fez xixi ali mesmo.

A porta do banheiro abriu, uma pessoa entrou. Tina viu, por baixo da porta, um par de botas pretas. Será um par de calçados de uma mulher? Ficou em silêncio e não se atreveu a sair antes do sujeito estranho ir embora. Sons estranhos foram produzidos ali no banheiro, como um apito bem baixinho. Aquilo realmente assustou a moça. Assim que o ser saiu daquele recinto, Tina também se apressou para ir embora.

— Galera, aconteceu uma coisa sinistra. Uma pessoa, acho que um homem, entrou no banheiro feminino. Ele usava botas pretas e utilizava um tipo de apito. Fiquei me cagando de medo.

— Uma pessoa de bota? Como podem ver, não há ninguém de botas neste lugar. Também não passou ninguém parecido com isso. Se passasse, eu veria, pois a entrada é aqui do lado.

— Não estou inventando. Kyla.

— Tina, ninguém disse que você está inventando, amiga. Melhor irmos embora de uma vez.

— Boa sorte na jornada de vocês, senhorita Kocian.

Kyla olhou pela última vez para o atendente. O rapaz riu enquanto a encarava.

Louis ficou encarregado de levá-los aos confins do pântano por meio do lago que o banhava. Entraram num barco a motor e seguiram o destino pelas águas do Maurepas. À medida que avançavam, o cenário daquele local ficava mais inóspito e claustrofóbico. Os cipestres — típicos daquela região — pareciam ter formatos medonhos, tal como as árvores do Halloween. Além de outras árvores com galhos secos, folhas amareladas. A água do pântano era turva em uma mistura de um verde quase limão com lodo e fungos à beira das águas.

Louis engoliu em seco, estava com medo, pois jamais fora pra um lugar como aquele. Apesar de ainda nem ser meio-dia, Manchac era assustador, com muita sujeira natural proveniente do lodo, musgos e folhas secas que caíram. A maior preocupação do guia são os crocodilos que, vez ou outra, aparecem de surpresa perto do barco dos visitantes. Mais de trinta minutos passando por aquela região, o motor parou bem no meio da água. Havia árvores por todos os lados e uma profundidade de mais ou menos um metro de água, suficiente para um crocodilo se esconder. Todos ficaram preocupados, inclusive a calma Kyla.

— Droga. Não será nada bom pararmos aqui. Pesquisei sobre esta parte e vi que há mais incidência de crocodilos. Sequer podemos sair caminhando — explicou Louis, tentando dar a partida no barco.

Nick puxou Tina imediatamente da beirada do barco assim que vira um crocodilo com a boca muito próxima a ela.

— Estamos encurralados. Não conseguiremos sair nem se fosse caminhando — afirmou o rapaz.

Um cheiro de carne apodrecida surgiu por todos os lados. O odor fétido ficou ainda mais forte quando um outro barco se aproximou deles. Um homem aparentando ter seus quase sessenta anos, grisalho e caracterizado por um boné típico pescador, apareceu. Ele retirou de um balde, pedaços de vísceras e jogou na água. Além disso, uma cabeça de porco fora arremessada para que o animal saísse de perto dos visitantes.

— É melhor não querer encarar esses caras. Eles adoram um braço ou uma perna.

— Obrigada por nos salvar, moço — agradeceu Kyla.

— Vejo que precisam de uma ajudinha. — Ele pegou uma corda e pediu para que a amarrasse no barco defeituoso. Logo o pescador conseguiu levá-los em segurança, haja vista o seu barco era maior e mais potente.

Kyla viu que estavam se aproximando da parte mais ampla do pântano. Parecia um rio esverdeado e cheio de galhos no meio. Uma cabana no meio das águas. O local em que o pescador vivia.

— Essa é a minha casa. Não é lá um luxo, mas sobrevivo como posso.

Ele colocou os barcos amarrados num tronco ao lado e pôs os pés num tipo de passarela de madeira. Levou-os para dentro da cabana.

— Querem alguma coisa? Café, água?

— Um pouco de água, por favor — falou Nick.

O pescador foi até um frigobar e pegou uma garrafa gelada. Explicou que a sua cabana não era ligada a rede elétrica, por isso funcionava à base do fusível. Os quatro beberam o líquido gelado.

— Vocês, gente da cidade grande, costumam se aventurar nesses matos. Só porque possuem GPS, celulares via satélite, entre outras coisas, acham que estão seguros num lugar como este.

— Como assim? — perguntou Kyla, interessada no que o velho falava.

— Digo... há muitas coisas ruins oriundas deste lugar. Se eu fosse vocês, tomaria mais cuidado.

Louis engoliu a saliva seca, temeroso com o que o pescador dissera. Tina não era assim tão medrosa, mas desconfiava do homem. Nick e Kyla continuaram indiferentes quanto à explicação do sujeito.

— Aposto que não vieram para foderem no meio do mato. Vocês não têm cara de jovens turistas. Algo que podem me contar?

— O senhor é o mesmo homem desta filmagem. — Mostrou o vídeo pra ele. — Lembra daquela mulher do programa do Discovery, que veio com mais dois e depois sumiram dias depois? Ela era a minha irmã.

— Eu me lembro muito bem dela. Não era uma moça simpática. — Pegou uma machete, um depósito cheio de peixes e começou a tratá-los. — Quando chegou aqui quis ser a dona do pedaço, mesmo não sabendo de nada sobre este lugar.

— E o que tem neste lugar?

— A Bruxa de Nova Orleans. Todo mundo sabe que ela é imortal e que mata esses caras que andam desprevenidos. Deviam saber disso.

— Por Deus. Isso é conversa para boi dormir. Não há nada que prove que ela ainda esteja viva por aí — retrucou Nick.

— E nem que ela não esteja. Entenda, nada pode ser provado. Eu até vi, num dia de chuva, uma pessoa andando com um casaco de pelo de urso pardo. A pessoa tinha pelo menos um metro e oitenta, tinha longos cabelos como... igual como o Bob Marley usava...

— Dreadlocks? — disse Tina.

— É a palavra certa? Enfim, tipo rastafári. Vi flutuando na água enquanto levava um pedaço de víscera de algum animal. Foi algo bem... perturbador. Principalmente quando ouvi um som peculiar de um apito.

Tina arrepiou dos pés à cabeça. Também ouviu o som de apito no banheiro pouco tempo antes.

— Ah, por favor, meu senhor. Sabemos que essa história de bicho papão da floresta só existe em filmes B ou em programas sensacionalistas que buscam, por exemplo, Pé-Grande — replicou Nick.

— Se é o que vocês acham... Só vou logo avisando que a mágica ocorre quando o sol se põe. — Ele deu um golpe forte com a machete, partindo o peixe no meio.

— Tudo bem, senhor. Obrigada por nos ajudar lá atrás. Meu namorado e o senhor Louis aqui vão ver o barco para continuarmos.

— Tojo. Podem me chamar de Tojo.

Kyla foi a última a sair da cabana. Nick e Louis consertaram o motor do barco e puderam fazê-lo funcionar mais uma vez. Tojo observou o quarteto ir embora.

...

— É aqui que a gente se separa. Estamos no limite em que o meu trabalho autoriza ir. Agora é com vocês.

Kyla agradeceu a ajuda essencial que Louis deu a eles. O guia falou para chamá-lo, caso precisassem de ajuda. Despediram-se. Louis voltou para o barco e navegou nas águas do pântano. Já o trio rumou pela floresta densa e húmida, numa parte mais alta e longe da ameaça dos crocodilos.

Por volta de onze da manhã, encontraram um declive que dava para ver uma ravina vinte metros adiante. Viram no Google Earth essa parte do pântano, que era a melhor pois ficava dez metros da superfície da água.

— Vamos armar um acampamento por aqui mesmo. Preciso que me ajudem nas barracas — disse Nick num breve momento de liderança.

Minutos quebrando a cabeça na formação das barracas, o trio finalmente pode conseguir descansar após o término daquele trabalho. Realmente deixou-os bem cansados.

— Aqui será a nossa sede. Graças aos aparelhos por satélite, não há como perdermos este acampamento. Daqui a pouco vamos explorar o local, não estamos aqui para passeio.

— Nem me fale, amiga. Eu nem sei por que concordei em vir contigo. Nunca pensei que estar num local infestado de crocodilos seria tão ruim. E aquele pescador todo esquisito?

— Pois é. Eu pensei que você iniciaria uma verdadeira sabatina com o homem, mas resolveu ir logo embora.

— Ele falou mal da minha irmã. Por mais curiosa que eu fiquei, não suportei aquele senhor falando aquilo dela. Bom, antes de buscarmos respostas, precisamos comer.

Nick retirou da mochila algumas marmitas com comida para cada um deles. Aproveitaram o momento de pausa para se alimentarem bem, beberem bastante água e descansarem um pouco. Dentro de uma das barracas, Kyla trocava de roupa e Nick praticamente a comia pelos olhos.

— Que foi?

— Nada. Só achando bonito o que é meu.

— Hum, espertinho. Mas não estou a fim de transar contigo. Pelo menos não enquanto estivermos neste pântano durante esses dias.

— Nem com o som de Jennifer Rush?

— Nem com o dela.

Kyla retirou da mochila uma fotografia dela, adolescente, com a sua irmã. Na imagem as duas estavam juntas numa praia em Miami. Bons tempos.

— Sente muita falta dela, não é?

— Demais...

Tina trocou de roupa, saiu da barraca para respirar um pouco mais de ar puro e foi caminhar um pouco enquanto os outros descansavam. Como uma boa atleta amadora, gostava de caminhar, correr, fazer cooper. Era sempre o mesmo ritmo todos os dias de manhã. Parou perto da beirada do riacho do pântano, uns duzentos metros longe do acampamento. As águas daquele local era sempre cheia de musgos, lodo e sujeiras causadas pelas árvores e animais. Sequer dava para pôr a mão ali.

O cantar dos pássaros, o vento do verão de julho, o clima ameno e a solidão davam ao local um ar de paz. Era calmo até demais.

Chutou um galho de árvore. Descobriu algo tenebroso, horripilante, que a fez cair no chão e correr desesperadamente chamando pelos amigos.

— Tina, onde está? — questionou Kyla após ouvir os gritos e seguir a amiga.

— Lá. — Ela apontou para a direção do riacho.

Nick seguiu Kyla até o local onde Tina chutara o galho. Foi uma surpresa. Uma mão humana apodrecida. Dava para ver os ossos completamente, a carne putrefada e uma aliança no dedo anelar. Era uma mão esquerda, indicando que a pessoa era casada.

— Quem poderia ter feito tal barbárie?

— Não mexe, Nick. Que nojo.

— Esse aliança... — Kyla respirou fundo, retirou o objeto do dedo e depois lavou a mão. Olhou para aquilo e reconheceu na hora. — Este anel é do produtor de minha irmã, Giancarlo Brian.

— Como sabe?

— Se prestasse atenção nos vídeos, Nick, saberia disso. Tá vendo que há ranhuras na lateral? Tem uma parte do vídeo que Denise dá close na mão dele e fala da esposa dele.

— Amiga, preciso ver isso logo.

Nick tirou uma foto da mão cortada. Eles foram embora dali.

Kyla pegou o celular, que estava dentro da mochila, e mostrou a filmagem. Na gravação, os três ainda estavam num hotel em Nova Orleans. Denise pegou a câmera de Gael e filmou Brian enquanto ele fazia uma ligação. Nesse momento, a apresentadora filmou a mão esquerda do produtor e mencionou algo acerca do casamento do mesmo. Com o vídeo pausado, dava para ver quase nitidamente as ranhuras na aliança.

— Puta merda. Mataram o cara. Precisamos sair daqui logo — disse Tina, tendo um pequeno surto.

— Eu cheguei aqui, não vou voltar agora que estou descobrindo coisas sobre aquele dia. Minha irmã merece ser justiçada!

...

Louis continuou no barco em direção ao lago. No entanto, o motor parou outra vez. O guia amaldiçoou aquilo, tentou dar algumas partidas, puxando a corda.

— Essa droga nem remo tem. Merda!

Depois de algumas tentativas fracassadas, o guia foi surpreendido por uma batida no fundo do barco. Ficou assustado. Mais algumas outras batidas, e ainda mais fortes que a anterior.

— O que está havendo?

Cabana do Tojo

O oficial Neil apareceu na porta da cabana a fim de falar acerca dos visitantes. O pescador atendeu prontamente o policial. Ambos se conheciam desde a vida jovem, quando Manchac sequer era um ponto turístico.

— Neil, faz tempo que não aparece por aqui. Deixe-me adivinhar o motivo: 3 visitantes e 1 pântano?

— Falou com eles?

— Sim, falei. Parece que a irmã daquela moça que desaparecera há um ano está aqui.

— O que falou para ela?

— A verdade, meu camarada. Falei para a dondoca que a irmãzinha dela era uma chata de plantão. Ainda me lembro que aquela vagabunda ficava me enchendo de perguntas. Aquela cadela no cio.

— Parece que não consegue ter o bom senso nas palavras, colega. Vê se não assusta os garotos com essa baboseira de bruxa do pântano. Sinceramente, é a coisa mais absurda que ouvi em minha vida.

Neil saiu da cabana e entrou no bote da polícia. O policial estava acompanhado de mais dois colegas de farda. Tojo, com raiva, arremessou a machete, cravando-a na parede de madeira.

De volta a Louis...

Depois das três batidas, nada mais aconteceu. Louis tentou algumas vezes, fracassadas, de dar a partida. Pegou o celular, tentou se comunicador com as autoridades locais por meio de um aplicativo. Outra batida. Uma pessoa, com longos cabelos em dreadlocks, surgiu da água e puxou o homem imediatamente. O barco virou. Louis se debateu, desvencilhou e saiu nadando desesperadamente até a margem. Viu a pessoa desconhecida ir na sua direção e saiu correndo pela floresta.

A floresta era úmida, com o solo quase escorregadio, raízes altas e árvores com troncos finos. Era quase impossível achar um esconderijo seguro. Louis perdera o celular quando caiu na água, por isso estava incomunicável.

— O que foi isso, senhor? O que era aquilo?

O som agudo de um apito soou entre as árvores. Louis ficou encostado numa árvore, respirando rápido por causa da corrida que dera. Suou constantemente. Assim que o barulho estranho acabou, sentiu-se aliviado.

— Ainda bem...

Um fio de nylon enlaçou o seu pescoço. Quem fez isso estava atrás da árvore, atrás da vítima. Louis debateu-se ao ter o seu pescoço estrangulado por um fio. A força a bruta era tanta que os olhos do homem ficaram vermelhos e o rosto roxo. O guia morreu em poucos segundos.

...

A descoberta da mão decepada de Brian foi muito oportuna. Abriu um leque de interpretações, a principal sendo a do sequestro e morte de Denise e seus companheiros. Kyla ficou sentada num tronco, fora da barraca, analisando a aliança.

— O que vamos fazer agora? Ficar aqui e esperar alguém nos atacar? 

— Tina, eu preciso encontrar evidências sobre a minha irmã. Depois que vi a mão do Brian, não posso simplesmente fingir que nada aconteceu e ir embora. Relaxa.

Kyla falou para Nick e Tina se prepararem para a caminhada em seguida. Eles passarão o dia naquele pântano.

— De acordo com uma das filmagens, Denise viu uma cabana de longe, mas não teve coragem de entrar. O lugar fica ou ficava no meio dessas árvores, escondido de tudo. Dizem que o local é amaldiçoado. Precisamos encontrá-lo.

O trio caminhou quase um quilômetro de distância. Viram a famigerada cabana que apareceu na filmagem de Denise. Toda feita de tábua, bastante carcomida e aparentemente abandonada.

— Aonde você vai? — Tina puxou a colega quase num impulso.

— Vou entrar. Se quiserem, fiquem aqui.

Nick preferiu seguir a namorada a ficar com Tina. Os dois forçaram a porta de madeira — não fizeram praticamente nenhum esforço, haja vista a porta era bem deteriorada —, entraram naquele ambiente completamente empoeirado e com teias.

— E agora, amor?

— Aqui que Denise se escondeu pouco antes de ser morta. Nesse momento ela já havia perdido Gael e Brian. Alguém os matou e estava atrás dela.

 

REC - 05.18.2016 19:00

Denise, com apenas a câmera na mão, escondeu-se na velha cabana abandonada. Trancou-se, vetando a passagem com um armário velho.

Na filmagem, dava para ver a sua expressão de medo, desespero e ansiedade. A filmadora ficou sobre uma mesa perto da janela. Ela, com o rosto fora do foco, observava a movimentação do lado de fora. Um momento depois, viu algo ou alguém, pegou a câmera e se trancou num banheiro sujo e fechou a porta.

— Aqui é Denise Kocian, apresentadora do Mistérios do Mundo. Digo que toda a minha equipe, formada por duas outras pessoas, foi completamente acabada. Todos já estão mortos! — Ela chorava, tremia a câmera e respirava ofegantemente. — Quero deixar essa mensagem para a minha irmã mais nova, Kyla. Não venha, pelo amor à sua vida. Fique longe deste pântano. Certos mistérios devem ficar ocultados.

Um barulho da porta externa sendo arrombada assustou ela. A pessoa misteriosa entrou na cabana e começou a bater na porta do banheiro.

— Oh Deus! Ele está aqui! Eu vou morrer...

As batidas cessaram. Denise achou que a pessoa desistiu de tanto bater. Ledo engano. Arrombou com tudo e puxou a repórter. Denise deixou a câmera cair atrás do vaso sanitário. Seus gritos acompanharam o barulho de pancadas, talvez por causa que ela se debatia. Na gravação não dava para ver quem a capturou.

 

— Pesado — afirmou Nick.

— Assisti a isto uma centena de vezes. Alguém a seguiu durante algum tempo, entrou neste lugar e a raptou dentro do banheiro. — Denise caminhou até chegar numa porta de madeira. O ferrolho estava quebrado do lado de fora. Dentro, um vaso sanitário sujo, seco e fedendo à urina. Uma banheira velha, cheia de crosta de sujeira, uma cortina rasgada, lâmpada queimada e um chuveiro que não saía água.

— Aqui que a minha irmã deixou cair a câmera. Atrás do vaso sanitário.

— E quem entregou a filmagem à você?

— A polícia local me enviou. Mas os vídeos estavam editados demais e, provavelmente, boa parte deles foi destruída.

— Destruída por quem? Sua irmã?

— Não. — Levantou-se e saiu do banheiro. — Acho que a pessoa que fez isso com eles conseguiu essa filmagem antes.

— Ou pode ter sido alguma conveniência. A sua irmã desvendava "lendas regionais", e isso despertou a fúria de quem fatura nisso.

Kyla olhou para o namorado, deu-lhe um beijo e o parabenizou pelo estupendo raciocínio. Só podia ser isso!

Tina, ainda do lado de fora, caminhou para a lateral da casa. Havia uma varanda, com madeira desgastada e muito entulho na frente. Ao lado, mais alguns entulhos como madeiras, pedaços de móveis e muito mato grande. A garota visualizou uma peça de retalho no chão, pegou e levou para a amiga.

— Encontrei isto. — Mostrou para Kyla.

— Onde encontrou isto? Onde!? — falou quase esbravejando.

Kyla explicou que aquele pedaço sujo de roupa era da blusa de sua irmã. De um ímpeto, ela correu para fora e foi para a lateral da casa.

— Precisamos retirar esse entulho. Precisamos!

— Kyla, Kyla, controle-se. Vamos ter um monte de trabalho pra retirarmos essa montanha de lixo — falou Nick, colocando as mãos no rosto dela, tentando acalmá-la.

— Teu namorado tem razão. Tenha pena da gente, por favor — implorou Tina.

— Sim, gente. Estou muito transtornada com essa história do desaparecimento da Denise.

Escutaram uma trovoada e deduziram que logo choveria por toda aquela região. Retornaram para o acampamento. Tina desarmou a sua barraca, haja vista a sua estava com um rasgo. Os três dividiram a principal.

— Nosso dia acabou. Está uma chuva torrencial lá fora. — O Nick entrou por último.

— Preciso ligar para o oficial Neil.

Kyla pegou o celular. A voz do policial Neil apareceu no viva-voz.

— Não passaram um dia sequer e já estão em apuros?

— Policial Neil, precisamos de ajuda. Encontramos provas de que minha irmã fora assassinada, e que os seus amigos também.

— Pensei que estivessem em Manchac a passeio. Quem deu autorização a vocês a brincarem de grupo de busca?

— Senhor Neil, escuta...

— Não, senhorita Kocian. Mandarei meus oficiais irem pegá-los. Essa brincadeira acaba aqui.

— Oficial Neil? Oficial Neil... Merda! Ele desligou na minha cara.

— Ótimo. Nem a polícia acredita na gente. O que faremos agora, amiga?

— Por ora é melhor nos deitarmos. Precisamos descansar. Pelo jeito a chuva não passará tão cedo — enunciou Nick.

McKayla anuiu. Nada tinham o que fazer enquanto a chuva caía.

Os três se deitaram. Nick ficou no meio das duas. Ele, na brincadeira, pôs a mão na coxa de Tina, que retirou imediatamente.

— Da fruta que tu come, eu faço batida.

Nick riu do comentário.

...

Pântano Manchac - 15 de julho de 2017 / 16:00

Nick abriu os olhos. A chuva havia parado minutos antes. Ele ficou sentado na barraca, olhou para Kyla, que ainda dormia. Notou a ausência de Tina, mas não deu muita importância.

O pântano ficou bem mais úmido após a breve chuva. O nível da água subiu consideravelmente, porém não chegou a comprometer o acampamento. Nick respirou o ar limpo por um momento.

— Acordou, amor.

— Cadê a Tina? Está escurecendo.

Um grito ecoou por toda aquela região. O casal reconheceu imediatamente a voz da amiga. Correram quase que instintivamente. O som do grito partiu de perto de onde acharam a mão. Nada encontraram. Kyla ficou chamando insistentemente pela amiga. Um som de apito fora escutado pelo casal, perceberam que deixaram a barraca sozinha.

— O que está havendo aqui, Nick?

— Não faço a mínima ideia. Ou é a sua amiga que quer fazer uma pegadinha ou é outra pessoa.

Ambos voltaram correndo para o acampamento. Nick pisou numa armadilha para urso e teve a perna esquerda mutilada. Gemeu de dor e caiu no chão. Kyla ficou desesperada ao ver a situação deplorável que o namorado se encontrava. A dor que Nick sentia era atroz, além de sangrar muito.

— Calma, amor. Vou retirar isso imediatamente. — Ela forçou a armadilha até liberar a perna dele.

Nick ficou incapacitado de andar normalmente e precisou da ajuda da mulher. Eles foram para o acampamento.

Um cheiro de fumaça. A barraca, as mochilas, os celulares, todos os equipamentos estavam sendo queimados. Havia uma pessoa irreconhecível, usando um tipo de casaco cheio de pelos,cabelos enormes em dreadlocks e todo sujo, botando fogo em tudo. Olhou para a direção dos dois.

— Merda — sussurrou Nick.

Ambos fugiram dali. Por causa da perna de Nick, não puderam ir muito longe.

— Kyla, foge sozinha.

— Não.

— Droga, ele está chegando. Salve a sua vida. Eu fui mutilado e sou apenas um peso morto. Eu te amo.

— Também te amo.

— Vai!

Kyla obedeceu ao pedido do namorado e correu. A criatura se aproximou de Nick.

Ela, aos prantos, correu para uma direção aleatória. Estava começando a se assustar, apesar do seu gênio forte e ceticismo.

Encontrou a cabana abandonada de antes. Era o único lugar que poderia se abrigar. Entrou.

— Meu Deus — falou ao ver o corpo de Louis estendido no chão.

Kyla não era uma Scream Queen como nos filmes de terror, mas sentia bastante medo. Mexeu no corpo com o pé, apesar de saber que aquilo não acordaria o homem.

Fechou a porta velha da entrada, pegou uma mesa velha para bloquear o caminho. Se pelo menos estivesse com o celular! Viu pela janela de vidro a criatura se aproximar. Não estava acreditando em bruxa, todavia começou a rever os seus conceitos.

A suposta bruxa batia na porta, tentando arrombá-la a qualquer custo. Kyla, esperta, ficou empurrando a mesa. O algoz parou por um tempo. Quebrou o vidro da janela. Kyla viu um pedaço de cano, pegou e golpeou com força a cabeça do invasor. Isso fez com que ele ou ela saísse atordoado dali.

Pingos de sangue no chão revelaram que a "bruxa" era um ser humano normal disfarçado, que provavelmente estava assustando os visitantes.

— Eu sei que não é bruxa coisa nenhuma. Sei que está provocando essas mortes e que matou a minha irmã. Quando eu tiver uma oportunidade, entregarei você às autoridades. Prepare-se, pois o policial Neil está a caminho.

As batidas na porta ficaram ainda mais violentas. A pessoa misteriosa utilizou de um machado para destruir a porta e assim forçar a entrada. Sem muita chance, Kyla correu para dentro do banheiro. Aquele local pequeno não tinha saída. Era o tudo ou nada.

A porta do banheiro também foi forçada. Os golpes de machado permitiram a passagem do algoz. Kyla se afastou, talvez esperando que fosse morrer ali mesmo. Entretanto, a pessoa misteriosa agarrou a mocinha com força, forçando-a a sair do banheiro. Ela se debatia com força. Levou uma pancada forte na cabeça, desmaiando em seguida.

...

O Último Ato

Kyla acordou ainda na velha cabana. Pela luz da lamparina, já deve ser noite e escuro. Tentou formular as ideias na mente, pois a pancada a deixou tonta. Depois de dois minutos, foi que ouviu uma voz familiar.

Tina chamou-a várias vezes. Ela fora capturada pela bruxa e, após Kyla ter sido apagada, foi amarrada numa cadeira. Kyla percebeu que também estava sentada e amarrada.

— O que está acontecendo, Tina? Onde você estava?

— Eu me acordei mais cedo do que vocês, pois a chuva havia parado... fui caminhar um pouco e alguém me pegou por trás. Vi a criatura me olhar, soltei um grito e desmaiei de medo.

— E ainda brinca que é "macho", Tina.

— Eu sou um macho covarde.

A pessoa misteriosa apareceu diante das duas. Ficou mexendo nos objetos que havia roubado do acampamento.

— Eu sei que essa história de bruxa é papo furado. Quem é você? Revele-se!

A pessoa olhou para ela e riu. Retirou a máscara com o rosto desfigurado, em seguida o cabelo enorme em dreadlocks. Por fim, livrou-se daquele casaco.

— Você?

— Quem é esse?

— O rapaz que nos atendeu hoje cedo. Aquele que nos alugou o barco, lembra?

O rapaz guardou a fantasia de Halloween e voltou com o machado na mão.

— É isso mesmo. A bruxa sou eu — falou ele, gargalhando logo em seguida.

— Foi você quem matou a Denise, não foi? É você quem mata as pessoas. Que tipo de ser humano é você?

— Isso é uma acusação muito grave, senhorita. Certo que fui eu quem assustei vocês e o grupo da sua irmã, mas matar... não.

— Ele tem razão. Como podia ser ele, se eu vi um cara assobiando dentro do banheiro feminino?

O rapaz olhou pela janela, vendo alguém se aproximar.

— Você tem razão. Eu sou só o peão na lenda da bruxa de Manchac. O verdadeiro causador dessa história e assassino da sua irmã acaba de chegar.

A pessoa responsável pela lenda local e mortes entrou. O homem usava as mesmas botas de pescador que Tina vira.

— Você?! Não pode ser!

— Olá, senhorita Kocian. Meu garoto lhe deixou à vontade? — perguntou o policial Neil.

— Senhor, o corpo do guia enterrei do lado de fora.

— Ele teve a infelicidade de cruzar o meu caminho logo após eu ter visitado o Tojo.

— Além dessas duas, tem este cara aqui. — O rapaz abriu uma outra porta e retirou Nick, que estava amarrado e amordaçado.

Kyla viu o namorado com a perna sangrando e pediu para que eles não o fizessem mal.

— Está vendo, Tristan. A moça está querendo algumas condições. Será que eu acato?

Neil viu Tina chorar compulsivamente. Aproximou-se da moça e apontou a pistola no seu rosto.

— Por que está chorando?

— Por favor... moço. Não me mate.

— Engraçado. Enquanto a sua amiga implora pela vida do namoradinho, você implora pela sua. Quanta falta de humildade. Tive uma outra ideia. Quero que fale para mim "Eu quero me sacrificar no lugar dos meus amigos." Que tal?

— Quê? Não posso...

— É claro que pode. Você é muito mais forte que isso. Agora começa a falar. Eu...

— Não fala, Tina — disse Kyla, levando um tapa do policial.

— Eu...

— Eu...

— ... quero me sacrificar...

— ... quero me sacrificar...

— ... no lugar...

— ... no lugar...

— ... dos meus amigos.

— ... dos... dos... meus...

— Amigos. Amigos!

— Eu não posso. Eu não posso!

— Covarde. — Ele apontou a pistola no peito de Tina e deu um tiro à queima-roupa, matando-a rapidamente. Kyla gritou ao ver a amiga morrer.

— Por que está fazendo isso?

— Por quê? Vou explicar o porquê. A safada da sua irmã estava disposta a desvendar a farsa que é a lenda da bruxa de Manchac. Eu não permitiria que uma branquela da cidade grande atrapalhasse os meus planos. A lenda só se manteve viva por causa da minha família, que é descendente direta de Marie Laveau. Sim, ela é a minha ancestral e morreu como qualquer ser humano natural. Décadas depois, viram Marie vagando por esta região, mas nunca provaram nada. Assim a minha família se aproveitou desse fato para lucrar, pois eram pobres e ex-escravos. Hoje eu lucro bastante com a visita desse pessoal do show business. Um homem tem que se alimentar, não é? E a sua irmã queria estragar tudo, revelando a farsa para o mundo. Foi uma questão de tempo até dar um fim nisso. Mas parece que esse problema ainda não acabou. Nunca imaginaria que a irmã dela viria xeretar na minha região. Próximo ano virá quem? O primo? A tia, o tio?

— Eu sabia que alguma coisa estava estranha. Os vídeos gravados por ela com a câmera amadora estava editados até demais.

— Conveniência, senhorita. Foi a pura conveniência. Antes de ser um assassino, sou um policial. Honro com as minhas obrigações. Mas não permitiria soltar aquele material quente me incriminando. Sim, sua irmã me filmou escondida e eu a matei. Joguei o seu corpo no pântano. Serviu de jantar para os crocodilos. Enfim, está na hora de matar os dois. Escolhi o garanhão ali.

Neil apontou a pistola na cabeça de Nick. Uma ligação do rádio da patrulha interrompeu o velho policial. A mensagem era de que havia uma briga entre pescadores e que um saiu ferido.

— Droga. Preciso sair por alguns minutos. Fique de olho. Se alguém fizer gracinha, mate.

— Pode deixar, chefe — assentiu Tristan.

Neil saiu da cabana, caminhou por mais de quinhentos metros e chegou ao local da ocorrência. Segundo a localização pelo aplicativo, a ocorrência era perto da lagoa, porém nada havia ali.

— Maldição — pegou o celular e ligou para Tristan.

Na cabana, um celular tocou sobre a mesa. Tristan atendeu, mas não teve tempo de falar com o seu chefe. Levou um tiro nas costas dado por Tojo.

— Não se preocupem. Tirarei vocês imediatamente. — Pegou uma faca e cortou as cordas. Ajudou a levar Nick.

— E a Tina?

— Meu bem, a sua amiga está morta. Vai querer ficar aqui e ser a próxima ou me ajudar a carregá-lo.

Os três saíram da cabana e entraram no pântano. A intenção do pescador era de ajudá-los e a entregar Neil às autoridades.

Neil viu a cabana vazia e o corpo de Tristan. Voltou para o seu barco e pegou o rifle sniper. Entrou do bote, deu a partida.

— Vamos, entrem no meu barco. Tenho provas que incriminam o desgraçado do Neil.

— Por está nos ajudando? — questionou ela.

— Porque o meu filho morreu nesse pântano supostamente pelas mãos da "bruxa". Descobri que a bruxa era mais viva do que eu quando, no ano passado, roubei um apito. Se um monstro usa sons esquisitos, pra que usar o apito. Foi um ano de pesquisa para chegar à conclusão que Neil estava envolvido. Odiei a sua irmã porque ela chegou numa hora ruim, pois atrapalhou as minhas investigações.

Ele deu a partida no barco para navegar até o lago.

— Ele está muito ferido. Foi mutilado horas antes.

— Estou bem. Só preciso ficar quieto por um momento.

— Temos que estancar este sangramento. — Retirou a camisa quadriculada e amarrou na perna de Nick.

Um tiro na água. Kyla olhou para trás e viu Neil num bote poucos metros de distância. Tojo pediu para a moça pilotar o barco enquanto ele trocava tiros com o policial. Tojo utilizou uma espingarda, Neil um rifle com telescópio.

Conseguiram chegar no local onde os botes e barcos eram alugados. Desceram na passarela de madeira e subiram alguns degraus. O pescador continuou atirando, despistando Neil.

— Aquele maldito pescador me paga. — Parou o bote longe, mirou e atirou na cabeça de Tojo.

Kyla viu o homem que a ajudara cair morto ao chão. Estava sozinha com o namorado e nada poderia fazer contra um homem como Neil.

— Aqui é o policial Neil Maroney. Tenho uma ocorrência de assassinato. Dois suspeitos. Homem branco, entre vinte e cinco a trinta anos, cabelos castanhos curtos, olhos pretos, tem uma pinta na bochecha direita, veste uma camisa polo cinza. Uma mulher branca, loira, trinta anos, veste uma camisa branca com uma camiseta também branca, calça militar e um sapato preto. Eles estão sujos e mataram quatro pessoas.

— Fazendo o registro, oficial Maroney. Mandaremos uma viatura para averiguar.

O mal em forma de pessoa. Neil não se preocupou com a fuga deles, haja vista serão levados à delegacia.

Kyla e Nick entraram no jipe de Louis. A chave era guardada no porta-luvas. Ela deu a partida e foi embora com o namorado.

Na estrada, um carro da polícia ligou a sirene assim que os viu. Nick pediu para Kyla não parar, porém ela fez o contrário.

— Mãos para o alto. Suspeita encontrada.

— Policial, temos que explicar. O assassino é o oficial Neil.

Nick apontou um revólver na direção do policial. Pediu para que o fardado abaixasse a arma.

— Filho, você é um dos suspeitos de matar pessoas hoje. Apontar uma arma para um policial, por si só, é um crime.

— Desculpa, seu guarda — disse ele, atirando nos pneus da viatura.

Nick viu os faróis de um carro. O policial foi pedir ajuda. Neil baleou o colega de farda e perseguiu o casal no jipe.

— Filho da mãe! Deixa a gente em paz! — esbravejou Nick.

O carro de Neil bateu lateralmente contra o jipe. Ficaram nesse ritmo até saírem da estrada pincipal e pegarem um caminho secundário. Arrombaram um portão velho de um terreno baldio.

— Malditos. — Atirou várias vezes no jipe. Sem sucesso.

O jipe capotou e caiu perto de uma fábrica abandonada. A viatura bateu num poste.

— Oh, Deus! Nick. Nick. Levante-se. Vamos sair daqui.

— A minha perna...

Kyla arrastou o rapaz com tanta força que forçou a perna ferida dele, voltando a sangrá-la. Nick estava suado, devido à perda de sangue contínua. Eles foram para dentro do prédio abandonado.

O casal entrou numa fábrica de caminhões desativada há muitos anos. Ainda dava para ver as carrocerias velhas e enferrujadas.

— Temos que nos esconder.

Kyla viu uma escada para o andar superior. Subiram até o segundo andar.

Neil deu um tiro no ombro de Nick e apontou o rifle para a cabeça de Kyla. Esta deu vários passos. Poucos metros para o fim daquele piso que dava para fora. A queda ali seria considerável.

— Podemos conversar...

— Pela primeira vez, durante quarenta anos, uma pessoa me deu tanto trabalho assim. Tive perdas significativas graças à uma vagabunda branquela da Flórida. Quais são as suas últimas palavras?

— Espero que vá para o inferno — respondeu ela.

Neil estava para atirar quando Nick deu um tiro na perna do vilão. Ele se virou para matar Nick, mas Kyla agarrou o homem por trás e o puxou.

— NÃO!!! — gritou Nick.

Os dois caíram de uma altura de dois andares. O rapaz se arrastou até a beirada e viu a sua namorada deitada ao lado de Neil. A queda foi feia. Talvez ela tenha morrido... Desceu com muita dificuldade até chegar a ela. Ainda estava viva, mas com uma perna quebrada.

Neil acordou, deu um soco em Nick e tentou enforcar a moça. Apesar dos seus ferimentos e a perda de sangue, ele ainda tinha muita força.

— Vai morrer. Nem que pra isso seja a última coisa que eu faça em vida.

Nick apontou o rifle. Neil tentou negociar, mas o rapaz puxou o gatilho.

— O quê?

— Não atirou? Deixa eu explicar a vocês. Eu sou um profissional experiente. Trato com a criminalidade todos os dias. Já matei muitos tanto naquele pântano quanto em serviço. Acha mesmo que vocês, bando de mauricinhos, conseguem sobrepujar-me? Hã? — Chutou Nick e pegou a arma. — Dá próxima vez destrave-a.

Um tiro.

Neil caiu no chão depois de ter levado um tiro do policial que ele havia tentado matar.

...

Nick e Kyla foram levados para o hospital. As autoridades locais, a princípio, pensaram que o casal era responsável pela série de assassinatos. Entretanto, o policial confirmou que Neil estava envolvido, pois ouvira o que ele disse pouco antes de matá-lo.

O pesadelo no Pântano Manchac terminou.

Tampa, Flórida - 2 Semanas depois.

As duas semanas que sucederam a internação do casal no hospital foram intensas. Um detetive os visitou algumas vezes. Tiveram que prestar depoimentos mais de uma vez. O corpo de Tina fora levado para casa, houve o velório e o enterro.

— Estou exausta — murmurou Kyla indo para o quarto com ajuda do namorado. A moça usava um par de muletas para se locomover. — Vai pra onde?

— Vou ficar aqui na sala, amor. Qualquer coisa me chame.

Nick recebeu as fotos tiradas por Tina enquanto estavam no pântano. Ele recebera por email e ficou mexendo no celular. Uma das fotos mostrava uma selfie de Tina. Ao fundo, um rosto de uma mulher negra atrás de uma árvore.


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Notas finais do capítulo

Aham! O final que resolvi inserir, deixando em aberto. Quem será a mulher do final?

Espero que tenham gostado. Até a próxima (que vai demorar porque slc 9 mil palavras)

Letras das músicas:

Power of Love - Jennifer Rush
November Rain - Guns N' Roses



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