“Ser profundamente amado por alguém nos dá força, amar alguém profundamente nos dá coragem.”

Lao-Tsé

Adalynd Doddyson

— Eu vou vomitar de novo, droga! – Ameacei jogando novamente minha cabeça na direção da privada sentindo Spencer seguras meus cabelos pra cima rapidamente. – Eu odeio o nosso chefe! Porque ele tinha que inventar essas malditas palestras? Eu vou mesmo vomitar de novo!

— Não vomita de novo princesa, por favor, porque eu teria que lavar e escovar o seu cabelo todo de novo. Sem contar que não que eu esteja reclamando, mas tirar o cheiro do primeiro e o segundo vômito foi quase impossível, então nada de vomitar nele de novo, por favor. Só respira devagar, é apenas uma palestra de no máximo uma hora pra Academia de Criminologia antes que as turmas se formem Lynds, você consegue fazer isso e sobreviver no fim do dia! – Encorajou Spencer fazendo carinho em minhas coisas sentado ao meu lado no chão do banheiro. – Eu entendo que esteja apavorada e quando eu comecei das primeiras vezes também fiquei desconfortável por ter que falar num palco para um monte de gente me encarando, mas você não vai estar sozinha. Junto vão estar JJ, o Morgan, o Hotcher e a Callahan.

Era de se dar risada e chorar em seguida! Eu não tinha medo do perigo em si de certa forma, até gostava um pouco da adrenalina que a concentração proporcionava durante as investigações, não tinha medo de ficar cara a cara com psicopatas e me trazia paz quando os colocávamos na cadeia, mas dar palestras, ficar diante de dezenas de pessoas que vão me encarar com atenção e provavelmente vão rir da minha cara quando eu gaguejar estava além do que eu conseguia aguentar.

— Eu odeio o nosso chefe! – Praguejei novamente encostando minha cabeça no peito do meu doce gênio.

— Você já disse isso minha pequena. – Respondeu Spencer com um pequeno sorriso compreensível abraçando a cintura dela com cuidado fazendo-a se aninhar ainda mais a ele. – Ninguém me escalou para a palestra dessa vez porque como eu disse será coisa bem rápida, além disso, você não será a única a falar ou responder algumas perguntas eventualmente feitas pelos alunos, mas eu posso falar com Emily e o Hotcher pra ver a possibilidade de estar lá com você também. Isso faria você se sentir melhor?

— Eu quero tanto beijar você agora por ser tão doce e cuidar de mim o tempo todo com faz Spence. – Falei sorrindo mesmo que ele não pudesse ver, porém o senti ficar tenso embaixo de mim.

— Escova os dentes primeiro, por favor! – Disse Spencer me afastando-se de leve fingindo pânico. – Você não tem ideia dos germes que estou ignorando por você, mas isso já é demais.

Simplesmente caímos na gargalhada com as palavras dele, mas é óbvio que após escovar meus dentes duas vezes cobrei pelos beijos e mesmo ainda me sentindo desconfortável fomos para a Academia encontrar o restante da equipe já que mesmo que nem todos fossem falar ainda assim iam para assistir a minha desgraça.

Eu já havia dito o quanto estava verdadeiramente odiando o meu adorável e insano chefe?

Porque eu o estava odiando tanto.

Algumas horas depois estávamos reunidos atrás da cortina do palco esperando que fossem nos chamar e se eu vomitei de novo quando cheguei lá? Graças a Deus isso não havia acontecido, mas eu ainda estava nervosa, andava de um lado pra outro.

— É a sua primeira vez? – Perguntou Kate Callahan ao me lado.

— Sim e eu estou odiando cada segundo porque não gosto de falar em publico. – Respondi forçando meus pés a pararem.

— Eu entendo perfeitamente como se sente, mas vai sobreviver e se surpreender em como essas palestras acabam rápido. – Disse ela tentando fazer graça para me distrair e funcionou um pouco, mas mesmo assim eu estava em pânico por dentro. – Spencer vai estar na plateia dessa vez, mas vai sentar num lugar visível, você pode focar nele enquanto estiver relatando a sua parte.

— Isso ajuda um pouco, eu acho. – Falei dando de ombros sorrindo fraco sentindo ela me abraçar. – Obrigada pela força.

— Cinco minutos pra começarmos pessoal. – Avisou uma moça sumindo entre as cortinas rapidamente.

Respirei bem fundo sentando na cadeira que continha o meu nome, ajeitando pela décima vez o microfone em meu rosto, sentindo algo segurar minha mão e apertar e ao olhar para o lado percebi que era Morgan que em resposta sorriu e me soltou no momento que as cortinas se abriram e naquele momento em silencio pedi apenas para me controlar o bastante para não vomitar ali mesmo.

A palestra estava correndo bem por enquanto e eu saia disso simplesmente porque ainda não tinha sido minha vez de falar já que era por sequência de cadeira e eu era a segunda a falar, JJ a terceira sendo o Morgan o ultimo que falaria e talvez Hotcher o acrescentaria alguma coisa no final.

— Agora a Agente Adalynd Doddyson sendo a mais nova em nossa equipe vai contar um pouquinho de suas experiências desde que entrou para a nossa equipe. – Disse Hotcher sorrindo para a plateia e então voltando seu olhar pra mim. – Adalynd conte como funciona nosso processo de perfilhamento de um suspeito, sendo você tendo participado de varias perseguições em campo e também ajudado a montar vários dos perfis mais difíceis.

Respirei bem fundo me colocando em pé, sorri um pouco e quando estava prestes a entrar em pânico encontrei os olhos que me faziam ir às nuvens me encarando da plateia e apenas me mantive o encarando.

— Boa tarde a todos e obrigada pelo convite, é uma honra estar aqui essa manhã sendo que não faz tanto tempo que eu era uma de vocês. Bem, em primeiro lugar devo dizer que cada caso que pegamos tem sua particularidade e sendo assim montar perfilhamento do assassino, perseguidor ou quem quer que seja o nosso suspeito é sempre um desafio. – Comecei dando a volta na mesa parando bem no meio do palco sempre mantendo meus olhos nos de Spencer que sorria parecendo fascinado em me ver ali. – primeiro é preciso entender o modo de operação do suspeito e isso é meio que o ponto chave para uma margem de suspeitos. Morgan?

— Obrigado Agente Adalynd, sim o perfil que montamos baseado nas pistas que encontramos pode ajudar bastante nas buscas pelo culpado, mas não se engane que isso é 100% a única coisa com o que contar porque nem sempre acertamos o perfil de primeira. – Continuou Morgan calmamente colocando-se em pé também, porem caminhando um pouco pelo local. – Vou dar exemplo de um caso que foi um dos mais surpreendentes que já tivemos, aconteceu em Los Angeles, o caso envolvia mulheres na casa dos 30 anos foram encontradas mortas por asfixia enroladas em tapetes, lençol ou algo do tipo. Quando surgiu a terceira vitima fomos chamados por surgir um padrão. JJ?

— Obrigada Agente Morgan, bem após algumas investigações perfilamos que o suspeito não era um compulsivo sexual comum afinal não havia sinais de estupro, então percebemos que a asfixia era a substituição pra isso e com a ajuda da nossa analista Garcia, nós descobrimos algo perturbador, era algo que honestamente eu acho que falo por toda a equipe quando digo que nos abalou. Segundo relatos de algumas testemunhas se tratava de um dos nossos, pelo menos foi assim que se fez parecer uma vez que o assassino sendo um homem branco na casa dos 35 anos agia e falava como um de nós. Adalynd prossiga, por favor?

— Morgan está certo em falar do choque entre a equipe, mas então o perfil mudou de novo pra uma nova perspectiva, tínhamos uma pista maior após montarmos uma espécie de emboscada que quase deu errado visto que um dos nossos quase foi ferido seriamente, por isso não sejam agentes arrogantes nesse aspecto porque não importa a intensidade do caso sempre andem com coletes de proteção. – Falei sempre mantendo meu foco em Spencer que sorria cada vez mais também sem tirar os olhos de mim um momento sequer e isso me passava confiança - Tratava-se de um ex-detento recolocado na sociedade após passar quase 10 anos na prisão onde o comportamento sofisticado e a necessidade de se alto afirmar foi uma característica necessária para sua sobrevivência e depois de sair isso despertou como um gatilho que sempre existiu, mas estava adormecido, ele teve problemas no colégio envolvendo asfixia, quando pegamos as coisas ficaram intensas e o assassino acabou morto.

Finalmente Hotcher subiu ao palco finalizando algumas considerações sobre o caso e também para cumprimentar os alunos, quando finalmente fomos para a saia lateral procurei por Spencer que havia sumido entre a multidão, então senti braços envolvendo minha cintura cuidadosamente, virei o corpo entrelaçando meus braços no pescoço de Spencer que apenas juntou nossos lábios e me ergueu no ar.

— Você foi magnifica meu amor, simplesmente brilhante! – Disse Spencer me soltando e então entrelaçando nossos dedos. – Eu não estou de carro, vamos pra casa do Rossi hoje, então vamos com a Emily tudo bem? Ou podemos ir pra casa se quiser.

— Ah meu Deus, é aniversario dele não é? – Perguntei arregalando os olhos ao me lembrar. – Droga, eu realmente esqueci.

— Sabemos disso, por isso vim falar com você, nós vamos enrolar o Rossi um pouco porque as meninas estão indo para a casa dele nesse momento preparar uma festa surpresa. – Explicou Spencer puxando-me para o estacionamento.

Seguimos para os carros, mas antes fizemos Rossi parar num bar com a desculpa de comemorarmos o sucesso com a palestra e funcionou então como ele não estava de carro pegou carona com Morgan então entramos na casa dele e todos gritaram “SURPRESA”.

Havia dado um pouco de trabalho fazer tudo às escondidas, mas graças a Garcia conseguimos localizar a filha dela e a trouxemos escondida junto com o marido e seu filho para a casa dele num dos jatinhos da UAC – o que provavelmente nos renderia uma bela bronca quando Hotcher e Emily descobrissem, mas era de certa forma uma emergência e ele ficou tão feliz.

Aquela era a família que a vida havia me dado e eu os amava.