Castle Of Glass escrita por AnnyeCS


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa ficlet a algum tempo, eu tava muito pra baixo, eu não gosto de espelhos quando tô assim, dá vontade de quebrar todos porquê eu não gosto de que vejo, é foda.
O titulo se deve ao fato de eu ter escrito isso escutando link park.
Nos vemos la embaixo.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746873/chapter/1

Você está sob o chuveiro, e não sabe dizer a quanto tempo a água cai sobre seus ombros, só consegue pensar que já faz quase um ano, é pouco tempo, mas para você é uma eternidade.

A realidade que vê a sua volta, para você, não faz o menor sentido, como o fato de você ter uma casa e poder chamá-la de lar, por muito tempo você acreditou que isso jamais voltaria a acontecer, e isso soa estranho, um estranho bom.

Depois que você saiu daquele lugar, depois de anos enclausurado em uma cela, e dos anos anteriores em que se via preso em um ciclo de ódio, você se pegou sendo capaz de apreciar coisas mínimas, porém significativas. O simples ato de olhar para o céu, se permitir realmente vê-lo e lembrar dos olhos dele o faz se sentir bem, as broncas que ela te dá já não incomodam mais, apesar de você fingir que sim, a companhia silenciosa do seu antigo sensei é bem vinda, poder andar livremente nas ruas sem precisar de disfarces tem outro significado agora, poder deitar a cabeça no travesseiro e realmente dormir sem preocupações, pois sabe que tem alguém que vela pela tranquilidade do seu sono é.…Reconfortante. Coisas simples e triviais são o que você mais aprecia.

Você finalmente desliga o chuveiro e sai do banheiro, se enxuga e analisa o próprio corpo, não lembra,  nem de longe, o rapaz bonito e arrogante que foi assediado por boa parte da juventude, você está magro, muito magro, consegue contar as costelas uma a uma com a ponta dos dedos e esse é um dos motivos pelo qual ela briga tanto, mas é a magreza que te faz desviar o olhar do espelho, são as cicatrizes que estão por toda parte resultadas de treinos incansáveis afim de conseguir uma vingança que se mostrou sem sentido, de batalhas travadas, algumas com pessoas que deveria proteger,  de missões das quais não se orgulhava. Então você, mais uma vez, percebe que se sente feio, sujo e que não há banho que te faça se sentir limpo novamente.

Você se sente como se estivesse quebrado em muitos pedaços, como um quebra cabeças de peças surradas, algumas peças substituídas e algumas peças faltando, como seu braço que não está mais ali, mas que quase todas as noites te faz gemer de dor¹ e te faz lembrar que quase morreu, que quase o matou.

Por entre as frestas do cabelo molhado, você vê o rinnengan refletido, mais uma lembrança de que você já não é mais o mesmo, que agora você é um quebra cabeça surrado e desconhece as peças que te completam.

Você não gosta de espelhos, porque você nunca realmente se viu neles, você via seus objetivos, ser como seu irmão, odiar e matar seu irmão, se vingar daqueles que te enganaram, você via uma trilha escura e fria a seguir, mas com um fim certo.

Você não percebe que pôs a única mão sobre a superfície fria do espelho, não, você está lembrando do toque trêmulo na sua testa, da sensação viscosa e do cheiro ferroso, sente um desejo desesperado de voltar para o banho, você se sente sujo, o sangue ainda está em você.²

Não sente o espelho rachar, não sente o corte ou o sangue verter do ferimento, você está perdido em um vórtice de desespero e autopunição.

Como? Você se pergunta, como você está tendo a vida que tem depois de tudo que fez?  Depois de tudo que disse? Você machucou tantas pessoas, de tantas formas diferentes. Você não se acha merecedor, você acredita que deveriam ter  te esquecido naquela prisão para sempre.³

E então você sente um toque sutil no ombro, e logo braços estão ao seu redor, um destes protegido por bandagens, sobre suas cicatrizes, ele não se importa em olhá-las ou tocá-las, diz que contam sua história, seus erros e acertos, que falam sobre quem você é e que ele também tem as próprias.

A respiração bate leve em seu pescoço, e você volta a si quando a mão enfaixada toca a sua, ensanguentada, que agora você sente arder e latejar levemente. Você volta os olhos ao espelho e vê nos olhos azuis reflexos de carinho, preocupação... Amor, e mais uma vez nos últimos meses você gosta do que vê, apesar de achar que não merece, mas você sempre foi um pouco egoísta. Vocês estão juntos desde antes de você ser solto, ninguém sabe dizer ao certo como aconteceu, nem mesmo você ou ele, mas para todos isso parecia inevitável. Vocês sempre foram aos extremos um pelo outro.

Ele, que contra tudo e todos, nunca desistiu de você, que sempre esteve lá se sacrificando e lutando enquanto você se afogava em ódio e vingança. Você mais uma vez sente que não o merece.

Ele beija seu pescoço delicadamente e te leva até a cama e logo vai ao banheiro pegar a caixa de primeiros socorros, o curativo é simples, feito com tanto cuidado que você quase não o sente. Você se vê chorando silenciosamente por esse cuidado tão singelo, porque, de novo,  você lembra que quase o matou. Ele enxuga suas lágrimas e lhe dá um beijo suave, o abraço que segue é apertado, mas só assim você sente que pode respirar novamente, ele é seu tudo, sempre foi.

—Eu tô aqui - Ele te diz baixinho, como se fosse um segredo só de vocês.

Você não sabe o que vai resultar dessa relação, o futuro é um caminho desconhecido e imprevisível a ser trilhado, mas, assim como o homem que lhe abraça com tanto amor, é uma imprevisibilidade boa, pela primeira vez.

Você se permite olhar para o espelho, agora rachado, e finalmente vê o que por muitos anos, cego pelo ódio, tristeza e vingança, não se permitiu enxergar.

Você não está sozinho.

Você nunca esteve.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ Sasuke não tem mais boa parte do braço, mas ainda sente dor nesse local, isso é conhecido como dor fantasma ou síndrome do membro perdido, muito comum entre soldados que perderam membros na guerra.
² Como devem ter notado, o Sas dessa fic tá com depressão, e ele se culpa e se pune muito por tudo que aconteceu, e então ele se sente como se ainda estivesse sujo de sangue, tão fodido psicologicamente que sente o cheiro de sangue.
³ Eu não faço ideia do que aconteceu no gaiden, mas aqui depois da guerra o Sas foi preso, por 5 anos, e a primeira coisa que o Naruto fez ao se tornar kage foi soltar ele, mas Sasuke acha que não merece isso por causa de todas as merdas que ele fez.
# Então, vamos bater um papo sobre o que vocês acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Castle Of Glass" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.