Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 8
VII. De todos os contratempos do mundo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, meus pandas! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746861/chapter/8

 Eu costumava pensar que aquela época seria a mais estranha da minha vida. Eu pensava que conviver diariamente com o Alex, em um mesmo colégio, enquanto partilhávamos de um segredo que nenhum dos dois esperava partilhar, seria a situação mais inconveniente que viveríamos juntos. 

É claro, conhecendo Alex, era de se esperar que eu estivesse completamente enganado. 

Eu viria a descobrir, em um futuro não tão distante assim, que aquele seria o menos pior dos contratempos que envolveriam nós dois. E, principalmente, o próprio Alex. 

A verdade é que Alex é feito de contratempos, de circunstâncias divergentes, que se sobrepõem umas nas outras para fazer dele quem ele é. Alex é uma bomba desarmada, prestes a explodir ou a implodir, e a nossa função como amigos era aguentar o tranco. Nosso dever era ampará-lo, mesmo que tívessemos que sustentar todos os destroços de sua explosão - que atingiriam diretamente ao redor dele -, ao invés de deixar com que ele implodisse com as tantas desventuras que o envolviam. 

Não havia muito mais que pudéssemos fazer a não ser deixar o destino seguir seu curso. 

O problema, para mim, é que eu sempre fiz parte deste destino. E o segundo problema é que eu nunca considerei isto um problema. 

*

Eu admito.

Me recusei a conversar com Alex a respeito do que eu havia descoberto naquela noite e, ainda por cima, por puro egoísmo. Eu não queria escutá-lo. E depois de muito raciocinar a respeito do motivo, eu logo percebia a falha no meu sistema. 

Alex não é o primeiro garoto que gosta de garotos que eu conheço. E não havia nada de errado nisto, eu sabia, eu sentia. Só que, depois de haver dito e repetido para o meu irmão que eu não me importava com quem ele saísse, percebi que eu não estava sendo completamente honesto. Ou eu estava, e novamente houvera sido infectado com o preconceito alheio, como sementinhas que são plantadas em nossa mente sem que saibamos a respeito. Era óbvio para mim: eu me importava com quem Alex saía, e muito, e demais, e exageradamente. 

Com um suspiro, ajeitei a mochila nas costas. 

Eu preciso me livrar deste preconceito antes que ele crie raízes! 

— E aí, Caleb? — cumprimentou Mason, distraído com o celular. 

Retirei a mochila das costas, sentando-me ao seu lado. Recém havia chegado ao colégio, tão perdido em pensamentos que parecia haver se passado menos de um minuto da minha casa até ali. 

— E aí? — murmurei, jogando a mochila no chão e relanceando o celular dele. — Qual o jogo da vez? — perguntei, sem muito interesse. 

O que eu queria mesmo era saber onde estava a fonte do caos de Hybridfield. Ou melhor, com quem ele estava. E, mais especificadamente ainda, se ele estava com aquele loiro irritante. 

Varri o pátio do colégio com os olhos, procurando pelo garoto dos olhos escuros, mas demorei um tempo até encontrá-lo. Já não mais surpreendentemente, avistei Alex com os seus colegas, conversando e rindo em um canto próximo ao portão. Haviam poucos deles porque percebi que, assim como o Ian, a maioria não tem despertador. Deve ser algo típico de ensino médio, e Ian havia herdado mais cedo, assim como a altura e a voz engrossada. Mary Jane estava ali, é claro, em algum lugar abaixo do braço de Alex, que conversava com Ben ao ignorá-la. 

Suspirei, encarando meus tênis surrados. 

— Ian não chegou ainda, então...? — murmurei, meio que de forma automática. 

O silêncio ao meu lado fez com que eu erguesse os olhos e encontrasse os azuis de Mason, analíticos até a alma, em mim. O celular tinha a tela apagada e estava jogado em seu colo, enquanto que seu corpo estava virado na minha direção. 

— Desculpa, Mason, você tinha dito alguma coisa? — perguntei, em cima da outra pergunta, embora tivesse a leve impressão de que eu é que havia dito alguma coisa antes, e não ele.  

Mason ajeitou os óculos no rosto, soltando um suspiro ao desviar os olhos para o ponto exato onde os meus anteriormente estavam, e voltá-los a mim logo em seguida. 

— Eu tinha respondido a sua pergunta. Lembra qual era? — questionou, de volta. Arqueei as sobrancelhas, percebendo que ele sabia que eu não lembrava. — Qual é o lance com o Alex? 

Quase me engasguei com o próprio ar, tentando disfarçar o nervosismo um segundo depois. 

— O quê? 

— Olha, Caleb, você sabe que eu falo bastante, não é? — perguntou, mas como de costume, não esperou uma resposta. — Então deve saber que foi muito difícil pra mim ficar quieto este tempo todo a respeito de vocês dois, já que eu esperava que você me contasse algo. — Pisquei algumas vezes, ajeitando minha postura, enquanto sentia as mãos começarem a suar frio. — Só que você não me disse nada até agora! — exclamou, abrindo os braços. — Então eu tive que perguntar, e você não pode reclamar que eu perguntei, porque eu esperei bastante e agora não aguento mais! Então, pelo amor de Odin, qual é a de vocês? 

Abri a boca, esperando que saísse algum som, mas logo a fechei outra vez. 

Na real, eu não sabia exatamente ao que Mason estava se referindo e não queria cometer o erro de cair em uma armadilha. 

Sim, eu estou partilhando de um segredo com Alex. Só que o segredo é... secreto. Mason não tem como saber sobre o lance de garotos do Alex, e o lance de garotos do Alex, apesar de eu ter ciência do fato, não tem absolutamente nada a ver comigo. Eu só acabei descobrindo por coincidência. E eu não acho que estivesse escrito em nossas testas: bluetooh de segredos. 

Mason provavelmente estava falando de toda a bizarrice que envolvia o Alex e a forma como ele se portava. 

Depois daquela noite, Alex nada mais tentou falar. E sim, eu me senti um tanto culpado, porque só depois disto me ocorreu que talvez ele realmente precisasse falar sobre o assunto com alguém. Mas eu não pude fazer mais nada depois disto. Era como se aquele fosse o momento de "agora ou nunca" para que conversássemos a respeito, mas o momento havia passado. Eu deixei passar. 

E agora estávamos naquele clima sobrecarregado. 

Nos primeiros dias, Alex ficou meio estranho comigo - sim, mais do que o normal -, como se não soubesse o que dizer ou como agir. Eu também me sentia assim. Afinal, não é como se ele tivesse me contado algo por conta própria, ou eu tivesse perguntado por conta própria, eu apenas descobri sem querer. 

Bom, com um pouco de querer, mas eu não sabia atrás de que eu estava indo. 

Aos poucos, ele retomou a postura de antes, voltando a falar comigo e agir da mesma forma "Alex" de sempre. É claro, isto mudava um pouco quando estávamos juntos e o tal do Jillian - o loiro aguado - passava por nós todo olhares para o Alex. Isto já havia acontecido duas vezes, e em ambas, eu podia jurar que as orelhas de Alex ferviam ao me relancear. E eu fervia de ódio, também, e não me orgulho. 

Mas isto foi o máximo que aconteceu. 

E, apesar de eu saber que Mason é analítico e perceptivo para tudo, tipo 24/7, eu não tinha certeza se ele era capaz de ler mentes. 

Ou ele também sabia de algo? 

Eis a questão. 

— Eu não... — comecei, franzindo o cenho — ... sei o que você quer dizer. 

Mason parecia ferver na tentativa de explicar do que falava. 

— Vocês são muito estranhos — limitou-se a dizer, por fim. 

— E você não é? — retruquei, ofendido. 

Mason revirou os olhos. 

— Não, vocês — deu ênfase, alargando um pouco os olhos azuis para ver se eu entendia — são muito estranhos. Juntos. Ele fica te abraçando o tempo inteiro e você deixa, e você nem gosta de contato humano! — Abri a boca, ofendido mais uma vez, mas ele não me deixou falar: — Você fica mais quieto que o normal, o que é bizarro, e ele fica te tratando como se fosse um urso de pelúcia. E vocês recém se conheceram! — exclamou, estalando a língua. Urso de pelúcia? — Vocês são como uma piada interna, o tempo inteiro, na minha cara, e eu não entendo a droga da piada porque não tem piada nenhuma! E você sabe que eu odeio quando eu não entendo sobre o que as pessoas tão falando. Eu tenho que saber, Caleb. É o que faz de mim quem eu sou — dramatizou, enfim. 

O silêncio que se seguiu, contrário ao som de vozes do pessoal e dos poucos carros que passavam na rua não asfaltada da frente, prolongou-se mais do que o desejado. Demorei um tempo analisando as expressões - diversas delas! - faciais que tomaram o rosto já avermelhado de Mason, pelo aparente desabafo. 

O quê?

— O quê? 

— Argh, Caleb! — exclamou, dando um peteleco na minha cabeça. Esfreguei, quase que imediatamente. Doeu. — Você ainda tá dormindo? 

— Não — murmurei, tentando fazer o tico e o teco funcionarem. — Não! — reforcei, esfregando a cabeça. — Eu só... Às vezes, eu não entendo suas analogias — confessei, ainda tentando pôr em ordem o fato de eu ser uma piada com o Alex e o fato de não existirmos, já que depois foi dito que a piada não existia, e o fato de atrapalharmos o Mason de ser quem ele é. Mason revirou os olhos. — E não tem nada acontecendo — menti, desviando o olhar. 

Suspirei, relanceando o sorriso no rosto dele, lá ao longe, antes de focar minha atenção no rosto acalorado do loiro. 

— Alex é estranho, assim como todos nós — acrescentei, deixando claro que Mason não saía desta categoria —, e você só tá levando um tempo pra se acostumar com ele. E eu também. 

Mason não parecia satisfeito com a minha resposta, mas ainda assim, se forçou a pensar a respeito. — Pode ser — concordou ele, desviando o olhar, antes de teimar —, mas não é só isto. 

Esperei por mais, sentindo meu estômago se retorcer. Mas ele ficou em silêncio por um tempo, parecendo pensativo, e nem um pouco agradado. 

— Você me contaria se houvesse algo pra contar, não é? 

Uma facada dessas, Mason? 

Foi naquele exato instante que eu percebi que caí na armadilha.

Para mim, era óbvio que Mason não acreditava nas minhas mentiras. Porque, acima de tudo, ele sabe quando eu estou mentindo. Ele sabe quando tem algo de errado, mesmo apenas na boca do estômago, ele sempre sabe. Além disso, eu provavelmente sou um péssimo mentiroso. É de família. E apesar de Mason parecer um zero à esquerda naquele corpo pequeno, óculos grandes e pele quase albina, eu sabia melhor do que isto. Não falo que ele seria um bom detetive à toa, ele é naturalmente bom nisto.

Mason é foda. 

E, intencionalmente ou não, ele havia me colocado em uma armadilha. 

Eu vou ter que mentir e ele vai saber que estou mentindo. Droga.

Eu não podia simplesmente sair por aí contando segredos que não me pertenciam. Eu nunca invadiria a privacidade de alguém desta forma, mesmo que o próprio Alex parecesse sempre invadir a minha. 

— Claro — menti, por fim, engolindo em seco. E com isto, me senti na necessidade de dizer ao menos uma verdade na história toda: — Você é meu melhor amigo, Mason. 

— Ei! — reclamou Ian, que recém chegava e ouvira minha última sentença. 

Forcei um riso, desconfortável com o olhar estranho de Mason por sobre mim. — Você é o melhor amigo de Mason e eu posso ser o seu. Pronto — resolvi, abrindo os braços. 

— Não — negou ele, rindo ao sentar-se do outro lado de Mason. — Mason também é o meu. 

Ian passou um dos grandes braços em torno dos ombros de Mason e puxou-o para um abraço desajeitado, enquanto o loiro fazia uma careta. 

— Ei! — reclamei, rindo, de forma semelhante à de Ian. 

— Você pode ser o de Alex, já que ele ficou fora desta — acrescentou Ian, soltando Mason e levantando-se ao som do alarme do colégio. 

Mason e eu nos entreolhamos, mas apenas soltei o ar pelo nariz, balançando a cabeça e juntando minha mochila ao levantar. Como se Ian fosse muito engraçado. 

Não era. 

Eu amava Ian de todo o coração, mas Mason realmente era meu melhor amigo. Talvez pelo simples acaso de eu tê-lo conhecido um ano antes de Ian, e este haver sido um tempo a mais de aproximação que eu nunca teria com o Cunningham, mas ele sempre havia sido. Mason me salvou da mais completa solidão, apesar de soar um pouco dramático, já que durante um ano inteiro, eu não tivera amigo algum no colégio. 

Chris era meu único amigo quando eu era bem menor, e quando ele se mudou de cidade, eu fiquei completamente sozinho. Isto é uma completa desgraça para um garoto de oito anos. Então, no ano seguinte, Mason apareceu, todo esquisito com o cabelo lambido e óculos muito grandes para aquele rosto fino, além das roupas engomadas que sua mãe insistia em vestir nele. Não tínhamos absolutamente nada em comum além da comum nerdisse e os jogos, mas o meu estranho, de alguma forma, encaixava perfeitamente com o estranho dele. 

Ian apareceu um ano depois, como um selo de ligação, não tão alto em comparação à nós naquela época, com a voz um pouco esganiçada e pouco peso para um garoto alto. Era ele quem faltava em nossa panelinha. Mason foi o que o trouxe para perto de nós, com piedade do coitado, que não encontrava uma dupla sequer naquela turma cheia de crianças chatas. Foi a nossa primeira dupla de três. E assim, elas sempre se repetiram. 

Então, é de se entender o meu receio quando Alex chegou e eu pensei que ele era apenas um empecilho não digno de confiança. Acontece que de todos, Alex resultou ser o mais estranho de nós, já que não combinava com a gente. E exatamente por ser tão diferente, tão chamativo, tão comunicativo, tão cheio de amigos, é que ele nos completou tão bem. 

É óbvio que eu jamais diria isto em voz alta. 

E eu estava me sentindo tão culpado, agora que estávamos todos nos acostumando uns com os outros, por sentir um pouco de ódio de Alex por sua sexualidade. Eu nunca fui assim. Eu sempre fui o pacífico da família e do meu grupo de amigos. Eu nunca fui o preconceituoso. E eu certamente não sou de sentir ódio. Eu não sinto ódio. 

Só que eu sentia de Alex e daquele garoto loiro. Ah, como eu sentia! 

Acabamos não trocando palavra alguma com o Alex antes de entrarmos na sala de aula. Ainda bem. E dentro dela, tive que fazer o possível para ignorar toda a vibe desconfiada de Mason para comigo. 

Um saco. 

Fiquei desenhando por um tempo, rabiscando em meu caderno de aula. Era mais ou menos assim: uma folha continha conteúdo de aula, e duas continham rabiscos, depois tinha uma que continha metade da folha com palavras desconexas da aula, e haviam mais três de rabiscos. 

Não era à toa que minha mãe vivia reclamando que, se eu não tomasse jeito, acabaria ficando para trás. Minhas notas não eram as mais bonitas, mas eu nunca me permitia reprovar. Quando minhas notas baixavam demais, eu me esforçava um pouco além e conseguia fazê-las subir. Era fácil. E minhas anotações eram uma merda, mas eu geralmente conseguia prestar atenção na aula enquanto desenhava. 

Ora, atenção agora apenas se dá de acordo com a visão? Eu preciso ter os olhos na professora para entender o que ela fala? 

Demorei a perceber o formato que os rabiscos tomavam ao longo dos movimentos do lápis. Mesmo assim, continuei, inclinando-me sobre a folha para que ninguém ao redor visse do que se tratava. Eu odiava aquelas folhas pautadas, mas era o que tinha no meio da aula. 

Quando finalizei, praticamente ao mesmo tempo em que o sinal soava, deparei-me com os olhos escuros de Alex. Ocupavam a folha inteira, praticamente, e eu conseguiria captar ao menos um pouco da intensidade deles aí, com as pautas atrapalhando a beleza enigmática de seus olhos. 

Fechei o caderno com um vulto quando Ian parou ao meu lado, me chamando para o intervalo. Mason já havia saído, um pouco antes do sinal, para ir até a biblioteca. Fomos direto até a cantina do colégio e compramos o que comer, antes de nos encontrarmos com Mason outra vez. Ele tinha os olhos grudados no celular e um sorrisão no rosto. 

— Quem é? — Ian perguntou, em meu lugar, com curiosidade. Inclinou-se para ver do que se tratava e Mason levou o celular pro lado contrário do corpo, repreendendo-o com o olhar. 

— Não é da sua conta. 

Ele não se deu por conta de que acabou girando o celular na minha direção, então me inclinei de forma parecida com Ian, para o celular. — Cat89

— Sai, Caleb! — reclamou ele, afundando a tela do celular no peito para protegê-lo, perdido em seu uniforme largo do colégio. 

— É aquela garota da festa? — perguntei, ignorando-o. 

— Como era o nome dela mesmo? — questionou Ian, pensativo, ao segurar um riso. 

— Caroline? — tentei, colocando a mão no queixo, teatralmente. 

— Cassie? — Ian seguiu meu jogo. 

— Claire? 

— Cristina, ok? — resmungou Mason, com um beiço nos lábios finos. 

Deixe-me rir, achando graça. Ian também o fez, bagunçando os cabelos de Mason no processo, e o loiro desviou.  

Ele ergueu os olhos pra nós, arrumando os óculos e empinando o queixo antes de dizer: — Vou me casar com ela — afirmou, com o peito estufado. 

Ian e eu ficamos em silêncio, nos entreolhamos, e logo enchemos o corredor com gargalhadas. Mason ficou roxo de raiva. 

— Do que estamos rindo, rapaziada? 

Girei o rosto, ainda rindo, para me deparar com o sorriso de canto de Bruno, o amigo do Alex. Ele estava ao lado do Bruno, parecendo curioso sobre a nossa conversa anterior, mas Ian limitou-se a gargalhar alto ao invés de explicar. Eu também, mas da risada engraçada dele. 

Alex estava esquisito, e eu não me referia às atitudes bizarras. Uma olhada nele e era o suficiente para perceber que algo não estava bem. A pele morena parecia um tanto pálida, os cabelos estavam úmidos de suor, e toda a sua expressão estava um tanto abatida, mesmo com o sorriso estampado em seu rosto ao nos observar.

Alex parecia comigo quando eu saio das aulas de educação física, praticamente morrendo. 

— O quê? — perguntou, quando todos o olhávamos com estranheza. 

— Você tá suando — apontou o primo, com uma careta. 

— Você tá fedendo, também — fiz questão de acrescentar, referindo-me ao cheiro de suor que exalava dele. 

Alex focou os olhos em mim, deixando o queixo cair, indignado. 

— É verdade — compactuou Bruno, arqueando uma das sobrancelhas ao analisá-lo com atenção. — E qual é a da tremedeira? 

Franzi o cenho com sua fala, descendo os olhos para as mãos de Alex. Ele as tinha em frente ao torso, retorcendo-as uma na outra no que parecia ser nervosismo puro. 

Comecei a ficar preocupado e a me sentir culpado mais uma vez, por não ter dado continuação àquele diálogo. Fiquei me perguntando se isto tinha alguma coisa a ver com o seu segredo e o fato de não poder compartilhar com ninguém, ou se havia outro segredo e ele não tinha para quem contar. E fiquei me questionando, mesmo que não tivesse nada a ver com nada disto, se minha atitude correta era evitá-lo da forma como fiz nos últimos dias. 

Mas, no fundo, eu sabia que não era o correto e não era justificável. Eu estava sendo apenas cruel. 

— Não tô tremendo — negou, sem firmeza na voz. 

Ian estalou a língua, também com os olhos em suas mãos. — Estica a mão então. 

— Ou você tava fazendo algo que não devia, ou tá em crise de abstinência — sugeriu Bruno, rindo. Apoiou-se na parede, todo jeitoso, ao analisar o colega. — Você passou a aula inteira suando frio, tremendo e encarando o vazio, feito um imbecil. 

Ian riu da descrição do outro, mas eu apenas fiquei sério, observando a forma como Alex parecia desconfortável com a conversa. 

— Você tá usando drogas? — perguntou Mason, analítico. 

Arqueei as sobrancelhas, desviando o olhar de Mason para o Alex, com atenção. 

Alex estaria mesmo a usar drogas? 

— Não! Claro que não — reclamou ele, desviando o olhar para o primo, que também o encarava com desconfiança. Então, Alex mudou para um sorriso sacana: — A não ser que vocês estejam vendendo. 

— Viu só? — Indicou Bruno com a mão, como se Alex fosse um caso perdido. — Viciadaço

Alex revirou os olhos, enfiando as mãos nos bolsos e os remexendo. 

— Não é isto — negou, procurando por algo com uma careta. — É a nicotina. Preciso fumar. 

Esta foi a minha vez de revirar os olhos. 

Cigarro, é óbvio. 

No entanto, eu não podia evitar de estranhar estas reações dele apenas por nicotina. Eu não sabia se estes eram os sintomas, mas certamente pesquisaria mais tarde.

Ele teria que, no mínimo, ser realmente viciado para algo assim acontecer, não teria? 

Mais tarde, eu viria a perceber que aquele seria o primeiro de muitos fatos incomuns a respeito de Alex, e todos eles seriam preocupantes. Aquela havia sido a primeira das circunstâncias bizarras que ele deixaria transparecer. E o resto viria como um efeito dominó. 

— Quem vai comigo? — convidou, já com o isqueiro escondido na mão cerrada, se referindo ao local atrás do ginásio. Todos negamos, ao passo que ele desviava o olhar pidão pela gente. É claro que parou em mim. — Caleb? 

Os olhos negros estavam nos meus, com um sorriso de canto, mas eu apenas neguei, contra todo aquele reboliço em meu estômago. 

Eu não queria negá-lo mais uma vez. Neguei conversar com ele, neguei escutá-lo, neguei passar tanto tempo com ele. E agora negava ficar sozinho com ele. 

Mas eu não conseguia. 

— O sinal já vai soar — limitei-me a dizer, erguendo os ombros. 

Alex pareceu um pouco magoado, perdendo o sorriso, e a culpa novamente voltou com tudo até mim. Ele sabia que eu o estava evitando, porque ele também me evitou um pouco nos primeiros dias, mas ele parecia pensar que, como ele voltou ao normal comigo, eu também voltaria. 

Será que ele pensava que eu não queria estar sozinho com ele porque ele gosta de garotos? 

— Vamos, moleque — interrompeu o Bruno, indicando o caminho com o braço estendido para o Alex. 

Ele tinha a expressão de um pai desaprovando as traquinagens do filho, mas ainda assim cederia a levá-lo para cometer mais traquinagens ainda. Estalou a língua, mas dava para ver que estava achando graça em tudo. Alex riu quando pousou os olhos nele, logo se despedindo rapidamente de nós e virando as costas, sem me olhar novamente. 

Engoli em seco, no fundo querendo chorar.

E a culpa era minha mesmo. 

Bruno suspira, analisando-o com atenção, depois de acenar rápido para a gente também. — Sabe com quem você tá parecendo?

— Hum? — perguntou Alex, distraído ao pegar o celular. 

— Com minha tia Judith. 

Ian e Mason, que também ainda estavam com a atenção nos garotos que caminhavam para longe, riram alto com a afirmação de Bruno. Eu apenas me limitei a observá-los com o coração apertado. 

— É mesmo! — continuou Bruno, provavelmente devido à careta de Alex. — Ela não pode ficar mais de doze horas sem fumar que pronto, reencarna no demônio. — Ele abre os braços, demonstrando. — Fica estressada, briga com os gatos, derruba as panelas. Precisa ver. E quando eu penso que me livro da mulher, boom! — Diz ele, abrindo uma das mãos em sinal de explosão. — Você se transforma na titia Judith. 

Não impedi um sorriso, vendo a interação dos dois, e como eles eram um tanto parecidos. 

Antes de Alex aparecer, eu via Bruno andar com os siameses, ou então sempre grudado em Annelise que, por sua vez, sempre estava grudada em Faye. Mas também, geralmente, eu o via sozinho mexendo no celular, ou em silêncio, no meio do grupinho, largando uma ou outra piada de vez em quando. Parece que ele encontrou a alma gêmea no Alex, assim como eu encontrei as minhas em Mason e Ian. 

O sinal em seguida soou, como previsto, e seguimos de volta à sala de aula para mais uma última tortura antes de liberdade. Mas eu não pude deixar de pensar em Alex. E, ao passo que observava os olhos negros desenhados em meu caderno, ponderava sobre o amanhã. 

Não sei quando exatamente isto aconteceu, mas Alex realmente virou nosso amigo. Ele é um de nós, e nós protegemos uns aos outros. O que não fazemos é deixar algo tão bobo nos afastar sem qualquer motivo razoável. 

Eu devia superar meus problemas para com ele o quanto antes. 

Alex é nosso amigo agora e tudo que eu tinha que fazer era tratá-lo como tal. Mesmo que isto significasse ignorar que o que eu sinto em relação a ele não é nem ao menos remotamente parecido com o que eu sinto em relação aos outros dois. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ah, Caleb! Tão inocente! Hahahhaha. Meu coração sangra por ti.
Por mais pessoas como Caleb, que se preocupa ao pensar que pode estar sendo preconceituoso! ♥
Não é preconceito, meu bem, é ciúmes. AHAHAHAAHAH. Aiai.

NÃO, vocês não estão imaginando coisas. Eu fui mesmo enigmática neste cap aqui. HAHAHAHHAHAHA. Que tal tentar dividir com a minha pessoa tuas teorias?

Prometo voltar logo! ♥

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam!
Att: 05/2021.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Made of Stone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.