Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 4
III. De todos os idiotas do mundo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! *-*



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— Corre!

Foi o único que ouvi antes de pôr minhas pernas a moverem-se com velocidade, ouvindo os passos multiplicados por quatro e esbarrando nas pessoas da rua.

Virei o rosto para trás a tempo de ver o rosto redondo do cara italiano franzido em uma careta horrível, antes de gritar mais uma vez em nossa direção. Quase esbarrei em um poste no processo, sendo impedido por Alex que, com um sorriso de orelha a orelha, puxou meu moletom em sua direção e fez com que eu o acompanhasse junto dos demais.

O que diabos acabou de acontecer?

*

Eu sabia que era um dia extremamente aborrecido porque sequer tinha vontade de rabiscar em meu caderno. Minha posição havia congelado de uma forma nada bonita: eu tinhas as pernas abertas, o moletom amassado e apoiava o rosto com a mão por tempo suficiente para senti-la adormecer.

Até mesmo Mason, que é hiperativo, estava entediado ao encarar a professora discursar a respeito das formas geométricas e sua relação com a matemática. Eu tinha quase certeza de que Ian dormia com os olhos abertos.

Era um dia aborrecido.

Quando o sinal tocou e saímos da sala, pude ver meu reflexo no vidro de uma das janelas: a bochecha vermelha pela posição desconfortável e boa parte do cabelo apontando para o sol no céu. Dei de ombros com a aparência, louco para ir para casa e dormir.

— Casa de quem hoje? — perguntou Mason, já mais disposto ao sair da hibernação na sala de aula.

— Eu vou embora — resmunguei, pensando que matemática não devia ser ensinada nas escolas.

— Eu também — disse Ian, esfregando o rosto. Mason bufou.

Quando viramos em um dos corredores do colégio, o corpo miúdo de Mason esbarrou contra o de Bruce, o maior babaca existente. Os olhos azuis de Mason, por trás dos óculos redondos, alargaram-se visivelmente. Ele era muito corajoso e tinha a língua afiada quando queria, mas não quando se tratava de enfrentar os outros. Se o meu amigo quisesse, poderia pôr Bruce a correr com o rabo entre as pernas com a quantidade de podres que sabia do garoto mais velho, mas ele jamais se atreveria.

Era uma pena toda aquela informação contida.

— Olha por onde anda, magricela! — resmungou ele, fazendo Ian e eu fecharmos a cara no mesmo instante.

Nós éramos os únicos que podíamos chamar Mason assim, e só porque ele não se importava.

Bruce virou as costas tão rápido quanto resmungou e Ian deu dois passos em sua direção antes de Mason segurar seu braço, em pânico.

— Deixa — pediu, girando o rosto rapidamente para olhar entre Ian e Bruce, e de volta para Ian.

— Se Ian não quebrar a cara desse babaca, eu vou — intrometi-me, arqueando as sobrancelhas. — E eu não sou alto como o Ian, então vou acabar apanhando — apontei, vendo Ian concordar com a cabeça.

Eu não era um brigão. Aliás, eu era um invisível, então era difícil ter algum motivo para desentendimentos. Uma vez ou outra durante minha vida acabei arrumando brigas no colégio, mas nunca nada físico ou grave. Nunca nada que me levasse à direção do colégio e chegasse aos ouvidos da minha mãe e de Will.Só que era diferente quando se tratava de meus amigos.

E o que eu tinha de invisível, Mason tinha de placa neón. Era o contrário com ele. Muita gente tirava sarro de seu jeito especial de ser, sem ao menos se importar em serem discretos. Não só pela tagarelice e a aparência estereotipada de nerd, como pela voz estridente e a falta de peso em seu corpo.

Como se isso fosse motivo o suficiente para ser um babaca com os outros...

— Não, deixa — murmurou, irritado, mais uma vez.

Eu tinha a leve impressão de que ele estava mais irritado com a gente por tentar defendê-lo do que com o otário do Bruce. Mason, além de ficar quieto quando mexem com ele, ainda por cima é orgulhoso.

Se sacudi-lo o tornasse um ser mais esperto, eu já teria o jogado em uma batedeira gigante.

Assim que teve certeza de que Bruce estava longe o suficiente, ele continuou, dando-nos as costas também: — Esse babaca vai ver só. Eu ainda falo com a menina de League of Legends e falo pra ela viralizar a história de incesto na família dele. Esperem pra ver! — Ian e eu nos entreolhamos rapidamente com um suspiro, seguindo Mason em direção ao portão. — Também posso dar um jeito de contar a respeito da minha prima para os pais dele e...

— Acho que nada vai mudar se você não fizer isto por ação própria ao invés de pedir para que os outros façam — disse Ian, mas ambos sabíamos que era inútil. Mason tinha um receio irracional de enfrentar por conta própria os valentões.

Suspirei.

— Vai funcionar de qualquer forma — teimou, com um beiço quase indecifrável nos lábios finos. Balancei a cabeça, achando inacreditável a situação em que ele mesmo se metia. — É só eu contar ao...

— Alex — interrompeu Ian, fazendo com que eu franzisse o cenho.

— Não, ao garoto do fliperama! Amigo do meu primo — explicou Mason, gesticulando.

— Não — falou Ian, rindo do loiro. — Alex tá aqui. Alex! — gritou, fazendo com que o garoto virasse o rosto em nossa direção e sorrisse.

De fato, ele estava apoiado no portão da escola, conversando com o professor de Ciências. O homem sério e mal-humorado sorria para o Alex e gesticulava, rindo de besteiras que o garoto provavelmente o contava. Rindo!

Não é possível que todo mundo goste dele!

Quase bufei, não fosse a ciência que eu tinha de que Alex é nosso amigo, e não nosso inimigo. Limitei-me a revirar os olhos de maneira que ninguém visse e caminhei junto de meus amigos em direção de Alex, que sorria alegremente, como de costume.

— Olá, turminha — cumprimentou, assim que o Sr. Peterson se retirou. Desencostou-se do portão para se aproximar do Ian. — Vim buscar meu priminho aqui.

Fez um cafuné na cabeleira escura de Ian.

— Você é muito carente, cara — brincou Ian, afastando-se do primo mais velho. — Não devia já ter feito outras amizades no seu colégio?

Eu nem havia lembrado que decidi voltar direto para casa, forçando as pernas a caminhar atrás dos dois Cunningham, de forma automática. Mason estava ao meu lado, o cenho franzido como quando raciocinava a respeito de algo.

Alex riu, divertido, erguendo os ombros. Abriu a boca para responder, mas Mason o interrompeu rapidamente. — Você não devia estar no seu colégio agora? — perguntou, erguendo uma das sobrancelhas. — Não são nem onze horas ainda.

Alex olhou para trás e como peças de um jogo automático, nós quatro nos emparelhamos lado a lado na estreita calçada.

— Ora, mal nos conhecemos e você já vai me passar sermão? — riu ele, fazendo com que Ian revirasse os olhos e Mason arqueasse as sobrancelhas. Alex disparou os olhos pela gente, parando de rir por um instante para erguer uma sobrancelha debochada: — E vocês?

— Saímos mais cedo na terça-feira — respondi por todos, obtendo acenos.

Alex fixou os olhos em mim e então girou-os nas órbitas, como se achasse ridículo que o ensino fundamental tivesse um dia da semana para sair mais cedo. No entanto, limitou-se a rir novamente enquanto Ian explicava sobre os alunos merecerem um descanso. Alex escondeu os lábios, ainda com a expressão divertida, enquanto pensava no que responder. Desviou o olhar para mim rapidamente e volveu-os para Mason logo após.

— Pode ser que eu também me dê um tempo livre na... — Pensou por um instante. — Todos os dias. — Riu, fazendo com que Ian risse junto. Então, fixou os olhos no primo. — E eu tenho feito amizades, sim, mas ainda prefiro ficar com vocês, amigos — declarou, colocando uma das mãos no coração.

Fui incapaz de segurar o riso desta vez, revirando os olhos com sua atuação ridícula.

Os assuntos aleatórios continuaram, ao passo que eu me dava conta de que caminhava com o grupo de garotos na direção contrária a da minha casa. Ao dobrarmos na rua errada, ativei os sons novamente, com desalento, percebendo que havia viajado na maionese no meio da conversa.

Franzi o cenho.

— Onde estamos indo? — perguntei, percebendo que ninguém havia ido buscar Ian no colégio e que tampouco caminhávamos na direção da parada de ônibus.

— Onde você tava desta vez, no mundo da lua ou no mundo das artes? — perguntou Mason, ao meu lado esquerdo, fazendo com que os outros dois rissem à vontade. 

Estreitei os olhos na direção do loiro, dando de ombros.

— Decidimos dar uma volta antes de irmos até o Ian — respondeu Alex, ao meu lado direito, os olhos escuros em mim. 

— Antes de irmos até a casa de Alex — corrigiu Ian, rapidamente.

— Antes de irmos até a casa de Ian — reforçou Alex, o tom de quem passa um sermão. Arqueei as sobrancelhas.

— Estamos sempre na minha casa! — reclamou o primo mais novo, fazendo com que eu e Mason nos entreolhemos. — Eu só fui na sua uma vez, deixa de ser chato! 

— Você só foi na minha uma vez porque ainda tá em reforma — respondeu ele, erguendo os ombros. — Além do mais, meu pai tá em casa agora — acrescentou, um tom de voz mais baixo.

— E daí? 

Alex bufou em resposta ao primo, retirando o celular que tocava no bolso, perdendo qualquer indício de irritação ao encarar a tela. Arqueou as sobrancelhas, mas virou o rosto para o primo, respondendo antes de atender: 

— E daí que não poderemos nos divertir com ele lá — insistiu, rapidamente, ao dar de ombros. — Dean! — dirigiu-se, então, à pessoa através do celular. — Me impressiono com a tua capacidade de demorar mais de uma semana para me ligar de volta — foi logo dizendo, em um tom de brincadeira. 

Ao meu lado, percebi Mason puxar parte do casaco de Ian.

— Quem é Dean? — sussurrou, os olhos azuis curiosos. 

— Não é da sua conta — sussurrei no lugar de Ian, sequer sabendo de onde eu havia tirado a vontade de defender Alex.

Alex podia ser um idiota completo. E era um tanto irritante a forma como consegue fazer amizades de forma fácil e que, aliás, parecia conseguir tudo de forma fácil. Mesmo assim, sendo carne nova no pedaço, Alex era um pobre coitado perto de Mason e sua curiosidade maior que Júpiter. As milhares de perguntas dirigidas a ele me causavam certa piedade. 

— ... e eu sei que sente minha falta, babaca — dizia Alex, fazendo com que nós três girássemos o rosto na direção dele. — Até parece! — Riu alto. — Bom, diga a ela que eu adoraria voltar, mas não tenho condições ainda. — Tentei ao máximo desviar a atenção da conversa, mas Ian e Mason não ajudavam, já que também tinham as orelhas antenadas em Alex, o assunto mudo entre nós três. — É claro né, imbecil? Quando eu completar os dezoito — concluiu, chamando-me ainda mais a atenção. — Nem fodendo que vou ficar aqui nesse fim de mundo para sempre. Sem ofensas — acrescentou com um riso, e me surpreendi que ele se dirigia à nós.

Ian ergueu os braços, indicando que não se importava. 

— Nenhuma por minha parte — respondeu Mason, dando um sorriso de lado. Sorri por isto, já que sabia que Mason queria muito dar o fora da cidade também. Não era exatamente um fim de mundo, mas ainda assim era muito pequena para toda a hiperatividade do meu amigo.

Alex sorriu para gente, antes do sorriso ir murchando até um simples elevar das comissuras de sua boca. Quando tornou a falar, sua voz havia se tornado audivelmente mansa.

— Eu sei — murmurava, apertando o celular contra o ouvido. — Sim, eu também — falou, olhando para baixo ao chutar uma pedrinha. — Eu também. — E então, tirou o celular do ouvido para encará-lo, como que para checar se a ligação havia realmente acabado. 

Meus amigos, incrivelmente, estavam em um silêncio tanto confortável quanto cansativo, pela caminhada. Alex estalou a língua, guardando o celular no bolso.

— Dean é um de seus amigos de Mallow Coast, não é? — perguntou Ian, para o primo.

— Sim, ele é — respondeu de forma tardia ao perceber que estavam falando com ele. Então, toda a áurea estranha sobre Alex sumiu e ele deu risada. — Esses babacas não conseguem aguentar nem um mês longe de mim!

Sem saber o porquê da curiosidade, ergui o rosto para encarar Alex.

— Então você pretende dar o fora quando completar os dezoito? — perguntei, havendo prestado atenção na chamada mais do que deveria. 

Bom, se ele atendeu do nosso lado, não devia se importar.

Dei de ombros, enquanto Alex volvia os olhos curiosos à mim. Eu entendia o porquê dele estar surpreso, além do fato de que eu também estava, porque geralmente quem puxava conversa comigo era ele. Sorriu minimamente antes de desviar o olhar, levando uma das mãos ao bolso para pegar uma carteira de cigarros.

— E quem não gostaria? — perguntou, erguendo os ombros. — Meus pais ficam muito em cima, Ian sabe disso — falou, relanceando o primo, que concordou —, e eu só quero ter minha própria vida longe de tudo isso. Droga — resmungou, ao constatar que só havia um cigarro dentro da carteira aberta. 

Franzi o cenho, tanto pelo asco do cigarro, já que remetiam ao meu finado pai, quanto pelo que ele dizia. Se Alex quis dizer que "tudo isso" eram seus pais e sua família ou alguma outra coisa, eu não soube dizer. Foi muito vago.

— Cara, você tem idade pra fumar? — perguntou Mason, com toda a delicadeza de um elefante.

Alex riu.

— Existe idade pra fumar? — questionou ele, acendendo o cigarro, sem responder.

— Claro que existe — resmungou Ian, ao unir-se ao Mason, provavelmente desgostoso pelo mais velho. — Você não sabe que tem lei para...

— Não falo disso — disse ele, dando uma tragada e sorrindo largamente. Pareceu que se explicaria, mas balançou a cabeça, desistindo. — Não tenho idade para fumar, assim como não tenho idade para muita coisa. Mas qual seria a graça de seguir as regras?

O sorriso que abriu em seguida fez um calafrio subir à minha espinha. E não porque era lindo - e não era! -, mas porque era travesso em níves catastróficos. Focou os os olhos em todos nós, já que havia ficado na ponta da calçada, e um brilho nada bacana passou por eles.

— Você é doido, cara — falou Ian, enquanto Mason se impressionava com as palavras de Alex.

Alex parou abruptamente, fazendo com que todos nós parássemos também e olhássemos para trás como se ele fosse desvairado. E pelo riso idiota que ele soltava, não era difícil acreditar que ele era mesmo o que pensávamos. 

— Sabe o que eu acho? — perguntou, e algo me disse que nenhum de nós gostaríamos de saber. — Acho que vocês deviam experimentar uma manobra de regras, ao menos uma vez na vida. Não só deviam, aliás, como precisam disso — falou, e um sorriso semelhante ao de um tubarão, completo pelos olhos escuros como a noite, se abriu em seu rosto.

Em seguida, indicou com a cabeça ao lado, e tudo que pude ver era mais uma das ruas paradas daquele bairro bonito. Havíamos caminhado bastante, percebi, por cerca de umas quinze quadras. Estávamos em outro bairro, e eu sabia que um pouco mais adiante, se Alex não houvesse interrompido nossa caminhada, chegaríamos à rodovia movimentada onde se encontrava a parada de ônibus.

No entanto, Alex nos guiou até um mercadinho de bairro, visível de onde nos encontrávamos. Se intitulava Ruggiero Mercado e eu podia jurar que já havia posto os pés ali ao menos uma vez com Will ao ir ou voltar do centro da cidade, tempos atrás, por esse mesmo caminho.

— Preciso de um Marlboro — disse Alex, ao atendente moreno, enquanto nos espalhávamos pelo mercadinho para dar uma olhada nas coisas comestíveis.

— Identidade — resmungou o outro, erguendo os olhos castanhos e abatidos de uma revista por um instante.

Supus que ele era um daqueles caras bêbados e acabados, mal-humorados, que encontraram uma vaga de atendente de mercadinho de bairro como última opção de vida. Desviei o olhar para a pequena sessão de donuts, enquanto Ian e Mason discutiam sobre qual salgadinho era o melhor. 

— Obrigado — disse Alex, assim que o cara checou sua identidade, o que me fez pensar que era forçadamente falsa. Estalei a língua enquanto ele estendia uma nota para o homem, e balancei a cabeça com descrença. — Só vou pegar mais algumas coisas antes — falou, com seu típico sorriso de lado.

Alex se voltou para nós com aquele jeito de malandro que me fazia querer socar sua cara, e nossa, me adverti mentalmente por andar tão agressivo - bom, quando se tratava do Alex. 

— Vamos, peguem alguma coisa — disse ele, indicando a sessão de salgadinhos enquanto se desviava para a de bebidas.

— Não tenho dinheiro — resmungamos, quase em uníssono.

Alex olhou por cima do ombro, com uma cara de inocente. E Alex não era nada inocente, o que devia ter feito com que suspeitássemos que havia algo errado no cenário. Só que passou desapercebido, porque ao contrário dele, nós éramos, de fato, inocentes. 

— Eu pago — falou, pegando dois energéticos com as mãos e soltando nas mãos de Ian.

Em seguida, pegou uns três salgadinhos na prateleira ao lado, entregou para Mason e, ao voltar seus olhos para mim, com um riso sufocado, depositou duas mini garrafas em minhas mãos - intituladas Chubby* -, uma de uva e outra de chiclete. Estreitei os olhos para ele, começando a ficar furioso, o que causou uma gargalhada geral entre os três. 

Você acha que eu sou criança?, quis perguntar. No entanto, Alex me deu as costas, pegando alguns chocolates e espalhando entre nós e juntou duas cervejas entre os dedos da mesma mão, fechando a porta do refrigerador em seguida.

Um homem alto e gordo, com um bigode vasto e rasos cabelos grisalhos, entrou no mercadinho a partir da porta dos fundos. Tinha um avental verde na cintura e após relancear-nos sem nenhuma importância, direcionou-se ao balcão para conversar com o atendente. Havia uma ruga imensa entre suas grossas sobrancelhas e uma expressão severa em seu rosto, apenas acentuados pelo provável um e noventa de altura. 

Era um italiano, eu soube segundos depois, quando começou a gritar xingamentos italianos em nossa direção. O nome do mercado devia ter provindo dele. 

Alex pareceu pensar por um momento ao encarar o provável dono do local, e nos indicou com a cabeça para que o seguíssemos até o caixa. Sorriu para o atendente de forma diabólica e encarou a entrada/saída ao seu lado esquerdo com uma expressão nada legal antes de nos olhar por cima do ombro.

"Corre" havia sido o que seus lábios quiseram dizer ao movimentarem em silêncio. Então, como um vulto, Alex girou nos calcanhares e saiu porta afora, em disparada. Não antes, é claro, de haver pego sua cartela de cigarros paga do balcão em um rompante.

Com o susto, cheguei a me engasgar, observando a cara chocada do atendente e o rosto incrédulo do dono do local, o provável Sr. Ruggiero. Os olhos azuis de Mason pareciam saltar por detrás dos óculos redondos, e o Sr. Ruggiero foi rápido ao contornar o balcão - no qual havia entrado para conversar com o atendente -, com o rosto em chamas pela raiva.

Foi neste momento que, sem saber o que fazia, movimentei as pernas para sair dali o quanto antes, enquanto o grito de Alex soava novamente. Sr. Ruggiero não aceitaria meras desculpas, percebi, e com certeza não era negociável. Notei que comecei a correr ao mesmo tempo em que meus dois amigos, provavelmente ao recuperar-nos do choque, e logo estávamos os três correndo porta afora, atrás de Alex.

O filho da puta nem se incomodou em esperar, e ria igual uma hiena ao olhar para trás, como o idiota que pensei que fosse.

E claro, apesar da rua estar vazia antes, logo no bendito momento apareceram seres em questão querendo comprar as batatas do Sr. Ruggiero. Esbarrei em alguns, mas obviamente ninguém tentaria nos barrar. Acabei virando para trás apenas para ver o cara tentar correr em nossa direção feito um boi que enxerga vermelho, em fúria, mas parar com os praguejos nada amigáveis que saíam de sua boca. 

— Você... Você nunca... — começou Ian, sem fôlego, assim que conseguimos pôr cerca de dez quadras intercaladas entre a gente e o mercado. — Nunca...

— Nunca mais faça isso! — terminei por Ian, enquanto apoiava as mãos nos joelhos na tentativa frustrada de fazer o peito parar de subir e descer.

Alex tinha um sorriso de orelha a orelha e até mesmo o rosto moreno estava avermelhado pela corrida. Guardou as duas garrafas de cerveja e dois pacotinhos de chocolate, sobreviventes ao furto, na mochila preta. Só então olhei para minhas mãos e percebi que os refrigerantes ainda estavam ali, junto de um chocolate, segurados pelas pontas de meus dedos.

Ian estava escorado na parede rugosa de um muro, tentando respirar, e Mason fazia o mesmo, só que mil vezes mais dificultoso. Tinha uma mão no peito e os olhos azuis pareciam ter congelado daquela forma, alargados, enquanto tentava digerir o que havia ocorrido. Nunca pensei vê-lo tão em silêncio, mas então ele abriu a boca.

— Você é maluco? — perguntou, encarando Alex com os olhos alargados. — Nós... Nós acabamos de roubar... um... uma... Meu deus! — exclamou, ainda com a mão no peito.

Foi neste preciso instante que Alex começou a gargalhar feito uma hiena doente, o que me lembrou muito de seu primo, mas com um pouco mais de graciosidade e dignidade do que a risada de Ian causava. O rosto ficou roxo pela falta de ar e ele teve que se apoiar na parede para que respirasse.

Voltei os olhos para os garotos e Ian sorria, enquanto Mason ria e ficava sério diversas vezes seguidas, como se não conseguisse controlar o corpo ou compreender o que havia ocorrido. Achando mais graça da reação estranha do loiro e da risada de Alex, me permiti gargalhar junto.

Em seguida, os quatro estávamos rindo feito lunáticos, naquela rua praticamente vazia, com os rostos corados e as mãos trêmulas.

— Nunca mais vou poder colocar os pés nesse bairro — disse Mason, um tanto quanto deslumbrado com tudo aquilo, causando ainda mais gargalhadas em todos.

No fim das contas, Maze parecia incrivelmente feliz pelo feitio horrendo que havíamos desempenhado. Não só ele, como todos os três. Mirei o rosto relaxado de Alex, enquanto ele balançava a cabeça e repetia que tinha razão ao dizer que precisávamos daquilo, completamente convencido.

A verdade é que ele estava certo. E apesar de sentir um pouco de culpa pelo dano que havíamos causado ao Sr. Ruggiero, nada havia sido tão assustadoramente divertido. Não estávamos precisando apenas quebrar as regras, como Alex enfatizara. Estávamos precisando era dele, com toda a idiotice que o envolve.

Havia sido um dia aborrecido, afinal, até Alex aparecer. 


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Notas finais do capítulo

AVISO - MOF:
Aos leitores de Made of Fire, sei que demorei, mas postarei o próximo capítulo neste fim de semana! Vou ter que dividir o capítulo também, porque tá enooorme e eu ainda nem terminei. Calmem o coração que trarei Will&Turner de volta! Beijos no coração de vocês ♥

*Chubby Drink: gente, é igual aqueles refrigerantes de criança, versão mini mini e gordinhas, como aquelas Schin. Talvez por isso o nome seja "Chubby", que significa "rechonchudo" ou "gordo", no caso, até uma ofensa para pessoas gordas. E acreditem se quiser, existe o sabor que me deixou meio com medo, de chiclete, Bubble Gum :O

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*
Att: 05/2021.



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