Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 3
II. De todos os estranhos do mundo


Notas iniciais do capítulo

Gente linda, gente boa, gente bela! Oilá!

De todos os estranhos do mundo, logo você, logo você :3
Como eu adorei o primeiro título de capítulo, tô pensando em usar o mesmo para todos, que que vocês acham?

Boa leitura! *-*



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Desenhar sempre foi meu passatempo favorito. Ainda mais do que cozinhar ou do que assistir filmes comendo pipoca. Deixar com que minhas mãos criassem vida própria e fizessem o lápis contornar o que quisessem era como deixar com que asas próprias abrissem e permitissem que eu voasse. Desenhar era a minha arte favorita e, com doze anos, eu já tinha essa noção.

Minha paixão começou quando eu ainda era criança, talvez ainda antes de que eu fosse capaz de ler ou escrever. Não sabia dizer se foi no dia em que ganhei meu primeiro caderno de desenhos da minha mãe, com o rosto de um porco na capa ou se foi no dia em que meu irmão me ajudara a desenhar um universo nas paredes de meu quarto. Independentemente, com doze anos de idade, eu tinha pilhas e pilhas de desenhos em minhas gavetas. 

Enquanto vários colegas mantinham diários em seus armários, eu preservava com muito carinho meus cadernos de desenhos.

— Caleb?

Ergui o rosto de um desenho paisagista a tempo de ver o rosto de minha mãe saltar de uma fresta na porta entreaberta do meu quarto. O rosto bonito de minha mãe, com traços já envelhecidos, estava animado. Parecia mais nova depois que pintara mais uma vez o cabelo de castanho por cima dos insistentes fios brancos. O familiar coque acima de sua cabeça, destacando o pescoço magro, estava inclinado estranhamente para o lado direito.

— Mamãe? — devolvi a pergunta, observando o sorriso carinhoso em seu rosto.

— Vou dar uma saída, tudo bem? — tratou de perguntar assim que pôs o corpo para dentro do meu quarto. — Seu irmão não responde minhas mensagens, então vou pedir para que a Kira passe aqui quando escurecer.

Reprimi a vontade de revirar os olhos por conta da preocupação desnecessária da minha mãe. No entanto, limitei-me a erguer os ombros com desdém.

— Tá bom — murmurei, voltando a atenção para o meu desenho. — Onde a senhora vai?

O silêncio, que demorou mais do que o previsto, foi quebrado por um riso baixo dela, fazendo-me voltar os olhos para seu rosto, agora tomado por um rubor leve. Arqueei as sobrancelhas, tentando entender sua reação nervosa.

— Ora, eu vou... Sair, Caleb! — Soltou um resmungo, piscando muito ao passar as mãos na roupa e desviar o olhar. — Não preciso ficar dando satisfações de onde vou o tempo todo, menino! Ora essa...

Então, sem esperar uma resposta, saiu do quarto tão silenciosamente quanto entrara.

Estaria minha mãe saindo com algum pretendente?

A pergunta interna me deixou muito intrigado, mais do que eu pretendia. Estava claro, também, que eu estivesse preocupado. Afinal, a última vez que minha mãe se envolveu com alguém, o cara resultou ser um alcoólatra abusivo. Meu pai. O rei das pessoas desagradáveis.

Fiquei tão imerso em preocupações e pensamentos, por tempo além do planejado, que me assustei quando o celular vibrou. Tomei-o em mãos, atendendo em seguida.

— Fala, Mason. — Peguei meu lápis e continuei o desenho esquecido na minha frente.

— Futebol do bairro em dez minutos. Vamos?

Franzi o cenho, estranhando. 

Mason, além de parecer um nerd, era exatamente o que aparentava: um nerd que não gosta de bater bola, ainda mais com os garotos do bairro, que tendem a pegar pesado. Talvez tivesse medo que o quebrassem ao meio, ou talvez simplesmente não se importasse de correr atrás de uma bola no meio de garotos suados. Mason não gostava de futebol. 

— Por quê? — perguntei, rabiscando uma árvore.

Era eu quem sempre os convidava para as partidas de futebol. Ocorriam no meu bairro, com os garotos daqui, todo fim de semana por volta das três horas da tarde. Quando não era eu quem nos instigava a vir, era o Ian. Mason sempre acabava por vir junto, mesmo que reclamasse, e na  maioria das vezes ficasse nos bancos de pedra, mexendo no celular.

Pude ouvir o suspiro de Mason do outro lado da linha.

 Estamos quase chegando aí perto — avisou, e só então percebi o som de vozes no fundo. — Eu te mandei mensagens, você não viu? — Abri a boca para responder, mas Mason continuou a falar, como de costume: — Eu fui até a casa do Ian e o Alex estava lá — contou, fazendo com que o lápis paralisasse na minha mão com a menção do nome dele. — Como ele é novo na cidade, queria saber onde podia bater bola, e você sabe como é... Ian não pode ouvir falar em futebol que já vai correndo colocar uma chuteira.

Sorri inevitavelmente, sabendo que era verdade.

— Ah — consegui formular, brilhantemente. — Eu não sei se posso...

Sentei na cama, o celular no ouvido, ao pensar no que inventar para não ir.

Alex, desde aquele dia na casa de Ian, em que passamos mais de cinco minutos perto dele, havia se tornado uma presença constante entre nós. Duas semanas haviam se passado e toda vez que conversávamos com Ian, o nome de Alex brotava ao menos uma vez. Isso quando ele não estava por perto.

Era estranho ter alguém como ele andando com a gente, não só por ser mais velho, mas por ser descolado. Mason e eu sabíamos que ele só estava com a gente por causa do Ian. Era seu primo, amigo de infância e a única pessoa que ele conhecia em Hybridfield. Era normal que estivessem juntos e se dessem tão bem. Logo, era normal que Alex nos tratasse de igual para igual, visto que éramos os únicos amigos de Ian. 

O problema real era que é difícil não gostar do Alex e não sabíamos se devíamos. Não admitiria em voz alta, e Mason tampouco, mas apesar de diferente, Alex parecia ser gente boa. Não confiávamos nele, mas gostávamos dele. E o que ficava pinicando em minha pele era o questionamento de quanto tempo iria demorar para que Alex faça novas amizades e nos deixe de lado. Ele obviamente faria, em um piscar de olhos. Alex era extrovertido e estava no ensino médio, onde tudo era mais bacana e as pessoas são mais legais. 

Éramos um trio de garotos esquisitos. Não tínhamos amigos, passávamos desapercebidos no colégio, tirávamos notas razoáveis e não éramos alvo da atenção de nenhuma das garotas. Ian tinha uma risada escandalosa, Mason assustava a todos com os olhos desconfiados e eu... Bom, eu era e sempre fui o quietão que rabisca em folhas a aula inteira.

Alex era como uma nota néon entre nós, o tipo de garoto que se torna popular. Com poucas aparições na nossa escola, onde nem sequer estudava, já ganhava atenção das garotas que passavam por perto e olhares feios de garotos como o Bruce.

— Como não sabe? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — Mason começou a despejar em mim, fazendo com que eu piscasse mais vezes com a sobrecarga de perguntas. — Você adora futebol. Se machucou muito na educação fís...

— Mason! — interrompi, não querendo que os outros ouvissem e pensassem que eu era um fracote deste jeito. Machucando-me na educação física, que piada. — Não, tá tudo bem. Não me machuquei com o jogo de vôlei — articulei bem, a respeito da minha dificuldade nas aulas práticas, para que ele não falasse besteira para os outros dois. 

 Então qual é o problema? — perguntou, ao mesmo tempo que ouvia lá atrás, de forma abafada: — Vem logo, Caleb! Estamos quase chegando... — Ian dizia, de forma alta, sobressaindo a de Mason que, obviamente, continuava a falar: — Larga esse caderno de desenhos idiota e vem! Não me deixa sozinho com dois Cunningham — sussurrou por último, mais próximo ao aparelho, roubando-me um riso.

 Caderno de desenhos? — A voz abafada de Alex sobressaiu-se lá atrás, fazendo-me perder o sorriso rapidamente.

Alex era ok.

Digo, ele não era o tipo de pessoa que eu evito chegar perto. Não é um valentão ou um drogado, e sequer parecia ser o tipo de cara que fica no fundo da classe comendo papel. Ele sorri bastante, faz piadinhas, também é viciado em jogos e, apesar de estar em seu direito, não exclui a mim e a Mason das conversas.

No entanto, eu não conseguia me acostumar com sua presença entre a gente. E, sobretudo, os olhos escuros eram terrivelmente perturbadores.

— Tô indo — resmunguei, relanceando a paisagem em meu caderno.

Desliguei a chamada, tirei o pijama e vesti uma bermuda e uma camisa especificadamente para o futebol. Enfiei o caderno embaixo do meu colchão, vesti as chuteiras e saí porta afora.

Will não estava em casa, como minha mãe havia dito, então passei na casa da tia Kira para avisar que eu estaria há três quadras de casa, no campo de futebol. Quando eu ficava sozinho, era a ela que eu dava satisfações.

Tia Kira e tio Shiori eram nossos vizinhos ao lado e nossa segunda família, assim como Kaori, a filha deles e melhor amiga do Will. Kaori era a única amiga que eu tinha também, apesar de ter a idade do meu irmão. Sempre que podia, ela passava por aqui, mesmo que Will não tivesse em casa, para passar um tempo comigo ou com a minha mãe. Como a tia Kira era dona de casa e muito amiga da nossa mãe, sempre cuidou da gente como se fôssemos dela, quando mamãe precisava. 

Depois de receber um beijo da japonesa na testa, vendo os olhos cercados de rugas sumirem com o sorriso em escala, por fim me dirigi ao campo. Assim que os visualizei ao longe, junto de cerca de quinze outros garotos, forcei um sorriso. 

— Cara, que demora! — reclamou Ian, balançando a cabeça.

— Não demorei nem cinco minutos — retruquei, cumprimentando com um aceno o restante deles.

— Você tava mesmo desenhando, não tava? — perguntou Mason, com um sorriso irônico, de quem sabe tudo.

O ruim de ter alguém que te conhece tanto é que é quase impossível esconder algo desta pessoa. Fiz uma careta, ouvindo a risada de ambos enquanto eu resmungava positivamente.

— Você desenha, Caleb?

Girei o rosto para o Alex, que tinha uma das pernas dobradas para trás enquanto segurava o tênis com a mão contrária em um alongamento. Sorria, como sempre e, como sempre, eu não podia decifrar a diversão em seu olhar quando se tratava de mim. 

Dei de ombros.

— Se ele desenha? — pronunciou-se Ian, estalando a língua. — É só o que ele faz quando não tá jogando no celular ou resmungando com o Mason, como um par de velhinhos.

Fuzilei-o com o olhar, ouvindo a risada de Mason, como se não fosse dele que estiveram falando. Ergui a perna de forma semelhante a de Alex e desviei o olhar para a quadra, onde um grupo de meninos discutia sobre quem ficaria no gol. 

— E o que você desenha? — insistiu ele, os olhos em mim.

— Nada — respondi, dando de ombros. — Tudo. Qualquer coisa. Coisa alguma.

O sorriso de Alex aumentou ao passo que ele assentia.

— Se eu pedisse um desenho meu, você conseguiria fazer? — perguntou, largando de fazer os exercícios e inclinando a cabeça ao me encarar.

Paralisei, franzindo o cenho.

Ele acha o quê, que eu sou um profissional? Eu só tenho doze anos!

— Só porque ele desenha o tempo todo não quer dizer que ele é um profissional — verbalizou Mason, como se lesse meus pensamentos.

Soltou um riso exagerado, como o Ian, assim que eu estreitei os olhos para ele. Admitir que sou só um garoto que desenha não é a mesma coisa que meus amigos dizerem que eu sou só um garoto que desenha. Eles tinham que ao menos fingir que eu sou bom no que faço!

— Também não quer dizer que ele não será, um dia — salientou Alex, relanceando-me com cumplicidade.

Desviei o olhar, incerto sobre o que dizer. E não foi necessário, graças ao garoto ruivo que gritou para todos que o jogo começaria logo.  

Mason se dispôs a jogar desta vez, mas eu soube e Ian soube que ele desistiria logo na primeira partida. Estávamos certos. Fiquei ponderando de onde saía tanto suor do corpo magricela em tão pouco tempo.

Corri atrás da bola, tentando desviar do corpo alto de Ian. Enquanto eu ficava no time com camisa, junto de Alex, Ian havia ficado no time contrário, desafiando-me a fazer um gol antes dele.  

Apesar de haver jogado ao lado do Alex, preferi manter uma distância segura, vendo que ele realmente ficava para trás, com a função de bloqueio. No entanto, vez ou outra, ele passava ao meu lado, dando tapinhas em minhas costas e dizendo que estávamos indo bem.

Eu não havia feito gol algum, nem Ian, mas o nosso time estava ganhando do time do meu amigo. Pela primeira vez, já que havia dado empate anteriormente.  

O acontecimento estranho deu-se na última partida, onde todos já estavam cheirando a suor e a terra, dos tombos no chão. O sol tomava conta, deixando as peles avermelhadas e o sangue quente, enquanto o arrependimento de não haver ficado em casa com meus desenhos chegava. Desviei de um garoto e chutei a bola, fazendo o gol que marcou o fim do jogo.  

Vencemos, porque sou bom a este ponto, me gabei.   

No calor do momento, todos que estavam por perto jogaram-se em mim feito uma comemoração, assim como o Alex, gritando e parabenizando. Logo se dispersaram, tirando a camisa suada de vez, mas Alex permaneceu. Jogou um dos braços por sobre meus ombros e riu, bagunçando meus cabelos ao dar os parabéns. 

Eu devia me sentir indiferente com sua presença, e com o contato de pele suada, mas não foi assim. Não me senti indiferente, me senti estranho. Supus o óbvio: não éramos tão amigos para que mexesse em meus cabelos ou me tocasse da forma que fosse. Mas eu não podia reclamar, porque se pensasse a fundo, Mason já jogava os pés em cima da minha mesa na primeira semana que nos conhecemos. Era normal. 

Então por que minha pele arrepiou?  

Dei de ombros, jogando os questionamentos para o fundo da minha mente feito uma bola no gol. Só que ao invés de afastar-se, como qualquer jogador faria, Alex permaneceu com um braço em meu entorno enquanto caminhava comigo junto dele na mesma direção. Me guiava para perto do banco em que Mason se sentava, com Ian atirado ao lado, vermelho pelo sol. Como eles estavam do outro lado da quadra, esperei que ele me soltasse. 

Afinal, aquilo era estranho, mesmo se fôssemos amigos a longa data.

Não pude evitar olhar, com um sorriso forçado, o rosto alegre tão perto do meu. Uma gota de suor escorria pela têmpora de seu rosto e o cabelo escuro grudava em sua testa. Uma cena tão comum de um garoto que houvera passado cerca de uma hora atrás de uma bola, dentre vários outros garotos. Mas o problema estava nas batidas de meu coração, que ao invés de diminuírem depois da empolgação do jogo, teimaram em permanecer lá em cima.

Engoli em seco, percebendo que eu não ouvia nada do que ele me falava e, talvez por constatar este mesmo fato, Alex deixou o braço cair antes que alcançássemos os outros dois. Com a expressão tranquila, também afastou-se uns dois passos de mim até chegarmos no banco, abaixo da árvore. 

— Mano, eles acabaram com o teu time! — dizia Mason, com uma gargalhada, para o Ian. — E olha que assisti muitos jogos daqui, mas a ruína de hoje foi demais! Se assemelhou muito com aquela partida de vôlei do colégio, todos estavam...  

Era preciso muito convívio com o Mason para entender que, quando ele continuava a tagarelar, como sempre o fazia, nem sempre era possível acompanhá-lo no processo hiperativo.

Ao meu lado, vi quando Alex puxou a camisa suada pela cabeça, fazendo com que meu estômago formigasse antes mesmo de vê-lo meio desnudo. Eu nem o vi, percebi logo depois, porque quase havia girado meu rosto em um ângulo de trezentos e sessenta graus quando desviei o olhar.

Achei estranha a minha própria reação, mas quem era eu para entender a complexidade da mente masculina de doze anos?

— Ian se assemelhou muito ao Anthony Young* hoje — disse Alex, gargalhando ao receber uma mirada feia do primo. Então, desviou o olhar para mim e Mason, que provavelmente parecíamos dois patetas. — O quê, vocês não acompanham o baseball?  

Neguei com a cabeça, sabendo que o loiro fazia o mesmo.

Desci os olhos para o peitoral de Alex, estranhamente definido para alguém de sua idade. Não que ele tivesse músculos aparentes, mas todo o corpo estava em forma. Desviei o olhar mais uma vez após descê-lo para a linha de pêlos abaixo de seu umbigo, focando no tronco da árvore ao nosso lado.

— O negócio daqui é o futebol de campo — mencionou Mason, com um dar de ombros.

— Não liguem para Alex, ele geralmente tem gostos estranhos pra tudo — contou Ian, passando um dos braços na testa, para secar o suor que lhe escorria.

Alex gargalhou mais uma vez.  

— Gosto de futebol, mas sou apaixonado por baseball — anunciou, orgulhoso. — Ensinei a Ian tudo que ele sabe — falou, fazendo com que o mais alto revirasse os olhos. — Acompanho os Yankees desde que meu tio me levou a um jogo quando visitamos a América. É sério, é genial! — Gesticulou, empolgado, com as mãos. — Eles são o melhor time de baseball da Major League, e mesmo depois de mais de cem anos de história...  

Pisquei algumas vezes, surpreso que a tagarelice não estivesse saindo dos lábios finos de Mason, mas do mais novo membro da nossa panelinha. Arqueei as sobrancelhas.  

— Vamos tomar um sorvete? — convidou Ian, ignorando seu primo. — Se ficarmos ouvindo Alex falar sobre os Yankees, ficaremos aqui o dia todo.

— Ei, cara, você conseguiu o novo jogo do Mortal Kombat? — lembrou Mason, cutucando Ian com o braço, enquanto caminhávamos para longe do campo.

— Não — resmungou ele, com uma careta. — Meu pai comprou o jogo errado! É sério, que decepção dar de cara com aqueles jogadores toscos!

— Esperem, vocês não querem ouvir? — perguntou Alex, embora já soubesse a resposta. Caminhou mais rápido, até parar em meu lado esquerdo. — Caleb, quer que eu te explique baseball? — perguntou, os olhos escuros brilhando.  

Não pude evitar sorrir, pensando que era a primeira vez que via Alex se assemelhar a alguém da nossa idade, e não de quinze anos. Parecia uma criança em uma loja de brinquedos. 

— Na verdade, conheço um pouco — falei, em junção das vozes de Mason e Ian. — Uma vez a televisão de casa travou no canal de esportes.  

— Você mora onde? — perguntou, subitamente, olhando ao redor.

— Há três quadras daqui, para lá. — Apontei em frente, arqueando as sobrancelhas ao ver que ele mudou de assunto.

Alex girou o rosto para mim, voltando à sua expressão enigmática habitual. Desviei o olhar, tentando encontrar uma forma de infiltrar-me na conversa sobre jogos de luta. No entanto, Alex foi mais rápido.  

— Você parece ser mais velho do que é. — Soltou a frase, simples assim.  

Franzi o cenho, olhando para seu rosto. Não me surpreendi ao encontrar o óbvio sorriso de lado ali.

Pisquei, não compreendendo de onde ele havia tirado que eu pareço mais velho. — Não sou alto — retruquei, não evitando uma pontada de insatisfação com minha altura atual.

O sorriso de Alex aumentou.

— Não, não é — falou, com simplicidade.

No entanto, não havia nada de simples em seu olhar, nada de simples em seu sorriso, nada de simples em sua voz. Alex não era nada simples. No fundo, eu ainda não podia imaginar o quão certo estava a respeito dele.

— Eu fico aqui — falei subitamente, desviando o olhar para meus amigos e para longe de Alex. — Tenho que voltar antes que Will chegue e não me encontre por lá — menti, sabendo que já havia avisado a tia Kira.  

Depois de despedir-me com tapinhas nas costas e acenos, virei as costas e dirigi-me à minha casa.  

Havia algo de estranho em Alex.

Inicialmente, pensei que fosse implicância minha por sua súbita intromissão entre nós, impulsionada pela desconfiança extrema do Mason. E pode ser que talvez tenha sido eu que havia ficado estranho perto dele, mas Alex era estranho por natureza. 

Mirei atrás, vendo as costas das três figuras afastarem-se. Mason, com o corpo esguio e os cabelos louros ainda úmidos, caminhava na esquerda. No meio, e ao seu lado, caminhava desajeitadamente o mais alto dos três: Ian, com seus quase um metro e oitenta. Alex estava na ponta direita e quando pus os olhos nele, pude ver seu sorriso de perfil ao rir de algo que o primo dissera. Ao contrário de Ian, não havia nada de desajeitado em Alex.

Quando eu estava quase na esquina, virei para olhá-los uma última vez, querendo estar junto, mas não junto de Alex. Então, ele virou para trás rapidamente, ainda sorrindo, pegando-me no flagra.  

Assim que eu estava prestes a virar a esquina, seu rosto ainda estava voltado para mim. O último que vi foi o piscar de um dos olhos escuros, e no rosto mantivera aquela expressão estranhamente tranquila de sempre.  

Como eu disse, estranho


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Notas finais do capítulo

*Anthony Young: jogador de baseball que ficou conhecido como o maior perdedor, com o recorde de 27 partidas consecutivas terminadas em derrotas na Major League Baseball. R.I.P.

Primeiro encontro de Caleb com Alex:
https://fanfiction.com.br/historia/693106/Made_of_Fire/capitulo/22/
— Aos leitores que não acompanham MoF e tiverem curiosiodade de saber sobre como diabos eles se conheceram, aqui o tenho! Fiz um capítulo extra com Caleb narrando, meio que "à parte" de toda a história de MoF, o que, na verdade, gerou a ideia brilhante de fazer uma história só do pequenino!

Att: estou atualizando os capítulos agora e lembrei de deixar dito aqui para os novos leitores que os vizinhos, a família Ishikawa, não aparece muito em MOS, ela foi melhor retratada em MOF. Will é mais próximo deles do que o Caleb, onde aqui não tem tanta relevância para a história.

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *-*
Att: 05/2021.



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