Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 2
I. De todos os lugares do mundo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! *-*



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Fase 1

2017

Hybridfield pode não ser a maior cidade do Estado, e tampouco muito populosa, mas não é uma cidade pequena. Mesmo assim, dentre os diversos pontos interessantes daqui, haviam poucos lugares que eu costumava frequentar. O campo de futebol de meu bairro, o fliperama antigo, o mercadinho da esquina, a casa da tia Kira. Isto mudou apenas três anos atrás, quando um garoto magricela e hiperativo entrou na minha escola e encheu-me de perguntas incômodas. Um ano depois, mais um garoto entrou na nossa dupla de dois: moreno, alto e desengonçado.  

Por cerca de dois anos agora, minha família já podia saber que, se eu não estivesse em casa, certamente estaria na casa do Mason. Por outro lado, se eu não estivesse na casa do Mason, era certo que ambos estaríamos na casa do Ian.  

Era início de ano, ou seja, início das aulas no colégio. Por mais que as salas mudassem, bem como as turmas e os professores, eu pensava que isso era uma tentativa falha de fazer-nos sentir renovados. Até parece que o colégio muda em algum momento, deixando de ser um ciclo chato e repetitivo, onde todo ano é igual ao anterior. Então, eles mudam o que podem para que haja uma menor porcentagem de adolescentes largando os estudos.  

Já que o dia havia sido cansativo, por conta da educação física, não foi necessário muito raciocínio para chegarmos à conclusão de que acabaríamos os três na casa do Ian. A minha casa era a mais próxima do colégio dentre as três, já que eu morava no mesmo bairro, mas a imensa residência do Ian foi um tanto quanto tentadora na hora em que saímos do colégio. 

E de todos os lugares do mundo, foi lá onde tudo começou. Eu o conheci em meu colégio, então deparei-me com ele na casa do Ian, e logo, tão sutil quanto uma bomba, Alex estava em todos os meus lugares favoritos. E em todos os outros. 

Estávamos atirados no quarto do Ian, as mochilas ao chão. O cômodo, três vezes maior do que o meu, era simples - tão simples quanto podia ser um quarto de adolescente rico -, e continha móveis das cores branca e azul. Da porta, podia-se enxergar a janela de frente para ela, a cama de Ian do lado esquerdo do quarto e uma estante espaçosa com televisão do lado direito. Um puff azul ficava nos pés da cama, ao lado de um guarda-roupa.

— Não estou falando disso — dizia Mason, revirando os olhos azuis. Ian arqueou uma das sobrancelhas ao desviar o olhar do loiro para mim, mas limitei-me a dar de ombros. — É claro que sei que não é da minha conta. Tudo que estou dizendo é que, se minha namorada estivesse me traindo, eu gostaria de saber.  

Ian e eu nos entreolhamos por um momento antes de cair na gargalhada. 

— Que namorada? — Ian foi o primeiro a deixar escapar, encarando um Mason exasperado.  

— Ele tá falando do Blue, só pode — sussurrei para Ian, segurando o riso.  

— Não fale do Blue, Caleb! Que droga! — Mason reclamou, envergonhado pelo ursinho de pelúcia que eu encontrara ao lado de seu travesseiro no ano anterior. — Se eu tivesse uma namorada, eu quis dizer — resmungou ele, ajeitando os óculos de grau no rosto. Como continuamos a rir, ele se jogou no puff, emburrado. — Vocês são uns babacas!  

Atirei-me para trás, deitando na cama, enquanto mexia no celular para escolher algum jogo. Não era o aparelho mais evoluído e atualizado, mas era bom o suficiente para baixar aplicativos. Will, meu irmão mais velho, havia comprado para mim com o dinheiro de um de seus trabalhos temporários. Melhor presente de aniversário! 

Ian resmungou alguma coisa sobre os novos jogos que havia ganhado, antes de sumir do quarto à medida que Mason começava a tagarelar mais uma vez sobre um anime que assistiu no dia anterior. Ian voltou dois minutos depois, com os jogos em mãos. 

— O que vocês querem jogar agora?  

Resmunguei que qualquer um estava bom, concentrado em vencer a partida do meu próprio aplicativo do celular, mas Mason insistiu que queria jogos de luta. Pelo canto do olho, pude ver Mason levantar-se do puff e arrastá-lo para o lado do banquinho em que Ian estava sentado. Tudo bem que eu e Mason tínhamos praticamente a mesma altura, mas ver sua figura esguia ao lado do corpo robusto do Ian, em todo aquele contraste, era bastante cômico.

Poucos minutos se passaram, os dois concentrados no videogame e eu atirado na cama, quando a campainha tocou no andar de baixo. Dizendo que o pai devia ter esquecido a chave de casa mais uma vez, Ian continuou a apertar os botões do controle remoto com convicção, determinado em massacrar Mason na luta. Eu já havia ganhado duas partidas consecutivas na partida de futebol de campo, em meu celular.   

— Filho? — A voz da Sra. Cunningham fez-se ouvir da porta. — Pode descer um pouco? Sua tia e seu primo estão aqui — avisou, saindo sem esperar uma resposta.  

Concentrado em meu próprio jogo, sequer prestei atenção nas indagações curiosas de Mason a respeito do primo do Ian. Não era novidade alguma que Mason estivesse curioso com relação a alguém, já que ele suava curiosidade e fazia questão de compartilhá-la conosco. Tampouco lembrei que eu já havia conhecido um dos primos do Ian no ano anterior, em uma ocasião muito estranha. 

Isso só me passou pela cabeça depois do Ian retornar ao quarto, visto que eu nem havia percebido que ele saíra, com uma presença ao seu lado.

— ... jogando Mortal Kombat. Posso jogar com você na próxima, se o Caleb não quiser. — A voz de Ian invadiu meus ouvidos, me distraindo do gol que eu estava prestes a fazer no aplicativo. 

— Ah, desgraça! — resmunguei ao tentar novamente, recém processando a fala do Ian. — Não vou querer — murmurei, concentrado, antes de acertar a bola no gol. Ri alto de minha destreza, resmungando meus próprios parabéns a mim mesmo antes de continuar, alheio ao meu redor.  

O garoto de cabelos escuros, quase tão alto quanto Ian, deslocou-se ao lado da cama onde eu me encontrava estirado. Sentou próximo aos meus pés, na ponta da cama, de forma que pude sentir o colchão afundar debilmente. Devido a semelhança entre os dois primos, e tendo visto apenas de relance o garoto passar por mim, sequer cogitei que não se tratasse do meu amigo.  

— Tá bom. Só vou terminar esse jogo com o Mason. — Ian falava, o banquinho rangendo quando tornou a sentar no mesmo.  

— Eu é que vou terminar esse jogo com você — interveio Mason, um riso seguido de suas palavras. — Até parece que você esqueceu de todas as vezes que perdeu pra mim. Você é péssimo nas lutas, Ian — emendou, convencido, antes de se dirigir a outro alguém: — Você vai jogar comigo depois, Alex.

O nome, guardado nos confins da minha mente, despertou-me do meu jogo bem a tempo de eu perder a partida final. Soltei um muxoxo distraído, os pensamentos embaralhando-se na minha cabeça ao passo que eu processava a informação. Só então me dei por conta que a voz de Ian veio do banco em que ele se sentara, em frente à televisão, muito próximo da minha cabeça. Girei o rosto nessa direção, a tempo de ver a personagem de Mason derrubar a personagem de Ian e chutá-lo diversas vezes. Ambos estavam sentados um ao lado do outro, o moreno no banco e o loiro no puff azul.  

Sentei em um pulo, deparando-me com sobrancelhas arqueadas e um meio sorriso no rosto do Alex. Usava uma camiseta dos Simpsons e uma jaqueta preta por cima dela. Os cabelos escuros estavam arrepiados e sua expressão estava divertida ao me encarar.  

— Atrapalhei seu jogo? — perguntou, os olhos desviando do meu rosto para o celular em minhas mãos.  

— Não — murmurei, desviando os olhos do Alex para o Ian e do Ian para o Alex. — Desculpa, nem vi você entrar. — Pisquei algumas vezes, tentando assimilar a informação. Em seguida, sem saber o porquê, minha voz saiu tão baixa que tive de pigarrear após: — Pensei que fosse o Ian... 

A voz de Ian chamou-me a atenção, resmungando algum palavrão para o Mason, que o derrotara mais uma vez. Em seguida, tratou de responder-me no lugar de seu primo, fazendo com que eu me desse conta de que ele estava prestando atenção:  

— Se não estivesse tão concentrado no celular, teria visto o meu primo — declarou com um riso, nos relanceando por cima do ombro antes de voltar à partida. — Vocês já tinham se conhecido aquele dia com o Mason. Lembra?

Assenti rapidamente, os olhos presos em meu celular, sem me importar que Ian já houvesse virado para frente e que, consequentemente, não me veria; sem me importar que a tela do jogo pedia para que eu escolhesse tentar novamente ou desistir.

— Caleb, não é? — Alex chamou-me a atenção mais uma vez, seus dentes à vista devido ao sorriso alargado. Assenti de forma silenciosa, mais uma vez, com os olhos presos na escuridão dos seus. — Sou o Alex.  

Não é que eu não gostasse do Alex ou tivesse vergonha de conversar com ele. É certo que ele me deixava desconfortável, talvez devido aos olhos incompreendivelmente escuros ou a semelhança com o Ian, mas isso não queria dizer que eu não simpatizasse com ele. Eu apenas não tinha muita habilidade em puxar assuntos e fazer amizades. Mason e Ian eram meus únicos amigos, afinal.

— Prazer — murmurei, desviando o olhar.  

Alex tinha a pele morena como o Ian e tinha os mesmos cabelos, também escuros. Ao contrário dos olhos castanhos de cachorrinho abandonado do primo, Alex tinha as orbes tão negras quanto se podiam ser. Pensei que fosse minha imaginação fértil de artista mirim, mas não era, seus olhos eram realmente negros. Era estranho. 

— Prazer, Caleb — pronunciou em resposta, a voz tomada por diversão.  

Voltei os olhos para seu rosto para deparar-me com uma sobrancelha arqueada e uma expressão jocosa. Eu não sabia o que se passava em sua mente, mas imaginei que ele houvesse lembrado do mesmo que eu: já havíamos dito a mesma coisa, um para o outro, meses atrás. Contrariado, sustentei seu olhar por um tempo, sem saber o que dizer.  

Não é que eu não queira interagir, é que eu não sei interagir.  

Tendo isso em mente, limitei-me a assentir e forçar um sorriso - que devia ter se assemelhado à uma careta. Sentei-me completamente na cama, levando os pés ao chão, a uma distância considerável do Alex. Fingi assistir a luta de meus amigos por um tempo, o celular desligado em minha mão, enquanto me remexia desconfortavelmente.

De certa forma, porém, eu sabia que Alex continuava a me encarar. 


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Notas finais do capítulo

Sei que eu disse que vou demorar a postar os capítulos, mas resolvi postar o que já está pronto faz um tempo: o primeiro! Hhahahahah

Agora sim... não sei quando vou retornar!

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam! *O*
Att: 05/2021.