Made of Stone escrita por littlefatpanda


Capítulo 19
EXTRA - Os laços que nos unem


Notas iniciais do capítulo

Gente linda, gente boa, gente foda! ♥

Agora sim, este é o último extra da 1ª parte e no próximo já trago o pequeno salto temporário dos nossos rapazes para a 2ª parte. :3

Este extra se passa no mesmo dia de "De todos os calmantes do mundo", que é uma segunda-feira após o fim de semana que ocorreu a junçãozinha na casa da Cristina / festa na casa do Jake do último extra. Só pra situar vocês. Hahhahahah.

PS.: este extra não influencia no andamento de Caleb/Alex, então vocês podem deixá-lo passar como os demais, caso não queiram ler. 2bj!

Boa leitura! ♥



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Alex, alheio ao redor ao digitar no celular uma resposta para o convite de Jillian, sequer ouve metade das coisas que Bruno comenta ao seu lado.

A aula era de biologia, com um professor bacana mas com a matéria possuída pelo demônio, como gostavam de brincar. Bruno e Alex eram a dupla eterna dos trabalhos durante todo aquele ano, apesar de que antes de Alex aparecer, eram sempre Bruno e Jake. No momento, Jake já havia se acostumado e sempre fazia dupla com uma garota com quem já houvera feito amizade.

— Alex! Alex! — chamou Bruno, estalando os dedos em frente ao rosto do Cunningham.

Alex piscou, tirando a atenção do celular e focando os olhos pretos nos castanhos do amigo.

— O quê?

— ‘Cê nem tá me ouvindo, cara — reclamou Bruno, observando-o com atenção. — O que tá acontecendo com você?

Alex piscou, suspirando ao desviar os olhos para seu caderno aberto na mesa, em branco, e desligou a tela do celular. 

— Nada — murmurou, com um sorriso de canto para disfarçar. Bruno andava muito desconfiado para cima de Alex, especialmente quando dizia respeito a Mary Jane e a maneira como a tratava. — Era sobre isto que você tava falando? — perguntou ele, olhando-o de canto com a sobrancelha arqueada.

Bruno suspirou, olhando para longe, onde o outro garoto da panelinha estava.

O professor acabava de passar um trabalho para fazerem durante a aula - provavelmente estava com preguiça de dar aula e desta forma podia ficar sentado mexendo no celular enquanto os alunos trabalhavam -, e os colegas começavam a se movimentar para formar as duplas.

— Não — falou, por fim, respeitando que Alex não queria se abrir com ele ainda. — Não, eu estava perguntando se você não se importa que eu faça isto — disse, apontando com a cabeça para o quadro onde detalhava o que eles tinham que fazer — com o Jake desta vez.

Alex franziu o cenho, fixando a atenção em Bruno. Relanceou Jake algumas carteiras ao longe já conversando com Jane para formarem dupla e logo os voltou para o mexicano.

— Não — murmurou Alex, confuso.

Tinha outros amigos dentro da turma, apesar de não ser próximo com nenhum, e não via problema em formar dupla com outra pessoa, ainda mais quando tinha que lidar com a curiosidade de Bruno acerca dele. 

— Ok. Só nos espera depois para o intervalo — pediu Bruno, já jogando os cadernos na mochila.

— Beleza.

Bruno sorriu, agradecido, pegando suas coisas e se aproximando de Jake, um tanto sem jeito. Alex chamou Jane para que eles fizessem dupla, não se importava muito com isto, interrompendo a conversa dos dois. 

Assim que Jane se afastou, Bruno se sentou, de qualquer jeito, ao lado da classe de Jake, vendo-o sorrir com educação. Abriu os cadernos, e arrancou uma folha para respondessem todas as perguntas referentes ao conteúdo. Se entreolharam, sem saber muito o que dizer, até que Bruno quebrou o gelo.

— Bom, eu não sou muito bom em biologia, mas minha letra é ok — disse, fazendo o outro rir.

— Você está com sorte então — disse o outro, abrindo o livro grosso, antes de focar os olhos claros em Bruno —, porque eu sou excelente em biologia.

Bruno riu, mas estreitou os olhos logo após. — Quão excelente?

Jake deu de ombros. — Excelente tipo A+.

Bruno assobiou, fazendo o outro revirar os olhos, sorrindo.

Nenhum dos dois tivera tido a chance de conversar depois da festa do final de semana. Nada havia sido dito depois de se abraçarem no escuro do quarto de um deles, em meio a música e lágrimas, a não ser uma besteira ou outra por Bruno para fazer o outro rir. 

Naquela madrugada, assim que Jake conseguiu controlar o choro, Bruno desceu para buscar um copo d’água para ele, mas antes que levasse até ele, Jake desceu com o rosto lavado e retornou, fingindo um sorriso, para o fim de sua festa. Ben encarou o melhor amigo pelo resto da festa, notando o rosto e os olhos levemente inchados, sentindo no peito o peso do que houvera causado em Jake. Porém, assim que o viu interagindo com o pessoal, não se atreveu a conversar em particular com ele. Bruno também ainda tinha a atenção ao amigo, bem como em Ben, pelo resto da festa. Precisou de um tempo para digerir a informação, um tanto chocado que eles não se vissem como irmãos, assim como todos os demais os enxergavam. 

E agora, na segunda-feira, ali estava o mexicano, encarando o rosto concentrado de Jake nos livros, se perguntando como começar uma conversa sobre o ocorrido. 

Ponderou se sequer deveria.

*

Psiu, Anne! 

Annelise piscou, parando de desenhar rabiscos aleatórios e abstratos em seu caderno, voltando a escutar os sons do ambiente à sua volta. 

A sala de aula não estava em silêncio, como era o esperado na aula de literatura. A professora era um tanto retraída e não tinha o pulso firme necessário para chamar a atenção dos alunos, e como se aceitasse essa condição própria, continuava a dar aula como se todos estivessem ouvindo. 

— Ouch! — reclamou ela, quando sentiu um puxão em sua camisa, que coincidentemente pegou alguns fios de seu cabelo. — O que foi? — murmurou, olhando por cima do ombro. 

— Conversa comigo, sua vaca — pediu a outra, reclamona. 

Annelise suspirou, virando o corpo até que estivesse com as costas apoiada na parede. As duas sempre sentavam uma atrás da outra, Faye sempre atrás para o caso de precisar colar nas provas, e sempre na parede. 

— Dói muito se você prestar a atenção na aula só desta vez? 

Faye estreitou os olhos. — Você também não tá prestando atenção na aula — acusou, com razão. 

Annelise suspirou, revirando os olhos. 

— O que tá acontecendo com você, hein? — insistiu mais uma vez, cutucando a amiga que fazia menção a se virar para frente de novo, mas foi impedida. — Anne, fala comigo. 'Cê tá estranha hoje — resmungou, analisando a líder de turma com os olhos verdes preocupados. 

Anne escostou as costas na parede uma segunda vez. Olhou pelo canto de olho para a gótica: — Não quero falar sobre isto. 

— Mas falar ajuda, lembra? — persistiu, puxando a mão de Annelise e apertando-a na sua. 

Annelise sorriu fraco. 

— Eu estou... permanentemente de castigo — contou, em desistência. Faye franziu o cenho. — As palavras que a mãe usou, em específico, foram: está de castigo até que esteja tão velha a ponto de precisar de colágeno! — Então, riu, embora não visse graça na situação. 

Faye ficou chocada. Sabia que sua mãe era rígida, e que o pai apenas frouxava o quanto podia para Annelise. Já a viu poucas vezes de castigo, por um fim de semana ou dois, geralmente por haver retrucado e discutido com a mãe. Nunca nada tão sério assim. 

— O que diabos você fez? — perguntou, incrédula, ao rir do absurdo.

Anne suspirou, focando os olhos em um colega de classe e apontando com a cabeça. — O otário do Tristan postou várias fotos da festa do Jake no Face, fotos públicas que permitiram com que outras pessoas marcassem quem estava nas fotos. Tipo, eu. — Apontou para si mesma, com uma careta irritada. 

— Meu deus — sussurrou Faye, abismada. — Que babaca! 'Cê quer que eu quebre a cara dele? Eu quebro — afirmou, fuzilando o garoto com o olhar. 

— Nem — resmungou Anne, ajeitando-se na cadeira. — Ele provavelmente estava bêbado. Digo, ele postou as fotos de madrugada — contou, erguendo os ombros. — Enfim, minha mãe viu. 

Faye esfregou a têmpora, tendo noção do escândalo na casa da amiga. 

— Caralho — sussurrou. — E o que ela viu? Você bebendo? Você dançando aquela hora em cima da mesa de vidro? — Arregalou os olhos. — Você brigando com aquela loura oxigenada da Kathy? 

Annelise balançou a cabeça. — Tava todo mundo bebendo e fumando, eles viram isto. Mas o que a deixou mais puta foi o fato de eu estar praticamente engolindo o Bruno em um canto escuro de uma das fotos, com o vestido curto que eu não estava usando quando saí de casa. 

Faye deixou a boca cair. 

Annelise havia trocado de roupa depois de sair de casa, e ela havia reclamado do dito vestido durante toda a festa para Faye. Ele enrugava e subia toda hora, e Annelise tinha que ficar puxando-o para baixo o tempo todo. 

— Socorro — sussurou Faye, rindo de nervoso. — A filhinha não é mais virgem. 

Annelise a fuzilou com o olhar. — Cala a boca, Faye, isto não tem graça! 

— Eu sei, desculpa, foi mais forte que eu — pediu, segurando o riso, ao tapar a boca com a mão. Anne suspirou. — E agora, mana? 

Annelise mordeu os lábios, balançando a cabeça. 

— Agora eu tenho que cumprir minhas horas na prisão domiciliar — murmurou, olhando para longe. E então retornou os olhos castanhos para a amiga, como quem pede desculpas: — E estou proibida de falar com você. 

Faye quase engasgou. 

— O quê!?

*

Em algum ponto do trabalho, quase no fim da aula, Jake parou e encarou o mexicano ao lado por um tempo. — Bruno?

— Hum? — murmurou ele, terminando de escrever a última frase de uma das perguntas.

— Eu ainda não tive a chance de te agradecer por... Bom, pelo que fez por mim na festa — murmurou em um tom baixo, com os olhos fixos no rosto do moreno.

Bruno parou de escrever e ergueu o rosto, um tanto aliviado que Jake começara o assunto e ele não teve que fazê-lo. Sorriu.

— Ah, eu não fiz nada mais do que minha obrigação — falou, sorrindo. — Você sabe, como amigo. 

Jake apenas observou-o voltar para a escrita, finalizando a última resposta do questionário com um dar de ombros. Jake quis rir, porque não era possível que aquilo fosse tão tranquilo para ele. Era quase cômico, mas de certa forma que aqueceu seu coração. 

— Não, você fez mais do que isto. Você... — Sorriu, sem jeito, ao encolher-se minimamente, vendo que Bruno tornava a encará-lo. — Você deixou que eu te beijasse.

Bruno fez uma careta engraçada, ponderando como responder. 

— É, eu sei — diz ele, por fim, com um sorriso, enquanto brinca com a caneta em mãos. Então, torna a fazer uma careta ao voltar a atenção ao Jake. — Você fez com que eu repensasse seriamente minha sexualidade.

Em um ímpeto nervoso, Jake se permite rir, incrédulo. — Cala a boca!

Jamais o garoto se imaginou em uma situação dessas tão rapidamente com alguém, a ponto de ouvir brincadeiras singelas sobre sexualidade. O medo devastador de se assumir o levava a pensar que nenhum dos amigos o aceitaria tão rápido, e isto se algum deles o aceitasse. 

Chegava a ser reconfortante, apesar de desconcertante também, que Bruno fosse tão desprovido de preconceito.

— O quê? É sério! — insistiu o mexicano, rindo também, ao desviar de um soco fraco de Jake.

Jake parou, cruzando os braços, ao passo que o sinal para o intervalo soava ao fundo. — Ah, é? — perguntou, seguindo na brincadeira. — E chegou a que conclusão?

Bruno pensou um pouco, e Jake podia perceber que ele pensava besteira porque as comissuras da boca começaram a tremular para subir. Então, ele girou o rosto para encará-lo, sorrindo largo.

— Sou Jakesexual.

A gargalhada de Jake encheu o ambiente, sem se importar com seu entorno, porque o burburinho já se podia ouvir dos colegas se movimentando para sair. Bruno não se aguentou também e o acompanhou no riso. 

— E tenho orgulho de ser — acrescentou, rindo.

Eles assinaram os nomes na folha de papel e entregaram ao professor antes de se encaminharem para a porta da sala, onde Alex estava esperando-os. Só que o sorriso de Jake foi diminuindo aos poucos ao passo que focava atrás de Alex, no garoto alto com o qual convivera toda a vida.

Ben.

Bruno percebeu a mudança de humor de Jake quase instantaneamente, mas relevou ao ver que o parceiro de trabalho fazia o mesmo. Forçaram sorrisos um ao outro, e os quatro se cumprimentaram com batidinhas de mãos, daquele jeito comum e despojado de ser. 

Caminharam os quatro em direção à fonte onde costumavam passar o intervalo, antes que Alex mudasse seu caminho em direção à sala dos pestinhas com os quais costuma andar ao não vê-los pelo pátio do colégio. 

Restaram os três, lado a lado.

Benhur, Bruno e Jake, em um silêncio cósmico até que se encontrassem com a outra metade da panelinha.

*

— Mas isto é um absurdo! — reclamava Faye, gesticulando muito ao avermelhar de raiva. — A sua mãe é maluca! Maluca — grunhiu, fazendo gestos circulares ao lado da cabeça. — Agora só porque eu visto preto, e tenho notas ruins, e beijo garotas, e fumo um beck, e falo o que penso, quer dizer que eu sou uma má influência?

Annelise revirou os olhos, ouvindo o coro uníssono dos outros amigos: — Não. 

— Não mesmo! — concordou ela, emburrada. — E se essa mulher quer me ver longe da filha dela, da minha alma gêmea — acrescentou, fazendo um carinho dramático no rosto de Annelise —, ela que tente limitar nosso amor! 

Bruno riu, e Matt se segurou para não fazer o mesmo. 

— Faye, já chega, tá bom? — pediu Annelise, passando a mão pelo rosto. — É claro que eu não vou deixar de te ver e de falar com você. A única coisa que vai mudar é que você não pode ir lá em casa — explicou, com uma paciência de se invejar. 

Faye estava na ponta da fonte, seguida de Annelise, Bruno, Ben e Emily. Em frente aos cinco, estavam sentados no chão de pedra do colégio Jake e Matthew. 

— Mas eu amo ir na sua casa — resmungou ela, com um beiço. 

Annelise sorriu, passando um braço por sobre a amiga e a puxando para um abraço de lado, mas sem conseguir responder.

A líder queria enfrentar os pais, em especial a mãe, e dizer que ela pode errar feito uma adolescente normal de vez em quando. Nem a bebida, nem a roupa curta e nem os beijos trocados com Bruno e outros rapazes influenciou de forma alguma em suas notas, em sua vida social e em seu foco no futuro. 

Mas quando abria a boca, sua mãe interrompia ao discursar sobre a péssima vida que teve em comparação à da filha e o quanto ela era privilegiada e ingrata por jogar tudo isto fora. Os olhos enchiam d'água, e as mãos tremiam, e no fim, ela não conseguia pronunciar palavra alguma. 

Sentia-se culpada, como se houvesse feito algo irreversivelmente errado, e se fechava. 

— Ao menos valeu a pena, não é? — Puxou Matt, percebendo o incômodo de Annelise a respeito do assunto. Não era a primeira vez que percebia o quanto era delicado para ela. — Sua festa estava demais, Jake! 

Jake piscou, como se saísse de um transe, e sorriu. 

— É, eu também achei — comentou, baixinho, ao erguer os olhos para o Ben, que lhe sorriu com cautela. Era o melhor amigo a cabeça por detrás de toda a organização, então o mérito também era dele. 

— É verdade! — comentou Faye, saindo do drama ao parecer se dar conta. — Obrigada! Eu beijei aquela coisa linda e hétera por causa da sua festa e eu quero explodir de alegria! 

Annelise riu, balançando a cabeça, e Jake assentiu. Afinal, ele havia ouvido sobre o drama que envolvia a garota e se ela iria ou não iria na festa durante o que pareceram horas. 

— Ben também aproveitou — provocou Anne, inclinando o corpo para frente para relancear Ben ao longe. 

— É, eu sei. — Faye estalou a língua, causando risos. 

Os olhos castanhos de Bruno voaram para Jake, agora que sabia o quanto aquilo o machucava, e percebeu que não havia muito o que fazer para ajudá-lo com o coração partido. 

— Como é o nome dela mesmo? Lara? — perguntou Matt, seguindo na onda, com graça. 

Ben apenas sorriu, desconfortável, mas já era especialista em disfarçar. 

— Lucy — respondeu Emily, por ele, depois de haver ficado em silêncio o intervalo inteiro. Ben girou o rosto para a menina ao seu lado, questionador. — Eu estudei no mesmo colégio que ela no fundamental. 

Matt focou os olhos nela, analisando-a. 

Emily não havia lhe dirigido a palavra até o momento, e nem lhe sorrido daquele jeito meigo dela que era praticamente uma comunicação própria. Estava quieta, encolhida e séria. Não sustentou seu olhar em momento algum, e durante quase todo o intervalo apenas fingiu mexer no celular. 

— Só estávamos conversando — murmurou Ben, querendo acabar com o assunto. 

— Sei, conversando — provocou Anne, inclinando-se para cutucar Ben como quem sabe da verade. 

— Uma puta de uma conversa hein? — continuou Faye, impulsionada, com um sorriso malicioso. — Mal chegou e ficou sumido quase toda a festa. Abandono completo da gente.    

— Não foi de propósito — defendeu-se, relanceando Jake, que apenas desviou o olhar para o chão, onde pegou uma pedrinha para se distrair. 

— Claro que não — concordou Faye. — Foi o amor — cantou ela, balançando as mãos como se fosse algo mágico antes de apoiar a cabeça no ombro de Annelise. 

Os demais riram, mas Ben apenas ficou mais desconfortável, endireitando-se no lugar. 

— Que isso? Amor? — comentou Bruno, percebendo o incômodo de Jake, ao rir com graça. — Amor é isto aqui — falou, passando o braço em torno de Annelise, levando um tapa de Faye, mas ignorou. — Fundamental inteiro, e agora ensino médio — falou, piscando um dos olhos para Annelise. 

Jake ergueu os olhos da pedrinha para Bruno e sorriu, agradecido, vendo que o mexicano piscara um dos olhos de forma disfarçada para ele. Annelise apenas concordou. 

— Tem razão — disse ela, assentindo, ao abrir o bombom em mãos e jogá-lo na boca. — Laços de amizade são muito mais fortes que laços românticos! Isto sim é amor de verdade — ditou, pegando o outro bombom dos bolsos e colocando na boca de Faye. 

— Eu nunca disse que era amor. — Foi o Ben a pronunciar mais uma vez, constrangido pelo assunto. 

— Ah, mas é o amor — cantou Faye mais uma vez, simulando explosões com as mãos. — Vamos, gente — pediu, quando todos a direcionaram um olhar questionador. — Eu preciso acreditar no amor aqui, tá bom? Eu tô apaixonada por uma sereia — acrescentou, sorrindo. 

Bruno gargalhou, mas Annelise o silenciou ao pronunciar: — Sereias cantam para matar suas vítimas. 

Matt fez uma careta chocada e graciosa, relaceando o Bruno ao passo que os dois seguravam o riso. — Cruel — comentou, baixinho, para o mexicano em frente. Jake riu ao seu lado. 

Faye focou os olhos delineados nela, desgostosa. — Eu vou te dar um desconto porque sei que tá aflita pela simples ideia de se separar de mim. 

— Falando em separação, logo nós é que estaremos separados — comentou Matt, assim que Annelise revirou os olhos para a gótica. 

Todos fixaram a atenção no mais velho, que ergueu os ombros com certo pesar, inclusive Emily. 

Já estavam em outubro e havia menos de dois meses de aula antes que Matthew e Benhur se formassem - agora vai, pensou Matt, depois de tanto tempo - e os demais permaneceriam por apenas mais um ano antes deles próprios rumarem suas vidas. 

Era triste pensar a respeito, ao menos para Matt, porque achou esta época colegial uma delícia. Era quase que um meio termo entre ficção e realidade, e gostava de permanecer apenas sonhando por enquanto antes que tivesse que se jogar na vida de adulto. 

— Ah, gente, não falem isto que me dá uma tristeza — choramingou Anne, abraçando Faye de forma involuntária. 

— É verdade, credo — resmungou Bruno, fazendo um sinal da cruz que quebrou o momento tenso e fez todos gargalharem. 

O sinal soou logo após e, com grunhidos altos, eles começaram a se movimentar para retornar às aulas. Sequer se perguntaram sobre a ausência de Alex, porque já havia se tornado comum que o garoto o passasse com os mais novos do fundamental.

Assim que se levantou, Matt ergueu o punho para Ben. — É nós, bro — falou, em um cumprimento, a respeito de serem os primeiros a saírem da panelinha em pouco tempo. 

Ben bateu o punho no dele em um cumprimento silencioso, e Matt deu duas batidinhas em seu ombro antes de seguir a garota de cabelos compridos que se apressava em sair dali. Ben sequer prestou atenção onde o mais velho ia, porque seus olhos se prenderam no garoto com o qual crescera. 

— Jake, podemos conversar? — perguntou, seguindo o mais baixo que já se apressava para as salas. 

— Sobre? — perguntou ele, forçando um sorriso. 

Ben ergueu os ombros. — Sobre as últimas semanas — optou por dizer, encarando-o pelo canto de olho. Sorriu também. — Faz tempo que não vai lá em casa. A dona Martha sente sua falta. 

Jake sorriu, mas o sorriso não lhe chegou aos olhos claros. Encolheu os ombros ao murmurar: — Eu estive lá semana passada, Ben. 

Ben piscou, assentindo. — Sim, claro... Mas eu não sei, você tem ido menos vezes que o normal...

— Se é sobre a festa — interrompeu Jake, inspirando fundo —, não dê bola para o que os outros disseram. — Sorriu. — Eu entendo que tenha querido ficar com a Lucy, nada a ver esse papo de abandono. 

Ben abriu a boca, mas a fechou em seguida, os olhos fixos no rosto branquelo do melhor amigo. Abriu a boca uma segunda vez, mas Jake continuou: 

— Tô feliz por você — falou, embora a voz tenha falhado. Não o olhou nos olhos no processo. — Ao menos um de nós saiu do limbo, não é mesmo? — brincou, parando de caminhar ao chegar em frente à sala do mais velho. 

Ben permaneceu quieto, piedoso ao encarar o outro. Jake pigarreou, gesticulando de forma atrapalhada: — Bom, te deixo aqui. Tenho que ir porque agora é física — falou, rápido, antes de dar as costas. 

Ben o observou se afastar com pesar, sentindo-se mais uma vez culpado pelo sofrimento do outro. Sequer ouviu a discussão atrás de si antes de entrar na sala. 

*

— Em, espera! — pediu, mas ela não diminuiu os passos. — Em! — chamou, uma última vez, ao tocar o ombro dela e fazê-la parar. Franziu o cenho para a atitude. — Tudo bem? — perguntou, receoso. 

Ela assentiu, ainda com a expresão indecifrável. — Sim. 

— Não respondeu minhas mensagens — murmurou ele, os olhos verdes analisando cada pedaço de seu rosto, em busca de algo. 

Ela forçou um sorriso. — É, me desculpa, eu fiquei pouco tempo com o celular no fim de semana. — Mentira. E Matt sabia, porque a viu online. — Eu cheguei bem em casa, peguei carona com a Faye — contou, respondendo a pergunta da mensagem de Matt. 

Matt assentiu, ainda cuidadoso. 

— Você tá diferente comigo — falou, porque não via motivo em ser indireto ou sondá-la de forma delicada. Aquela era a verdade. — Aconteceu alguma coisa naquela festa? Aquele cara fez algo pra você? 

Isto trouxe uma ruga entre as sobrancelhas de Emily. 

— Que cara? — perguntou, sem responder nada. 

— Eu te vi com um cara na festa — falou, sem jeito, desviando o olhar. Colocou as mãos nos bolsos da calça para disfarçar. — Eu não fui o único. Ele te fez alguma coisa? — perguntou, preocupado. 

— Sim, ele me beijou — respondeu ela, arqueando uma das sobrancelhas. Deu um passo na direção dele, quase maldosa. — Sabe, Matt, eu também beijo — falou, não conseguindo esconder por completo a irritação na voz. — Pode ser que não pareça, mas eu tenho dezesseis anos e não seis. 

Matt piscou, tentando entender de onde vinha tudo aquilo. Não conseguiu dizer nada, apenas a encarou, buscando por uma resposta. Emily suspirou pesado, irritadiça. 

— O que foi? — questionou, soltando ar pelo nariz. — É tão absurdo assim que alguém queira me beijar? É tão absurdo que você acha que ele estava abusando de mim? 

Matt arregalou os olhos, balançando a cabeça. 

— Não, não foi isso que eu... 

— Ou será que eu sou tão criança assim para me envolver com alguém? — alfinetou, por fim, ao interrompê-lo. 

Matt abriu a boca, chocado, ao se dar conta do que estava acontecendo. Emily havia ouvido a conversa, ou alguém ouviu e contou para ela. Talvez até mesmo Annelise, para quem usara o termo "criança" ao qual Em se referia agora. 

Deixou os ombros caírem, pesaroso, ao encará-la com culpa. 

Emily não sustentou seu olhar perdido por muito mais tempo. Inspirou fundo, ainda o maltratando com os olhos castanhos, e em seguida deu as costas, caminhando a passos largos para entrar em sua sala de aula. 

Matt, cabisbaixo, entrou em sua sala menos de um minuto após Ben. 

 *

A tela de seu celular vibrou, mostrando o rosto emburrado da garota loura, em uma foto que tirara quando ela estava desprevenida. As sobrancelhas peculiarmente escuras estavam juntas, e os olhos oceano abaixo delas estavam fixos na câmera. Um beiço involuntário se apossava de sua boca curvilínea, e os cabelos louros voavam para o lado direito. 

Ben a encarou por tanto tempo quanto pôde, até o celular cansar de gritar e a tela ficar escura. 

Olhou ao redor da casa vazia, completa apenas por móveis e mais móveis de madeira escura, e pelo cheirinho de limpeza, além do som constante de pratos, sinal de que a louça estava sendo lavada no andar de baixo. 

Seu pai não estava em casa. De novo. Era apenas ele, os empregados, a dona Martha, e o silêncio que já era parte dele próprio. Mais uma vez. 

Suspirou, girando o celular nos dedos longos, pensando, pensando, pensando. 

A mãe de Ben havia falecido quando ele era muito novo, talvez uns cinco anos de idade, nunca soube ao certo porque o pai se recusava a falar sobre ela. Recordava-se, no entanto, da cantoria, da calmaria, e dos sorrisos carinhosos da mulher que, em todas as suas memórias, jazia em uma cama. 

Câncer, a mãe havia tido, assim como a avó tivera. 

A única memória completamente humana do pai era de antes de sua mãe falecer, quando Ben ouviu os sussurros e espiou pela fresta do quarto do casal. Patrick estava sentado na cama, ao lado do corpo deitado da mulher, e estava inclinado por sobre ela. Testa na testa, chorava e lamuriava baixinho enquanto a mulher lhe acariciava os cabelos e sussurrava palavras reconfortantes, do jeito melodioso dela, para acalmá-lo. 

Não era um homem cruel, mas seu luto o transformou em um péssimo pai. Era como se Ben fosse completamente órfão, que vivia na mesma casa de um tutor ocupado que aparecia apenas para pagar-lhe o teto, os estudos, e a comida na mesa. Vez ou outra lhe fazia um cafuné rápido nos cabelos antes de partir para mais uma viagem. 

E Ben não sentia nada. Não chorava, não sorria, não sentia, não vivia. Existia como um perfeito fantasma, sem alma, que perambulava pela casa enorme e vazia, revivendo as poucas memórias amorosas da mãe, cada vez lembrando-se menos de sua voz, de seu cheiro, de seu rosto. De seu amor para si. 

Até Jake aparecer. 

Não fazia um ano que Jake houvera sido adotado, no papel, pela sua família. Ainda estava se acostumando com todo o amor e o carinho, mas naquela época, parecia que jamais pertenceria como devia. Era quieto, reservado e assustado. 

Ben podia se recordar perfeitamente do dia em que Jake apareceu ali pela primeira vez.

O garoto não tinha sequer um metro e meio, os olhos alargados e o corpo trêmulo de horror quando Ben tentou se aproximar. Havia apanhado tanto nos lares temporários antes da adoção - sim, Ben sabia sobre aquilo - e depois apanhara no colégio inicial que ao ver o grandalhão de Ben se aproximar dele, fechou os olhos, esperando pelo primeiro golpe. Ben não compreendeu em um primeiro momento, e permaneceu a encarar o garoto sem mover um músculo até que os olhos claros fossem abertos mais uma vez. 

Patrick e Ruth estavam trancados no escritório do homem, discutindo negócios, e Ruth se sentiu segura o suficiente - devido às palavras simpáticas de Martha - para deixar Jake na sala com Ben. Depois de um tempo se encarando, Jake finalmente relaxou e tentou um sorriso para Ben, que permaneceu sério feito um robô. Jake, então, optou por puxar conversa em um tom baixo. Não sabia como fazer amigos e tinha medo de dizer qualquer coisa errada. Mas para Ben, não havia nada de errado que podia vir do garoto. 

Em um conversa constrangida, temerosa e praticamente unilateral, começou sua amizade. No início composta de silêncios confortáveis enquanto assistiam filmes, ou jogavam videogame, e quando mais velhos, cheia de conversas substanciais sobre a vida. 

Jake, sentindo-se um intruso na família feliz dos pais, fazia o possível para poder visitar Ben durante toda a infância e pré-adolescência. Sentia-se mais confortável no castelo vazio e triste de Ben, porque se identificava com estes detalhes infelizes, do que jamais se sentiria em seu lar amoroso. 

Vazios por dentro, incapazes de pertencer, se completaram. Mais do que isto, criaram uma dependência um do outro que estava longe de ser saudável, apesar de havê-los mantido vivos e amados, um pelo outro, durante todo este tempo. 

Não existia Jake sem Benhur e não existia Benhur sem Jake. 

Ben suspirou, descendo as escadas para o térreo. Percorreu todo o espaço da sala e alcançou a cozinha, cumprimentando um dos empregados que passou por ele e parou ao lado da dona Martha. A mulher gorda, que agora tinha que olhar para cima para conversar com seu garoto, tinha os cabelos castanho-esbranquiçados, amáveis olhos cor de mel e óculos retangulares de grau. 

— Olha só para você, cada dia mais lindo — disse ela, assim que o viu apoiar-se na bancada para vê-la terminar de cozinhar o almoço. 

Ben sorriu, olhando-a com carinho. — O que eu posso dizer? — questionou, com graça. — Você é que sabe escolher roupas. 

Martha, desde que Ben era pequeno, ajudava a comprar suas roupas, costurava seus uniformes do colégio, ajudava em suas tarefas, o fazia escovar os dentes e estipulava um horário para que ele dormisse. Mesmo depois de mais velho, era Martha que dava sua opinião sobre as roupas escuras do garoto de já completos dezoito anos. 

— Meu bem, mesmo com trapos você se assemelharia a um modelo — garantiu ela, orgulhosa. Ben balançou a cabeça, achando graça. — Está com fome? — perguntou, desligando o fogão e retirando o avental do corpo. — Eu fiz seu prato predileto, e vamos combinar que Keneth também gosta de beliscar suas panquecas — falou, rindo, ao se referir ao rapaz encarregado do pátio da casa. 

Ben responderia, não fosse o celular que vibrara novamente. Encarou Lucy novamente, mas desta vez desligou a ligação antes que ela caísse, guardando o celular no bolso. 

O ato não passou desapercebido por Martha, que espiara o aparelho. 

— Problemas no paraíso, querido? — perguntou, sorrindo, ao encará-lo por detrás dos óculos. 

Ben deu de ombros, quieto. 

— Aconteceu alguma coisa? — questionou ela, largando de mão a cozinha e se aproximando do seu garoto. 

Ben negou. — Não, eu só não sei como dizer a ela que não estou interessado. 

Aquilo trouxe uma ruga à testa da mulher, porque havia visto Ben sorrir como nunca pela casa, digitando rápido no celular ao conversar com Lucy. Andava com a cabeça nas nuvens, mais leve, como talvez nunca o houvesse visto. 

— Por que você diria isto? — questionou, preocupada. Analisou-o bem como se para se certificar de que não entendera errado. — Você não gosta dela?

Ben ficou quieto, engolindo em seco, ao encarar seus calçados. Aquilo foi uma resposta suficiente para os olhos experientes de Martha. 

— Então, meu bem, por que afastá-la de você?

Ben balançou a cabeça, querendo dizer que não iria contar, e se desencostou do balcão com o intuito de dar as costas, mas Martha foi mais ágil. Segurou seu braço com carinho, encarando-o de baixo com firmeza. 

— Meu garoto, por favor, não faça isto — pediu, naquele tom amoroso que sempre aquecia o coração de Ben. Engoliu em seco mais uma vez, recusando-se a sustentar os olhos de mel. — Não se prive do amor, da felicidade. Isto é tão importante, Ben, ainda mais para você. — Procurou os olhos escuros dele, mas ele se recusou a encará-la. — Você merece tudo isto e muito mais. 

— Eu não posso — murmurou ele, sorrindo triste, finalmente erguendo os olhos dos pés para encará-la.

— Por que não? — questionou, preocupada. — Se isto tem a ver com seu pai...

— Não tem, dona Martha. — Negou ele, balançando a cabeça com rapidez, odiando mais uma vez não poder chamá-la pelo que gostaria de chamá-la. — Eu juro que não.

— Então do que se trata, meu anjo? — perguntou, colocando uma das mãos em seu rosto, com carinho. — O que é tão importante para que você renuncie a própria felicidade? 

Ben desviou o olhar no mesmo instante, porque aquela pergunta havia sido a pergunta correta. A pergunta perfeita. E ela não podia ver em seu olhar. Só que a dona Martha podia ver através de sua casca externa, como ele sempre pensou que ela pudesse, alcançando a sua alma. Não interessava que, no processo, os olhos estivessem postos do outro lado da cozinha. 

— Jake? — sussurrou ela, pensando na única coisa que podia ser tão importante para Ben para que deixasse a paixão de lado. Na única pessoa com quem ele se importava o suficiente pra renunciar até da própria vida, se necessário fosse. 

Ben fecha os olhos, deixando os ombros caírem, em rendição. 

Não queria conversar sobre isto com ninguém, mas aquela não era qualquer pessoa, era Martha. Ela, por vezes, o conhecia melhor do que ele próprio. 

— Mas por quê? — sussurrou novamente, sem entender.

Ben suspira, endireitando a postura de forma que colocou uma distância ainda maior entre ele e a mulher baixinha. Olhou para o teto, querendo escapar, mas sabendo que não podia. Retornou os olhos para ela e apenas encolheu os ombros, balançando a cabeça. 

— Ele gosta de você — sussurrou ela, as peças se encaixando. Já sabia da paixãozinha de Jake ainda antes de Ben saber. Céus, podia ser que soubesse antes mesmo do menino Jake descobrir. Mas nunca imaginou que Ben faria algo assim por causa disto. — Você não quer magoá-lo — deduziu, vendo Ben erguer o olhar. — Ele te contou?

Ben soltou um som pelo nariz, quase debochado, mas triste. — Ele não precisa.

Isto trás mais um sorriso carinhoso para o rosto dela, que balançou a cabeça positivamente. — É claro que não — murmura, erguendo a mão para fazer um carinho no rosto do rapaz. — Você o conhece de dentro para fora. — Ela suspirou se afastando para encará-lo melhor. — Mas você não pode renunciar a própria felicidade por ninguém, Ben, nem por ele. Você tem que esclarecer as coisas com o menino. 

Ben negou ainda mais veemente, sentindo os olhos marejarem contra sua vontade, apenas pela ideia de magoá-lo desta forma.

— Não posso — sussurrou, ainda negando. — Não posso magoá-lo.

— E do contrário, prefere magoar a si mesmo?

— Mas, mã... Martha — corrigiu, desviando o olhar. Martha frisou os lábios para que não tremessem pelo deslize do rapaz. Amava-o como um filho, e jamais o veria de uma forma diferente se não como um. — Me magoa magoá-lo. Jake é tudo para mim. — Ela assentiu, frustrada. — Ele é tudo. Ele é mais do que meu amigo, ele é minha família. Ele é tudo o que eu tenho, ele e você — acrescentou, pegando a mão dela. — É muito mais do que eu mereço. 

Martha estalou a língua, abanando com a mão como se pudesse espantar esse autodesprezo do garoto com o gesto. — Não diga isto.

— E a Lucy, ela... — continuou ele, ignorando-a. — Ela é só uma paixão.

Martha sorriu, achando graça na divergência de garotos achando que vão morrer de um coração partido e de Ben, que sabe que a maioria das paixões de adolescência são passageiras. 

— Só uma paixão, huh? — brincou ela, mexendo com os cabelos curtos de Ben em um carinho calmo.

— Eu sobrevivo se eu a perco — continuou ele, baixo. — Não posso dizer o mesmo sobre o Jake.

— Você nunca irá perdê-lo, Ben — negou Martha, franzindo o cenho. — Jamais.

— Eu irei se eu magoá-lo — retrucou Ben, certo do que falava. — Eu prometi que nunca faria isto — explicou, em um tom tão baixo que Martha se esforçou para ouvir. 

Frustrada, suspirou. 

Havia presenciado a evolução da amizade daqueles dois desde que ela se formara. Observou a forma como se agarraram um ao outro como se não houvesse mais ninguém com quem podiam contar. Ninguém que os podia entender, que podia se acercar e adentrar na casca dura que havia criado em torno deles para se proteger do mundo. Apenas um ao outro. 

Martha muito havia chorado ao perceber a forma perdida com a qual os dois se criaram, um amado demais e outro amado de menos, mas nenhum capaz de se sentir digno de amor. Lembrava de Jake aos prantos, mesmo nos braços da mãe, depois de haver sido insultado no colégio e se acalmara apenas nos braços de Ben, que lhe abraçou e o fez sorrir. 

Era uma amizade linda, mas que estava longe de ser saudável, para nenhum dos dois. 

— Meu bem, você não tem escolha — optou por dizer, depois do suspiro. — Se você não retribui o que ele sente, então vai magoá-lo de uma forma ou de outra. E sinceramente, acho que vai magoá-lo ainda mais estendendo o tempo de tortura pra ele. — Fixou os olhos nos dele. — Você tem que libertá-lo para que ele possa seguir em frente.

Ben negou, piscando muito ao olhar para cima, de forma que não deixasse uma lágrima sequer cair. 

— Eu não consigo. 

Martha sentiu o coração apertar ao vê-lo daquela forma. — Ben...

— Eu não quero deixá-lo ir — interrompeu ele, limpando a lágrima teimosa que quis descer por seu rosto, em um gesto quase rude. 

Martha apenas puxou-o para um abraço, fazendo com que o corpo alto do garoto se curvasse para tal, afagando suas costas com carinho. Até houvera se esquecido do almoço, mas não importava, já que o patrão não estava em casa. 

Beijou-lhe os cabelos, ouvindo-o fungar em seu pescoço. 

— Vai ficar tudo bem, não se preocupe — falou, calma, percebendo que o garoto era teimoso demais para aceitar seus conselhos. — Tudo vai se acertar do jeito que deve, e tudo ficará bem. Você ainda vai ser muito feliz, meu menino, muito feliz. 

Ben apenas a apertou contra seu corpo, desesperado por carinho mas danificado demais para pedir por este.

Desejou, como sempre desejava, que o abraço não chegasse a um fim.


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Notas finais do capítulo

Nada a declarar.

Segurem-se na minha mão e vamos pular juntos para a próxima parte da história, sim? Vou dar um tempo pra vocês respirarem e assim que eu puder, trago o próximo capítulo. Já trouxe 2, e todo mundo sabe que 3 é demais, então fica pra próxima. HAHAHAHAHAHHA.

PS.: o próximo EXTRA vai ser majoritariamente focado em Ben & Jake, mas os outros aparecerão também.

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam!



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