Like a back in black - Velhos companheiros escrita por Andrew Ferris


Capítulo 8
Confusão em escala colossal


Notas iniciais do capítulo

Continuando de onde parei, boa leitura!!!



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     Chris olha surpreso para o telefone, arregalando os olhos em direção à porta do banheiro e em seguida passando a mão pelos cabelos, espantado com a improvável ligação de sua mulher.
     - Vicky querida, tudo bem com você?
     - Seu cara de pau, como tem coragem de falar comigo assim, como se nada tivesse acontecido? Você some de casa sem falar nada, se interna em uma clínica longe pra um - Ela afasta o telefone do ouvido para ver se seus filhos estavam por perto, mas por precaução prefere susurrar a última palavra - Longe para um caralho e agora ainda me vem essa?
     - Querida, explica direito que eu não estou entendendo - Pediu Chris levantando-se pressionado pelo tom desesperador e perplexo de sua esposa.
     - Você está em um hotel com a garota que tirou da clínica. Nossos filhos mal sabem falar e andar e você já me traiu? - Questionou Vicky aos berros, provocando fortes zumbidos no ouvido de Cornell, que dá alguns tapas na própria orelha para diminuir o ruído.
     - Você está falando um monte de besteiras. Está soltando tanta merda nos meus ouvidos que daqui a pouco vou ficar com as orelhas entupidas com as merdas que você fala - Reclamou Chris com indignação - Eu nunca te traí e jamais te trairia.
     - Eu conheço esse papo Chris. Você é homem - Afirmou Vicky enxugando uma lágrima solitária - Diz que não trai, se joga embaixo do trem mas não assume o que fez.
     - Eu te juro que nunca toquei nela - Revelou Cornell cada vez mais indignado com a ridícula situação a qual estava sendo exposto.
     - Então assume que está dormindo ao lado dela? Está passando as noites ao lado de outra mulher, seu corno - Ela respira fundo e repensa suas palavras - Não, corna sou eu.
     - Você não é corna.
     - Eu sabia que você tinha me traído antes das crianças nascerem, mas isso é ridículo - Pontuou Vicky como se estivesse falando sozinha ao telefone.
     - Vicky, Vicky - Chris bufa sem chão - Olha, eu jamais te trairia, não sei por que está agindo dessa forma.
     - Eu estou agindo assim por que me disseram a verdade no passado mas eu não quis acreditar. Gente feito você é assim mesmo, não dá valor a nada nem para ninguém, por isso que vivem e morrem sozinhos - Cornell pede a cabeça, controlando tanto a raiva quanto a tristeza por tudo que Vicky estava soltando nele.
     O suor frio frio escorre de seus cabelos espalhafatosos enquanto ele escuta em silêncio as palavras cruéis da esposa.
     - Eu posso merecer isso Chris, mas seus filhos merecem? - Agora não preciso mais me arrepender de meus erros, mas e você?
     - Erros? - Questionou Chris cansado de apenas escutar.
     - Sim. Uma noite eu estava em uma festa durante sua turnê com Tom e os demais meninos do Rage Against - Ela seca as lágrimas dos olhos e respira com peso, incrédula por estar revelando uma parte tão escura de seu ser - Me disseram que você estava com uma jovem fã em seu camarim, mas eu fingi não ter escutado. Dezenas de vezes tinhs ouvido a mesma história e ignorado, mas daquela vez me mostraram uma foto sua com a garota. Uma ruiva de rosto redondo. Você beijou a bochecha da vadia e ela beijou de volta.
     - Era uma fã, nem lembro direito o nome dela, talvez fosse Cassie - Tentou justificar-se o cantor, mas Vicky definitivamente não estava mais prestando atenção em suas palavras. Estava inteiramente imersa na própria dor e nas próprias memórias - Eu quis levar alguns fãs para uma recepção mais amistosa. Um bônus promovido pela promoção de uma rádio.
     - Eu perdi a cabeça. Tentei parar na terceira taça de champanhe, mas me peguei tomando vodca e uísque - Vicky solta o ar com peso na respiração - Estava cansada, pois parecia que todos sabiam da verdade, menos eu, então puxei um sobrinho de uma amiga de lado, conversei com ele por algum tempo, uma hora, talvez duas, então eu - Ela engole em seco - Eu fiz o que tive vontade de fazer - Talvez tudo não passasse de um grande mal entendido, mas naquele momento estava claro para Chris, sua mulher não tinha fé nele.
     - E você me chama de traidor?
     - Nem assim você admite? Eu estou contando minha dolorosa verdade e você insiste na sua mentira desleal? - Cornell chuta a mesa onde o abajur se sustenta, derrubando o objeto no chão em sequência e socando impiedosamente uma prateleira na parede, machucando seriamente sua mão nas divisões afiadas e parafusos avulsos.
     - Eu não te traí, mas você me traiu sua desgraçada - Vociferou um Chris esgotado - Eu estava fazendo algo importante pra mim e você não suporta passar uma temporada distante que pensa merda? Quando eu terminar minhas coisas, se prepare para encarar o juíz.
     - Juíz? Acha que o juíz vai deixar um viciado em cocaína e álcool ficar com meus filhos? Fica com sua cadela da clínica e tenha filhotes com ela seu porco - Retrucou Vicky cheia daquela discussão.
     - O que você vai fazer?
     - Vou levar as crianças para viajar. Aproveite sua amante - Vicky desliga na cara de Cornell, que se contém para não desmanchar-se em lágrimas, cerrando os dentes uns nos outros enquanto encaixa o telefone no gancho com delicadeza, evitando transbordar sua raiva no que não pertencia, apesar do abajur ter sido bem danificado. Sentando-se na cama para conter as emoções à flor da pele, desimpedido porém preocupado, Chris deixa algumas lágrimas o dominarem no primeiro momento, mas quando se lembra que Amy estava bem ao lado ele se controla. Apesar de não se sentir à vontade o bastante para contar algumas coisas para a jovem, ele havia se aproximado o suficiente para compartilhar momentos alegres que há tempos não via em seu casamento. No fim eram as turnês solo e poucas horas com os velhos amigos que preenchiam seu vazio, mas agora aquele pequeno buraco raso havia se aprofundado e aumentado de diâmetro de maneira fria e desprezível. Aquele era seu Buraco negro solar afetando cada dia mais suas decisões e sua jornada, mas talvez tivesse como amenizar seu estado lastimável com uma boa conversa e os risos da jovem amiga do Reino Unido. Ele se levanta hesitante, encarando as mangas da blusa como se estivesse violando uma regra muito importante de um manual, então se dirige ao banheiro e bate à porta.
     - Amy - Chamou Chris desanimado, mas nenhuma resposta lhe vem à tona, então ele simplesmente se senta escorado na porta e se põe a falar - Minha mulher ligou. Acho que você escutou grande parte, senão tudo que aconteceu. Ela nunca confiou em mim e disse coisas tão amargas que me sinto completamente derrubado de um prédio de dez andares. O pior é que sobrevivi à queda - Ele ri sozinho, procurando a melhor forma de se expressar - Eu não sou muito bom com esse tipo de coisa, até por conta do ciúmes onipresente na minha vida, mas acho que dúvidas recaíram sobre mim e eu não soube lidar com elas. Confesso que você é uma pessoa sem igual, você anda me levando além do que eu espero. Você tem sido um alívio no meio de tantos fardos - Cornell torna a engolir o choro, encarando as mangas de sua blusa enquanto pensa em como continuar seu monólogo - A maior parte do tempo eu espero que o álcool ou o pó rasgue um dos meus órgãos de vez e me enfie seis palmos abaixo da terra, e imagino que se sinta assim ás vezes. Eu vi em você um pouco de mim, talvez por isso tanto medo de ser uma pessoa "suportável", mas você me suportou mesmo assim e - A água do chuveiro continua escorrendo, sem qualquer reação, ruído ou movimento de Amy. Apenas silêncio, fora a água que cai do chuveiro - Amy, está me ouvindo? - Ele gruda o ouvido na porta, onde escuta apenas o chuveiro - Amy? - Chamou Cornell aumentando o tom, mas nenhuma resposta vem do banheiro - Amy? Responde porra, não me deixa falando sozinho - Sem resposta outra vez - Amy, eu vou abrir a porta - Ele pensa e repensa na ameaça, mas sua preocupação vem em primeiro lugar. A maçaneta é puxada e Chris se surpreende com o fato da porta estar aberta. O banheiro estava nebuloso devido à fumaça que emana do chuveiro, mas não havia qualquer sinal da presença da jovem inglesa além de uma tiara sobre o vaso sanitário e sua caderneta de composições largada sobre a pia. Atrás do vaso havia um vestido curto beje florido e sobre ele uma bermuda jeans azul. Nada de perfume ou maquiagem. Cornell fecha o registro do chuveiro e abre a janela do banheiro, deixando o cômodo ventilar enquanto corre para o quarto à procura de pistas sobre Amy. Nada de bilhetes ou passagens extras. O dinheiro ainda estava na bolsa, assim como seu maço de cigarros, o que aumentou sua preocupação, pois Amy jamais o abandonaria sem avisar e ainda por cima sem levar os cigarros. Mas o que ele poderia dizer? Mal conhecia a jovem. Ela era uma estrela em ascensão, um impulso aceso para o perigo, enquanto ele anseiava por uma fatalidade. Não havia o que fazer, exceto por um detalhe. Na notícia falaram de um sequestrador que levou uma paciente. E se houvesse de fato um sequestrador? E se ele tivesse encontrado ou reconhecido a cantora e tivesse levado a jovem à força do hotel? De quamquer maneira, Chris se sentia responsável por Amy, o que significa que precisava sair do hotel à procura da amiga. Se encontraria o que estava procurando era outro assunto, mas apenas de saber involuntariamente que estava fugindo de sua crise matrimonial lhe proporciona alívio suficiente enquanto prepara sua mochila e acrescenta a bolsa de Amy ao conteúdo total, guardando a tiara largada no banheiro em seu bolso e recuperando a preciosa caderneta antes de se despedir do quarto. Ele desce as escadas apressado, olhando de um lado para o outro para confirmar se ninguém o veria saindo, então deixa algumas cédulas para compensar pelo abajur e se retira do hotel sem alarmes. Deixar Janin e seus avós sem se despedir era triste, mas dizer adeus poderia revelar mais acerca de seus planos além do que pretendia, além do que ele não sabia se Amy fora embora por livre e espontânea vontade ou se tinham coagido a jovem. Ele cobre a cabeça com um bucket azul escuro em contraste com uma blusa cinza de touca e uma calça azul com alguns riscos leves que nada expunham de suas pernas. Depois de algum tempo caminhando, ele encontra um telefone público onde pensa para quem deveria ligar. Não havia escolha melhor a fazer do que começar de onde haviam partido. A clínica para reabilitação de usuários de drogas. Ele disca o número e aguarda na linha, olhando para o céu que ainda estava claro, restando pouco para a chegada da noite.
     - Com quem falo?
     - Willie Winehouse, queria saber se posso falar com a minha prima? - Perguntou Cornell na esperança de que a atendente acreditasse.
     - Escuta, não posso ajudá-lo, não ligue mais - A mulher desliga na cara de Chris, deixando-o um pouco ofendido, mas logo ele torna a telefonar, pensando em uma nova estratégia que lhe vem à mente e que tinha mais chances de funcionar do que a anterior - Alô?
     - Eu queria falar com uma arrumadeira da ala nove. Se chama Erika.
     - Aguarde um momento - Chris fecha o punho em comemoração, com os batimentos agitados em relação ao que se daria. Não havia garantias em uma cooperação da jovem funcionária da clínica, mas ele iria contar com sua habitual e descartada simpatia para lidar com qualquer adversidade.
     - Alô? - Chamou Erika, a funcionária de olhos brilhantes e cabelos desgrenhados tão chamativos quanto ao estarem arrumados e em um rabo de cabelo virado para trás.
     - Erika? Aqui é o Chris - A arrumadeira encara a colega de trabalho com indiferença.
     - Chris? Que Chris?
     - Chris Cornell - Erika engasga com o próprio ar antes de pedir privacidade à atendente.
     - Por que está me ligando? Não bastou a minha parte na conspiração do sumiço da Winehouse e agora me liga descaradamente?
     - Queria que você me desculpasse por todo esse alvoroço, mas não tinha mais a quem recorrer - Esclareceu o cantor tentando mostrar sua situação à jovem - Eu estava com Amy até agora pouco.
     - Ela desapareceu?
     - Não - Negou Cornell quase de imediato.
     - Ela desapareceu - Confirmou Erika em tom de preocupação.
     - Liguei para saber se realmente alguém foi sequestrado.
     - Ninguém foi sequestrado, a coordenadora disse isso à imprensa para não agitar todo mundo com um possível sumiço da cantora britânica, mas me parece que o pai dela ligou esses dias.
     - Que porra - Chris colocou a mão sobre a testa indignado. Sua irresponsabilidade poderia ter colocado Amy em uma situação de risco.
     - Se ela sumiu, pode ter acontecido qualquer coisa - Afirmou a arrumadeira tão preocupada quanto Cornell.
     - Eu sei - Ele pensa olhando de casa em casa, sem ideia do que fazer, até Erika apelar para uma possível luz.
     - Olha, não sou de me meter em perigo, mas não tenho nada além desse emprego. Um amigo manja de situações embaraçosas e pode nos ajudar.
     - Fico muito grato mas... nós?
     - Você deve estar desamparado e sozinho, então vou pedir uma folga e te ajudar nessa busca - Erika suspira de cansaço quando se lembra de completar - Se você quiser, é claro.
     - Anote o endereço - Pediu Chris decidido a aceitar a ajuda de Erika sem precisar pensar. Depois de tudo que havia acontecido, aquela era a melhor coisa a se fazer.


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Notas finais do capítulo

A arrumadeira do começo da história volta para ajudar Chris a encontrar Amy, mas será que isso é tudo?



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