Like a back in black - Velhos companheiros escrita por Andrew Ferris


Capítulo 7
Fazendo hora


Notas iniciais do capítulo

Que outras desventuras aguardam nossos protagonistas?



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A luz do sol bate abafada no rosto de Chris, entrando no quarto por conta da porta entreaberta que ainda por cima ficava na frente do quarto. Se isso era algo bom ou ruim, é uma questão de entender o que se passa. Ele de descobre até a cintura e encara o relógio em cima da mesa, bem ao lado da cama de Amy. Oito e meia da manhã.
— Merda - Cornell se veste de qualquer jeito, colocando uma blusa azul céu, um buet branco, óculos escuros e calças listradas verde musgo e preto. A combinação não funcionava, mas ele sequer reparou nesse detalhe. Chris desce apressado as escadas à procura de Amy, que não estava no quarto ou no corredor fumando ilegalmente. Depois de procurar por metade do prédio, ele finalmente a encontra no refeitório, onde ela conversa animada com Janin sentados em uma longa mesa que se estende entre as paredes do cômodo. Dois pratos vazios indicam que ambos haviam terminado o café, o que deixa Cornell mais irritado ainda.
— Bom dia dorminhoco. Dormiu bem? - Perguntou Winehouse reprimindo um riso.
— Onde você arrumou essa calça? - Perguntou Janim impressionado e ao mesmo tempo com vergonha alheia - Eu não sou muito fã de moda, mas você está ridículo - Amy cai na risada, mas de repente Cornell a puxa da mesa e param no meio do corredor.
— Você viu que horas são?
— Oito e alguma coisa, por que?
— Se esqueceu de que tínhamos de levantar cedo para ir embora mais cedo ainda? - Indagou Cornell revoltado.
— Não, mas eu também levantei tarde. Acho que nosso dueto ontem acabou cedo demais - Declarou Amy com malícia na entonação, mas Chris não parecia contente com a brincadeira.
— Como vamos fazer se nos reconhecerem? Ou esqueceu que você foi "sequestrada por um dos pacientes da clínica"?
— Relaxa Chris, amanhã sairemos bem cedo e seguiremos viagem para a casa do amigo do seu amigo - Esclareceu Amy tentando inutilmente acalmar o amigo.
— E se nos reconhecerem?
— Janin vai nos ajudar, não é Janin? - Questionou a jovem encarando Hontown, que observava a cena um pouco afastado.
— Claro. Não é sempre que tenho um prazer desses - Hontown despreza o que termina de falar e decide se corrigir - Uma honra dessas.
— Pode fazer o favor de ser menos insuportável? - Perguntou a inglesa com um sorriso torto, mas Chris passa reto por ela com um longo suspiro de conformidade antes de subir a escada de volta ao seu quarto. Cornell joga o chapéu em cima da mesa, tira os óculos fora e se joga na cama, reparando de repente o quão cansado estava. Talvez Amy não estivesse inteiramente errada. Entretanto, a notícia que havia saído não era nem um pouco agradável. Sem dúvidas havia sujeira nas informações, mas a pergunta era "por quê"? Quem teria ousadia para tornar aquela situação criminosa a tal ponto? Amy entra no quarto, empurrando lentamente a porta para não fazer barulho aos ouvidos de Chris, que percebe a entrada da jovem sem dizer nada.
— Chris, se lembra do que eu disse ontem?
— Amy, me deixa em paz por favor.
— Olha, esse lugar é bacana. Podemos curtir um pouco sem chamar muita atenção e depois iremos atrás do Dave. Garanto que você vai gostar e se desestressar um pouco, que tal?
— Me deixe - Amy continua no quarto em silêncio, se senta ao lado de Chris e começa a observar seu corpo. As costas simples e pequenas dentro de uma blusa muito folgada, uma calça folgada na parte de cima, mas que aperta próximo ao joelho, delineando o restante das pernas, o cabelo crescendo, suas curvas realçando os detalhes do fino rosto de Seattle. Ela acaricia com leveza o rosto do amigo, se aproximando aos poucos, hesitante com seus movimentos. Suas mãos repousam suavemente sobre seus ombros pesados, escorregando com pretensão pelas costas, uma série de movimentos circulares que relaxam Cornell e deixam a jovem com uma estranha sensação em seu interior. Por fim, ela puxa Chris para perto e sorri com graciosidade.
— Podemos passear agora? - Em uma casa de paredes externa pintadas com forte marrom claro, telhados e janelas escuras, grama por aparar e uma garagem com carro abandonado ao pó, Vicky respira fundo, esperando seu chá esfriar em cima de uma mesa, muito embora ele já devesse ter resfriado totalmente pelo tempo que ela estava sentada. Com as unhas roçando o tecido da poltrona ansiosamente, ela encara o telefone com angústia. Há cinco horas havia recebido um telefonema, mas o indivíduo não queria entrar em detalhes a respeito de seu marido, o que era um comportamento inaceitável para um detetive particular, mas ele iria ouvir algumas verdades quando retornasse as centenas de ligações que Vicky havia feito desde que despertara de uma insônia esmagadora que sufoca seus pensamentos racionais. Seus filhos correm de um lado para outro da casa, mas nem isso é capaz de deixá-la alegre. Somente o toque do telefone aliviaria seu ânimo e suas expectativas. O que esperava deixando Chris ir para uma clínica do outro lado do país?
— Crianças, cuidado com os móveis - De repente o telefone toca e no primeiro instante a mulher atende ansiosa, aguardando a pessoa se identificar.
— Senhora Cornell?
— Quem é?
— Fergus Goestenberg. A senhora me ligou para saber o paradeiro do seu marido - Esclareceu o homem com uma voz calma, pois havia passado por esse tipo de situação dezenas de vezes.
— Descobriu onde ele está?
— Estou perto. Espalhei alguns imãs que atrairão pistas para minhas mãos, mas tenho algumas informações que podem ser de grande ajuda para sua pessoa, desde que a senhora esteja interessada em saber.
— Claro que quero saber. Tudo relacionado ao meu marido eu quero saber - Declarou Vicky alarmada.
— Pois bem, eu consegui contato com uma pessoa do convívio de Chris e...
Depois de tomar um café da manhã leve - biscoitos crocantes de nozes e suco de abacaxi com menta - Chris se dirigiu na companhia de Amy e Janin por uma trilha florestal atrás do hotel. Pequenos pássaros e insetos habitam entre os galhos secos, proporcionando uma calmaria que nenhum dos dois sentia há muito tempo. O menino Hontown se mostrou um guia mais eficiente do que cem profissionais que Cornell conheceu em sua carreira. Janin explicava tudo com clareza e paixão, desde as épocas do ano até o riacho que corria depois de um morro e sobre os tempos frios quando os ursos e cervos aparecem.
— Nunca vi nenhum dos dois - Comentou a jovem com tristeza, pois gostaria muito de ter visto esses seres em seu habitat natural.
— Normalmente eu costumo vê-los quando venho pra cá nas férias de inverno, mas faz dois anos que não frequento o casebre nessa época - Contou o jovem sentando-se à beira do morro e sendo seguido pelos dois ídolos.
— Seus avós moram aqui desde sempre? - Perguntou Cornell nitidamente interessado, para o espanto de Winehouse.
— Eles se casaram no sul da Flórida, então se mudaram para a cidade em busca de sossego assim que completaram doze anos de casamento. Antes eu não gostava de vir aqui, até descobrir tudo o que estava escondido atrás daquelas árvores.
— Então aquelas piljas de discos são dos seus avós?
— Sim, foi outra das coisas que me fez voltar ano após ano. Eu nunca tinha visto um vinil ou um toca-discos até encontrar aquela sala de música - Janin suspira com leveza ao recordar de seu maior triunfo quando pequeno - Antigamente, meu avô usava o cômodo para deitar e ficar relaxando por longas horas escutando suas músicas favoritas. Fã de Beatles, Black Sabbath, coisas do gênero. Infelizmente ele é um cara bem purista, então tomem cuidado com o que vão dizer - Alertou Hontown erguendo o indicador para ambos.
— O que eles fazem de manhã? - Perguntou Amy intrigada - Não vi nenhum deles ainda.
— Claro que viu. Minha avó é a recepcionista e meu avô é o cozinheiro - Espantados com a notícia, Chris e Amy se entreolham sentindo-se um par de tolos, rindo um do outro sem conter-se antes de se deitarem e se colocarem a observar as copas das árvores, suas extensões e ramificações repletas de folhas de diferentes formas e cores. Os dois se entreolham, ambos com olhares cheios de culpa e dor, mas nenhum se dispõe a estragar o silêncio com palavras espinhosas. Janin observa a cena de relance antes de se levantar e apontar em outra direção.
— Se quiserem posso mostrar-lhes a cachoeira.
— Claro. Por que não? - Os três caminham em fila indiana, Janin na frente, Chris logo atrás e Amy por último, aproveitando-se da disposição para observar escondida o amigo, que sequer imaginava o que se passa na cabeça da inglesa. Conforme pisam em pedras lisas sobre a água gelada, filestes de água escorrem sobre os três, que se permitem purificar pela água pura e natural proveniente de nascentes não distantes daquele ponto.
— Tomem cuidado, pois essas pedras são escorregadias - Avisou Janin pulando de uma pedra para outra, seguindo em frente sem problemas. Chris por sua vez escorrega durante o salto entre duas pedras distantes, mas por pouco aterrissa firme do outro lado. Amy por sua vez escorrega e cai na água, sentindo-se enganada ao perceber o quão raso era aquele ponto. Chris e Janin riam calorosamente antes de Cornell erguer a mão para ajudar a amiga a subir de volta nas pedras, mas ela retira as sandálias antes de subir na pedra, pisando sem querer no pé de Cornell, que sente os dedos molhados e gelados tocarem sua pele enrugada como um refresco imediato para o calor interno que o preenche. Quando finalmente alcançam a cachoeira, Janin se joga na água, erguendo a cabeça para permitir que seu cabelo fosse encharcado com a forte corrente daquele trecho.
— Pode ir - Declarou Amy - Estou bem aqui. Não quero molhar mais nada, obrigada - Sem aviso, Cornell empurra a jovem em direção à água pouco antes de se jogar, espalhando água por toda parte e encarando Amy com uma expressão curiosa.
— Não foi você que falou pra eu ser menos insuportável?
— Eu nunca te achei insuportável - Ponderou Janin, sem perceber que a pergunta não havia sido dirigida a ele, o que leva os dois cantores ao riso imediato antes de se levantarem para sair da cachoeira e apenas observar a bela paisagem que lhes fora apresentada.
— Confesso que gostei desse lugar - Exclamou Chris sorridente - Mais do que queria admitir.
— Não é o único. Desde que viemos para essa floresta, não senti falta das minhas coisas por um minuto - Revelou Amy sentindo-se grata por estar naquele lugar.
— Nem eu. Pela primeira vez em anos não sinto vontade de cheirar pó.
— Mas é bom, por isso sente falta.
— Nem tudo que é bom me deixa com saudade.
— E eu?
— Amy, pare - Pediu Chris não contendo o riso - Você é péssima com cantadas.
— Não foi uma cantada - Os dois se entreolham seriamente em um conflito interno que os abala silenciosamente. No fundo, ambos sabem que aquile vácuo tem um significado ainda oculto para os dois, mas deixam aquilo de lado assim que Janin se aproxima.
— Estão com fome? - De volta ao hotel, o trio se dirige ao refeitório, onde o senhor que Amy e Chris descobriram se tratar do avô de Janin lhes serve pratos distintos.
— Filé para a senhorita, peixe para o cavalheiro e hambúrguer para esse projeto de homem que chamo de neto - Declarou o idoso com um sorriso debochado.
— Pega leve vô.
— Obrigado senhor Hontown - Agradeceu Cornell antes de se sentar no banco em frente à inglesa.
— Então ele contou que sou seu avô? Que milagre, garoto - Amy ri sem graça com tudo o que acontece, então Janin se senta orgulhoso entre os dois ídolos, mostrando ao casal uma pequena rachadura na parede atrás da cadeira.
— Esse lugar está cheio delas. Avisei meu avô que precisa de reparos, mas ele diz não ter dinheiro para reformar o hotel e nem planeja fazer isso tão cedo. Quem sabe quando eu for o dono - Chris fica pensativo, revirando a comida no prato antes de chegar a uma conclusão.
— Se quiser, eu posso bancar o concerto - Os olhos de Janin se arregalam de espanto - O que foi?
— Eu não posso aceitar, seria abusar de dois clientes do meu vô - Concluiu o jovem planando uma folha em seu rosto para aliviar o calor repentino.
— Não seria abuso, nós dois cagamos dinheiro - Afirmou Amy dando de ombros - Principalmente ele.
— Por que principalmente eu?
— Por que você é velho - Janin não consegue segurar a risada, mas pensa com clareza e encara o avô por trás do balcão e vidro.
— Eu posso conversar com meu avô e se ele aceitar você pode nos ajudar.
— Seria um imenso prazer - Declarou Cornell esfregando a cabeça do jovem com alegria antes de focar em seu almoço.
Mais tarde, depois de tomar um banho rápido, Chris desce as escadas para encontrar a senhora Hontown, avó de Janin e recepcionista do hotel visando pagar suas contas, mas a idosa não estava no balcão como esperado, então Cornell caminha descalço pelos corredores permeados com tapetes longos e confortáveis, olhando de cômodo em cômodo à procura da idosa, que encontra na sala aos fundos da construção, conversando com Janin ao lado do marido. O senhor Hontown percebe que ele assiste a conversa, então se levanta decidido para ir de encontro ao cliente, que se aproxima hesitante e confuso em direção ao casal.
— Então quer nos ajudar, senhor... - Chris pensa rapidamente na primeira merda que passa por sua cabeça.
— Highway.
— Senhor Highway?
— Sim quero ajudá-los a reformar o hotel. Particulamente, gostei tanto da receptividade de vocês quanto do quarto, da comida e do seu neto. Acho que vocês sabem lidar com seu estabelecimento e merecem uma recompensa por exercer seu trabalho com tanta paixão. Eu sei bem como é amar o que se faz.
— Eu gostaria de aceitar sua proposta, senhor Highway, desde que se sinta convidado para voltar quando bem entender - Declarou o idoso erguendo a mão para Chris, que o cumprimenta firmando o acordo com entusiasmo.
— Pode ter certeza de que voltarei - Chris se desvencilha do idoso e lhe entrega o valor da conta de Amy e dele - Infelizmente isso é tudo que posso dar por hora, mas assim que conseguir pegar em mais dinheiro farei um depósito simples na conta do senhor.
— Achei que tivesse dito que a ligação era para esse moço, Janin - Comentou a senhora Hontown confusa.
— E é. Mande a ligação para o quarto dele vó - Pediu Janin sem entrar em detalhes.
— Senhor Highway, sabe que tenho a impressão de conhecê-lo de algum lugar? - Revelou O avô de Janin tentando se recordar, mas o garoto empurra Cornell para fora da sala.
— Vô, ele tem mais o que fazer do que ouvir o senhor agora. Depois vocês conversam - Gritou o jovem indignado, levando Chris às pressas de volta à escada - Atenda o telefonema, uma mulher estava perguntando por você.
— Certo. Eu ligarei - Sem entender o que o jovem queria dizer, Chris correu para seu quarto e escutou o chuveiro ligado, fazendo-o subtender que Amy estava tomando banho. Ele pega o telefone e aperta um botão, recebendo a ligação diretamente do balcão do hotel, onde Janin trata de transferir a chamada antes que tudo se complique mais ainda.
— Quem é? - Indagou Cornell com indiferença.
— Ninguém, só queria ter certeza de que você estava com uma vagabunda em um hotel - Exprimiu Vicky com os dentes semicerrados, os olhos vermelhos reprimindo o choro de seu ser.


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Notas finais do capítulo

Vish, Vicky descobriu o que não devia e pensou o que não devia, como será que Chris lidará com essa situação?



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