Marinette estava em um cômodo vazio mas... imponente. Não havia outra forma de descrevê-lo. Paredes espaçosas, uma luz... roxa refletindo no chão. Criando a imagem de uma borboleta. Ou de uma mariposa.

— Parece que acabou - disse uma voz ao lado dela.

— Acabou - a garota respondeu, sentindo um vazio em seu peito.

— E o que fazemos agora? - a pergunta veio cheia de desespero. Ela se virou para encarar o rosto desolado de Chat Noir.

— Eu não sei, Chat - era raro que Ladybug admitisse sua vulnerabilidade, mas lá estava ela, no fim, mostrando não ser tão invencível quanto aparentava. - Eu não sei.

Marinette acordou sem ar, com a sensação de que alguém tinha lhe dado um soco no estômago.

Ela estava sufocando, sua mente estava a mil, e ela sentiu que o mundo girava a seu redor.

Então ela tinha sido Ladybug.

Como pôde se esquecer disso?

Respirou fundo. Tudo bem, ela tinha se lembrado, isso que era importante. Agora ela só precisava...

Foi quando a garota percebeu onde se encontrava. E não era no seu quarto... apesar de ser um quarto bem familiar. Suas memórias ainda estavam confusas, mas Marinette conseguia ter pequenos flashes de memória de estar uma situação similar.

— Eu... - murmurou, parando ao perceber sua voz mais grossa que o normal. Não só grossa. Masculina.

Hesitantemente, sem querer admitir conhecer o cômodo em que se encontrava, a garota olhou para baixo, para um peito nu, e tirou a coberta de suas pernas, revelando uma calça vermelha com bolinhas pretas, uma clara referência a Ladybug.

Ela sabia que Adrien tinha vários objetos em homenagem à Ladybug.

E Marinette sempre imaginou que Chat Noir também os teria.

— Eu sou Ladybug - sussurrou, tão baixo que mal pôde ouvir suas próprias palavras. Tentou ignorar o tremor em suas mãos, graças ao nervosismo. - Mas eu agora sou Adrien, que é Chat Noir. Isso... – fez o possível para controlar sua respiração ofegante. - Isso já aconteceu antes.

Como seria bom ter Tikki a seu lado para ajudá-la com algum conselho sábio. Tikki, seu kwami. Tikki. Tikki! Como ela sentia falta de Tikki! Marinette não conseguia entender como tinha esquecido a pequena criatura que esteve a seu lado por tanto tempo. A garota queria poder abraçar o kwami e dizer que a amava, mesmo que isso não lhe desse os poderes de volta. Marinette só sentia falta de sua amiga.

Mas Tikki estava com Mestre Fu. Assim como Plagg, o kwami de Chat. Marinette sabia disso... ela já tinha passado por aquela situação antes. Ela e Adrien já tinham trocado corpos antes, mas por alguma razão tinham esquecido...

Interrompendo seus pensamentos, a garota congelou, dando conta de uma sensação incômoda... abaixo de sua cintura.

Ela fitou o teto, tentando não surtar com toda realidade que a atingia naquele momento.

— Ah não, não, não... Eu... estou no corpo de Adrien Agreste. Adrien Agreste! Chat Noir! E... está duro! O que eu faço? Meu Deus, isso não está acontecendo.

Que horror.

Ela era Ladybug, e seu crush era Chat Noir. Mas em todas as situações em que ela imaginou estar no quarto dele, ou tocar o corpo dele... não era isso o que ela queria dizer!

— Eu preciso usar o banheiro - mas não podia. Não tinha como usar o corpo de Adrien daquela forma. Ela provavelmente já tinha feito isso em situações anteriores, mas sua memória não era clara. - Ok, eu não sou Marinette, eu sou Ladybug, eu consigo fazer isso. Preciso usar o cérebro, não a emoção - disse para si mesma, na tentativa de encontrar coragem, mas era em vão. - Eu não lembro de como era ser Ladybug! Eu sou só a Marinette! Eu não posso fazer isso!

A garota enfiou a cabeça no travesseiro para conter um grito.

Esse travesseiro... tem o cheiro de Adrien.

Com outro grito, se afastou do travesseiro, quase como se fosse tóxico, e se colocou de joelhos na cama.

— Ok, eu preciso tomar uma atitude.

Como se para forçá-la a tal, uma música preencheu o quarto, fazendo-a se sobressaltar mais uma vez. O celular que ela sabia pertencer a Adrien começou a tocar ao lado do travesseiro. "Miraculous", de Jagged Stone, pra ser mais exata.

"Marinette chamando"

Eu... Marinette... Quê?!

— Alô?

— Mari, puta merda! - oh. Oh. É claro. Ela devia ter pensado nisso antes. Se ela, Marinette, era Ladybug e estava no corpo de Adrien, que era Chat Noir, então Adrien estava...

— Você tá no meu corpo! - ela acusou, como se a culpa fosse dele. - Precisamos desfazer isso!

— Você sabe como? Ah! Isso não é o mais importante agora! Você! Marinette! Você era Ladybug! My Lady... e você disse que nós não nos conhecíamos na vida real!

Ouvir a excitação de Adrien com sua voz fez Marinette estremecer, mas também fez com que ela recuperasse uma postura mais severa, digna de seu alter-ego.

— Não é a hora pra isso, A... Marinette - corrigiu, por precaução. As paredes podiam ter ouvidos. - Nós temos que dar um jeito nesse problema pra depois conversarmos sobre... tudo. Eu não posso ser você!

Aquela situação era um caos. Nunca, nem em um milhão de anos, uma garota como ela poderia se passar por Adrien fucking Agreste. Ela não saberia agir como um príncipe encantado como Adrien costumava fazer.

Já Adrien, por outro lado...

— Eu não vejo problemas em ser você.

— Adrien... - ela murmurou, sabendo que não conseguiria repreendê-lo chamando-o de "Marinette". Era muito estranho.

— O cheiro da padaria aqui é ótimo, e é bem divertido ficar observando suas paredes, com essa decoração bem descolada...

Marinette pensou nas inúmeras fotos de Adrien coladas nas paredes, e corou. Sentiu que ia explodir.

— Adrien! – tudo bem, ela gritou mais do que deveria.

O garoto riu. Ele se atreveu a rir!

— Não ria! - em outra situação, ela estaria mortificada, mas a risada provocativa do outro lado da linha era tão típica de Chat Noir que a garota não conseguiu ter tal reação.

— Não estou rindo de você, eu prometo. Estou lisonjeado, My Lady.

My Lady.

My Lady.

My Lady!!!

— Não fique se achando - Marinette advertiu. - Eu vou jogar todas essas fotos fora assim que chegar em casa.

— Não!

— Nós temos coisas mais importantes pra discutir - lembrou. - Eu não posso...

A garota foi cortada por uma batida na porta. Sem esperar por uma resposta, a mulher que Marinette conhecia Natalie entrou no quarto, carregando um tablet e com um olhar sério.

— Você já está acordado? Que ótimo! Seu café será servido em dez minutos, esteja pronto até lá, e em quarenta e cinco minutos você tem um ensaio fotográfico. Seu motorista te levará pra aula assim que acabar, Adrien.

Por sorte, Natalie não esperou por uma resposta antes de sair do quarto. Porque Marinette estava petrificada. Ensaio fotográfico. Aulas. Adrien. Adrien.

— Você... - murmurou.

— Ouvi - disse a voz do outro lado da linha. - Vá, não é difícil, na sala discutimos isso.

Adrien não esperou Marinette responder, desligando assim que terminou de falar. Marinette, no entanto, ficou parada pelo que pareceram horas, sua mente imaginando diversos cenários. Adrien, como Marinette, falando com Alya.

A garota não sabia o que era pior: ele ouvir sobre a crush dela por ele (se as fotos não foram óbvias o bastante), ou ouvir da Alya sobre Chat Noir.

Ah, Deus, ele não tinha processado que ela disse shippar Ladynoir, não é? Ele nunca deixaria ela em paz! Por que não poderiam simplesmente ir na casa de Mestre Fu e procurar uma solução?

O alarme em seu celular a tirou de seus devaneios. Certo. Café da manhã. Mas antes...

— Eu ainda preciso ir no banheiro! 

E ela quase mijou nas calças ali mesmo com a realização de que Adrien estava no corpo dela...

E ele provavelmente também teria necessidades.