"Quebrando todas as regras ele se aproximou e olhou diretamente em meus olhos. Tão perto e tão intensamente como nenhum outro homem jamais ousou fazer.

  -Run?- perguntou ele, estendendo a mão em minha direção.

E eu entendi.

 Entendi não só o que ele tinha dito, mas também que aquela era a oportunidade que eu tanto esperava."

Os olhos dela eram azuis.

Taehyung olhou dentro daquele mar de medo e desconfiança e na falta de um vocabulário sofisticado que pudesse dizer o que ele queria expressar esperou que, mesmo que ela não soubesse inglês, que ela pudesse entender o significado daquela ação. 

'Deixá-la decidir', a frase ressoou em sua mente. 

Decidir fugir com um estranho para sabe se lá aonde ou não.  Era uma decisão difícil de fazer e concluiu que ela seria tão louca quanto ele se aceitasse o convite. 

Por um momento ela hesitou, olhando dos olhos dele para a mão estendida, depois para trás, para porta, e em seguida para ele. 

—Eu vou te ajudar.- ele completou, tentando deixar claro sua intensão. 

E ela lembrou-se da cena que aconteceu antes, no casamento, quando ele falou coisas enraivecidamente olhando na direção do noivo. Coisas que ela não entendia. Será que toda aquela revolta era por ela?

Ela balançou a cabeça pronunciando um "sim" quase inaudível e uma onda de alívio acalmou o nervosismo de Taehyung, fazendo-o sorrir. 

—Vamos.-  disse ele em voz baixa, temendo que alguém pudesse ouvir. 

Ele segurou a mão dela, ação que a pegou de surpresa, e correu na direção da porta automática. Passaram correndo na frente da porta do salão, ela ficando do lado oposto à porta para não ser vista, e entraram no jardim. Se tinha um lugar por onde teriam que fugir sem que “ninguém” os visse, seria por ali. 

—Please.- ele correu até a mulher de antes, que estava sentada no banco, observando as flores. 

Ela se assustou ao vê-los se aproximarem naquela velocidade e se levantou. 

—O que aconteceu?- ela olhou para a moça, que continuava com o véu cobrindo o rosto, deixando apenas os olhos à mostra. 

—Por favor, abra o portão. 

Ela olhou seriamente para ele sem entender o que estava  acontecendo e olhou para a moça novamente. Foi quando  a noiva começou a dialogar com a mulher em inglês. Taehyung surpreendeu-se e ficou feliz por saber que ela poderia lidar com a situação melhor do que ele. 

Ela explicou o que  estava acontecendo e porque eles estavam ali. Desesperou-se quando viu que a mulher  não estava muito disposta a ajudá-los, e estava a ponto de implorar quando ouviram passos sobre a trilha de cascalho que levava até onde eles estavam, logo após uma curva ao lado de alguns arbustos mais altos. 

Taehyung então se lembrou do telefonema.

—Droga!- ele soltou a mão da noiva e foi ao encontro de Namjoon. 

—Taehyung, onde você... 

Namjoon não completou a frase ao se deparar com a mulher usando véu logo adiante.

—Eu to' vendo coisa, certo?- ele riu de nervosismo, mas vendo a seriedade de Taehyung e o olhar assustado da moça,  viu que aquilo era real. 

—Não... Não, não, não. -riu de novo. -Isso não tá’ acontecendo, certo? 

—O que raios tá’ acontecendo aqui?- a jardineira se manifestou, querendo uma explicação plausível.

Namjoon começou a falar em inglês com a mulher, desculpando-se e explicando que tudo não passava de um mal entendido. Taehyung olhou para a noiva, que ouvia e entendia tudo, e segurou a mão dela novamente. Ela olhou para ele e o olhar dela disse tudo. O desespero de que tudo pudesse dar errado era visível no rosto dela, e isso fez o coração dele doer.

—Eu vou te ajudar.- ele assegurou.  

—Não.- Namjoon se virou para ele. -Você não vai! 

Taehyung suspirou impaciente. 

—Você vai voltar para o quarto, ela vai voltar para o casamento e tudo vai acontecer como deve acontecer. Ela vai pra lua de mel e nós pegaremos o avião de madrugada. 

Taehyung apertou a mandíbula,  sentindo a raiva incomum inundar seu corpo. A mesma raiva que sentiu no casamento estava ali, agora provocada por seu amigo. Ele não conseguia entender como seu amigo de grupo, alguém que achou que conhecesse bem depois de todos aqueles anos, pudesse ser tão egoísta. Como ele não conseguia perceber que aquilo era para ajudá-la?

A noiva entrou na conversa e começou a falar com Namjoon, estendendo a conversa para a jardineira.  Nessas horas Taehyung  quis saber falar inglês com a mesma fluência que eles. Mas apesar de não entender muita coisa, ele pode ver a expressão no rosto de Namjoon e da mulher mudar. Quando voltou a olhar para a noiva, viu que ela estava chorando.

—Zohar?- uma voz feminina chegou até eles, seguido de palavras desconhecidas.

“Zohar..? É esse o nome dela?”, pensou Taehyung, olhando pra ela e se deparando com um par de olhos assustados. Teve vontade de abraçá-la.

—Please.- ela segurou as mãos da mulher, implorando. —Me ajude, por favor!- disse, às lágrimas. —Eu não quero voltar pra lá. 

Namjoon olhou para a noiva, para Taehyung, para toda aquela situação, e de volta para Taehyung, que olhava para ele.

—Hyung...- Taehyung insistiu. —Por favor...

Namjoon se sentiu novamente o vilão da história e para mudar essa imagem ele tomou uma decisão.

—Eu vou lá distrair eles.- disse, saindo e indo ao encontro dos que procuravam por Zohar, antes que eles os encontrassem.

—Pegue isso aqui...- a jardineira colocou a mão no bolso e entregou um molho de chaves para Taehyung. —Vocês podem ir para meu apartamento e ficar lá até eu chegar. Depois vemos o que fazer.

Tirou uma caneta do bolso e anotou o endereço na mão de Zohar.

—Precisa de dinheiro?         

—Não, eu tenho.- Taehyung segurou a mão de Zohar, não querendo perder mais tempo, e correu com ambas às mulheres até o portão, onde a jardineira o destrancou.

Dava para uma rua pouco movimentada.

—Muito obrigada.- Zohar soltou a mão de Taehyung e num ímpeto deu um abraço forte na mulher.

—Não conte para ele onde iremos ficar, por favor.- pediu Taehyung, referindo-se à Namjoon. ­—Diga que não sabe pra onde fomos.

Eles então correram até uma avenida mais movimentada, do lado oposto à entrada do hotel, e acenaram para um táxi que passava por ali. A todo o instante eles olhavam para trás, para se certificar de que ninguém estava seguindo eles. E assim que ambos entraram no carro e este deu a partida, Zohar desafogou tudo o que estava sentindo em uma torrente de lágrimas.