Zohar escrita por AnneFanfic


Capítulo 4
Possibilidade ?




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 "O que ele tinha falado? Eu não faço ideia.

Mas o desespero em seu olhar, a revolta de suas palavras, desconhecidas a mim, e seu semblante contorcido em raiva, me fizeram crer por um momento que, talvez, em algum lugar do mundo, alguém me permitisse ser livre.”

 

 

 

 Namjoon puxou Taehyung porta a fora e assim que a fecharam atrás deles, sob vaias e palavras que eles felizmente não podiam entender, ele empurrou Taehyung contra a parede e deu um tapa em seu rosto. A raiva que ele estava sentindo era tanta que na verdade ele queria enchê-lo de socos, mas não podia fazer isso. Contentou-se com aquilo, enquanto sua mente era um turbilhão de xingamentos e sermões.

Ele andou de um lado para o outro, em círculos, de costas, tudo isso com as mãos agarradas aos cabelos. Por onde começaria?

Taehyung, por outro lado, embora sentisse seu rosto arder com o tapa que pela primeira vez levou de um amigo, permaneceu encostado na parede, ao lado do vaso de flor, olhando para o chão. Conseguia sentir o cheiro das flores que roçavam a pele do seu braço. Ele olhou para o vaso, para toda a variedade de flores ali organizadas, pensando em quem as teria escolhido, e tirou a mão de dentro do bolso da calça.

—“Eu vou tirar você daqui?”- Namjoon repetiu a frase, cuspindo fogo em cada sílaba, erguendo a cabeça para sentir-se ainda mais enraivecido com a calma com que Taehyung olhava para ele. –Não me olhe assim!- rosnou, aproximando-se.

Com o devido respeito, Taehyung abaixou os olhos, voltando a olhar para as flores.

Você enlouqueceu de vez, Taehyung?! Quem você pensa que é pra fazer essa bagunça em um casamento, cara!? Árabe! Em outro país! “Vou tirar você daqui”?! Há!

Taehyung ouviu cada palavra com o devido silêncio, contando o número de rosas vermelhas do vaso, pensando.

—Se eles reclamarem para a gerência do hotel, você sabe o que vai acontecer? O que o manager vai fazer quando souber? Ele vai te matar!

—Você acha que isso é possível?- ele levantou a cabeça, deixando Namjoon confuso.

—Te matar? Não duvide...

—Não... Tirar ela daqui.

Namjoon o encarou, considerando-o completamente fora de si. Com um balanço de cabeça, negou-se a acreditar que ele estava realmente pensando sobre isso.

—Vamos pro’ quarto.- Namjoon deu às costas e seguiu pelo corredor a passos firmes.

Taehyung mordeu o lábio inferior e ergueu o olhar das flores para a porta fechada.

—Vamos.- se afastou da parede e seguiu Namjoon de longe.

Vinte minutos depois Taehyung estava sentado no sofá,  de banho tomado e com os cabelos ainda úmidos. Estava sentado olhando para o nada quando Namjoon saiu do quarto e caminhou na direção do banheiro. Ele parou, voltou atrás  e olhou para seu amigo. Por um momento se arrependeu de ter batido nele, mas estava na dúvida se pedia desculpas ou não. Ele tinha merecido, não tinha? 

—Hyung.- Taehyung o chamou. 

—Oi? 

—Sinto muito. 

Namjoon ficou sem jeito. Não sabia o porquê, mas estava sentindo-se o vilão da história. Afinal, Taehyung apenas teve coragem para protestar contra o que viu, enquanto ele preferiu desculpar o fato. E como ele foi gratificado pela coragem? Com um tapa na cara. 

—Tudo bem.- Namjoon deu um meio sorriso. —Tenho que te pedir desculpa também. Na verdade, eu te admiro pela coragem. 

Taehyung sorriu. 

—Doeu muito? Eu não medi muito a minha força. 

—Até que não. Só acho que entortou um dente.- ele passou a língua pelos dentes do lado em que recebeu o tapa para se certificar de que estavam alinhados. —Não, não. Estão todos no lugar.

—Idiota. 

Taehyung riu e Namjoon viu que ele era o mesmo Taehyung de sempre. 

—Vou tomar banho. 

—Ok. 

Namjoon estava prestes a fechar a porta quando Taehyung o chamou novamente. 

—O que foi? 

—É que eu realmente sinto muito. 

—Tá', eu entendi.

Mas o que ele não sabia era que Taehyung estava se desculpando pelo que ainda ia fazer. 

Depois que Namjoon fechou a porta, Taehyung  continuou sentado até que ouviu o chuveiro ser ligado. Ele mordeu a língua, sabendo que iria apanhar no outro lado da cara mais tarde, e foi passo a passo até o quarto para pegar a carteira e um  casaco. Para amenizar a consciência pesada, pediu desculpas mais uma vez, embora sussurrando, quando passou na frente da porta do banheiro. Mas parou e voltou, achando que era bom pelo menos “avisar”.

—Hyung, vou lá no quarto do Sejin procurar meu celular. 

—O que?- Namjoon berrou do lado de dentro, sem entender, mas Taehyung já tinha saído. 

Três minutos depois ele estava vasculhando o  vaso de flor ao lado da porta do salão à procura do celular que tinha escondido. Uma desculpa para voltar ali. Em seguida olhou em volta e lembrou-se do jardim japonês. Ele caminhou até o final do corredor e passou por uma porta automática,  entrando no jardim e dando de cara com uma mulher de aproximadamente 25 anos que estava podando as flores mesmo àquela hora. 

—Hi!- ela sorriu, levantando-se. 

Taehyung a cumprimentou e olhou em volta. O lugar era lindo. Ele experimentou caminhar pelo local para fazer um reconhecimento, mas era muito grande para encontrar o que ele queria. Voltou e se aproximou da moça. 

—Tem saída por aqui?

—Tem sim. Lá do outro lado. 

Ele começou a caminhar naquela direção, mas ela avisou que estava trancado. 

—Quem tem a chave? 

—Eu. Por quê? 

Como ele explicaria? Na verdade, nem ele sabia direito o que estava pensando em fazer.

—Você pode abrir? 

—Pra quê?- ela olhou desconfiada.

Ele soltou o ar dos pulmões e colocou as mãos na cintura, direcionando os olhos para os próprios pés. Estava se sentindo extremamente tenso e nervoso. Queria poder ajudar aquela noiva, mas tinha consciência de que aquilo era a mais absurda loucura. O que ele iria fazer? Abrir a porta, entrar novamente na festa e tirá-la de lá?  De que jeito? Com que força lutaria contra aquela multidão? E para piorar a situação ele nem sabia qual era a vontade dela.  E se ela realmente tivesse planejado aquele casamento? E se estava apenas evitando ser tocada pelo noivo por timidez? 

Taehyung sentiu-se tomado por uma tristeza terrível,  estando quase a ponto de chorar. 

—Você está bem?- a mulher perguntou.

—Sim.- disse ele, decidindo desistir daquela loucura. Estou.

Antes de entrar no hotel novamente ele olhou para as estrelas que pontilhavam o céu noturno. Seu celular tocou e ele viu que era Namjoon ligando.

—Aonde você está?! 

—No jardim japonês. 

Namjoon ficou em silêncio por um momento. 

—Tá’ fazendo o que aí?  

Taehyung suspirou, percebendo o tom de desconfiança na voz dele. 

—Tô’ tirando fotos, Hyung. O que mais posso estar fazendo aqui? 

—Ok. Volta pro’ quarto. Que hora que é? 21h? 

—Deve ser. Mas vou ficar mais um pouco aqui. Depois eu vou. 

—Por quê? 

—Porque eu quero, hyung! Posso?! 

Namjoon compreendeu que tinha alguma coisa acontecendo dentro da cabeça de quem falava do outro lado da linha.

—Tá’ tudo bem, Tae? 

Ele não respondeu. Ficou mudo no celular, olhando para o chão enquanto mexia na grama com o sapato. 

—Vou aí te fazer companhia, se quiser... 

—Quero.- respondeu de imediato.

Taehyung desligou e colocou o celular e as mãos no bolso da calça. Sentou-se em um banco próximo, mas não ficou ali nem por um minutos e se levantou. Estava começando a sentir enjoo por imaginar que a noiva teria que dormir na mesma cama com aquele sujeito, e ele não poderia fazer nada para mudar aquilo, ainda mais estando tão perto.

Passou pela porta automática e caminhou a passos lentos, com sua mente viajando por mil lugares. Tentou ao máximo ignorar o que estava acontecendo dentro do salão,  assim que passou na frente da porta, mas não conseguia ser indiferente. Sentiu-se estranho, como se não tivesse conseguido cumprir com uma expectativa ou como se ele tivesse falhado em alguma coisa. Mais precisamente, como se não tivesse sido capaz de cumprir uma promessa.

Ele estava a uns dez metros além da porta, quase no fim do corredor, quando ouviu uma voz feminina falando alguma coisa que ele não conseguia entender, vindo logo atrás. Seu coração deu um pulo dentro do peito. Instintivamente ele olhou para trás e viu a noiva caminhando de cabeça baixa, enrolando o véu em volto do rosto,  deixando só os olhos à mostra. Ao seu lado uma mulher de meia idade falava coisas sem parar e nem uma das duas o viu parado, olhando pra elas. 

De repente alguma coisa estalou na mente de dele e ele se virou para frente novamente e se abaixou para fingir que estava amarrando o cadarço, tentando ganhar tempo. Foi quando percebeu que suas mãos tremiam. 

—Meu Deus, o que eu faço?  

Tentou pensar em alguma maneira de chegar até ela. Mas como? Ele não sabia árabe e estava longe do nível intermediário de inglês. Não sabia nem se ela falava o idioma. Deu-se conta de que sua loucura era ainda mais louca do que imaginava, e isso o fez se sentir ainda mais frustrado e irritado.

“Mas tem que ter um jeito!”, pensou, acreditando que a mera oportunidade que surgiu de se encontrar com ela não podia ter sido em vão. Não podia ser mero acaso. 

—Céus! O que eu faço?

Taehyung olhou disfarçadamente por cima do ombro, ainda na mesma posição,  e viu que a mulher mais velha por algum motivo tinha voltado correndo para dentro do salão,  deixando a noiva esperando sozinha do lado de fora. Ele não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. 

Ele se levantou e por um momento pode jurar que uma voz tivesse sussurrado ao pé do seu ouvido:

"Deixe ela decidir..."

E foi o que ele fez. 


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