"Eu olhei para o reflexo no espelho à minha frente mais uma vez e tentei me reconhecer por baixo daquela maquiagem. Minha mãe apareceu na porta dizendo que estava na hora. Eu era a noiva, a atração principal, e todos esperavam por mim. Mas a única coisa que eu esperava era acordar daquele pesadelo.”

O som de chuva caindo sobre o teto do carro em movimento mantinha Taehyung no limiar entre o sono e a realidade. Enquanto sua mente cansada trabalhava com as imagens que entravam através de suas pálpebras semifechadas e com os sons que entravam em seus ouvidos, transformando tudo em um sonho sem sentido, o carro que levava ele e Namjoon para o hotel aproximava-se do seu destino final. Depois de um dia inteiro de compromissos, fotos e entrevistas, finalmente retornariam ao país de origem um dia depois de seus amigos de grupo. O voo sairia às 2h30 da manhã,  o que os dava algumas horas para descansar antes de seguir ao aeroporto localizado próximo ao hotel.

Taehyung estava balbuciando alguma coisa, meio dormindo, meio acordado, e Namjoon estava mexendo no celular enquanto conversava com seu manager quando de repente uma van cortou a frente do carro. A rapidez do Sejin em usar os freios evitou o acidente, mas nem por isso o susto foi menor. 

—O que aconteceu?- Taehyung, assustado, olhava ao redor tentando entender o que tinha acontecido. 

—Um quase acidente. Mas está tudo bem.- Namjoon o tranquilizou.  

Taehyung deitou a cabeça no encosto do banco, olhou para o teto e suspirou, tentando fazer seu coração diminuir o ritmo das batidas. A adrenalina que correu por suas veias, no fim, acabou espantando o sono. 

Cinco minutos depois o carro parou na entrada do hotel. Para alívio do trio não havia fotógrafos e nem fãs, sendo assim um estresse a menos. A chuva tinha parado e as nuvens começavam a se dissipar, revelando alguns pontos luminosos em partes do céu. Taehyung olhou em volta, para os prédios e pessoas que entravam e saiam deles, para os carros que passavam buzinando, e concluiu que a vida era a mesma correria em qualquer lugar do mundo. Ele suspirou, pegou sua mala e entrou no hotel ao lado de Namjoon e Sejin.

Enquanto faziam o check-in, Taehyung observou os ocidentais andando de um lado para o outro no saguão do hotel. Havia muitos estrangeiros, falando suas respectivas línguas. Por viajar pelo mundo ele já tinha se acostumando a isso, porém sempre se maravilhava diante daquela diversidade. Uma menina negra de cinco anos passou correndo por eles, rindo e fazendo folia, enquanto sua mãe, de salto alto, tentava alcançá-la. Um senhor baixinho, com os cabelos completamente brancos, sentou-se lentamente em um dos sofás dispostos ali no hall de entrada e puxou papo com uma adolescente de cabelos cacheados que não tirava os olhos do celular. Mas de todas as pessoas a que mais chamou sua atenção foi a recepcionista. Uma ruiva de olhos verdes e um belo sorriso. 

Ele a observou por um tempo, notando cada movimento que fazia com as mãos sobre o teclado do computador e como seus olhos passeavam pela tela do mesmo, e quando ela finalmente ergueu o olhar para ele, notando que “alguém” estava olhando para ela, ele sorriu.

—Hello! Good night.- ele abriu o sorriso. 

—É good evening.- corrigiu Namjoon.  

—Good evening.- ele repetiu, e ela riu. 

—Good evening.- ela respondeu, achando seu inglês uma graça.  

—O que é que você tá' fazendo?- perguntou Namjoon, dando um cutucão nas costelas dele. 

—Sendo educado.- respondeu dando de ombros, piscando para a moça quando ela olhou para ele mais uma vez.  

Ela sorriu e voltou ao trabalho. 

Taehyung olhou em volta novamente e viu um grupo de jovens entrando no hotel. Eles usavam  turbante na cabeça e vestidos que iam até a canela, o que não era nada discreto.

—Hyung!- ele segurou o braço de Namjoon e apontou para o grupo. —Olha lá. Será que tem um sheikh hospedado aqui? 

—Por que você não vai lá perguntar?  

Taehyung fez uma careta. 

Não demorou muito e os jovens se aproximaram do balcão da recepção.  Logo mais atrás duas mulheres usando burca apareceram, e enquanto eles faziam perguntas para a outra recepcionista, em inglês,  as mulheres cochichavam entre si. 

—Hyung, o que eles estão falando? Estão atrás do sheikh? 

—Não.  Estão querendo saber onde é a festa de casamento. 

—Casamento?! Aqui?- ele olhou para os homens ao seu lado e os observou falarem ora em inglês, com a recepcionista, ora em sua própria língua, entre si.  —Como será que é o casamento deles?- tentou imaginar como seria a decoração, a música, a cerimônia e principalmente a comida, e se virou para Namjoon. –Bem que a gente podia entrar de penetra só pra ver como é, né?- olhou para Sejin para ter certeza de que ele não tinha escutado e voltou a olhar para Namjoon, com um sorriso sapeca no rosto.

—Claro, porque ninguém ia notar dois asiáticos de cabelo colorido andando entre eles. 

—Fale por você, meu cabelo tá' castanho. É uma cor natural. 

Namjoon encarou seu amigo por um tempo e percebeu que aquela sugestão de aventura pré-viagem não iria ficar só na “sugestão”, e saber disso o deixou apreensivo.

Em seguida, tendo todas as informações que queriam, os árabes seguiram pela esquerda de onde eles estavam e viraram em um corredor à direita. 

—O casamento deve ser pra lá né?- Taehyung tomou o cuidado de falar baixo para o manager não ouvir, esticou o pescoço na direção do corredor, como se pudesse ver alguma coisa, e voltou a olhar para o balcão, com mil pensamentos em sua cabeça. Foi quando sentiu que alguém o olhava e, virando para o lado, viu Namjoon com os olhos fixos nele.

—Pode tirar essa ideia maluca da cabeça,  seja ela qual for. 

—Qual o problema em fingir que entrou na porta errada?- perguntou fingindo não entender o que aquilo poderia ter de errado. 

E ao ouvir que aquela era a ideia de Taehyung, Namjoon olhou seriamente pra ele.

—Nem pense nisso. 

Taehyung rolou os olhos e se afastou do balcão, fechando a cara e reclamando que não tinha graça viajar com ele. Pegou as malas e seguiu na direção do elevador sem esperar eles, mas Namjoon não se deixou enganar. Sabia que aquela cara feia era só para disfarçar um "plano maligno" que Taehyung iria dar um jeito de por em prática.

—To' vendo que não vou dormir hoje.- Namjoon suspirou, já  se sentindo cansado. 

Mas foi pior do que não dormir. Meia hora depois Taehyung estava incontrolável no quarto, reclamando de tédio e falta de sono. Não tinha nada passando na TV, e mesmo que tivesse ele não sabia inglês o suficiente para entender alguma coisa.  Estava enjoado dos filmes e séries da Netflix, reclamava que não tinha nada pra fazer na internet e além da falta de sono também estava com fome. Namjoon sabia que aquilo tudo era uma desculpa para poder sair do quarto e o pior é que ele não conseguia nem ir ao banheiro com tranquilidade. Conhecendo o amigo como conhecia, sabia que ele poderia dar uma de louco e sair do quarto sem avisar aonde ia. 

Por fim, Namjoon se lembrou de um local para visitação, indicado pela recepcionista antes de saírem da recepção, e esperando que aquilo fosse suficiente para satisfazer a inquietude de Taehyng, propôs irem até o jardim japonês que, segundo o que a moça tinha lhe dito, ficava na parte  de trás  do hotel. 

—Espera!- Namjoon parou no meio do caminho.

Estavam no meio do corredor, aonde anteriormente os árabes tinham passado, parados de frente para uma porta fechada onde vasos de flores ornamentavam cada lado da mesma. 

Taehyung parou de caminhar e se virou para Namjoon, achando que ele tinha esquecido alguma coisa importante. 

—Por que ela mencionou um jardim japonês quando a gente já tinha saído da recepção? Você lembra que ela me chamou de volta né?

—Não.

—Ela por acaso não viu meus documentos direito? 

Taehyung rolou os olhos e balançou a cabeça. E enquanto Namjoon reclamava da possível e não importante confusão que a recepcionista tinha feito a respeito da sua nacionalidade, Taehyung se aproximou dos vasos de flores e começou a tirar fotos delas, não ouvindo nada do que ele falava. Foi quando, num repente, a porta se abriu e um árabe barbudo apareceu, abrindo os braços e o sorriso ao vê-los.

Taehyung deu um pulo para trás  ao ser flagrado tirando fotos, mas quando se deu conta de onde estava não pode deixar de sorrir com aquela extraordinária coincidência.