Zohar escrita por AnneFanfic


Capítulo 17
Revivescência.




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Era frustrante e doloroso...
T.E.P.T.

 

 

 

Já era o terceiro dia que Zohar estava na casa de Suzan e, assim como no dia anterior, a primeira coisa que ela fez ao acordar foi se perguntar onde estava. Levou alguns segundos para lembrar o que tinha acontecido e quando a lembrança dos últimos dias veio à mente, acompanhada da incerteza quanto ao seu futuro, da triste realidade de que nunca mais veria Taehyung e que talvez não teria notícias de sua mãe tão cedo, ela sentiu uma angústia tão forte que a faz querer ficar na cama o dia inteiro.

O que a fez se levantar, minutos depois de pensar em tantas coisas negativas sobre si mesma e sobre sua própria vida, foi a ideia de que estava sendo exagerada. Afinal, tinha conseguido fugir do casamento, o que mais desejou naquelas últimas semanas, então o que mais podia querer?

Seus pensamentos ao longo do dia variavam do mais profundo pessimismo até uma fagulha de pensamentos positivos, numa tentativa de se convencer de que tudo ia melhorar. Nesses momentos, que via de regra começavam assim que acordava, ela se sentava na cama e ficava olhando para o edredom por um tempo.

Repetia para si mesma como tinha tido a sorte de ter encontrado alguém como Taehyung, que teve a disposição de ajuda-la até ter a garantia de que ela estaria bem, sem pedir nada em troca. Se isso não tivesse acontecido, sabe-se lá onde estaria? Às vezes achava que no fim das contas teria simplesmente desistido de fugir ou, ao menos, teria voltado atrás, já que não tinha nada planejado para o “depois” da fuga. Também falava para si mesma como tinha sido sortuda ao ter ido parar na casa de Suzan, de um modo tão inusitado quanto ter conhecido Taehyung, e ali ter encontrado um lugar para comer e dormir até se decidir o que fazer.

Mas quando pela terceira vez o dia terminou e ela se sentou à mesa para jantar com Suzan, finalmente as lágrimas que esteve segurando por três dias inteiros vieram aos olhos.

—E então, como passou o dia hoje?- Suzan perguntou, tirando uma torta de frango do forno e colocando-a sobre o fogão para esfriar, sem se dar conta do que estava acontecendo com Zohar sentada à mesa, que tentava segurar o choro.

—É bonito aqui. Gostei muito.- ela respondeu, tentando disfarçar a voz meio embargada, enquanto secava o rosto com as mãos. —Mas... às vezes... Eu não sei...- e ela finalmente se rendeu ao choro, odiando-se ao extremo por isso. Por que não conseguia ser mais forte e parar com todos aqueles pensamentos?

Ao perceber a situação, Suzan se aproximou dela e a ajudou a se levantar da cadeira, guiando-a até o sofá. Sabia que ela estava quieta e pensativa demais naqueles dias e que uma hora ou outra ela iria desabar. Diversas vezes tentou uma aproximação, a fim de fazê-la por para fora o que estava pensando e sentindo, mas ela ainda tinha uma atitude muito arredia. O melhor, soube então, era esperar o tempo dela.

Suzan esperou ela se acalmar, oferecendo um copo de água com açúcar, e deixou que ela falasse o que a incomodava sem apressá-la.

—Se fosse você... você teria fugido?- Zohar por fim falou, olhando para Susan com olhos suplicantes, querendo ouvir uma resposta que tranquilizasse sua consciência. —Eu fico pensando...- continuou, fazendo uma pausa para suspirar. —Será que eu fiz a coisa certa quando fugi? Eu estava com tanto medo que às vezes acho que não estava pensando direito... Eu não sei.- ficou olhando para a mesinha no centro da sala, voltando aos pensamentos que atormentavam sua mente.

—O que te faz achar que tomou uma decisão errada?

—Eu abandonei minha mãe lá.- ela respondeu sem pensar duas vezes, erguendo os olhos para ela. —E eu fui muito egoísta e ingrata por isso.- disse aquilo com um tom de repulsa por si mesma. —Casar ia ajudar nossa família a se adaptar melhor à Londres. E minha mãe insistiu tanto que era para o nosso bem, que o nosso bem dependia desse casamento, e eu simplesmente a abandonei lá...- ela suspirou, sentindo-se terrivelmente culpada. —Eu não devia ter feito isso.

—Você acha que devia ter casado com alguém que você nem conhecia direito? Isso seria certo?- Suzan perguntou.

—Não, mas...

—Era você que ia se casar, não sua mãe. Você fez o que era melhor pra você. Você tomou essa decisão pensando no seu bem. Você sabia que esse casamento traria tudo, menos a sua felicidade.

Zohar pensou por um momento.

—Sim, mas...

Suzan esperou que ela terminasse a frase, mas como isso não aconteceu ela perguntou:

—Mas o que?

Zohar ficou pensando por mais um tempo e por fim suspirou.

—Eu tenho tanto medo de nunca mais ver minha mãe...- ela respondeu. —Eu nem me despedi dela.- deu um sorriso torto, deixando que mais lágrimas escorressem pelo rosto.

—Isso não vai acontecer, querida.- Suzan garantiu. —Você sabe onde vocês moravam, não? Podemos ir lá.

—Sim, mas... E se acontecer alguma coisa com ela antes disso acontecer?- ela olhou para Suzan com os olhos transbordando angústia, e Suzan entendeu o medo que dominava a vida dela.

Depois de conversar bastante com Zohar, dar conselhos e oferecer sua completa ajuda e apoio, Suzan novamente a chamou para jantar. E para Zohar aquela foi a torta mais saborosa que tinha comido em meses. Estava concentrada no prato à sua frente, conversando com Suzan, quando de repente um som ecoou pelo ar a alguns quilômetros de distância e chegou até elas. Imediatamente o coração de Zohar deu um pulo dentro do peito, espalhando uma descarga de adrenalina pelo corpo dela e fazendo o horror e o desespero adormecidos em algum lugar de sua memória voltarem à vida.

—Mãe!!- ela gritou em plenos pulmões e saiu correndo, levantando-se tão rápido a ponto de derrubar a cadeira.

E tudo aquilo foi tão inesperado que Suzan levou alguns segundos para superar o susto causado pelo grito e entender o que tinha acontecido.

—Zohar?! Zohar?!- ela correu até a sala e olhou em volta, tentando encontrá-la. —Zohar, cadê você?!

Esperou alguns segundos por uma resposta e ouviu um choro contido vindo de debaixo das escadas. Ela foi até lá rapidamente, sentindo seu coração bater com tanta força como há muito tempo não batia, e encontrou Zohar encolhida no canto com as mãos tapando os ouvidos com força, chorando e balbuciando alguma coisa que ela não entendia.

—Filha... Está tudo bem...- Suzan se abaixou e se aproximou cuidadosamente, sussurrando ao chamar Zohar.

Mas Zohar continuou encolhida, com o corpo trêmulo balançando para frente e para trás, como um pêndulo, enquanto balbuciava alguma coisa que Suzan não entendia.

—Zohar?- Suzan chamou mais uma vez, mas ela continuou olhando para o nada, como se não estivesse ali, agarrando os cabelos com força enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto assustado.

Suzan pensou no que fazer e se aproximou mais um pouco, esticando a mão para tocar cuidadosamente no ombro dela.

—Zohar.- repetiu, com uma voz mais segura. —Está tudo bem. Já passou.         

Zohar olhou para ela, ainda meio perdida, e fechou os olhos com força. Logo o choro veio, e Suzan rapidamente a abraçou, afagando as costas dela.

—Está tudo bem, querida. Não foi nada.

E quando Zohar falou, estava tão aturdida que não se deu conta de que estava falando em árabe.

—O que disse?- Suzan prestou atenção às palavras que saíram pela boca dela em um tom quase inaudível.

—Bomba.

E então Suzan entendeu tudo. Desde a ansiedade e o medo constante que Zohar sentia até aquela reação inesperada, que ela soube ser causada pela guerra.

—Não, querida...- ela abraçou Zohar com ainda mais força, para que ela se sentisse segura.  —Não foi um bombardeio. Foi uma detonação de rocha, não é perigoso e foi bem longe daqui. Não precisa se preocupar.- afagou as costas dela, sentindo as lágrimas escorrem pelo seu próprio rosto. —Tá’ tudo bem... Ta’ tudo bem.- disse em um tom reconfortante, mesmo sabendo que tudo não estaria bem tão cedo.

 

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora. >—<'
Logo, logo sai mais capítulos... (sem espera de dois meses. *envergonhada*)
♥ ♥



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