— Então… vamos começar? – Perguntei meio sem graça.

— Sim. – Ela responde ainda sem me olhar nos olhos. Merida parecia meio temerosa e eu não conseguia pensar no porque.

Apanho-mos as coisas de limpeza e paramos para decidir quem ia limpar o que. Me lembrei que da outra vez esse tinha sido o motivo de ter-mos discutido por isso decidi que iria deixar que ela escolhesse onde queria limpar e que tentaria pedir desculpas a ela.

— Voce pode limpar o pátio e eu limpo o refeitório, claro se você quiser. – Ela fala de forma fria e bastante controlada algo que não é do feitio da Merida. O que é que estava acontecendo?

— Na verdade acho que terminaríamos mais rápido se ambos limpássemos o pátio e depois limpássemos o refeitório. O que é que tu achas? – Perguntei um pouco envergonhado e com medo dela dizer não.

— Tudo bem. – Ela volta a falar de forma fria. Será que Merida estava tentando me ignorar? Durante todo esse tempo que nós estávamos chateados um com o outro sempre brigávamos e chegou uma certa altura que para mim isso virou normal mas apenas pensar na probabilidade da Merida me ignorar me fazia ter calafrios.

Começamos a limpar em um silêncio sufocante e em momento algum ela olhou para mim. Droga! Isso estava me matando. O tic-tac do relógio parecia tão alto e tão lento que eu já estava me sentido aflito.

— Me desculpe. – Sussurrei tão baixo que acho que nem mesmo eu ouvi direito.

— O que? – Merida perguntou franzindo a testa e pela primeira vez desde que ficamos sozinhos me olhando nos olhos.

— Me desculpa por ter sido um idiota na balada com você ontem. – Digo desta vez alto.

— Tudo bem. – Ela responde voltando a se concentrar no trabalho. Ela estava agindo com que não tivesse sentimentos nenhuns, como que nem me conhecesse.

— O que está acontecendo com você? – Perguntei indo direto ao ponto, eu pretendia ser bem direto. Eu tinha pedido desculpas a ela e ela tinha me dito somente um ‘tudo bem’.

— Não está acontecendo nada. – Ela diz indiferente sem olhar para mim.

— Está acontecendo sim! – Praticamente grito e para dizer a verdade nem sei porque estou me sentido assim. Eu deveria estar contente por Merida não brigar mais comigo, por ela simplesmente parar de me lembrar do passado mas não consigo ficar feliz sabendo da forma indiferente com que ela está me tratando. – Você não é assim, você não age dessa forma controlada e fria com as pessoas. – Antes que pudesse pensar direito eu já tinha dito aquilo.

— Com as pessoas? – Ela pergunta sarcástica. – Com você. Eu simplesmente cansei das nossas briguinhas infantis e cansei de você e da Astrid por isso decidi que não quero mais saber de nada que tenha a ver com vocês. Agora me deixa em paz. – Ela praticamente grita mas logo conta até dez baixinho como que para se controlar e volta a ficar fria como que nada tivesse acontecido.

— E-Eu … - simplesmente não sei o que dizer a ela. Talvez ela realmente tenha razão, mas algo em mim parece inquieto como se isso fosse de algum modo errado. Afinal de contas pelo que a Toothiana disse nós temos de estar unidos pelo que estava por vir.

— Ok. – Digo por fim suspirando e voltando ao trabalho em mais completo silêncio.

Quando terminamos de limpar o refeitório nos dirigimos para o pátio. Terminamos de limpar tudo e já eram quase seis horas. Mesmo assim eu não queria ir para casa ainda. Alem de ter que aturar um dragão que por acaso descobri ser o banguela e uma fada que não para de mexer nas minhas coisas ainda vou ter que aturar as brigas dos meus pais já que minha mãe chega hoje do trabalho.

Eu faria de tudo para me atrasar um pouco mais. Por isso apanhei o pano e fiquei limpando um armário do refeitório enquanto Merida guardava as coisas de limpeza.

POV Merida

Quando termino de arrumar tudo percebo que Hiccup ainda estava limpando o armário, que estranho, nós já tínhamos limpado essa parte. Eu estava curiosa para saber o porque disso porem eu não ia perguntar para ele. Resolvi que vou cumprir o que disse para Elsa ontem.  

FLASH-BACK ON

Elsa me leva até sua casa no carro de Jack e no caminho chama minha mãe para avisar que vou dormir na sua casa. Se eu não estivesse tão impressionada com minhas mãos ardendo eu até acharia graça o fato de Elsa fuçar o carro de Jack para ver os gostos de musica dele e essas coisas.

Quando chegamos ao seu apartamento ainda estou tremendo e com lágrimas ainda nos olhos.

— O que está acontecendo Elsa? – Pergunto num sussuro, nunca fui de chorar, tremer ou sussurar mas pela primeira vez na minha vida eu estava com medo. O que sou eu?

— Eu não sei mas vamos tentar procurar na internet ou em alguns dos meus livros. – Elsa responde decidida mas eu podia ver em seus olhos que ela também estava com medo e confusa.

2 Horas depois…

Já estava muito tarde e ainda não tínhamos encontrado nada que sirva, mas já tínhamos percebido que essa coisa que estava em mim só acontecia quando eu estava irritada ou nervosa já que uma hora atrás quando fiquei irritada por não encontrar nada acabei por queimar um dos livros da Elsa. 
no final Elsa achou melhor dormir-mos e continuarmos só amanha.

— Não vou dormir com você Elsa. – Digo e vejo ela franzir a testa confusa. – Imagina se por acaso eu pegar fogo em você por acidente.

— Nós dormimos na mesma cama todas as vezes que você vem dormir aqui desde que nos conhecemos e isso não vai mudar nunca. Você não vai pegar fogo em mim, é só ficar calma e deixar de pensar nisso. – Ela diz e se próxima de mim me fazendo descansar a cabeça sobre seu colo enquanto ela faz cafune em meu cabelo.

— Eu estou com medo de estar me transformando num monstro e machucar as pessoas que amo. – Sussurro fechando os olhos. – Essa coisa é muito estranha, nós vivemos no mundo real não num conto de fadas onde existem poderes mágicos. somos apenas adolescentes não deveríamos ter esses problemas. 

— você não vai se transformar num monstro, basta tentar se controlar para não ficar nervosa, ou seja não pode chegar perto da Astrid e vai ter de se controlar com o Hiccup também.

— eu sei, mas é que o Hiccup mexe comigo de uma forma inexplicável, ele me lembra do passado e de tudo que eu sofri. – Admito ainda de olhos fechados. – Isso não me faz bem, eu vou me afastar dele também, chega de brigas e chega de ficar presa no passado. 

— Então talvez vocês pudessem voltar a se falar. – Elsa diz fazendo eu me levantar e olhar em seus olhos.

— Você só pode estar brincando comigo Elsa, eu nunca vou perdoar ele. – Digo e sinto meu corpo esquentar.

— Calma Merida, conta até dez e respira fundo. – Elsa me dá instruções e sinto tudo voltar ao normal. – Eu não estou falando de simplesmente perdoar, eu estou falando de vocês pararem para conversar sobre o que aconteceu. Vocês nunca pararam para escutar o que o outro tinha a dizer.

— Chega desse assunto Elsie, já está decidido eu vou esquecer que Hiccup e Astrid existem.

— Pode tentar, mas não acho que vás conseguir. – Elsa diz e volto a deitar minha cabeça em seu colo adormecendo e ouvindo a doce voz de Elsa cantar a musica trem bala. 

FLASH-BACK OFF

Irei tentar controlar para que eu não volte a pegar fogo e nem queime ninguém. Mesmo que eu e Hiccup tenhamos nossas diferenças eu não quero que ele se queime.

Apanhei minha bolsa e me preparei para ir embora mas antes resolve perguntar a ele:

— Não vais para casa?

— Não ainda, não estou preparado para falar com meu pai e minha mãe. – Ele responde envergonhado e continuando a limpar o armário.

— Não podes ficar aqui porque logo logo as empregadas fecharão a escola e ficarás preso aqui até amanha. – Explico sentido pena dele, desde pequeno era assim. Seus pais apesar de separados tinham negócios juntos e por isso se viam sempre e discutiam todas as vezes, mas de vez em quando tinha recaídas de alguns dias.

Ele suspirou alto e levantou-se indo comigo para a porta. No caminho todas as luzes se apagaram.

— Droga! As empregas devem ter fechado as luzes para sair da escola e trancar tudo. – Digo. – Corre antes que nos tranquem aqui. – começo a correr com Hiccup atrás de mim.

Chegamos na porta a tempo e conseguimos sair, cansados e ofegantes colocamos as mãos nos joelhos para nos recuperar e nos olhamos desatando a rir.

Pouco a pouco paramos de rir no entanto continuávamos a nos olhar, era como se fosse impossível desviar os olhos.

Hiccup se aproximou de mim nos deixando a centímetros de distancia.

— Quando olho para o passado e olho para nós agora parece que o passado nunca existiu. – Ele diz e posso sentir o seu bafo em minha bochecha de tão perto que estávamos. Meu coração bate forte e sinto falta de ar. Deve… deve ser por causa da corrida. Claro, tem de ser por causa da corrida.

— Talvez ele nunca deva ter acontecido. – Digo com um pouco de dificuldade, eu estava mentindo. O tempo que passei com Hiccup no passado foi uma das melhores partes da minha infância.

Ainda estávamos tão perto que eu podia ver meu reflexo em seus olhos. Hiccup era muito bonito, seus lábios eram tão…

“pára de olhar para seus lábios Merida!” – Meu cérebro gritava porem estava muito difícil de controlar.

Não sei quem deu o primeiro passo, nem quem agarrou quem primeiro mas quando me dei conta eu e Hiccup estávamos nos beijando de forma intensa e feroz como se necessitássemos disso para viver…