Diana segurou na barra do caixão e respirou fundo.

— Ei, Bia. — Seus lábios se torceram num sorriso pesaroso.

 Deitada sob o véu, Bianca estava fria e gelada como um vaso de alabastro. Alguém a colocara no vestido favorito e lhe dera um ramalhete de lírios negros. Diana poderia tecer um elogio facilmente, mas palavras bonitas já não fariam diferença.

 Não tinham feito duas noites atrás, quando Bianca havia decidido cruzar a sêmita entre a vida e a morte logo após uma chamada entre elas. Mesmo com tantas falas de conforto e risadas sinceras, a forca fora armada no ventilador de teto. Para o funeral, tinham colocado uma gargantilha ao redor de seu pescoço, mas Diana sabia da escoriação sob ela.

 Perguntou-se se os outros convidados, que fungavam pela sala da funerária e falavam sobre Bianca, também sabiam da forca e que tinham ajudado a armá-la. Deveriam saber. Mas depois de o coração de Bianca parar de bater pela falta de oxigênio, só sabiam dizer como estavam com pena dela e dos pais.

— Ela está tão bonita. — Uma das tias que Bianca desgostava aproximou do caixão. — Ainda não consigo acreditar no que aconteceu.

 O peito de Diana apertou-se dolorosamente. Nem mesmo ela, que sentira aquele fim se aproximando, conseguia acreditar.

— Bianca parecia estar tão bem... Sempre sorrindo.

— Ela não estava bem fazia muito tempo. — Diana falou baixo, crispando os lábios.

 A tia não a ouviu, continuando a dizer que Bianca não tinha motivos para fazer aquilo. Diana pensou em todas as vezes que ela chegara com um desabafo novo sobre a família e seus comentários vis. Estavam sempre cutucando-a com palavras afiadas, abrindo suas feridas, apontando suas falhas...Tinham matado Bianca muito antes da forca.

— Pobrezinha, ela ainda tinha uma vida inteira pela frente.

— E quanto tempo é uma vida inteira?