BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 8
O Ex ladrão e os sete abdomens


Notas iniciais do capítulo

OBS (sim, no início): culpem o dance practice de Halloween de Go Go pelo nome desse capítulo.
Beijocas.



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Uma semana havia se passado desde que encontrara os membros do BTS, vulgo meus chefes, pela última vez —se é que ser flagrada dormindo por eles pode ser chamado de encontro. Eu havia passado os últimos dias revisando os exames, anotações, dietas e todos os outros arquivos que a nutricionista dos meninos mantinha sobre eles, o que devo dizer que fora uma tarefa um tanto exaustiva, considerando o tamanho e a falta de organização de toda aquela papelada. Depois de muita leitura e raciocínio, finalmente consegui sistematizar quais exames teriam de ser renovados, quais ainda valiam e como eu deveria prosseguir com meu trabalho, o que havia me deixado muito satisfeita comigo mesma.

Quando meu telefone finalmente me avisou que um número desconhecido me ligava, quase pulei da cadeira de alívio — era Gae Mae, avisando-me que os rapazes já se sentiam bem. Aproveitei a ligação para marcar o dia em que eles fariam os exames necessários para que eu pudesse finalmente trabalhar, e o mesmo me indicou uma tarde em que estariam livres. Antes de desligar, ele fez questão de dizer que os próprios meninos queriam ter ligado, porém, como estavam muito ocupados, Gae Mae tomou a tarefa para si.

Por algum motivo, aquela informação me fez passar o resto do dia sorrindo.

No dia marcado, porém uma hora antes, eu já os esperava na clínica de nutrição. Havíamos combinado que eles entrariam pelos fundos para evitar olhares curiosos, então, enquanto não chegavam, eu organizava tudo em uma das salas da clínica — a qual o dono era meu sunbae da faculdade, que havia me cedido o espaço no mesmo momento em que eu lhe pedira; afinal, eu estava sempre lhe enviando clientes que apareciam no hospital. Assim que terminei, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e coloquei um jaleco por cima da blusa de cetim azul. Não que a peça hospitalar fosse necessária, mas eu me sentia confortável com ela (além de, claro, cair muito bem com a calça preta e o tênis branco).

Duas batidas na porta atraíram minha atenção. Ao olhar na direção da mesma, deparei-me com oito homens invadindo a sala — não no estilo sequestradores, como da vez como nos conhecemos, mas agora de um jeito normal.

— Bom dia para vocês. — indaguei, rindo do modo como tiravam seus bonés, máscaras, óculos e todos os outros tipos de disfarces possíveis. Até mesmo Gae Mae estava coberto.

Depois que os ânimos se acalmaram, todos os pares de olhos pousaram em mim. De repente, lembrei-me do episódio onde dormi no sofá deles, fazendo com que meu rosto queimasse e eu quisesse me esconder dentro do jaleco. Provavelmente notando minha vergonha, eles sorriram.

Naquele momento, reparando bem, pude concluir algo: parados ali, me olhando e sorrindo, eles pareciam uma bendita pintura.

Annyeonghaseyo, doutora. — disseram todos, quase que ao mesmo tempo.

— Desculpe pela chegada repentina, mas é que achamos melhor entrar de uma vez, ao invés de esperá-la no estacionamento. — Namjoon continuou, sozinho. — Uma funcionária disse que estaria aqui.

— Não tem problema. — respondi, apontando para um largo banco de madeira, onde poderiam deixar seus casacos e acessórios. — Como vocês estão se sentindo?

— Ótimos, doutora! — respondeu Hoseok, jogando o grande casaco preto e felpudo para longe. — Graças a você.

E eles realmente pareciam ótimos. Apesar de não estarem usando maquiagem, seus rostos haviam ganhado cor e pareciam mais dispostos e cheios de energia. Devo admitir que vê-los tão bem me deixou mais tranquila.

— Que bom... — indaguei, agradecendo com um gesto. — Isso significa que agora posso começar a trabalhar.

— Doutora. — era Taehyung quem me chamava, parecendo receoso e animado ao mesmo tempo. — O que nós estamos fazendo aqui?

Pausei, fitando um por um. Sabia que eles não iam gostar do que estava por vir.

— Bem, eu li toda a papelada que a sua nutricionista tinha sobre vocês mas, para montar a dieta certa para cada um, preciso que façam alguns exames primeiro. — e lá vieram os olhares assustados, fazendo-me lembrar da cena no hospital. — Podem ficar calmos, nenhum deles envolve agulhas.

Os suspiros de alívio me fizeram rir.

Aniyo! — exclamou Yoongi. — Nós vamos ter que fazer dieta?

Pela primeira vez desde que os conheci, ele parecia uma criança. A cara que fazia não era de sono ou mau humor, mas sim de birra. Dependendo do ponto de vista, era fofo.

— Sim, mas não o tipo de dieta que vocês estão pensando. — respondi. — O objetivo não é fazer vocês emagrecerem, mas sim permanecerem saudáveis para lidar com a rotina puxada.

Depois de explicar que montaria um plano alimentar de acordo com as necessidades e o físico de cada um, eles pareceram entender e concordar. Ótimo, a primeira etapa já tinha sido concluída.

— Então, o que nós temos que fazer? — Perguntou Jimin, ajeitando sua toca.

— Vai ser como um check-up. — respondi, calmamente. — Primeiro, vou calcular o IMC de cada um.

— A noona vai nos medir, Jimin. — indagou Jungkook, fazendo os outros rirem. Era notável que as piadinhas sobre a altura do mais fofo nunca tinham fim.

— Espera. — pela primeira vez, Jin se pronunciava. — Você não precisa usar aquele alicate gigante que aperta nossa gordura para calcular isso?

— O adipômetro, sim. — respondi, rindo de como ele descrevera o objeto.

— Isso quer dizer que a gente... — pausou, aparentemente pensando nas palavras que usaria. — Vai precisar ficar sem camisa?

— Sim. — respondi naturalmente, dando de ombros.

Ao longo dos anos como nutricionista, já tinha repetido esse exame tantas vezes em pessoas tão diferentes, que o mesmo havia se tornado apenas parte da rotina. Porém, a sessão de olhares e cochichos trocados que veio a seguir me deixou curiosa. Eles estavam com vergonha?

O pensamento me fez rir, justamente porque eu não estava com uma gota desse sentimento.

— Não ria, doutora! — exclamou Hoseok, claramente ofendido. Pelo visto, depois de Jin, ele era o que mais fazia drama sobre as pequenas coisas. — Nós não estamos acostumados a mostrar nossos corpos por aí...

— Claro. — indaguei, rindo. Aposto que se procurasse na internet acharia fotos do abdômen de cada um. Quando percebi que se mantinham relutantes, indaguei. — Não há porque terem vergonha, está bem? Isso faz parte do meu trabalho e eu estou acostumada.

— A doutora está certa. — disse Namjoon, que não estava exatamente exalando confiança. — É só um exame, não é?

— Sim. — afirmei, dando-lhe apoio.

Lentamente, eles foram sendo vencidos pela lógica. Quando camisas começaram a subir e rostos a avermelhar, eu não pude evitar de rir. Aquilo era só um procedimento de rotina, não existia motivo para tal constrangimento.

A não ser da minha parte, é claro. O que eram aqueles tanquinhos? Por favor, alguém me belisca ou me diz que alguém pintou aqueles gominhos naqueles homens.

Tudo bem, eu estava surtando. Inspira, expira. Organiza os pensamentos. Você é uma profissional, Kim Sun Hee, além de uma moça de respeito. De mais a mais, nem todos tinham abdomens tão definidos assim, alguns só tinham um porte maravilhoso e um corpo que valia muito a pena ser observado...

Mas, sério, eles tinham que ser todos assim?

Certo, ainda dava tempo de dizer que eles não precisavam fazer o exame sem camisa e...

— Doutora? — Jin, que sacudia uma mão em frente ao meu rosto e com a outra segurava a camisa para tampar seu corpo, acordou-me do meu transe. Todos estavam me encarando e eu, com certeza, estava com as bochechas vermelhas. — Tudo bem?

— Tudo. Tudo bem. — respondi, por sorte com algum ar nos pulmões. — Adipômetro, certo?

Enquanto procurava o instrumento pela sala, pude ouvir uma risada vindo detrás de mim.

— Pensei que a noona tinha dito que estava acostumada a ver pessoas sem camisa. — indagou Jungkook, o dono da risada.

Maldita hora que ele perdeu a timidez comigo e começou a falar pelos cotovelos.

— Não é nada disso. — retruquei, na tentativa de desviar do assunto. — Eu estava distraída calculando quanto tempo vocês devem ficar correndo na esteira para que eu possa monitorar seus batimentos cardíacos.

Tentativa bem sucedida. A onda de protestos e reclamações veio logo em seguida, distraindo-me das sete cópias de esculturas gregas paradas à minha frente. Pelo menos agora eu conseguiria trabalhar em paz.

Assim eu esperava.

***

Finalmente a maratona estava acabando. Enquanto eu recolhia meus pertences, organizava minhas anotações e colocava tudo de volta em seus respectivos lugares, meus sete pacientes encontravam-se esparramados pelo chão, ofegantes e suados. Depois de ter conseguido usar o adipômetro (sem muito sacrifício para mim, devo admitir) e passada a onda de desconforto gerada quando precisei usá-lo, eu os medi, fiz todas as perguntas necessárias e, por fim, monitorei os batimentos cardíacos de cada um enquanto corriam na esteira — o motivo pelo qual estavam atirados no chão naquele momento.

Devo dizer que, mesmo que não tivesse corrido como eles, eu estava exausta também. Sério, lidar com aqueles sete durante um período de tempo maior do que cinco minutos era realmente cansativo. Não que eles fossem pessoas ruins, pelo contrário, eram educados e, mesmo reclamando, acabavam fazendo o que eu lhes pedia. Mas, mesmo assim, ainda conseguiam dar mais trabalho do que uma turma de creche.

Eu estava prestes a dizer que eles poderiam ir, pois eu já tinha tudo que precisava, quando lembrei-me que uma suspeita pairava em minha mente ao longo da semana e que hoje, após os exames, ela havia se confirmado. Os fitei, completamente distraídos entre si mesmos, e suspirei profundamente.

Eu precisava de uma terceira opinião.

A primeira pessoa em que havia pensado fora Gae Mae, mas fazia um tempo que o mesmo saíra para resolver alguma coisa e ainda não voltara. Em seguida, Jungkook e Taehyung, os dois que falariam com mais facilidade depois do manager. Mas droga, eu me sentiria como se estivesse me aproveitando da inocência dos dois.

Quem poderia me ajudar?

— Doutora? — a voz aguda de Namjoon trazia uma luz para minha mente. — Precisa de ajuda com isso?

Eu segurava o aparelho de monitoramento cardíaco, que, sinceramente, não era muito pesado. Mas a oportunidade estava ali e, se isso fosse um desenho animado, tenho certeza de que haveria uma lâmpada se acendendo sobre a minha cabeça.

— Na verdade, sim. — respondi, o mais naturalmente possível. — Eu sei que disse mais cedo que podia organizar tudo sozinha, mas meus braços já estão cansados.

Num piscar de olhos, Namjoon já estava tomando o aparelho para si. Ele pareceu não notar que eu podia perfeitamente carregá-lo de volta para o lugar certo, atitude digna de um líder que iria me ajudar com o que eu precisava.

— Acho que vocês já podem ir embora. — iniciei, enquanto caminhava com ele para uma sala ao lado, onde ficava o aparelho. Precisava olhar para cima para poder enxergar seu rosto. —Já tenho tudo que preciso. Sabe, acho que não terei muito trabalho, já que vocês parecem bem saudáveis...

— Fico feliz em ouvir isso, doutora. — respondeu, sorrindo. — Nós não queremos lhe dar trabalho.

Aigoo! Eles eram tão fofos... mesmo me dando trabalho, no fim das contas.

— Só tem uma coisa que me deixou curiosa. — admito, eu não era muito boa em ser sutil. Depois de apontar para Namjoon onde o aparelho deveria ficar, continuei. — Eu estava comparando as medidas de vocês do começo da carreira com as de agora e, bem, estavam todas dentro do esperado... — pausei, fazendo com que ele me fitasse. Balançou a cabeça positivamente, incentivando-me a continuar. — Exceto as do Jimin.

Ao contrário do que eu esperava, ele não parecia surpreso. Pude ver uma ponta de tristeza em seu olhar, antes que ele desvia-se o mesmo para o chão.

—Todos vocês ganharam peso e massa muscular, menos ele. Pelo contrário: em alguns casos, ele esteve abaixo do ideal. — me aproximei, com um tom de voz mais compreensível. — Você sabe que eu estou aqui para ajudá-los, mas para isso preciso que me ajudem também. Namjoon, tem alguma coisa que eu precise saber?

Durante alguns segundos, ele me encarou. O que quer que fosse, ele sabia que deveria me contar — parecia apenas estar pensando em como fazê-lo.

— O Jiminie, ao longo da nossa carreira, teve alguns momentos de insegurança. — iniciou, pronunciando com cuidado a última palavra. — Especialmente depois do debut, quando a imagem dele foi bastante usada. Nossas performances geraram todos os tipos de comentários, inclusive os maldosos... — pausou, passando a mão pelos cabeços rosados. Em seguida, suspirou fundo. — Ele passou um bom tempo entrando em dietas radicais por conta própria. Uma vez, ele ficou algumas semanas  fazendo apenas uma refeição por dia.

Então, ele me lançou um olhar que praticamente implorava para que eu tivesse entendido tudo. Eles eram, sem discussões para quem via de fora, muito unidos — e isso significava que quando um sofria, todos os outros sofriam junto. Eu balancei minha cabeça positivamente, fazendo com que ele soltasse o ar preso em seus pulmões, provavelmente aliviado.

Agora eu entendia o motivo de Sejin ter sido tão sincero ao me pedir para cuidar deles.

— E como ele está agora?

— Melhor. — respondeu, exibindo um pequeno sorriso. — Sabe, ele parece que vai ter uma recaída vez ou outra, mas nós estamos sempre lá por ele.

— Isso é bom. — retribui-lhe o sorriso. — Mas fique tranquilo; de agora em diante, eu também estou aqui.

Curvando-se, ele me agradeceu. Caminhamos em silêncio de volta para a sala, onde os meninos nos esperavam, inquietos.

— Até que enfim, noona! — exclamou Taehyung, fazendo com que eu me perguntasse mentalmente se a mania de Jungkook de me chamar de noona era contagiada. — Nós estamos morrendo de fome.

— Verdade. — concordou Jin, prontamente.

Eles já estavam vestindo seus disfarces, prontos para sair correndo atrás de comida. Deixei escapar uma risada.

— Já tenho o que preciso. Podem ir. — expressões de felicidade foram ouvidas por toda a clínica nesse momento. — Obrigada pela cooperação, rapazes.

Logo em seguida, em meio a frases aleatórias trocadas entre eles, nós nos dirigíamos para a saída dos fundos, que dava em uma rua deserta. O clima era descontraído, e perceber como eles se sentiam confortáveis com a minha presença me deixava feliz.

— Doutora. — chamou Hoseok, assim que colocamos os pés para fora da clínica. — Para onde você vai agora?

— Pegar um ônibus, no fim daquela...

De repente, as palavras sumiram da minha boca bruscamente. Ao me virar para apontar a direção em que seguiria, algo do outro lado da rua chamou a minha atenção: um carro que eu estava mais do que acostumada a ver. Branco, esportivo e brilhando como sempre.

— Rua. — completei, num sussurro.

Noona... Tudo bem?

A voz de Jungkook soava extremamente distante, mesmo que ele estivesse ao meu lado.

Não podia ser.

O dono do carro, o qual eu também conhecia muito bem, saiu de um beco, de cabeça baixa e usando a jaqueta de couro surrada de sempre, sua preferida. Ele sabia como eu odiava aquela jaqueta.

Contudo, naquele momento, meu maior ódio era ele.

— Yong Joon?

Foi então que, em um gesto automático, meu ex-namorado ladrão direcionou um olhar assustado na minha direção.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Próximo capítulo vai ter tiro, porrada e bombaaa (quase que literalmente).
~ esperando suas opiniões ~
Ah, OBS²: repararam na preocupação com o Jimin, certo? Guardem isso em suas cabecinhas.
Até o próximo :*