BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 6
Espírito de arrumadeira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/746483/chapter/6

Na manhã seguinte, parecia que eu estava ligada diretamente em uma rede elétrica, mesmo sem ter dormido durante a noite — pois até contar tudo que havia acontecido para Jung Soo, que teve um faniquito e exigiu os mínimos detalhes, organizar meus documentos e tentar pegar no sono, já era hora de levantar. Assim, com horas de antecedência, eu já estava devidamente arrumada, com minha saia rodada rosé, uma blusa de manga comprida preta soltinha e uma bota de camurça clara e de cano curto. Ansiosa, eu batia o peito do pé contra o chão da sala do apartamento de Jung Soo em um ritmo acelerado.

— Nervosa para assinar contrato com o grupo de idols mais famoso da atualidade? — minha amiga, ainda de pijama, jogou-se ao meu lado no sofá.

Jung Soo não somente conhecia o BTS, como era fã deles. Durante a madrugada, enquanto conversávamos, ela havia me contado dezenas de coisas aleatórias sobre os membros, das quais eu não lembrava nem metade.

— Não, nem um pouco. — respondi, deixando bem claro que estava mentindo.

Ela riu e, alguns segundos depois, tirou de trás de si mesma as chaves de seu carro.

— Aqui. — ergueu-as na minha direção. — Quero que use hoje.

— Não precisa. Eu posso pegar um ônibus e...

— Deixa de ser teimosa, Sun Hee! — exclamou, me interrompendo. — Você não sabe como será o trabalho, então use o carro para facilitar a sua vida, pelo menos por hoje. Além disso, esqueceu que esse carro dá sorte?

Jung Soo usava esse carro no dia em que fora aprovada para a faculdade de moda, então, assim como todas as outras coisas que ela havia usado naquele dia (inclusive suas roupas), ela acreditava que ele lhe dera sorte. Na verdade, ela estava sempre acreditando nessas coisas de sorte, destino e outras do tipo.

— Está bem, então. — concordei rindo, aceitando as chaves.

Não muito tempo depois, eu já estava dirigindo o veículo para fora da garagem. O GPS apontava que o prédio da Big Hit era um pontinho vermelho não muito longe de onde estava, portando, não demorou muito para que chegasse até lá. Era uma construção bonita, revestida de janelas espelhadas, e, mesmo sendo alta, não era do tipo imponente. O informativo no saguão indicava para qual andar eu deveria ir e em questão de poucos minutos, lá estava eu, plantada na recepção, olhando tudo e todos ao meu redor. Sejin já me esperava e, assim que perguntei à recepcionista por ele, a mesma me acompanhou até o que parecia ser uma sala de reuniões.

Ele parecia mais alto do que no dia anterior.

— Bom dia, Sun Hee. — ele me cumprimentou com um sorriso educado, desviando os olhos dos papéis que lia.

— Bom dia, senhor. — lhe retribui o sorriso, amigavelmente.

— Por favor, me chame apenas de Sejin. — pediu. — Sente-se.

Assim que eu o fiz, ele começou a se pronunciar.

— Sun Hee, todas as informações sobre o trabalho, como salário, benefícios, obrigações e funções, estão aqui. — disse, escorregando pela mesa uma pasta. — Leve o tempo que quiser para ler e verificar se concorda com tudo.

— Obrigada.

Não havia nada que eu já não soubesse, ou pelo menos tivesse ideia, ali. O trabalho iria exigir bastante de mim, pois teria que estar sempre acompanhando a alimentação e saúde dos sete membros, porém o salário e os benefícios eram bem generosos. Enquanto eu lia, Sejin me explicava algumas coisas a mais e respondia minhas perguntas. Quando acabei a última página, pedi-lhe uma caneta e logo em seguida assinei meu nome no fim da folha.

Era oficial: eu estava empregada. E muito bem empregada, por sinal.

— Seja bem vinda ao staff do BTS. — Sejin parecia animado com a minha contratação. Não mais do que eu, claro. — Bem, agora que você trabalha para nós oficialmente... Posso lhe pedir um favor?

— Claro. — concordei, prontamente.

— Eu preciso ir até uma emissora de televisão para adiar a participação dos meninos em um programa. A gravação está marcada para depois de amanhã, mas, como você mesma sabe, é melhor eles se recuperarem primeiro. — concordei, balançando minha cabeça. — Eu poderia fazê-lo por telefone, mas prefiro pessoalmente. Por isso, não vou ter tempo de fazer compras para os meninos, como havia programado. Eu deixaria para amanhã, mas a geladeira deles está cheia apenas de porcarias, o que não vai ajudar nada na recuperação...

— Eu faço as compras, sem problemas. — indaguei, quando Sejin deixou a frase suspensa no ar, possivelmente de propósito.

— Obrigado, Sun Hee. — ele parecia aliviado, de um jeito quase cômico. — Sabe, aqueles garotos já me deram muita preocupação em relação à alimentação. Dietas malucas, refeições puladas... Foi justamente por isso que decidi contratar uma nutricionista. Por favor, cuide bem deles durante esse um ano.

Era nítido como Sejin se importava com os rapazes, de um jeito que me comoveu.

— Vou cuidar.

***

O dinheiro que Sejin havia me dado dava para fazer compras semestrais para mim, porém, quando o questionei, ele disse que toda a comida que eu conseguisse comprar com aquela quantia duraria, no máximo, até o final do mês. Resolvi concluir que o motivo disso era apenas porque eles eram em sete, não porque provavelmente comiam feito monstros.

Coloquei as diversas sacolas de mercado no chão (nota: eu havia suado horrores para subir com tudo aquilo sozinha), e, enquanto recuperava o fôlego, toquei a campainha. Quando ninguém apareceu para atender, cheguei a pensar que não havia ninguém em casa e teria que voltar com tudo aquilo para o carro; porém, para a minha sorte, Sejin me garantira que eles estariam em casa. Toquei a campainha pela segunda vez e, depois de alguns minutos, a porta foi aberta por um Jungkook que mal conseguia abrir os olhos.

Noona... — disse e, mesmo com a voz carregada de sono, parecia feliz em me ver. — Entre.

Annyeonghaseyo. — cumprimentei, mas não obtive resposta. Sentado no sofá, Jungkook coçava os olhos. — Eu vim deixar essas compras aqui, que o manager Sejin pediu que eu fizesse.

Ye. — concordou, com a voz arrastada.

— Aconteceu alguma coisa, Jungkook? — perguntei, não conseguindo controlar minha curiosidade.

— Nada demais. Moonie hyung passou mal de madrugada e fez uma baita de uma bagunça, não deixou ninguém dormir direito. — respondeu, bagunçando o próprio cabelo. — Acho que mais alguém correu para o banheiro também, mas não lembro quem.

— E como vocês estão? — perguntei, levemente apreensiva. Passar mal daquele jeito era um dos efeitos de uma infecção alimentar, porém, agora aqueles garotos eram minha responsabilidade e eu deveria estar sempre atenta.

— Com sono, mas melhor. O hyung conseguiu dormir agora de manhã e a gente aproveitou para dormir também. — droga, eu tinha acordado o coitado. — Deixa eu lhe ajudar com isso.

Aniyo. — indaguei assim que ele se levantou. — Eu cuido disso. Volte a dormir, por favor.

— Não, noona, eu posso...

— Jeon Jungkook. — interrompi-lhe, séria, e ele finalmente abriu os olhos para me fitar. Na verdade, acredito que ele estivesse tentando arregalá-los, porém o tamanho normal era o máximo que o sono e o cansaço permitiam. — Volte para a cama.

Aish... Está bem. — concordou, já se dirigindo para um corredor que eu imaginei que daria nos quartos. Ele não parou de andar para falar a última frase. — Mas não faça muito esforço, noona.

Ele já estava longe demais para me ouvir, então, eu apenas ri sozinha do modo como havia falado, como se fosse um irmão mais velho.

Esses meninos eram estranhos.

Olhei ao redor, finalmente reparando no caos que estava aquele lugar. Mesmo estando ali ontem, eu só havia notado naquele momento que a bagunça ia muito além dos sapatos espalhados na entrada: havia coisas fora do lugar por todo o meu campo de visão, e isso incluía a sala, cozinha e o hall de entrada. Internamente, eu esperava que tudo aquilo fosse apenas uma consequência de todos estarem doentes e, por isso, incapazes de cuidar da casa.

Mas pode ir parando por aí, Sun Hee. Aquela casa não era minha, portanto, eu deveria controlar meu impulso por limpeza e deixar que os donos do lugar cuidassem do mesmo como bem quisessem. Isso, era isso que eu faria. Respirei fundo, ignorando o cenário de guerra ao meu redor, e me dirigi para a cozinha, que era separada da sala por um balcão comprido de granito. O cômodo era enorme e decorado por móveis pretos e, se não fosse pela louça suja, seria a cozinha dos meus sonhos. Não havia uma mesa, o que facilitava o trânsito entre os móveis, o que era algo eu adorava, pois andava para todos os lados enquanto cozinhava. A geladeira e o fogão de seis bocas eram num tom grafite, combinando perfeitamente com o ambiente. Colocando as sacolas no chão, senti meu coração se aquecer. Eu estava me sentindo em casa.

E foi aquele sentimento que soltou o freio do meu espírito de arrumadeira, o qual eu estava segurando. Depois de arrumar as compras no armário e na geladeira (os quais eu limpei antes de colocar a comida, desfazendo-me até mesmo de coisas já estragadas), lavei e guardei a louça, esforçando-me ao máximo para acertar os lugares certos das coisas e, por fim, limpei o fogão e o balcão. Já na sala, acabei com toda aquela bagunça e, finalmente, arrumei os sapatos na sapateira por ordem de tamanho. Estava me sentindo tão satisfeita, que voltei a cozinha, fitando o fogão. Espreitando os olhos, uma ideia me veio em mente: como forma de agradecimento por terem me ajudado, e também na tentativa de fazê-los melhorarem mais rápido, eu iria cozinhar algo nutritivo e saudável. Já era quase hora do almoço, porém, eles provavelmente não tinham tomado café da manhã. Além disso, eu não sabia o que cada um gostava, portanto, estava diante de um desafio.

Um brunch era a solução. Não era um costume nosso, porém, seria perfeito. Prendendo meus cabelos de qualquer jeito e arregaçando minhas mangas, comecei a juntar ingredientes para fazer pratos leves, porém com alto valor nutritivo. Faria algum tipo de sopa, com certeza. Usaria algumas frutas para decorar o balcão e outras para fazer uma salada, além de samgyetang (que teria de ser feito com pedaços de frango, ao invés de um inteiro), bossam e, por fim, porém não menos importante, kimchi. Tomara que eles realmente comam como Sejin havia deixado implícito.

Por fim, quando toda a comida já estava pronta e devidamente arrumada sobre o balcão, coloquei as torradas integrais que havia comprado mais cedo próximo a panela de sopa e me afastei, admirando meu trabalho. O resultado final estava melhor do que eu esperava, fazendo a minha barriga roncar. Droga, agora eu estava querendo comer a comida que tinha preparado para eles!

Sacudindo a cabeça, deixei a cozinha e me sentei no sofá da sala, observando ao redor para garantir que ninguém estava olhando. O cansaço de ter virado a noite, feito compras para um batalhão e depois ficado um par de horas à beira do fogão estava começando a pesar. Provavelmente, se eu comesse alguma coisa me sentiria mais disposta, mas a única comida disponível era a dos meus chefes — e comer a refeição de quem paga o seu salário logo no primeiro dia de trabalho, mesmo que tenha sido preparada por você, possivelmente era algo que me colocaria na rua. Mas estava tudo bem, me contentaria em apenas descansar minhas pernas durante alguns minutos e, logo em seguida, iria embora.

Isso, claro, se eu não tivesse adormecido ali mesmo, no sofá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam da Sun Hee arrumando a casa dos meninos?
SPOILER ALERT: o próximo episódio vai ser um pouquinho diferente (talvez, quem sabe, não será narrado pela Sun Hee)...
Enfim, até a próxima :*