BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 28
Akai Ito


Notas iniciais do capítulo

Olaaa, bolinhos do meu coração! Tudo bom com vocês? Espero que sim, pois vocês precisarão de estabilidade psicológica para esse capítulo.
O nome do capítulo é o nome de uma lenda chinesa. Caso vocês não conheçam, não se preocupem, pois está tudo bem explicadinho para vocês.

Boa leitura ♥



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Às vezes, a vida dá voltas tão malucas e lhe coloca em lugares tão inesperados, que você chega a se assustar quando finalmente percebe onde chegou e o quanto sua vida mudou. Afinal, quem nunca se pegou relembrando onde estava e o que estava fazendo há algum tempo (seja esse um curto período ou questão de anos) e se surpreendeu com a diferença de realidade com a atualidade?

Nesse momento, eu me encontrava exatamente nesta situação. Assistindo aos meninos conversando e brincando entre si tranquilos e confortavelmente — como se eu nem estivesse ali, na verdade — e parando para perceber o quanto as coisas haviam mudado, a situação no geral chegava a ser engraçada. Há alguns meses, vulgo especificamente onze, a minha vidinha pacata mudou de rumo quase que num nível astronômico. A nutricionista Kim Sun Hee, que estava satisfeita com seu emprego no hospital com horas excessivas de trabalho e um chefe que adorava abusar de seu poder, que vivia um relacionamento repleto de mentiras e, de bônus, perdeu do dia para a noite praticamente tudo que juntara durantes anos e mais anos de trabalho, tinha uma vida quilômetros de diferença da atual eu. Eu não conseguia nem ao menos comparar essas duas fases da minha vida, de tão distintas que as mesmas eram. Claro que eu não considero a minha vida de quase um ano atrás uma vida ruim, mas, ao lado dos momentos e das conquistas que tenho vivido nos últimos meses, eu posso, pelo menos, considerá-la sem graça.

E graça era o que não faltava quando se tratava do Bangtan. Se separados os meninos já eram peças raras de serem encontradas, juntos eles formavam um quebra-cabeças perfeito e que poderia prender a sua atenção horas a dentro. O meu emprego não era fácil, eu tinha de estar constantemente os examinando e cuidando de cada detalhe para que tivessem uma alimentação saudável e adequada à rotina deles; além disso, qualquer erro meu poderia resultar em um problema de saúde para qualquer um dos sete, e eu acho que morreria se algo do tipo acontecesse. Havia, de bônus, toda a pressão e expectativa por estar lidando não com um grupo de pessoas normais, mas sim com um extremamente famoso, conhecido e adorado pelos fãs — mas os meninos faziam tudo isso passar despercebido no meu dia a dia. Eram sempre tão atenciosos e carinhosos, que tornavam até mesmo as dificuldades engraçadas e, ao fim de alguns dias, nós acabávamos no dormitório deles tentando descobrir quem cozinhava melhor. Acabava, então, por ser um trabalho leve e que valia e muito a pena.

A Sun Hee de onze meses atrás teria inveja da minha atual sorte, isso sim.

Mas, ao pensar em como tudo aquilo estava prestes a ser interrompido bruscamente, meu coração se apertava. A verdade era que já havia se passado dois meses desde o dia do anúncio da turnê dos meninos e, num piscar de olhos, o tempo estava simplesmente voando na minha frente. No mesmo dia da minha conversa com Yoongi (quando, graças ao céus, nós fizemos as pazes), eu tomei a minha decisão e, ao final do prazo de uma semana que Sejin havia me dado, eu telefonei para ele e marquei uma reunião. E, então, eu lhe dei a resposta que já estava há dias rondando a minha mente: eu me dedicaria completamente aos meninos e à saúde deles pelos próximos três meses, para que fizessem uma boa e tranquila viagem sem mim.

Eu não iria para a turnê do Bangtan.

Sim, eu sabia o que perderia. Não teria a chance de viajar com eles, de conhecer diversos novos países e culturas e não viveria meses de aventuras e diversão. Eu tinha plena consciência do que estava recusando e reconhecia que era uma decisão difícil de ser tomada e que, provavelmente, muitos não entenderiam a minha escolha — mas nada daquilo me importava. Quando coloquei a turnê de um lado da balança e do outro o sonho da minha vida, um dos lados acabou por ser naturalmente mais pesado, mesmo que apenas um pouco mais. Eu havia me apegado demais aos meninos e ter que me "despedir" deles mais cedo seria extremamente difícil, mas, por outro lado, seria duas vezes mais duro adiar ainda mais o meu sonho.

Eu posso parecer cabeça dura e até mesmo idiota por ter feito a escolha que fiz, contudo, literalmente só eu sei tudo o que tive que passar para chegar pelo menos até aqui. Claro, eu fui muito bem educada e cresci sendo amada pelos meus pais, mas isso não encobre o primeiro obstáculo que encontrei em minha vida: a falta de apoio. Depois de anos de conflitos com a minha mãe e minha irmã, eu saí de casa quando passei para uma boa faculdade em Seul com nada mais que uma mochila de roupas e o dinheiro que havia ganhado vendendo quentinhas. Bem, o resto da história vocês já conhecem por alto e, com a finalidade de não ficar contando apenas dificuldades, não acho que preciso continuar — o que realmente importa é que tomei uma decisão e, com firmeza, não me arrependo.

E eu, finalmente, encontrei apoio. Depois da minha conversa com Sejin, eu esperei que os meninos tivessem uma tarde de folga e os reuni para contar-lhes. Tive resmungos e exclamações chateadas como resposta, mas aos poucos fui recebendo todo o suporte que nunca conheci em toda a minha vida. Primeiro, como esperado, Namjoon se manifestou e disse que entendia perfeitamente o meu lado; e, provando a teoria de que eles realmente são os pais do grupo, logo depois foi a vez de Jin. Assim como Hoseok, o mais velho afirmou que sentiria a minha falta mas, mesmo assim, ambos abriram um enorme sorriso e me desejaram boa sorte. Por fim, os três mais novos tentaram manhosamente me convencer a mudar de ideia. Foi uma cena fofa e engraçada de se ver, especialmente quando eles foram repreendidos por Namjoon e abaixaram suas cabeças. Acabaram por aceitar e, ao mesmo tempo, os três me abraçaram e disseram que manteriam contato.

E tinha Yoongi. Ao meu lado, ele segurou a minha mão e, sem dizer nada, presenteou-me com o seu melhor sorriso reconfortante. Ele não precisava dizer nada, pois eu sabia que qualquer que fosse a minha decisão, ele estaria lá para me apoiar e me proteger de qualquer um que não o fizesse. Eu tinha, afinal, toda a sorte do mundo — e a prova viva disso estava bem ali, aquecendo a minha mão e o meu coração, apoiando-me como sempre.

Assim, mais um ciclo da minha vida começou a se fechar.

Mas o mesmo apenas começou, o que significava que eu ainda tinha muito trabalho pela frente. Foram dois meses de uma verdadeira maratona e, diga-se de passagem, fez com que eu várias vezes questionasse mentalmente como os meninos conseguiam aguentar aquela rotina. Se já era difícil para mim apenas ter de acompanhá-los e cuidar deles, imagino como deva ser inúmeras vezes mais cansativo para os próprios. Já era nítido no rosto deles o quanto estavam exaustos, mas, por conta da crescente empolgação e felicidade por causa da proximidade da turnê, eles se mantinham cheios de energia nos ensaios e outros afazeres.

Na verdade, quem tinha mesmo sorte nessa vida eram as fãs do Bangtan.

— Sun Hee-ah. — a voz terna de Yoongi chamou a minha atenção. Entrando em meu campo de visão, ele me fitava com certa preocupação. — Está tudo bem?

Só então eu me dei conta de que havia, mais uma vez, me perdido em meus pensamentos e consequentemente também perdera a noção do tempo. Eu estava literalmente parada em um canto da sala, com um adipômetro em mãos e um olhar vago, o que tornou impossível que eu não risse da minha própria condição.

— Sim, está tudo bem. — respondi, ainda rindo da minha capacidade de parecer uma múmia quando começava a pensar demais. — Vamos, eu preciso terminar os exames para liberá-los logo.

Eu consegui dar, no máximo , dois passos para frente até sentir meu cotovelo ser levemente puxado de volta. Carinhosamente, Yoongi aproximou-me dele com um sorriso um tanto manhoso no rosto.

Yah, você quer tanto assim se livrar de mim? — indagou, perigosamente perto. De algumas semanas para cá, Yoongi vinha se tornando cada vez mais para frente.

E eu, claro, estava gostando só um pouco daquilo.

— Eu quero me livrar só deles. — sussurrei de volta e, quando o vi arregalar seus pequenos olhos por causa da dupla interpretação da frase, não contive uma risada. — E vocês tem ensaio daqui a pouco. Ou seja, o Sejin vai me matar se eu atrasar vocês.

Yoongi fingiu estar decepcionado com a minha resposta e, em seguida, concordou com a cabeça baixa.

Pelos céus, ele estava tentando ser fofo... aquilo era a coisa mais engraçada e fofa que eu já havia visto em toda a minha vida. Aproximei-me ainda mais dele e, rapidamente e sem pedir sua permissão, depositei um beijo estalado em sua bochecha. Deixo aqui registrada a rapidez com que a pele pálida de seu rosto pigmentou-se completamente de vermelho.

Foi mais rápido que o tempo necessário para ler essa última frase, na verdade.

— Meninos. — chamei os seis demais, que descansavam. — Hora do último exame.

Quando ergui o adipômetro que trazia em minhas mãos, os resmungos foram quase que infinitos — em algum momento, Jin chegou a tentar se esconder atrás de Jungkook, como o ótimo e corajoso hyung que era. Nós estávamos de volta à clínica de nutrição do meu sunbae, onde eu havia realizado os exames deles logo quando nos conhecemos e comecei a trabalhar na empresa, e agora, para checar se estava tudo certo e como um dos diversos preparativos para a turnê, eu havia submetido os setes aos mesmos exames, novamente.

Como esperado, ninguém ficara muito feliz com aquilo, mas a situação era ainda pior quando se tratava do maior vilão do dia: o adipômetro. Aquela pinça enorme que, na verdade tinha um estranho formato de tesoura, era o instrumento mais odiado por eles — ela prensava cada gordura do corpo de cada um deles, apertando e incomodando. Eu tenho de admitir que não era um exame exatamente divertido, mas acabava sendo engraçado para mim assistir às caras e bocas que eles faziam durante o mesmo.

Noona... — Jimin aproximou-se de mim, puxando a ponta da manga do meu jaleco. Eu sabia que ele não estava sendo fofo de propósito, mas era um pouco impossível que Park Jimin não exalasse fofura ao simplesmente realizar a tarefa de respirar. — Não podemos deixar esse exame para outro dia?

Eu o fitei, me esforçando para permanecer séria.

Depois quando? — indaguei, erguendo uma sobrancelha. — Quando vocês estiverem na Europa ou na América?

Fitou o teto, parecendo pensar.

— Bem, a América será o último continente onde nós faremos shows... então pode ser lá. — respondeu inocentemente, sem entender a ironia na minha pergunta. Em seguida, franziu o cenho e me fitou. — Mas espera, a noona não vai conosco.

Aquilo foi o suficiente para todos explodirem em risadas. Hoseok, de longe o mais escandaloso, chegou a curvar-se para frente por conta da falta de ar, ao passo que Jimin continuava sem entender absolutamente nada.

Yah, é isso que dá passar tempo demais com o Taehyung! — exclamou Jin, o que fez o mencionado por ele rir duas vezes mais ao invés de se sentir ofendido.

Ignorando a confusão de Jimin, os meninos foram se acalmando aos poucos (lê-se: bem aos poucos) e diminuindo o barulho. Quando percebi que poderia voltar a falar, decidi que aquela seria a melhor hora para jogar a última boba.

— Vamos começar, não posso atrasá-los para o ensaio. — iniciei e os meninos concordaram prontamente com suas cabeças. Bem, agora era o momento. — Eu preciso que vocês tirem a camisa.

Onze meses a mais ou onze meses a menos, aquele era sempre um terreno complicado. Os meninos nitidamente sentiam-se à vontade comigo, algumas vezes até esquecendo da minha presença feminina e fazendo alguns comentários não muito cavaleiros, mas apenas o ato de levantar a blusa quando eu estava presente era considerado quase que um pecado. Pelos céus, eu estava cansada de vê-los acordando, sem maquiagem e com um rosto mais amarrotado do que o outro, então qual era o problema de tirar parte da vestimenta para que eu pudesse realizar um exame?

O problema estava bem ali, há um par de passos atrás de mim. Os seis, até mesmo o mais velho, encaravam de escanteio um Yoongi de expressão nebulosa e enrolavam como podiam para não fazer o que eu havia lhes pedido. Eu não pude evitar de bufar com aquela cena, virando-me para trás para fitar meu namorado.

Oppa. — chamei-o carinhosamente, fazendo com que o mesmo voltasse seu olhar há segundos ameaçador para mim. — Você quer esperar lá fora?

— O que?! — indagou, quase berrando de surpresa. — Você quer que eu fique lá fora, enquanto você fica aqui com esses seis indivíduos quase pelados?!

— Ou é isso, ou você desmancha essa cara emburrada e me deixa terminar o meu trabalho. — respondi. — O que me diz?

Naquele momento, Yoongi nitidamente teve de engolir todo o seu orgulho. A cena era tão cômica, que até mesmo o resto do grupo — que há pouquíssimo tempo formavam um poço de desconforto e nervosismo — teve de segurar a risada. Yoongi aproximou-se de mim e, coçando a nuca com certo rancor, deu-se por vencido.

— Está bem, vamos logo com isso. — respondeu, quase num resmungo. Em seguida, apontou acusadoramente para os amigos. — Mas eu vou ficar de olho em vocês!

Eu não consegui segurar uma risada, ao passo que os meninos pareceram realmente levar a ameaça de Yoongi a sério. Por fim, eles aos poucos foram cedendo e retirando seus casacos e camisas para que eu pudesse começar com o último exame.

Que Yoongi nunca descubra que eu cheguei a pensar isso, mas eles continuavam sete deuses gregos.

Aigoo... como a minha profissão era difícil.

 

***

 

A verdade era que, ao longo da minha vida, foram raras as vezes em que o fator tempo decidiu tomar o meu lado em alguma situação. Quando eu estava atrasada para algum compromisso, as horas voavam e me faziam ficar duas vezes mais apreensiva; quando tinha tédio em uma tarde nublada de domingo, os minutos passavam quase que se arrastando, apenas para terem o prazer de me verem resmungar no sofá da sala por não ter nada para fazer.

Quando eu desejava, com todo o meu coração, aproveitar cada segundo do último mês do pequeno conto de fadas que estava vivendo, os dias passaram num piscar de olhos.

Então, lá estava eu, encarando a jardineira jeans a qual eu propositalmente só havia prendido de um lado, na tentativa de deixar à mostra parte da regata branca que usava por debaixo da peça, meu pequeno par de tênis igualmente brancos e meu coque alto, que fora muito bem preso por eu já saber o calor que estaria prestes a enfrentar, com uma expressão facial que não demonstrava nenhuma emoção. Na verdade, não é que eu não estivesse realmente não sentindo nada — mas o turbilhão de sentimentos, emoções e sensações dentro de mim formavam uma confusão tão grande, que eu não sabia como me expressar naquele momento. Eu queria chorar, rir, sair correndo e me enfiar por debaixo do meu confortável edredom de ursinhos, tudo de uma vez só. Isso, na verdade, poderia ser simplesmente chamado de estar nervosa, mas eu era orgulhosa demais para admitir tal coisa; por isso, apenas respirei fundo e coloquei minha cabeça para fora do quarto.

— Yu Jin! — chamei pela minha sobrinha, provavelmente assustando um vizinho ou outro no meio do processo. — Você já está pronta?

Depois de muito custo (literalmente, já que eu tive que me oferecer para pagar pelo ingresso dela), eu havia convencido minha irmã a permitir que eu levasse Yu Jin no primeiro show da turnê do Bangtan, aqui mesmo, em Seul. Depois de uma longa conversa pelo telefone e praticamente uma daquelas negociações de sequestro que vez ou outra aparecem nos noticiários, ela concordou em trazer minha pequena sobrinha até o apartamento de Jung Soo ainda pela manhã, para que nós duas pudéssemos passar o dia inteiro juntas e, de noite, eu a levasse para o show. Depois de quase sete horas de viagem em um carro não muito confortável, Yu Jin saltou do mesmo transbordando de energia, correndo para pendurar-se no meu pescoço em um abraço apertado, ao passo que sua mãe contentou-se em lançar-me apenas um aceno de cabeça, sem se dar ao trabalho de descer do veículo — do mesmo jeito que havia chego, Sun Young fora embora, sem dizer uma única palavra mesmo depois de quase dois anos de completo silêncio entre nós.

A verdade era que eu já estava acostumada com o jeito dela de ser e não a culpava por agir assim. Infelizmente, Sun Young fora criada para ser assim; uma mulher mesquinha sustentada pelo marido podre de rico, a qual nunca precisou trabalhar e jamais vai conhecer a realidade de quem precisa fazê-lo. Claro, ela tentou lutar contras as ideologias malucas da mamãe quando éramos crianças, mas acabou dando-se por vencida depois de tantos anos e falhas — talvez fosse por isso que eu ainda conseguia enxergar em seu interior um resquício da menina doce e alegre que ela um dia fora, e que hoje Yu Jin era. No fim das contas, ela vivia sua própria vida há muitos quilômetros de distância da minha e jamais impediu que eu visitasse minha sobrinha, então, não havia motivos para ao menos agirmos civilizadamente uma com a outra.

E Yu Jin era uma das paixões da minha vida. Pequena, assim como eu era quando tinha a sua idade, ela tinha longos cabelos negros, que desciam lisos e pesados até quase o final de suas costas, além da franjinha fofa. Com um sorriso perfeitamente branco e os olhos castanhos um pouco grandes, a menina parecia uma princesinha de tão linda e gentil — isso, claro, se você não a contrariasse. Yu Jin tinha uma personalidade extremamente forte e era determinada, o que durante algum tempo fez com que eu acreditasse que ela era mais minha filha do que de Sun Young.

— Estou pronta, titia! — exclamou, entrando correndo em meu quarto e fazendo uma pose exibida sobre o tapete. — Não estou linda?

Eu a fitei, rindo. Seu vestido era tingido por um rosa extremamente vivo e eu tinha certeza de onde aquela peça havia vindo, mesmo sem nunca tê-la visto antes.

— Mais linda do que o normal, meu amor. — respondi, inclinando-me para frente para alcançar seu par de traças, acariciando as mesmas. — Foi a Jung Soo quem lhe deu esse vestido, não foi?

Ye. — afirmou animada.

Ah, não enche o meu saco. — resmungou Jung Soo, entrando repentinamente no meu quarto com seu pijama comprido de seda. — Quando eu soube que ela viria, quis comprar um presentinho.

— Como sempre. — retruquei, quase apanhando em resposta. — Eu ainda não entendi o porquê de você não querer vir conosco.

— E me fingir de vegetal na frente do Bangtan de novo? — indagou, sentando-se confortavelmente na minha cama. — Não, obrigada. Prefiro esperar e comprar o DVD depois, será mais seguro e menos vergonhoso.

Jung Soo era, no mínimo, uma mulher diferente. Com todos os seus dramas e exageros, ela acabava sendo engraçada nas horas mais inoportunas e improváveis — como era o caso nesse exato momento.

— Bem, você é quem sabe. — eu disse, dando de ombros e rindo da expressão derrotada que ela fez ao enterrar a cabeça no meu travesseiro. — Vamos, Yu Jin?

— Vamos! — a pequena exclamou, quase gritando.

— Divirtam-se, sortudas. — Jung Soo ergueu a cabeça para dizê-lo e, logo em seguida, voltou a usar e abusar do meu travesseiro.

Eu só espero que, quando eu chegar, ela não tenha mais uma vez pego no sono na minha cama e eu a encontre por lá mesmo. Caso contrário, eu a chutarei colchão à fora.

Inconveniências da minha melhor amiga à parte, Jung Soo havia me emprestado o carro para tornar o nosso trajeto até o outro lado da cidade mais rápido e seguro, o que era uma benção dos céus. Era um sábado à noite e as ruas de Seul estavam lotadas com gente de todas as idades frequentando todos os tipos de lugares, o que tornava o trânsito um pouco chato, mas não o suficiente para nos atrasar. Ao meu lado, Yu Jin fitava cada canto da cidade com um brilho intenso nos olhos, nitidamente maravilhada com toda aquela agitação — afinal, nada daquilo fazia parte da rotina de uma pequena moradora de uma província requintada do interior. Quando descemos do carro, ela agarrou com força a minha mão e saiu puxando-me para dentro da arena onde seria o show, sem se importar com a considerável quantidade de fãs que por ali já estavam.

Então, meu coração desobediente passou a bater bem mais rápido. Assim como a maioria das jovens ao meu redor, eu estava nervosa por estar ali — nós apenas não compartilhávamos das mesmas circunstâncias. Eu sabia que os meninos com certeza estavam logo atrás daquele palco, preparando-se arduamente para uma performance que começaria dali a uma hora e que também era uma das mais importantes de toda a carreira deles; e só eu sabia o quanto queria estar lá com eles, para apoiá-los com qualquer coisa que precisassem. Mas aquele momento era somente deles. Depois de longos meses de convivência, eu havia aprendido uma coisa que nem todos pareciam saber: apesar de todo o amor incondicional das fãs, o qual eles adoravam receber e os motivava a continuar fazendo o que tanto gostavam, só eles sabiam como lidar, incentivar e acalmar cada um deles mesmos. Nesse momento, eles estariam reunidos, vivendo todo o momento particular do qual precisavam e, por mais que eu interiormente quisesse ir até eles, eu jamais usaria da minha posição para acabar os interrompendo — mesmo que aquela fosse, tecnicamente, a minha última chance de fazê-lo.

— Titia. — chamou-me Yu Jin, assim que chegamos no local certo. Era um lugar com uma vista um tanto privilegiada do palco, onde não havia muita movimentação ou tumulto. — Vamos tirar uma foto?

Por mais que eu estivesse com a cabeça em outro lugar, tratei de espantar meus pensamentos fora do horário e saquei meu celular do bolso. Abaixando-me ao lado de Yu Jin, a pequena passou um braço por trás do meu pescoço e fez um sinal de V com dois dedos sobre o meu olho direito. Por fim, nós acabamos caindo na gargalhada na hora e a imagem ficou um pouco tremida, mas ainda sim espontânea e retratando com fidelidade aquele momento. Yu Jin bateu palminhas quando eu lhe mostrei a foto e, em seguida, voltou a prender seus olhos no palco vazio.

Assim, minha sobrinha de dez anos deu-me uma maravilhosa ideia. Havia um jeito muito simples que me permitia mostrar aos meninos que eu estava ali por eles sem precisar perturbá-los ou interrompê-los, e o mesmo estava ali, na palma da minha mão. Com a legenda "Esperando por vocês!" eu enviei para cara um dos sete a foto que havia acabado de tirar com Yu Jin — um pouco básico, talvez, mas justamente o que eu estava procurando.

A resposta não tardou a chegar. Vibrando uma única vez, meu celular exibiu a resposta de Yoongi: uma foto de todos juntos, já arrumados, rindo e fazendo caras e bocas. Quando li a legenda, me segurei para não gargalhar alto.

"Acalme-se, já estamos chegando."

E, na verdade, estavam mesmo. Alguns minutos depois (talvez não poucos, mas que passaram rápido), as luzes do palco se apagaram por completo. Em seguida, um espetáculo de luzes e efeitos, uma batida contagiante e, num piscar de olhos, os meninos entraram com toda a energia e animação pelas escadas centrais, saindo de trás de um painel de luzes que se abria no meio para eles passarem. Tudo aquilo era, no mínimo, mágico. Apesar de já ter tido a oportunidade de ir a alguns shows deles, eu não me cansava de me surpreender, pois cada um conseguia ser ainda melhor do que o outro. Eu acabei, por fim, mais deslumbrada que a própria Yu Jin e, juntas, nós duas nos divertirmos muito. Ela sabia todas as letras e coreografias e eu, de tanto assistir aos ensaios dele, já estava aprendendo também — por isso, acabamos dançando e cantando feito loucas. Eles estavam nitidamente dando tudo de si, o que tornava aquela experiência ainda mais prazerosa e inesquecível.

E, lá no meio, estava Yoongi. De vez em sempre, meus olhar recaía sobre ele e ali ficava durante um bom tempo. Ele era uma pessoa completamente diferente enquanto se apresentava, e aquela era uma das muitas versões dele que eu amava. Como eu sabia que ele não podia me ver mesmo se quisesse, eu me permiti admirá-lo sem restrições ou amarras; afinal, seria longo o tempo até que eu tivesse aquela chance novamente.

E, com o belo e agradecido discurso de Namjoon, aquele espetáculo chegou ao fim. Ignorando meu coração apertado, minha mente lembrou-me do que eu deveria fazer a seguir. Esperei mais ou menos uma meia hora até parte do êxtase da minha sobrinha lentamente dispersar-se e abaixei-me ao lado dela.

— A titia quer levá-la a um lugar especial. — falei um pouco mais alto, já que o barulho ao nosso redor ainda era intenso. —Vamos?

A pequena tinha o rosto vermelho de animação, suava e ainda estava um pouco atordoada, mas, mesmo assim, ela concordou prontamente com a cabeça. Eu segurei em sua mão e, em seguida, já sabia o que fazer. Uma staff já nos esperava aos pés do palco e, assim que me certifiquei que não havia ninguém nos olhando, a jovem liberou a minha passagem e de Yu Jin para dentro dos bastidores.

— Onde estamos indo, titia? — indagou, confusa. De repente, quando o barulho da platéia começou a tornar-se mais longínquo e o ambiente ao nosso redor mais branco e claro, ela arregalou ainda mais os olhinhos. — Não me diga que...

Ye. — concordei com um enorme sorriso no rosto, achando a coisa mais linda a alegria dela.

Yu Jin não teve tempo de sequer formular outra frase, quando se deparou com uma considerável movimentação de staffs e, no meio dos mesmos, um Bangtan por completo comemorando o início bem sucedido da turnê. O primeiro a nos avistar foi Jimin, que alargou seu sorriso ao nos encontrar.

Noona! — exclamou, correndo na minha direção. Ele não estava mais suado, mas ainda parecia cansado e um pouco sem fôlego, apesar de imensamente feliz. — Você nos viu? Aigoo... foi uma boa apresentação. Você... — pausou, notando a pequena figura chocada ao meu lado. — Ah, essa é a sua sobrinha? Olá!

Jimin agachou-se na frente de Yu Jin sorridente, ao passo que os outros se aproximavam de nós. Quando a pequena finalmente processou toda aquela situação, teve uma reação que provavelmente faria com que Jung Soo quisesse morrer de vergonha: Yu Jin, primeiro, gritou. Alto, agudo e em bom som. Depois, começou a exclamar dezenas de coisas impossíveis de entender e, por fim, jogou-se nos braços de Jimin, que desequilibrou e acabou caindo para trás com minha sobrinha pendurada em seu pescoço. Os meninos gargalharam alto da cena, enquanto Namjoon foi o único que se prestou a ajudar o amigo a levantar (mesmo que também estivesse rindo). Por conhecê-los tão bem, eu sabia que podia deixar Yu Jin à vontade com eles, pois todos gostavam de crianças e não se importariam com a presença dela.

— Então você é a Yu Jin? — indagou Taehyung e a pequena sacudiu a cabeça firmemente. — Aigoo... você é ainda mais bonita do que a sua tia disse que seria!

Por conta de todo o calor do momento, Yu Jin estava ocupada demais para reparar que, na verdade, ela estava ali porque eu trabalhava para o seu grupo favorito. Não que fosse um problema se ela descobrisse, mas aquele era, afinal, o último dia no qual ela poderia gabar-se disso para seus colegas ou coisas do tipo — amanhã, logo pela manhã, eu oficialmente não seria mais uma funcionária da Big Hit.

Mais uma vez naquele dia, meu coração tornou a se apertar em meu peito. Instintivamente, meus olhos procuraram o de Yoongi, e acabaram por encontrar os dele intensamente sobre mim. Com uma expressão de quem tinha mil e uma coisas para me dizer, porém não fazia ideia de por onde começar, ele me fitava em silêncio logo atrás de Hoseok. Enquanto todos só tinham olhos e mimos para Yu Jin, nós ficamos um bom tempo assim, alheios a tudo que não fosse a presença um do outro, até Hoseok notar a nossa silenciosa interação.

Yah, pequena Yu Jin. — chamou a menina, com seu enorme e carismático sorriso. — Você quer um pedaço de bolo?

Yu Jin não pensou duas vezes antes de aceitar, encantada com a presença deles. Eu sabia sobre que bolo ele estava falando, pois havia ajudado Gae Mae a comprá-lo e decorá-lo: um enorme bolo confeitado, comemorando o início da turnê e dando boas vindas à mesma. Incomum, porém era algo simbólico e que parecia significar muito para eles.

—Você não vem, titia? — indagou Yu Jin, cutucando a minha perna.

— Já estou indo, querida. — respondi, sorrindo com ternura. — Vá indo com os meninos e divirta-se, está bem?

Transbordando felicidade e animação, Yu Jin seguiu de mãos dadas com Jungkook e Hoseok, o que gerou murmúrios manhosos e ciumentos dos outros. Por fim, eles já estavam longe o suficiente para que eu e Yoongi pudéssemos ter um pouco de privacidade.

Mas eu sabia que aquilo não era suficiente para ele. Yoongi segurou em minha mão e, sem dizer nada, conduziu-me até a primeira sala vazia que encontrou — ironicamente, era um depósito, porém bem iluminado e organizado desta vez.

— Isso me traz lembranças. — eu disse, olhando ao redor e lembrando-me do dia do nosso primeiro beijo. — Ótimas lembranças.

Yoongi sorriu, também observando o ambiente com certa ternura no olhar. Em seguida, coçou a nuca e me fitou.

— Sun Hee, você já ouviu falar de Akai Ito, a lenda do fio vermelho do destino? — indagou calmamente. Eu balancei a cabeça negativamente, permitindo que ele prosseguisse. — É uma lenda chinesa, muito popular no Japão, que diz que há um fio vermelho que conecta duas pessoas que nasceram para ficarem juntas. Esse fio é invisível para a gente mas, mesmo assim, é ele quem faz o papel do destino e mantém essas pessoas sempre unidas. — pausou, abrindo um pequeno sorriso. — Eu conhecia essa lenda por alto, mas foi só quando estivemos no Japão da última vez que eu realmente a entendi.

Eu sabia que Yoongi tinha um objetivo para estar contando-me aquilo, mas ainda não estava conseguindo visualizá-lo; contudo, sua voz era tão envolvente e ele parecia estar se esforçando tanto para me dizer cada uma daquelas palavras, que eu não ousei interrompe-lo para perguntar.

— Um dia depois do nosso encontro no Japão, eu lhe comprei isto. — do bolso dianteiro da calça, ele tirou uma pequena caixinha de veludo preta. — Eu queria ter lhe dado antes, mas sabia que o momento ideal ainda chegaria.

Quando Yoongi entregou-me a caixinha, eu já começava a sentir meus olhos manejarem e praguejei mentalmente meu coração mole. Quando a abri, deparei-me com um pequeno anel, com o qual eu nunca tinha visto nada parecido: dois fios vermelhos haviam sido trançados um no outro delicadamente, formando um círculo sem começo e nem fim e, em volta dos mesmos, uma fina camada transparente os protegia e dava resistência e rigidez ao objeto.

— São os nossos fios vermelhos. — disse, enquanto eu retirava o anel da caixinha e o colocava no meu indicador direito. A pequena jóia servira como uma luva, e ele pareceu mais aliviado quando percebeu isso. — Pode parecer piegas e bobo mas, quando eu o comprei, realmente acreditei que poderia unir os nossos destinos assim. Espero que tenha gostado.

E então, todos os sentimentos que haviam ocupado a minha mente durante todo aquele dia, transbordaram pelos meus olhos em forma de lágrimas emocionadas. Eu fitei Yoongi, que parecia um pouco surpreso com a minha reação, e não pensei duas vezes antes de abraçá-lo com força. Ele poderia até se cansar de ter suas roupas molhadas pelas minhas lágrimas tantas vezes, mas isso não me importava nem um pouco — com a cabeça enterrada em seu pescoço e com seus braços abraçando firmemente a minha cintura, eu abri um largo sorriso.

— Eu amei. — sussurrei em seu ouvido, com a voz embargada pela emoção e pela felicidade. — Obrigada, Yoongi. Por tudo.

Nós éramos o tipo de casal que, não importava qual fosse a situação, em momentos como aquele nada precisava ser dito. Em meio a poucas palavras, as vezes até mesmo em silêncio, nós conseguíamos transmitir um para o outro todas as nossas preocupações, emoções e sensações. Por isso, quando eu o agradecia, não estava apenas o agradecendo — junto com aquelas palavras, iam todos os meus pensamentos e sentimentos.

— Eu te amo. — ele sussurrou de volta, um pouco acima do meu ouvido.

Em seguida, eu ternamente quebrei o nosso abraço, afastando-me dele apenas o suficiente para conseguir olhar em seus olhos. Depois de fitar cada detalhe do seu rosto, os quais me aliava já conhecê-los de cor e salteado, foi a minha vez de falar.

— Eu também te amo, Min Yoongi.

Com um sorriso, Yoongi selou os nossos lábios carinhosamente. Como eu já esperava, em seu beijo eu pude sentir toda a sua angústia por estarmos nos vendo pela última vez pelos próximos quase quatro meses, a saudade antecipada da vida que vivemos nos últimos onze meses mas, também, uma calmaria enorme que conseguiu tranquilizar meu coração. Yoongi era, sem sombra de dúvidas, o meu porto seguro — e agora, eu tinha certeza de que também era o dele.

Assim, torcendo para a lenda de Akai Ito ser realmente verdade, nós nos despedimos naquela noite.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenham gostado!
TITIA TEM DOIS AVISOS PARA VOCÊS:
1º : Esse capítulo foi finalizado no escuro às três da manhã, peço perdão por possíveis erros de digitação e, caso alguma loucura tenha saído aí no meio, por favor me avisem que eu conserto.
2º : Este capítulo foi, infelizmente, o PENÚLTIMO. Daqui a alguns dias, voltarei aqui com o último capítulo dessa história para vocês, e já estou chorando antecipadamente.
Bem, era isso. Não esqueçam de mandar suas opiniões!
Até ♥