BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 24
Namorado, Omma e Appa


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos do meu coração!
Venho aqui me desculpar pela pequena demora, mas também dizer que esse capítulo possuí propositalmente informações e acontecimentos suficientes para compensar a paciente espera de vocês! Espero que gostem.

Boa leitura.



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— Ele fez o quê?!

Aquela pergunta já me era um tanto familiar, no fim das contas. Já a ouvira sair da boca de Jung Soo, do próprio Yoongi e, certa vez, de um perplexo Jin. Apesar de ter tomado um porre vergonhoso naquele mesmo dia, ainda me recordo da cena do mais velho repetindo a mesma frase para mim quando eu contei a eles sobre o que Yong Joon fizera comigo, isso enquanto ele piscava ferozmente e seu rosto adquiria um tom vermelho preocupante.

Nesse exato momento, Yoongi não estava muito diferente de seu hyung naquele dia, apesar de parecer muito mais incomodado com a situação.

Talvez, depois de tantos anos de convivência, eles tenham adquirido os mais estranhos costumes uns dos outros.

Mas suponho que essa não seja a hora mais adequada para se pensar sobre isso — seja talvez pelo modo como Yoongi caminhava impaciente de um lado para o outro em meio ao salão vazio, ou pelo fato de que parecia que poderia sair fogo de suas orelhas a qualquer momento e incendiar todo o meu futuro restaurante. Eu o encarei, esperando que seu choque inicial passasse e que ele botasse para fora todos os sentimentos indignados que nitidamente tinha dentro de si próprio naquele momento.

— E você ainda o deixou ir embora? — indagou, finalmente parando de frente para mim. Agora ele parecia mais frustrado do que irritado, mas isso não era nada que eu já não esperasse ou não estivesse pronta para lidar. — Esse desgraçado deveria estar na cadeia agora, Sun Hee. Mas ao invés disso, você resolveu perdoá-lo.

— Eu posso saber em qual momento dessa nossa conversa eu disse que o tinha perdoado? — a resposta deixara minha boca automaticamente, e eu só havia reparado o quão rude minha fala havia soado depois de fitar os olhos levemente arregalados de surpresa de Yoongi.

Pelo menos, entre mortos e feridos, a minha tentativa falha de soar paciente resultara nele parecendo estar mais calmo e disposto a ouvir o que eu tinha para dizer em minha defesa. Não que eu precisasse me defender, na verdade, mas deixar meu ponto de vista claro como o céu de verão era algo que eu gostava de fazer.

— Você disse que o deixou ir embora. — pronunciou-se, esfregando o pé direito contra o chão como uma criança chateada.

— Sim, deixei. Afinal, que bem me faria mandar prendê-lo? — retruquei e, graças aos céus, ele parecia estar entendendo onde de fato eu queria chegar. — Yong Joon foi um egoísta que preferiu primeiro me roubar para pagar suas dívidas a dar o seu precioso carro como pagamento, isso eu admito... mas no fim, do jeito dele, ele consertou seu erro. Ele tentou se redimir, pagou o que me devia e ainda está disposto a começar uma vida nova. — pausei, me aproximando de Yoongi calmamente. — Você me conhece bem o suficiente para saber como eu me sentiria se o impedisse de recomeçar depois de tudo isso.

Péssima. Você se sentiria péssima. — Yoongi respondeu, quase que automaticamente. — Esse seu senso humanitário a deixaria noites sem dormir.

Apesar de sua escolha de palavras, eu sabia que Yoongi não estava irritado comigo ou com o meu jeito humanitário de ser. Na verdade, ele estava apenas começando a constatar o que há muito tempo já era óbvio: eu era justamente aquele tipo de pessoa e, não importava quantas vezes as orelhas dele ficassem vermelhas e o seu temperamento nublado por causa disso, eu não mudaria. Gostava de quem eu era.

Por sorte, em seu interior, ele também gostava e não consegui negá-lo.

— Exatamente. — eu afirmei, sorrindo. Aproximei-me mais um pouco dele. — Agora, nós podemos apenas aceitar que há males que vem para o bem e esquecer de vez esse assunto?

Com uma interrogação estampada na testa, ele me fitou. Eu já sabia o que vinha a seguir.

— Males que vem para o bem? — perguntou, sem saber o porquê de eu ter utilizado aquela expressão especificamente.

— Claro, oras. — respondi e, por fim, nós estávamos tão próximos que eu podia segurar suas mãos sem precisar esticar meus braços. — Afinal, se o Yong Joon não tivesse feito o que fez, você realmente acha que eu aceitaria jogar o meu emprego para os ares para trabalhar para sete estranhos?

Yah, nós não somos estranhos. — rebateu, fingindo que eu havia ferido o seu orgulho. Eu o encarei, erguendo uma sobrancelha acusadoramente, e ele pigarreou como resposta. — Tudo bem, talvez um pouco.

Eu não pude evitar de gargalhar. Em seguida, pegando-me de surpresa, Yoongi aproveitou que nossas mãos ainda estavam unidas para me puxar para mais perto dele, dando fim à pouca distância que ainda havia entre nós. Com seu pequeno sorriso estampado em seu rosto, ele se aproximou e delicadamente selou nossos lábios. Como sempre e exatamente como eu amava, depois que eu lhe cedi passagem, o beijo tornou-se intenso e, ao mesmo tempo, calmo e doce.

Somente Yoongi podia fazê-lo daquele jeito, isso era um fato cientificamente comprovado.

Quando nos separamos, ele ainda tinha o mesmo sorriso no rosto, como se não estivesse disposto a desmanchá-lo nem tão cedo. Eu fiquei alguns segundos ainda próxima a ele, apenas o observando ternamente, antes que com calma me afastasse um pouco e quebrasse o silêncio.

— Há mais uma coisa que eu preciso lhe dizer. — comecei, ainda contagiada pela calmaria ao nosso redor.

Aigoo... eu lhe dou um presente maravilhoso, e é com bombas atrás de bombas que você me agradece? 

Resolvendo ignorar o fato de que sua brincadeira havia soado extremamente parecida com uma das longas reclamações do meu avô, eu voltei a sorrir e continuei.

— É justamente sobre isso que eu queria falar. — disse, atraindo a sua atenção. — Eu amei o que você fez, nunca em toda a minha vida eu recebi uma surpresa tão adorável, mas... não posso aceitar como presente.

Levou alguns segundos para que Yoongi se situasse. Um tanto perplexo, ele me encarou.

— O que?

Não é como se eu não esperasse aquela reação. Calmamente e disposta a me explicar, eu me permiti sorrir para confortá-lo.

Desta vez, eu tinha que explicar.

— Yoongi, você se lembra que uma vez eu lhe disse que precisava resolver o meu futuro sozinha? — perguntei, recebendo como resposta um desconfiado aceno positivo de cabeça. — Então, isso não mudou. Eu não posso, simplesmente, ganhar de presente algo pelo qual batalhei para conseguir com meu próprio esforço, durante grande parte da minha vida. Eu sinto como se estivesse traindo aquela eu que prometeu que conseguiria aguentar tudo com as próprias pernas, sabe?

Mais alguns segundos e algumas expressões que denotavam um conflito interno e, em seguida, Yoongi colocou-se a falar.

— Eu até lhe entendo, na verdade. Mas... — pausou, fitando-me com certa tristeza nos olhos. — Você quer que eu devolva o lugar?

Aniyo! — respondi prontamente, acho que o assustando. — Eu quero que você o venda para mim.

— O que? — repetiu a pergunta novamente naquela conversa.

Pela frequência com que ele me perguntava aquilo, eu poderia apenas constatar como eu era uma pessoa um tanto confusa.

Acontece. Afinal, eu nunca disse que conviver comigo era uma tarefa saudável e fácil de ser cumprida.

— Eu pretendo usar o dinheiro que Yong Joon me devolveu na reforma e para investir aqui. Comprarei de tudo e deixarei esse lugar exatamente como sempre sonhei. — iniciei, olhando para as paredes sem cor ao nosso redor com bastante entusiasmo. —Depois que tudo estiver pronto, parte dos lucros serão destinados para lhe pagar de voltar a quantia que você gastou na compra. Farei isso mensalmente, até que todo o valor seja quitado.

Ele voltou a me fitar com certa curiosidade nos olhos, provavelmente ponderando a minha proposta.

— Você quer dizer, como um empréstimo? — indagou, parecendo querer ter certeza da situação em que estava consideração se meter.

Ye! — respondi animada por ele ter entendido. — Então, o que acha?

Yoongi permitiu-se dar uma longa pausa para seus próprios pensamentos e, naquele momento, eu confesso que me senti apreensiva por causa de como ele poderia reagir. A ideia de que ele poderia se chatear ou não gostar do que eu estava sugerindo só me surgia à mente naquele momento e, mesmo sendo independente como sempre fui, a última coisa que eu queria era magoá-lo, de qualquer que fosse o modo.

Talvez eu devesse ter esperado um pouco mais, ou escolhido palavras mais sutis. Mas droga, eu estava tentando com a melhor das intenções.

E então, Yoongi voltou seus olhos diretamente para os meus.

— Eu deveria me sentir intimidado pela sua constante busca por autonomia. — confessou, sacudindo a cabeça. — Mas ela só faz com que eu lhe admire ainda mais.

Foi a minha vez de encará-lo surpresa.

— Isso significa que... — deixei a frase pender no ar, esperando que ele a completasse tão animadamente quanto eu estava naquele momento.

— Significa que contanto que você esteja feliz, eu aceito qualquer coisa. — respondeu, sorrindo. Estendeu uma de suas mãos na minha direção. — Negócio fechado?

Sentindo que eu poderia explodir de alegria (mais uma vez naquele dia), eu agarrei sua mão e a balancei com demasiada força.

— Negócio fechado. — afirmei, também sorrindo.

Em seguida, Yoongi puxou-me para um abraço. Eu me acomodei confortavelmente em seu peito com prazer, ao passo que ele me envolvia com seus braços e fazia com que eu me sentisse extremamente protegida de qualquer coisa.

— Você está assumindo um compromisso de longo prazo comigo, Sun Hee. — ele disse quase sobre a minha cabeça, num tom de voz sério e acolhedor ao mesmo tempo. — Não ouse não cumpri-lo.

Em resposta, eu sorri ainda mais e afundei meu rosto em seu peito, aproveitando aquela sensação calorosa que apenas Yoongi conseguia me transmitir.

Eu sabia o real significado de suas palavras, o que provocava em mim uma sensação de êxtase ainda maior.

— Não ousarei. Prometo.

Yoongi respirou fundo, e eu não precisava fitá-lo para saber que ele balançava sua cabeça para concordar e assimilar toda a situação no geral. Sua mão direita fez um breve carinho na altura do meu ombro e, em seguida, ele nos afastou cuidadosamente e pegou minha mão como quem não planejava soltá-la nunca. Fitou-me, com um sorriso de adolescente bobo no rosto.

— Você está com fome? — indagou e eu concordei prontamente com a cabeça. — Então vamos.

— Para onde? — perguntei curiosa quando ele começou a me conduzir para fora do restaurante.

— Jantar. No lugar que você quiser. — respondeu animado, mas ainda sim dando de ombros como se não fosse nada demais. — Depois eu lhe levarei para casa em segurança.

Como a corretora já havia ido embora, Yoongi tirou um molho de chaves do bolso traseiro do jeans e trancou as grandes portas de vidro. Em seguida, pôs o chaveiro na minha mão livre. Com aquele gesto, ele estava me entregando o meu restaurante.

Eu não pude evitar de fitá-lo, simplesmente admirando o fato de tê-lo em minha vida. Quando percebeu que eu o encarava descaradamente, ele me olhou de volta com uma expressão divertida.

— O que foi? — perguntou, rindo. — Eu não posso levar a minha namorada para casa?

As palavras frisadas em sua fala soaram como uma melodia doce e singela para os meus ouvidos. Não foi necessário nenhum pedido daqueles de filmes românticos, onde o mocinho ajoelha na frente de todo mundo com um buquê de flores em mãos — tudo que eu precisava para tornar nosso relacionamento oficial estava bem ali, na minha frente, passando a mão despreocupadamente pelos cabelos azuis.

Eu esperava que o tamanho do meu sorriso naquele momento não fosse resultar em bochechas doloridas mais tarde.

— Não só pode, como deve. — respondi.

Num piscar de olhos, Yoongi já estava me conduzindo pela rua um tanto deserta. Por sorte, as poucas almas que por ali passavam ou estava não prestavam um mínimo de atenção na nossa presença.

— Já sabe onde quer ir? — indagou, fitando a avenida no fim da rua na esperança de avistar algum táxi.

Um ideia surgiu em minha mente, apenas para manter o costume.

Com um sorriso no rosto, eu só podia rezar para que ele não me matasse com suas reclamações ranzinzas assim que a escutasse.

— Na verdade, sei sim. — expressei-me, um tanto travessa. — E não vamos precisar de carro para chegar lá.

Ele me encarou, confuso.

Com certeza ele iria reclamar.

 

***

 

Aigoo... — Hoseok iniciou, suspirando. Ele estava sentado exatamente de frente para mim e tinha o queixo apoiado nas costas das mãos. — Eu devo confessar que tenho inveja de vocês.

— Mas hyung, não foi você mesmo que disse que queria ser o padrinho do casal e tudo? — rebateu Jungkook ao meu lado, com as bochechas infladas de arroz o fazendo parecer um coelho.

— E o que isso tem haver? — o ruivo indagou, rindo da própria situação. — Olhe só para esses dois. Não lhes parece que estamos ficando para titia?

Aniyo. Yoongi é o segundo hyung, é normal que ele comece a namorar antes da gente. — foi a vez de Taehyung se pronunciar com sua latinha de Coca Cola em mãos. Ao lado dele, Jimin concordava com a cabeça, com a boca cheia demais para falar qualquer coisa. — Se for para parecer que alguém está ficando para titia, esse alguém é o Jin-hyung.

Yah! Olha o respeito comigo! — o mais velho exclamou ameaçador, apontando com a colher que usava na direção de Taehyung, enquanto os outros riam da sua reação exagerada como de costume. — Além disso, não é como se eu tivesse tempo para namorar. Só cuidar da minha beleza já ocupa muito do meu dia a dia.

Os outros explodiram em risadas, ao passo que Yoongi encarou o mais velho com a expressão fechada.

Hyung, você quis dizer que eu tenho tempo de sobra? — perguntou, sério.

Aniyo! — o outro respondeu, com o rosto já ruborizado. — O que eu quis dizer, na verdade...

Do meu lado direito, Yoongi bufou baixinho enquanto o mais velho tentava se explicar, me obrigando a abafar uma risada.

— De todos os lugares de Seul, você realmente tinha que escolher jantar no nosso dormitório? — ele sussurrou para que só eu o escutasse, num tom de voz inconformado.

Eu apenas dei de ombros, rindo.

— Foi você quem disse que eu poderia escolher. — murmurei de volta. — Aqui era perto, aconchegante e, de bônus, eu ainda pude cozinhar. Não poderia ter pensado em um lugar melhor.

— Mas eu sim. — rebateu. — Da próxima vez, eu escolho o restaurante.

Frisando a última palavra, ele deixou claro que demoraria um bom tempo para que ele superasse o trauma que havia sido para ele jantar com sua namorada e o resto do Bangtan na mesma noite e no mesmo lugar. Eu confesso que deveria sentir certa pena dele, mas era muito mais proveitoso rir de suas expressões de socorro enquanto estávamos ali.

Eu já disse que conviver comigo não era exatamente saudável.

Nós estávamos sentados no chão da sala, ao redor da mesinha de centro completamente coberta e bagunçada pelos mais diversos pratos que eu havia preparado com a ajuda de Jin, e já nos encontrávamos no fim da refeição. Quando Jimin alcançou o último pedaço de frango frito em um dos pratos e o levou até a direção de sua boca, parou.

— Mas, noona... — iniciou, atraindo a minha atenção. Apesar da cena dele com um pedaço de frango suspenso no meio do caminho ser cômica, ele parecia sinceramente preocupado com algo. — Você não está pensando em deixar de trabalhar conosco antes da hora, não é?

Os outros fizeram silêncio, fitando-me com certa surpresa. Mesmo que eu e Yoongi já tivéssemos contado a eles sobre o restaurante, a hipótese de que eu realmente me dedicaria ao mesmo parecia estar passando pelas cabeças deles pela primeira vez —ou seja, a possibilidade de que eu deixaria de trabalhar.

Eu não pude conter um sorriso.

Aniyo! — respondi, firme. — Eu não pretendo quebrar o meu contrato, nem mesmo se as obras e os preparativos correrem maravilhosamente bem e tudo ficar pronto antes do término do mesmo.

Eles soltaram o ar preso nos pulmões ao mesmo tempo, de um modo um tanto desorganizado.

— Só por isso? — Taehyung perguntou, descaradamente empurrando Jungkook para trás para se aproximar de onde eu estava sentada, na tentativa de apoiar os cotovelos na mesa de frente para mim e, com as mãos, segurar seu rosto numa posição fofa.

Pôs a cereja do bolo quando abriu um enorme sorriso quadrado, me fazendo rir.

— Claro que não. — eu disse, bagunçando seus cabelos carinhosamente e lhe retribuindo o sorriso. — Eu não deixaria vocês desse jeito. Por isso, preparem-se, porque ainda precisarão me aturar pelos próximos meses.

— Você quis dizer que você precisará aturar a gente, não é? — indagou Namjoon, gargalhando.

Da cozinha, Jin exclamou indignado algo do tipo "ela deveria adorar conviver conosco" e, em seguida, a confusão de opiniões e falas já estava formada novamente. Eles não paravam de falar nem mesmo enquanto limpavam a mesa e levavam tudo para cozinha, e, durante um momento, eu apenas me permiti observar aquela cena diante dos meus olhos.

Quando assinei meu contrato de trabalho com a Big Hit, diante de Sejin, o mesmo havia sido bem claro sobre a validade do documento. Um ano, nada mais, nada menos. Eu sempre tive plena consciência desse fato, porém, agora já acostumada com os rapazes e com toda a atmosfera aconchegante que eles me proporcionavam, pensar que um dia isso chegaria ao fim fazia o meu coração se apertar. Não era como se eu planejasse nunca mais vê-los, claro que não, mas com certeza nossos encontros teriam sua frequência diminuída quando eu não trabalhasse mais para eles. Além disso, eu sempre acreditei na teoria de que a vida era feita de ciclos, e que aquele precisaria se fechar para que um novo (o qual ansiei durante toda a minha vida) começasse.

Mas ainda assim, eu não podia evitar de me sentir nostálgica antes da hora.

— O que foi? — a voz de Yoongi ao meu lado tirou-me de meus pensamentos. Ele me fitava, provavelmente preocupado por me ver tão aérea.

— Não é nada. — respondi, sorrindo. — Acho que estou um pouco cansada.

Ele concordou com a cabeça, se levantando e estendendo uma mão para me ajudar a fazer o mesmo.

— Vamos, vou levá-la até em casa.

Eu poderia negar. Poderia dizer a ele que estava apenas brincando quando disse que ele deveria me levar para casa, ou somente falar que queria ficar mais um pouco... mas eu, algumas vezes (mais especificamente nas que ele sorria daquele modo e cuidava de mim), simplesmente não sabia como resistir àquele homem.

Aish... aquilo era estar apaixonada.

Despedi-me dos rapazes que, apesar de sempre carinhosos comigo, não pareciam muito felizes em ter de lavar a louça. Enquanto eu o fazia, Yoongi correra até seu quarto para buscar um casaco, pois nessa época do ano as noites eram realmente mais frias e, de bônus, nada servia melhor como disfarce do que a peça. Voltou trajando um moletom preto e trazendo um azul bebê nas mãos.

— Esse é para você. — disse, entregando-me o azul enquanto abria a porta da frente.

Era normal se sentir prestes a explodir de fofura com pequenos gestos como aquele? Aish... aquilo também fazia parte de se apaixonar.

Eu o agradeci com um pequeno sorriso e vesti o moletom, que cobria até um palmo abaixo da minha cintura. A vestimenta tinha o cheirinho de Yoongi por toda parte, o que fez com que eu realmente planejasse como não devolvê-la nunca mais durante o trajeto. Nós fomos conversando sobre assuntos completamente aleatórios no banco de trás do táxi — geralmente, quando eu reconhecia algum lugar pelo qual passávamos, eu acabava me recordando de alguma vergonha que passara por ali e contando a ele, que por sua vez ria até perder o fôlego — e, quando o motorista parou de frente para o meu prédio, eu senti sua mão alcançar a minha sobre o meu colo.

Nenhum dos dois queria se despedir, porque, afinal, até mesmo as pequenas despedidas eram um saco.

— Você quer subir? — eu indaguei repentinamente, fazendo-o quase se engasgar com a própria saliva. Eu não pude evitar de rir pelo modo que ele provavelmente havia interpretado a minha pergunta. — Aniyo... Jung Soo deve estar em casa a essa hora, e eu gostaria que vocês se conhecessem.

Ah. — ele deixou escapar, entendendo a situação. — Claro, pode ser.

Mais uma vez, o modo como ele era péssimo em disfarçar algumas de suas reações me fez rir. Nós saltamos do veículo e eu segui um passo à frente, para guiá-lo pelo caminho que eu já estava até cansada de conhecer, e Yoongi reparava tudo ao seu redor sem precisar de mover muito — até mesmo chegou a encarar o próprio reflexo dentro do elevador. As portas se abriram no meu andar e eu segurei sua mão para puxá-lo corredor a dentro, mesmo que ele parecesse disposto a me acompanhar de verdade.

— Bem vindo ao meu temporário e doce lar. — brinquei, girando a maçaneta da porta da frente e lhe arrancando um pequeno sorriso.

Enquanto tirávamos nossos sapatos na entrada, pude ouvir passos apressados e pesados vindos do interior do apartamento. A figura alta de Jung Soo caminhava pelo corredor quase correndo e, quando me viu, assumiu um tom de voz manhoso.

Sun Hee-ah! — exclamou, vindo até mim. — Por que você demorou tanto? Eu tentei ligar para você, mas a megera disse que queria fazer uma surpresa e não me deixava sequer encostar no meu celular para...

De repente, ela parou bruscamente seu monólogo embolado e sem sentido. Como eu ainda prestava atenção nos chinelos que calçava em meus pés, precisei erguer a cabeça para tentar entender a situação e deparei-me com uma cena impagável: com os olhos esbugalhados, Jung Soo encarava o tímido Yoongi logo atrás de mim, que sorria para ela sem jeito. Ela ergueu o braço para apontar na direção dele, atônita como se estivesse vendo um fantasma.

Ela era fã do Bangtan, afinal.

— Park Jung Soo, este é Min Yoongi. — disse, apontando para ambos respectivamente e precisando me conter para não gargalhar alto da falta de palavras e da boca aberta da minha melhor amiga. — Min Yoongi, esta é Park Jung Soo.

Annyeonghaseyo. — ele disse o mais simpático possível, curvando-se brevemente.

Jung Soo, por outro lado, não conseguiu fazer nem meia reverência. Ela ainda encarava Yoongi e agora parecia desconfiada, provavelmente se perguntando se ele era real.

Eu não pude evitar de rir. Ao meu lado, Yoongi parecia mais relaxado por causa do meu bom humor, à medida que Jung Soo ia recobrando os sentidos.

— Uma hora ela voltará à realidade e será educada o suficiente para cumprimentá-lo, não se preocupe. — eu sussurrei para ele, que concordou com a cabeça sem entender muito bem. Voltei-me para minha amiga e, como ela ainda encarava fixamente Yoongi, eu precisei balançar minha mão em frente aos seus olhos para atrair sua atenção. — E então, sobre o que você estava reclamando?

Preciso compartilhar que obtive sua atenção apenas durante dois segundos, e logo em seguida ela voltou a fitar Yoongi. Pelo menos, ela se deu ao trabalho de apontar para o interior do apartamento, mesmo que de costas para o mesmo.

— Na sala. — balbuciou e, durante um momento, eu me perguntei se minha amiga não estava tendo um derrame, encarnando o Groot ou algo do tipo.

De repente, ela sorriu para Yoongi abertamente.

Annyeonghaseyo. — disse, empolgada e com a voz arrastada ao mesmo tempo.

Eu sacudi a cabeça negativamente, questionando minha decisão de ter trago Yoongi para conhecer aquele ser humano que mais parecia um vegetal naquele momento. Segurei no braço de Yoongi e comecei a puxá-lo delicadamente para dentro.

— Mas e ela? — indagou ao passar por Jung Soo, que virou a cabeça no estilo menina do Exorcista para segui-lo com o olhar.

— Deixe ela aí. Uma hora ela acorda, ou dorme de vez pelo chão. — respondi, dando de ombros.

Segui com Yoongi pelo corredor, deixando minha amiga para trás e com o intuito de descobrir o que tinha de tão importante me aguardando na sala.

Mas a questão não era o que, mas sim quem.

Sentados no sofá, um casal. A mulher era mais alta do que o homem, tinha os cabelos curtos bem cuidados e usava roupas elegantes, de longe não aparentando ter a idade que realmente tinha. Ao seu lado, o homem usava um suéter quadriculado e bebia uma xícara de algo que me parecia chá. Eu parei instintivamente logo quando bati meus olhos nos dois e quase fazendo com que Yoongi, que vinha logo atrás, me atropelasse. Quando eles notaram a minha presença, eu me lembrei do desespero na fala de Jung Soo assim que me vira entrar em casa.

Ambos se levantaram, sorrindo.

— Sun Hee! — exclamou a mulher receptiva, ajeitando o vestido coral. — Quanto tempo, filha.

Eu a encarei, surpresa.

Omma? — indaguei, fitando-a. Em seguida, me virei lentamente para o homem. — Appa?

Poucos centímetros atrás de mim, eu senti Yoongi quase se engasgar novamente.

Omma? — repetiu, sussurrando para mim tão perplexo quanto eu. — Appa?!

Aigoo... não vai nos dar um abraço, querida? — indagou minha mãe, caminhando na minha direção. Parou ao notar a presença de Yoongi e, com seus olhos julgadores de sempre, o analisou de cima a baixo. — Aliás, quem é esse?

Eu estava, seriamente, pensamento em me juntar a Jung Soo e criar raízes na entrada da casa.

Ao invés disso, tive de encarar os olhares curiosos dos meus pais e, ao mesmo tempo, o notável terror de Yoongi. Pigarreei algumas vezes, na tentativa de limpar a garganta e conseguir com que minha voz saísse firme.

— O nome dele é Min Yoongi. — disse, indisposta a dar mais detalhes.

Num estalo, meu namorado pareceu se situar e, rapidamente, colocou-se ao meu lado. Inclinou-se para frente durante alguns segundos, demonstrando o máximo de respeito que conseguia.

Annyeonghaseyo. — cumprimentou, educado. — É um prazer conhecê-los.

Meu pai curvou-se brevemente, ao passo que minha mãe nem ao menos se deu ao trabalho de fazê-lo.

— Vocês estão namorando? — perguntou, com uma sobrancelha erguida.

Ela adorava fazer aquilo. Desde que eu era criança seu sonho era me ver adulta e bem casada e, quando percebeu que isso demoraria bastante para acontecer, passou a me pressionar e implicar com todos os meus amigos homens, como se cada um deles fosse um possível pretendente.

Porém, desta vez, ela estava prestes a ter um choque.

Ye. — respondi, firmemente. — Nós somos namorados.

Como esperado, minha mãe não conseguiu conter a surpresa. Ela havia esperado amargamente durante tantos anos para conhecer ao menos um dos meus namorados (porque não, eu jamais os levava para casa) e agora estava realizando seu sonho. Parecia mais espantado do que Yoongi, surpreso com a minha atitude.

— Isso é sério? — perguntou meu pai, já que minha mãe resolvera vegetar também.

— Sim, é sério. — calmamente, eu lhe respondi. — Mas ele já está de saída.

— O que? — foi a vez de Yoongi se pronunciar, confuso.

Oppa, você não pode chegar atrasado naquele seu compromisso, certo? — eu iniciei, precisando me esforçar para puxá-lo de volta para o corredor de entrada.

— Mas que compromisso que...

— Vamos. — o interrompi, a tempo de salvar minha desculpa esfarrapada.

Por cima do ombro, eu vi minha mão erguer o braço, como se quisesse impedir mentalmente que eu afastasse um futuro genro dela. Ignorei-a completamente e continuei a puxar Yoongi para fora dali.

Yah, o que diabos está acontecendo? — indagou Jung Soo, quando viu nós dois nos aproximando da porta.

Pelo menos ela já havia voltado ao normal, mesmo que estivesse nitidamente se escondendo no hall de entrada para não precisar encarar meus pais.

— Você deveria ter me avisado sobre isso. — disse acusadoramente, já abrindo a porta.

— Eu juro que tentei! Mas ela não me deixava chegar perto do celular. — minha amiga se defendeu, liberando o caminho para que Yoongi passasse.

Esse, por sua vez, não parecia muito feliz em estar sendo praticamente enxotado para fora. Quando passou pela porta, encarou-me num misto de confusão e daquele sentimento "eu exijo explicações sobre isso".

— Eu estou fazendo isso para o seu bem, acredite em mim. — expliquei apressadamente. — Eu ligo para você depois, está bem?

Não esperei por sua resposta. Fechei a porta, tecnicamente trancando Yoongi do lado de fora, e apenas torci para que ele não ficasse extremamente revoltado comigo depois disso.

Aish... — bufei, dando um tapa em minha própria testa. Devo dizer que isso foi completamente inútil?

Encarei minha amiga e, em seguida, o corredor repentinamente mais escuro e assustador do que o normal.

Não havia outro jeito, eu teria que encará-los.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Não esqueçam que eu adoro interagir com vocês e espero ansiosa pelas respostas para essa pergunta que eu faço sempre no final dos capítulos kkk

Até ♥