BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 16
Yoongi em: o que está acontecendo? (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! Olha só quem voltou bem rapidinho (talvez para tentar compensar a demora pelo último capítulo, quem sabe)...
Só passando para dizer que esse capítulo é uma continuação do anterior, portanto, ainda é narrado pelo nosso querido-bolinho-lerdo Min Yoongi. Espero que continuem gostando, e que não tenha ficado cansativo.

Boa leitura!



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Existem certas coisas na vida que eu simplesmente escolho ignorar o motivo de estarem acontecendo, e, a partir dessa filosofia, sigo em frente. Quando uma funcionária do teatro nos levou até os nossos acentos, localizados separadamente dos outros em um pequeno cômodo no segundo andar (por não saber o nome, chamarei de camarote), eu resolvi que faria daquela situação mais uma das quais eu desistia de me questionar sobre.

Eu tinha espaço de sobra, pois minha poltrona era um pouco afastada da de Sun Hee, porém, não conseguia me sentar confortavelmente — diferente dela que, deslumbrada com tudo ao nosso redor, tropeçou na poltrona e quase caiu sobre a mesma.

Respirei fundo. De novo. E, só para ter certeza de que estava bem, mais uma vez.

— Você está bem? — perguntou Sun Hee, fitando-me com o cenho franzido.

Era exatamente isso que eu estava tentando descobrir. Se eu parasse de agir feito um maluco no meio do processo, seria um bônus muito bem vindo.

Ye. — respondi. Mesmo sem ter tido a intenção, minha curta afirmação deixou minha boca de um jeito meio seco, fazendo com que eu me arrependesse logo em seguida. — Desculpe por isso tudo. Sei que você estava esperando pelo Hoseok.

Era isso que estava me incomodando, no fim das contas. Depois de todo um dia de cara fechada, sem trocar meia dúzia de palavras com uma alma sequer e incomodado com os céus sabem o que, eu estava ali, sendo o substituto de alguém que era completamente o oposto de mim — e que, provavelmente, teria deixado aquela noite muito mais divertida e leve para a mulher sentada ao meu lado.

Quando ela deixou escapar um riso nasalado, eu a fitei. Ela tinha um sorriso no rosto e seus olhos pareciam maiores, quando se esticou para me dar um leve empurrão no braço.

Aigoo, Min Yoongi... — eu deveria pausar para fazer a observação de que meu nome soava extremamente importante quando falado por ela? Não, melhor não. — A sua companhia é tão boa quanto a dele. Eu gosto dela.

Aqueles rios se formando em minhas mãos eram suor? Por que meus batimentos cardíacos tinham acelerado por um momento?

Foi então que, num estalo, eu descobri o que havia de errado comigo: eu estava enfartando, com certeza. Quando estava prestes a pedir por ajuda (gritar por médico na platéia, quem sabe), as luzes do teatro se apagaram, fazendo com que eu pulasse na cadeira.

Ótimo, agora além de morrer, eu morreria sem ser ao menos notado.

— Vai começar. — sussurrou Sun Hee ao meu lado, parecendo tão empolgada que quase me fez rir.

Bem, talvez eu devesse esperar até o final da apresentação para partir dessa para melhor.

Não demorou muito para que eu me lembrasse o motivo pelo qual eu vivia fugindo dos convites de Hoseok para assistir apresentações de balé. A luz fraca, a música clássica de melodia calma e as poltronas confortáveis só poderiam resultar em uma única coisa para mim: sono. Seria hipócrita da minha parte não admitir que a apresentação parecia interessante, a dança bem coreografada e os figurinos produzidos cuidadosamente, porém, também estava além do meu alcance controlar meu eterno sono de adolescente. Eu juro que havia tentado (talvez não com todas as minhas forças, mas isso não vem ao caso) manter meus olhos abertos, mas algo dentro de mim era mais forte — eu sabia que tinha sido derrotado quando minha cabeça pendeu para o lado, meu corpo relaxou no assento e meus olhos se fecharam calmamente.

Eu nem tinha tido tempo de sonhar, ou pelo menos não me lembrava de tê-lo feito, quando já fui acordado. Ainda desnorteado, o barulho de soluços e suspiros ao meu lado começava a me irritar, e eu estava prestes a gritar com a pessoa que o estava fazendo quando me lembrei do que estava acontecendo. Assustado, eu despertei arregalando meus olhos, encontrando ao meu lado uma pequena figura que se encolhia e cobria parte do rosto com um lenço.

Ela estava chorando?

Maldita iluminação fraca que não me deixava enxergá-la.

— Sun Hee? — perguntei, aproximando-me da sua poltrona. Percebendo que eu havia lhe notado, ela se encolheu ainda mais. — Está tudo bem?

Será que ela estava chorando por minha causa?

Droga, Min Yoongi  e o seu sono estraga prazeres.

Aniyo. — respondeu, manhosa.

Quando eu percebi que ela não estava disposta a continuar a frase, assumi um tom de voz cauteloso e resolvi que tinha que descobrir o que estava acontecendo.

— Está emocionada com a apresentação? — indaguei, começando pelo motivo mais óbvio. Ela negou com a cabeça. — É por que eu dormir? Se for isso, me desculpe, eu não consegui controlar. Mas juro que não...

— Você dormiu? — interrompeu minha fala atropelada, não se sei se para minha felicidade ou desespero. Ela nem sabia que eu tinha pego no sono.

— Sim. — respondi, encolhendo os ombros. Pelo menos ela não podia ver a minha cara de pura vergonha nesse momento.

Por fim obrigado, luz maldita.

Ela bufou, parecendo frustrada. Deixou os braços caírem pesadamente sobre seu colo, revelando o rosto levemente inchado.

— A apresentação é tão ruim que você até dormiu! — exclamou um pouco alto, me assustando. — Aish, que decepção.

Confuso, eu a encarei, tentando entender o que estava acontecendo sob a fraca luz da lâmpada sobre nossas cabeças.

— Você está chorando por que não gostou da dança?

Ye! — respondeu, parecendo indignada. Pelos céus, tomara que ninguém esteja nos ouvindo. — A história é horrível, sem pé nem cabeça. Eu fiz o Hoseok gastar seu dinheiro por nada e, ainda por cima, fiz você vir aqui para simplesmente dormir.

Eu precisei de um breve momento para digerir aquela situação. Chorando de decepção, ela parecia uma criança insatisfeita com seu presente de Natal (até sua postura caída lembrava uma) e, com raiva, encarava o palco onde apenas uma bailarina se apresentava.

O que era aquela mulher?

— Desculpe-me. — murmurou, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — Acho que estou na TPM.

Tudo bem, alerta vermelho. Aquele era um campo no qual homens preguiçosos como eu simplesmente mantinham uma distância segura — e de repente lá estava eu, Min Yoongi, integrante do famoso grupo Bangtan Boys, parcialmente corroído pela rotina estressante e a obsessão pelo trabalho, tendo um pequeno ataque de pânico por causa de uma sigla feminina.

— Você quer ir embora? — apesar de miserável, aquela fora a primeira ideia que cruzara a minha mente.

Ela me fitou, passando de criança triste para uma adolescente prestes a cabular aula em um piscar de olhos. Com um pequeno sorriso nos lábios, indagou:

— Nós podemos? — em seguida, pausou, negando com a cabeça. — Não, Hoseok gastou dinheiro para que nós viéssemos. Não podemos ir embora.

— É claro que podemos. — rebati, atraindo sua atenção. — Ele só não precisa ficar sabendo.

Agora era eu o adolescente assassino de aulas. Sem me conter, eu estava começando a me divertir com aquela situação, especialmente quando ela estendeu uma mão para mim, bravamente.

— Combinado. — ela disse, firme.

Imitando sua postura (e precisando conter o riso para tal feito), eu apertei sua mão, balançando-a.

— Combinado.

E então, subitamente, eu fui puxado pela mesma mão a qual ainda segurava. Assumindo um ar sorrateiro, Sun Hee pôs a cabeça para fora do pequeno camarote, certificando-se de que não havia ninguém no corredor. Olhou para trás, fez um sinal positivo com o polegar livre e, em seguida, começou a praticamente me arrastar.

Como diabos ela conseguia se mover tão bem e rápido de salto?

— Vamos embora daqui. — sussurrou, quando estávamos quase alcançando a saída. — Eu preciso de comida.

A partir daquele momento, eu passei a me fazer a seguinte pergunta (parecida com a que rondava minha cabeça pela manhã): o que havia de errado com aquela mulher?

***

Cerca de uma hora depois, eu já não possuía mais nenhuma pergunta em mente. Pela primeira vez em um longo tempo, eu me sentia tranquilo e em paz, sem ser perseguido pelas milhares de preocupações e precauções que ser um idol trazia.

Depois de deixarmos o teatro, começamos a caminhar pela rua, sem ter realmente um destino. Ela pediu desculpas pelas mudanças repentinas de humor e eu lhe disse que, para uma pessoa que estava acostumada a viver com Taehyung, aquilo havia sido apenas parte da minha rotina. Ela riu e, em seguida, finalmente percebeu que nossas mãos ainda estavam unidas, abaixando as bochechas coradas logo em seguida para desviar o olhar do meu. Sinceramente, eu não tinha reparado até aquele momento e, quando ela soltou sua mão da minha, eu senti um vento gelado percorrer os meus dedos, fazendo com que eu enfiasse a mão no bolso para procurar desesperadamente por algum calor.

Quando um letreiro colorido lhe chamou atenção, Sun Hee perguntou se não podíamos entrar. Como o lugar não estava muito cheio e haviam mesas disponíveis mais ao fundo, eu não vi problemas. O restaurante cheirava a ramen feito de ossos de frango e algas, o meu preferido, o que fez meu estômago roncar. Nós sentamos na última mesa do estabelecimento e fizemos nossos respectivos pedidos, que não demoraram muito para chegar. Eu estava com fome, admito, mas nada se comparava ao brilho nos olhos de Sun Hee quando o garçom deixou sobre nossa mesa as duas tigelas de ramen. Eu sou conhecido por rir da desgraça dos outros, porém, daquela vez especificamente, a nítida fome da mulher me fez abrir um pequeno sorriso encantado.

Como eu já tinha aceitado que havia algo de errado comigo naquele dia, não me incomodei com a forma que meu corpo reagira àquela cena.

Durante um momento, eu me questionei como os outros membros reagiriam se me vissem nesse momento, agindo como uma pessoa normal e desconhecida, extremamente relaxado com a vida e aproveitando o momento. Na verdade, acho que eles nunca haviam me visto assim, e o pensamento de que provavelmente jamais veriam me fez rir sozinho.

— Yoongi. — chamou-me Sun Hee, distraindo-me dos meus pensamentos um pouco sem sentido.

Ela parecia hesitante, o que me fez torcer mentalmente para que não fosse começar a chorar ali mesmo, no meio do restaurante.

Ye. — respondi, enfiando uma boa quantidade de comida na boca.

— Você realmente acha que eu cozinho bem?

Ok, de onde a aquela pergunta havia surgido? Enquanto eu me perguntava o que deveria estar se passando em sua cabeça naquele momento, eu cheguei a conclusão de que, talvez, eu fosse um ímã de pessoas que possuíam um jeito um tanto peculiar de ser.

Percebendo que ela me encarava com expectativa, eu balancei a cabeça.

— Eu acho você uma ótima cozinheira. — disse, sincero. — Na verdade, você cozinha melhor do que o Jin, mas eu negarei até a morte se ele me perguntar se eu realmente disse isso.

Ela riu, parecendo relaxar. Pelo menos, meu objetivo tinha sido alcançado com sucesso.

— Sabe... — iniciou, fitando a tigela quase vazia a sua frente. — Eu estive pensando no que os apresentadores daquele programa disseram e, bem, ter meu próprio restaurante é meu sonho desde que eu era criança... Então, eu estou considerando essa possibilidade.

Eu a encarei, curioso. Por algum motivo, eu não conseguia controlar minha vontade de querer saber mais sobre aquele assunto (ou sobre qualquer assunto relacionado a ela, na verdade).

— Você vai abrir um restaurante?

Ye. — respondeu, tentando não parecer animada. — Vai levar um tempo até que eu consiga recuperar o dinheiro que o Yong Joon me roubou, porém, acho que consigo se guardar bem o meu salário.

Ouvir o nome daquele desgraçado fez com que meu humor escurecesse. Eu só havia visto o sujeito uma única vez, porém, unindo sua imagem ao que Sun Hee dissera ter passado por causa dele, já era mais do que o necessário para que eu não gostasse dele. Talvez, quando num impulso eu resolvi que já havia passado da hora de tirá-la de perto do sujeito, no dia em que eles finalmente se reencontraram, tenha sido naquele momento que minha antipatia por Sun Hee tenha virado pó e, em seu lugar, tenha começado a crescer uma estranha curiosidade em relação a sua personalidade.

Balançando minha cabeça para afastar os pensamentos negativos sobre o indivíduo, eu voltei a focar no assunto que realmente importava.

Por algum motivo, eu sorri.

— Correr atrás de um sonho nunca é uma má ideia. — por que diabos eu estava filosofando naquele momento? Faça alguma coisa útil, Yoongi. — Eu posso lhe ajudar com algum dinheiro  e...

Aniyo! — exclamou, impedindo que eu completasse. E lá se foi o útil, bueiro a dentro. — Não me entenda mal, eu fico agradecida por estar oferecendo ajuda. Porém, eu gritei na cara do Yong Joon que conseguiria tudo de volta sozinha, então, pretendo cumprir essa promessa.

Aquilo era, no mínimo, fascinante.

— Eu lhe entendo, na verdade. — disse, lembrando das diversas promessas que havia feito a mim mesmo no passado, e como as cumpria gradativamente. — Desejo-lhe sorte, então.

E então, eu arrisco a dizer que fui presenteado com um dos sorrisos mais aconchegantes desse planeta. Seu rosto inteiro sorria, como se aquela frase dita por mim fosse tudo que ela precisava ouvir.

— Obrigada, oppa.

Eu gelei, quase engasgando com o resto do ramen. Durante meus anos de vida, eu nunca me importei realmente se era chamado de oppa/hyung ou não, muito menos com quem me chamava assim — afinal, era impossível evitar essas duas palavras durante shows ou encontros com fãs, algo que fora difícil colocar dentro da cabeça de Jungkook, devo dizer. Porém, naquele momento, aquela simples palavra, que eu costumava ouvir dezenas de vezes por dia, soou completamente diferente.

Novamente, eu sentia todos os sintomas de um enfarte.

— Desculpe. — ela disse, provavelmente percebendo que havia algo de errado comigo. Pelo menos ela seria capaz de me ajudar se eu caísse duro no chão. — Eu me senti confortável demais e acabei deixando escapar. Eu sei que ainda sou só uma funcionária, portanto, não deveria chamá-lo assim.

Ela me chamou de oppa por que se sentiu confortável comigo. Por que raios isso aumentava o meu princípio de ataque cardíaco?

Aniyo. — falei, rapidamente. Estava começando a me convencer que algum outro ser estava controlando o meu corpo naquele momento, como em um dorama. — Não precisa se desculpar, não tenho nada contra ser chamado de oppa.

Ela abriu um pequeno sorriso envergonhado, desviando o olhar para a tigela agora vazia. O momento de conforto, outra coisa que desceu pelo bueiro. Pensei em tentar consertar a situação deixando claro que ela não era uma funcionária, o que ficava nítido pelo modo como ela cuidava de todos nós, porém, as palavras simplesmente não saíram da minha boca.

O fato de que qualquer outro, como Hoseok, por exemplo, teria apenas dito aquilo me deixou completamente irritado comigo mesmo.

Foi então que, de repente, meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da chuva, caindo contra o que quer que encontrasse pela frente. Não estava forte, porém, não deixava de chamar atenção para si.

— Droga. — ouvi Sun Hee praguejar baixinho, pela primeira vez. — Terei que tirar os meus saltos.

Eu a encarei, confuso. Não precisei perguntar para que ela me respondesse.

— Eu não confio em mim mesma para correr na chuva de saltos. — disse, dando de ombros. — Provavelmente daria com a cara no chão.

Mulher, por favor, faça algum sentido.

— Por que você correria na chuva?

— Bem, eu estou há apenas duas quadras de casa, portanto, não pretendo chamar um táxi. Como não trouxe um guarda-chuva, terei que correr. — pausou, fitando-me. — Não me olhe assim, eu me recuso a chamar um táxi só para não andar um par de ruas.

Para começo de conversa, eu nem sabia como estava a olhando, por isso, não pude ao menos me defender. Absorvendo as informações (algo que eu já havia reparado que era constantemente necessário se você quisesse conviver com Sun Hee), uma ideia surgiu em minha mente.

Se isso fosse um desenho animado, haveria uma lâmpada acesa sobre a minha cabeça nesse momento.

— Vamos, então. — disse, preparando-me para levantar.

Foi a vez dela me lançar um olhar perdido.

— Para onde?

— Para a sua casa, oras. — respondi, logo em seguida percebendo o duplo sentido na frase. Pigarreei, me concentrando. — Como ficaria a minha honra se eu a deixasse correr sozinha na chuva, ainda mais de noite? Irei acompanhá-la até sua casa e só depois irei embora.

Ela continuou me encarando, porém, dessa vez, era nítido se ela estava se perguntando mentalmente se eu era louco.

Aniyo. Não deixarei você fazer isso. — disse, firme.

— Se não deixar, eu apenas correrei atrás de você. — dei de ombros. — Sabe, se alguém confundir as coisas e eu acabar sendo preso por isso, a culpa será sua.

Ela bufou. Eu sei que parecíamos duas crianças implicantes, e que alguns olhares curiosos se direcionavam para a gente, porém, eu simplesmente mantinha a minha postura decidida.

Aigoo... É cansativo ter que lidar com as teimosias de vocês! — exclamou, porém, se levantou logo em seguida. — Vamos, antes que a chuva piore.

Mesmo um pouco surpreso por ela ter aceitado, eu sorri vitorioso. Depois de pagar pelo jantar (deixo aqui registrado que aquela fora uma outra guerra, pois ela queria dividir a conta e eu simplesmente não permiti), nós nos dirigimos até a porta de vidro do restaurante. Eu retirei o terno e, enquanto ela apenas me assistia, eu joguei a peça sobre nossas cabeças.

Tudo bem, ela estava um pouco perto demais. Eu juro que não havia feito de propósito.

Durante um momento, ela se encolheu, porém, riu quando eu abri a porta.

— Vou contar até três e, no três, nós começamos a correr. — ela concordou com a cabeça, sorrindo. — Um, dois... Três!

Logo nos primeiros passos eu pude perceber que aquela havia sido a minha pior ideia de todos os tempos. A chuva começou a ficar mais forte enquanto corríamos, e, sinceramente, nós tínhamos uma pequena dificuldade em nos mantermos um ao lado do outro — vez ou outra alguém ficava para trás ou saía correndo na frente. Por eu ter estendido grande parte do terno sobre sua cabeça, acabei ficando desprotegido e, por consequência, com todo o lado direito do meu corpo molhado, apenas para completar o cenário desastroso. Pelo menos, não demorou muito para que chegássemos até a fachada do apartamento dela, onde a entrada coberta e livre de chuva nos esperava.

Nos encaramos, ofegantes. Seu rosto estava vermelho e eu tenho certeza que o meu deveria estar pior. No momento em que nossos olhares se cruzaram, nós explodimos em risadas. Eu estava tão feliz que, por um momento, me assustei. Quero dizer, não que eu não fosse uma pessoa realizada e feliz com a vida que tenho, porém, o tipo de felicidade que Sun Hee estava me fazendo sentir naquele momento era completamente diferente de tudo que eu já havia sentido.

—Vou esperar com você. — disse, recuperando o fôlego.

Ela estava se referindo ao táxi que eu chamara para mim antes de deixarmos o restaurante, pedindo que me buscasse na porta do prédio dela. Aquela aventura estava sendo ótima, porém, eu provavelmente morreria se tentasse repeti-la até o dormitório —por isso pensei em pedir o carro antes. Eu sabia que não era certo que Sun Hee esperasse comigo, enquanto nós dois nos espremíamos sob o pequeno telhado para fugir da chuva, porém, olhando-a naquela momento, eu fui incapaz de discordar.

Foi então que, enquanto nos encarávamos em meio a nenhum barulho a não ser o da chuva forte, enquanto seu cabelo estava todo bagunçado, sua maquiagem levemente borrada e seus pés molhados, que eu percebi como ela estava linda. Na verdade, ela era linda. Mas por que diabos eu não havia reparado nisso antes? Ou melhor, por que eu estava reparando tanto nela justamente agora?

Ela estremeceu, encolhendo-se. A julgar como seus lábios estavam roxos e tremiam, ela deveria estar morrendo de frio. Num ato instintivo, eu não percebi o que estava fazendo até sentir o calor de suas mãos de encontro ao gelo das minhas.

—Você deveria subir. — eu disse, com a voz um pouco rouca.

Sun Hee fitou suas mãos envoltas nas minhas e, em seguida, direcionou seu olhar até que se encontrasse com o meu.

— Eu não quero. — rebateu, com seu habitual tom teimoso.

O barulho da chuva era alto e, mesmo assim, nós falávamos baixo um com o outro. Ela ainda tremia, o que fez com que eu me aproximasse um pouco mais, tentando lhe passar algum mísero calor que fosse. Acabamos ficando próximo o suficiente para que eu conseguisse sentir sua respiração descompassada chocar-se contra a minha, o que fez meus sintomas de ataque cardíaco reaparecerem.

Eu só percebi, finalmente, que não estava morrendo, quando o foco da minha visão se tornou unicamente o seu rosto. Assim que meu olhar caiu sobre seus lábios, eu me dei conta de que estava, na verdade, nervoso.

Não havia nada de errado comigo, no fim das contas. O que surgira dentro de mim era algum tipo de interesse em Sun Hee, o qual eu simplesmente não sabia explicar.

Eu não percebi o quão próximo estávamos, até o momento em que sua testa gelada tocou a minha, de temperatura não muito diferente. Eu não sabia para onde ela estava olhando, já que sua cabeça estava abaixada, porém podia sentir que não era exatamente para mim. Quando meu corpo, sem minha permissão, moveu um músculo para os céus sabem o que, a buzina do táxi fez com que eu recobrasse a minha consciência. Nós dois pulamos para trás, assustados, e quando eu percebi que suas mãos já não estavam mais nas minhas e que ela estava distante, um arrepio percorreu meu corpo. Frio, deveria ser.

Quando o táxi buzinou pela segunda vez, ela me olhou, inquieta.

— Você deveria ir. — ela não falava mais baixo.

Ye. — concordei, porém sem me mexer. Eu deveria dizer alguma coisa para acabar com aquele clima estranho, certo? — Suba e tome um banho quente, assim não correrá o risco de ficar resfriada.

Mediano, Yoongi, mediano.

— Faça um chá quando chegar em casa. — respondeu, usando o mesmo tom de voz que eu usara.

De algum modo, eu senti como se aquele fosse um jeito estranho de dizermos tchau um para o outro. Eu balancei a cabeça, ela imitou e, em seguida, eu estava correndo na chuva para poder entrar no táxi.

Olhando pelo vidro traseiro, eu ainda pude ver sua figura lançar-me um tímido aceno.

Meu Deus, eu estava perdido.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenho gostado tanto quanto eu gostei de escrever!
Aguardo suas opiniões.

Até ♥