O cérebro de Teshima era feito de porcelana, assim como o vaso branco chinês cheio de adornos azuis que sua mãe tanto adorava. E, igual ao vaso, seu cérebro era todo rachado por causa dos pensamentos vis que corriam lá dentro.

Os cacos que caíam machucavam sua cabeça por dentro, e às vezes o sangue pútrido que se acumulava lá dentro vazava por sua boca. Teshima não gostava de quando isso acontecia na frente das pessoas, então ele engolia tudo e abria um sorriso, torcendo para que ninguém sentisse o cheiro podre que impregnava seu interior.

E ninguém nunca percebeu.

Até que ele conheceu Aoyagi.

Por mais que Teshima tentasse esconder, ele sempre o olhava com ar de preocupação quando a podridão descia de sua cabeça. Teshima ria debochado e  falava dos mais variados assuntos, mas nunca era suficiente para disfarçar. Apesar de quieto, Aoyagi era muito perceptivo, e Teshima não sabia se aquilo era um benção ou uma maldição.

Foi no segundo dia do acampamento de treino que Teshima resolveu mostrar tudo para Aoyagi.

Escondido em uma sêmita, longe de todos, Teshima abriu o uniforme na frente de Aoyagi e rasgou seu ventre com os dedos.

Sangue jorrou junto com um líquido escuro e fétido, manchando a pele branca como alabastro e empesteando o ar com o cheiro da podridão. Vísceras nos mais variados estágios de decomposição se espalharam pelo chão em sua frente, enquanto Teshima chorava e gritava de dor e desespero.

E quando ele finalmente se acalmou, Aoyagi o ajudou a limpar tudo e a guardar os órgãos no lugar. Depois disso, ele abraçou Teshima e o deixou chorar com o rosto em seu peito enquanto acariciava os cabelos cacheados.

Os cacos do cérebro eram um problema mais sério que eles precisariam de mais tempo para resolver.