―Vem logo! Pirralho anda!

O garoto se divertia ao ver o projeto de gente tentando se equilibrar nas perninhas curtas. Era tão fofo ver como ele simplesmente não conseguia dar dois passos seguidos sem cair no colo do maior, e ainda tentava falar, mesmo sem mal conseguir formar uma palavra certa.

―Tá, vamos. Não é difícil. ― O maior o colocou de pé de novo e o segurou, o pequeno dava risada enquanto tentava se equilibrar nos braços do irmão. O dia estava frio, logo começaria o inverno. O garoto olhou pela janela, a rua estava deserta como sempre, quase não tinha pessoas que moravam naquela cidade e as que moravam não optavam muito por aquele lugar. A casa que estavam era perfeita, no terceiro andar e só dava pra entrar por uma escadaria lateral do prédio que ficava no beco. Ninguém desconfiaria que morava gente ali. E ainda permitia que, com um pouco de habilidade, se pudesse subir nos telhados dos outros prédios.

Ali o garoto tinha um reino só dele.

Por dentro a casa era confortável embora bagunçada. Havia várias caixas, panos e almofadas velhas que impediam que a miniatura se machucasse nos móveis. Era tão mais fácil cuidar dele quando era só um bebezinho. Agora que estava aprendendo a andar, o menino tinha que ficar o tempo todo com o olho nele. De repente o menininho começou a chorar.

―Ah, tá com fome? ― O maior o deixou sentado na montanha de almofadas enquanto procurava a mamadeira ―Aiai, tenho que te ensinar a falar logo também.

Colocou o leite morno no vidro e o tampou, voltando pra onde o menino estendia os bracinhos pedindo colo. O maior o ajeitou confortavelmente e constatou feliz que os dentinhos do pirralho já estavam grandes quando ele abriu a boca, já poderia começar a dar algo além de leite pra ele. Logo ele saberia o maravilhoso sabor do purê de batatas especial do René!

Quando o leite acabou, trocou a mamadeira pela chupeta e o ajeitou para dormir. O cobriu com uma quantidade até exagerada de cobertores, afinal e se começasse a nevar de noite? Não tinha remédios pra aquentar uma gripe e nessa idade era perigoso ficar doente. Deixou o pequeno bem acomodado nos braços, sentindo cócegas com as orelhinhas dele que cutucavam seu pescoço. Aproveitou a canção de ninar dos grilos e logo caiu na escuridão confortável do sono.