Daniel estava enlouquecendo. Já havia passado o que? Uma semana? Ele não tinha parado pra contar na verdade, estava ocupado demais garantindo que aquele ogro não tentaria nada, que aliás parecia fazer o mesmo com Daniel. A barriga dele roncava, uma vez por dia era servido uns pratos com comida pra todos ali, era uma gosma feita de cereal mofado, a julgar pelo gosto, e ainda era pouca pra todo mundo. Daniel pegava a sua parte o mais rápido possível antes do ogro e tentava dividir com Suri, se já era difícil dividir aquilo apenas com o pequeno o coiote nem queria imaginar como os quatro esquisitões ali faziam.

Suri também não estava comendo direito e o pouco que conseguia comer ele vomitava. Daniel pensava nas mil e uma maneiras que iria matar aquele lobo por fazer Suri passar por isso. Daniel quase pulou quando viu a porta de metal se abrir e se revelar a face grotesca de um urso pardo enorme, muito maior que qualquer pessoa que Daniel conhecesse. Suri começou a tremer de medo, as outras duas crianças também deram gritinhos. Encarou Daniel como um verme, e foi parar na listinha negra do coiote só por isso.

―Todos vocês, andem! ― Daniel revirou os olhos, se levantou, ainda um pouco dolorido mas iria sobreviver. Ajudou Suri a ficar de pé, que fez uma careta horrível de dor ao tentar se apoiar na perna machucada. Teria que pensar num jeito de concertar a pena dele se quisesse sair dali.

Mas Daniel sentiu o estomago embrulhar mesmo foi quando saiu da cela e viu todo o lugar. Viu outros... Hum... Outras pessoas... Parecidas com os companheiros de cela, todos vestindo trapos e de aparência fraca. Eles carregavam sacos de carvão, alimentavam maquina estranhas ou realizavam qualquer outro tipo de trabalho obviamente perigoso. Eles eram em grande parte idosos, ou fracos demais para parecerem idosos. Eles eram vigiados por vários guardas de aparência cruel. As pessoas encaram Daniel assustadas, pelo visto ele era um monstro pra elas, estavam morrendo de medo.

Como se ele se importasse. O guarda o obrigou a ficar jogando carvão numa maquina qualquer que Daniel não dava importância. Suri acabou tendo que apenas ficar sentado num banco perto de outras crianças separando pregos e peças, só que de um jeito bem mais lento e devagar que as outras, e ainda tendo que aguentar em silencio os olhares. Daniel colocou todos na sua lista negra.