— MEU JOVEM NÃO TEMA O SEU FUTURO. EU POSSO VÊ-LO PERFEITAMENTE!!!

— Dona Baba. A senhora pode parar de cuspir em cima da gente — disse Afrodine com uma sombrinha.

A velha olhou fixamente para mim e me chamou. Fiquei morrendo de medo dela fazer alguma macumba, baixar o capiroto ou algo assim. Engoli em seco e fui até ela.  Segurou a minha mão, fez uma puta força e soltou um pum. Imediatamente pulei pra trás batendo as costas na súcubo. Recebi um cascudo na cabeça.

— Olha pra onde anda, moleque!

— Essa velha deu um peido em cima de mim! Que nojo!

— Ah, aquela feijoada tava boa demais. Bom, voltando ao assunto... VOCÊ, JOVEM, TEM O FUTURO DIANTE DE MEUS OLHOS! EU VOU PREVER O SEU. PREPARE-SE!

— Duvido muito. Manda.

Ela mexeu com as mãos sobre a bola de cristal. Vi imagens de Luíza, a Torre Big Ben em Londres, uma mulher loira de cabelos ondulados, vi Jonas, vi Luíza novamente chorando, algumas pessoas desconhecidas, o velho do antiquário e um senhor desconhecido que não parece ser brasileiro.

— PEDRO... A CASA VAI CAIR, MEU JOVEM. PREPARE-SE PARA UMA TURBULÊNCIA NA VIDA.

Afrodine interrompeu a mulher de repente. Pagou pelo serviço e avisou que íamos embora. Logo agora que eu fiquei interessado mais nas previsões da velha.

— Só uma pergunta, cachorrinha.

— Fala, velha.

— Cadê aquele teu irmão bonitão? Eu quero dar um presentinho pra ele.

— Nem perca seu tempo, velha. Aquele lá prefere uma fruta como maçã em vez de maracujá.

— He he he. Eu posso fazer uma poção do amor. Ele pode se apaixonar por mim. O que acha, cachorrinha?

— Se você fosse feinha, eu daria apoio para a poção do amor. Mas no teu caso é uma caixa d'água do amor.

— Até loguinho, peituda.

— Dona Baba, seu remédio...

— Ah, Ivone. Toda vida eu tenho que tomar remédio? 

Saímos daquela casa. Caminhamos pelas ruas do centro de Fortaleza. Eu fiquei preocupado com as imagens que apareceram na bola de cristal. Vi nitidamente Luíza chorando e isso não é bom.

— O que achou da consulta?

— Ela gritou que a minha casa vai cair. Penso que o segredo da fraude vai ser descoberto. Droga. Eu não posso permitir que descubram a nossa ligação.

— Por mim tanto faz.

— Afrodine! Me ajuda, por favor. Lembra que eu sou seu guardião? Se descobrirem que há uma súcubo nesta cidade, aquela seita virá com tudo.

— Tá, tá. Vou pensar no seu caso.

...

Beira-Mar

Num prédio luxuoso de frente à praia, mora a família Vasconcelos. Na cobertura, o triplex onde Sabrina vive com os pais empresários.

— Jonas acabou de me ligar dizendo que Pedro estava acompanhado há pouco com a sua irmã e que entraram numa casa no centro. Já não tenho mais dúvidas de que a súcubo ajudou o meu Pedro a passar ilegalmente na escola — disse Sabrina. Ela estava de minissaia e top na sacada do triplex. Sentada numa cadeira e bebendo um suco. Estava acompanhada por seu demônio, Eros.

— É claro que sim. Afrodine foi libertada pelo rapaz há quase dois meses e sua vida melhorou radicalmente de lá pra cá. Ela tem a capacidade de manipular as pessoas assim como eu — respondeu Eros malhando os bíceps na sacada.

— Pedro vai viajar nessas férias. Eu não posso perdê-lo. Tenho que fazer com que descubram a fraude da escola. Quando a songa monga da Luíza desprezá-lo, eu serei a única a dar um ombro amigo.

— E como vai fazer aqueles dois se separarem?

— Parece que o primo da moça está apaixonado por ela. Vamos usá-lo também.

Eros sorriu. Nunca pensou que a sua guardiã fosse tão má apesar de jovem.

...

Jonas estava disfarçado com um boné. Esbarrou em Pedro, porém continuou a caminhada sem levantar suspeitas. Pedro ficou encabulado, pensou em já ter conhecido o sujeito que esbarrou.

— Quê?

— Aquele sujeito sequer pediu desculpa. Só que estou conhecendo de algum lugar.

— Vem logo e para de perder tempo.

Jonas voltou para a casa de Luíza. Entrou no prédio antes de Pedro chegar.

— Jonas? O que faz aqui? — perguntou Luíza.

— Vim ajudar minha tia. Esqueceu que prometi fazer a mudança da mobília, pois ela ia comprar um sofá novo?

— Mas Jonas, o sofá novo mamãe só vai comprar semana que vem. Perdeu o seu tempo.

— Então tá...

— Espera, primo. Já que você veio de longe, é covardia deixá-lo ir assim. Vem, eu preparo um suco e a gente conversa.

Jonas sorriu. Assim que o rapaz entrou, Pedro e Afrodine acabaram de entrar no prédio rumo ao quinto andar.