Encontros Sombrios escrita por Ellen Cullen


Capítulo 1
Sonho Real


Notas iniciais do capítulo

Olá Leitores!
Esta história surgiu quando eu estava no ensino médio, em um trabalho de português, e o objetivo era criar uma Historia sombria/Gótica e então eis o resultado! espero que gostem :)
Boa leitura!!!
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Encontros Sombrios...

Aquela noite eu fui me deitar mais cedo, estava muito frio, e era a primeira noite de inverno. Ainda estava tentando me acostumar com a temperatura daqui, sempre muito fria. Ainda assim, eu consegui dormir. Naquela noite tive um sonho totalmente estranho. Sonhei que estava na frente de minha casa, a noite estava fria, uma noite invernal... A lua sobre o céu era redonda e prateada, iluminando as copas das arvores da floresta, as deixando com um aspecto mais sombrio do que de costume.

Tudo em volta de minha casa atingia uma cor azulada. Eu estava só, mais com uma sensação estranha de que não estava.

Você já teve a sensação de estar sendo observada, mesmo sabendo que está sozinha? Foi deste modo que eu me sentia, parecia que tinha alguém me espionando, olhei para trás, mas não vi nada, talvez fosse só paranoia minha, pensei. Mas foi ai que algo estranho aconteceu. Algo parecia estar me puxando para dentro da floresta, como se fosse algum tipo de imã invisível. Eu não estava com medo, uma reação estranha minha. A casa era praticamente na frente da floresta, então em pouco tempo eu já estava dentro dela. Tudo a minha volta estava quieto, quieto até demais. Não se ouvia o som de nada, nem das folhas balançando, nem das corujas, e nem mesmo dos insetos ali presentes. Eu sabia que estava sonhando, mais a sensação ainda era desconhecida.

E por mais estranho que fosse eu não sabia o que me levara ali naquele momento. Passei lentamente pela grama molhada, e por mais que andasse não sabia o que estava procurando... E isso, de qualquer forma não fazia nenhum sentido. Eu tinha sã consciência do perigo constante de me infiltrar na floresta sombria e isolada. Era uma burrice, uma imprudência! E mesmo assim eu continuei a vagar, sem saber o motivo. Era como se eu estivesse hipnotizada. Como se eu não tivesse controle de meus movimentos.

Se algo me acontecesse, eu jamais poderia ser ouvida, afinal, quais seriam as minhas chances, se eu estava só?

Mas se tudo não passava de um sonho... Então por que eu estava tão assustada? Era o que eu havia pensado, mais ao mesmo tempo eu conclui: talvez a resposta estivesse ali. - Eu estava sozinha. A maioria das pessoas costumam se sentir mais confortadas quando há alguém por perto, talvez esta fosse à questão, eu não tinha ninguém para me confortar.

Apesar de estar escuro, com um pouco da luz da lua eu pude perceber que naquela floresta não havia apenas arvores, mais sim uma beleza imensurável. A luz da lua atingia as copas das arvores dando um contorno azul em volta delas. Era tudo muito belo e perfeito a minha volta. De repente me dei conta de que parei de andar. Olhei para frente e vi um trecho da floresta onde a lua não conseguia mais atingir o seu brilho. Ficou tudo muito silencioso, o vento roçou em meu rosto fazendo com que eu tivesse calafrios. Naquele momento eu pensei em voltar. Sem dúvidas eu deveria sair dali. Aquela não era uma boa hora para estar ali. Era acima de tudo um erro. Um grande e imenso erro estar ali.

Escutei um barulho de folhas se mexendo, o barulho estava vindo de trás das minhas costas.

E de repente uma sombra passou por mim. Foi rápido demais para eu saber o que era. Me virei novamente, agora aquela sombra me encarava na escuridão.

Acordei num pulo. Coloquei a mão em meu peito, meu coração estava a ponto de explodir. Mais assim que olhei em volta senti um imenso alivio. Fiquei por um bom tempo deitada na cama tentando recapitular com o que eu havia sonhado, apesar de não precisar de muito esforço para isso, assim que fechei os olhos tudo veio em minha mente rapidamente.

Mais de certa forma este sonho acabou despertando um lado curioso em mim.

Assim que a noite chegasse iria ver o que tinha nesta floresta, por que isso acabou mexendo muito comigo. Parecia idiotice minha, mais a essa altura eu sabia que não mudaria de idéia.

Finalmente a noite havia chegado. Levantei o capuz de minha blusa e me infiltrei na imensa floresta. Esta floresta, diferente de meu sonho, não parecia tão assustadora. De repente ri comigo mesma. Todo aquele pavor do sonho parecia bobo agora.

Tentei ver se a floresta tinha alguma semelhança com meu sonho, mais eu mal enxergava com a lua iluminando o chão.

Andei e andei, tentando me infiltrar nesta densa floresta. O tempo não fazia muito sentido enquanto eu andava. Poderiam se passar horas, ou até mesmo segundos. Havia perdido a noção do tempo. Eu tive a impressão de que de repente o tempo congelara, por que a essa altura a floresta  parecia ser a mesma. A mesmas arvores as mesmas folhas, independentemente da distância que eu percorresse. Comecei a me preocupar que talvez na verdade eu estivesse andando em círculos.

Ou talvez um pequeno circulo, foi o que pensei. Mais mesmo assim eu continue a andar. Tropecei varias, e varias vezes também é claro. O chão estava coberto por galhos secos e pedrinhas. Por fim à medida que eu andava, estava difícil de enxergar, foi quando de repente eu bati minha cabeça em alguma coisa, eu não pude ver o que me atingiu, mais isso foi o suficiente para fazer com que eu caísse no chão inconsciente.

Enquanto estive deitada ali, eu sonhava. Bem, na verdade eu não podia ter certeza já que estava desmaiada. Mais parecia ser um sonho pelo menos. Mais diferente dos meus outros sonhos que eu tivera, eu não podia ver a lua. Na verdade eu não conseguia ver nada.

Era escuro como o anoitecer de um dia nublado, mais não havia luz que se pudesse ver.

Era escuro como o breu.

Eu corria pela escuridão, corria e corria muito desesperada, sem ter uma trilha, apenas corria freneticamente. Sempre procurando por algo. Procurando e procurando sem saber o que encontrar. E à medida que o tempo passava, percebi que de repente consegui ver uma luz. Muito fraca, apenas uma pequena claridade. Dei mais um passo para frente e me vi fora da floresta.

Agora eu estava em um cemitério.

Que coisa mais incomum, um cemitério dentro de uma floresta! foi o que pensei. Mais eu não poderia ter certeza se a floresta fazia parte do cemitério, por que a essa altura do meu sonho, eu estava confusa.

Não fazia sentido.

Olhei para cima, a lua estava coberta na metade por uma nuvem, ela ressurgia, e aos poucos iluminava um pouco o cemitério. Olhei para frente e percebi que a lua estava iluminando um túmulo. Pelo que percebi este tumulo estava mais iluminado do que os outros, a minha volta, a não ser por um não tão brilhante assim. Não tinha tanto brilho quanto aquele a qual eu estava mais interessada em ver, apenas conseguiu ver o nome.

Jeremy Percival, e havia uma pequena fotografia branca e preta ao lado.

Era um rapaz muito jovem, e também muito bonito. De repente lamentei por ele ter partido tão cedo. Tão jovem...

Eu quase não enxergava nada, de tão escuro que estava daquele lado, apenas conseguia ver aquele único túmulo brilhante e chamativo. Aproximei-me mais dele. Vagando lentamente, passando tumulo por tumulo até finalmente chegar a onde ele estava.

Dei um grito assim que o vi.

“Elizabeth Mary Reese"

Aquele era o meu túmulo.

Finalmente eu despertei muito alarmada.

Estava começando a chuviscar, eu ainda estava em choque pelo terrível pesadelo que tive.

Resolvi voltar para casa imediatamante.

Eu ainda estava meio tonta por causa da pancada que me fizera desmaiar, e foi nesta hora que percebi que cometera um grande erro vindo até este lugar. Que idiotice, o certo agora seria voltar para casa e não vir mais neste lugar. O que eu pretendia fazer aqui afinal? E tudo isso por causa do sonho idiota da noite anterior! Fiquei com um tremendo ódio de mim mesma por causa da atitude insensata que tive.

Voltar para casa é o melhor e mais inteligente que devo fazer. - Tentei repetir isso a mim mesma, como um mantra.

Virei- me para o lado, tentando sair daquele lugar. Mas o mais estranho, é que eu não conseguia mover minhas pernas, e por mais que eu tentasse algo me prendia.

Estava começando a me causar uma grande agonia, eu pude sentir isso. Olhei para baixo e o chão estava com uma camada de neblina, que cobria até metade dos meus joelhos. Neste instante senti um arrepio que não tinha nada a ver com frio. Mais pareciam sombras dançantes do além...

Algo então saiu do meio daquelas arvores. Primeiro não deu para distinguir o que era. Não dava para saber se era uma pessoa ou um animal. A essa altura a luz da lua não ajudava muito. - E ao contrário dos meus últimos sonhos, eu me lembro deles mais iluminados apesar da noite, e, no entanto, não estava assim tão claro.

Talvez por que isto não fosse um sonho.

Mais aos poucos aquela figura foi se revelando. Deu para ver que era um homem, e ele estava com a cabeça baixa e vestido todo de preto. Parecia alguém que acabava de sair de um velório.

Ele se aproximou um pouco mais de mim. Até a parte mais clara que eu não havia percebido, e finalmente eu pude observá-lo com mais clareza. Seu cabelo iluminado pela lua parecia branco como um papel e sua pele tinha o mesmo estranho tom pálido.

Agora ele levantara a cabeça, e assim pude ver o seu rosto. Aquele belo rosto.

Tão lindo

Tão perfeito

E ao mesmo tempo tão intrigante e familiar. Seus olhos tinham um toque rubi e agora estavam direcionados a mim.

Eu fiquei sem ação. Ficar ou correr? Foi o que pensei, e como se aquele belo estranho lesse meus pensamentos ele falou muito calmo e claramente:

— Calma, não vou fazer nenhum mal a você. Não há o que temer...

Naquele momento, não sei como, eu consegui me acalmar, apesar de me lembrar o quanto estava assustada há segundos atrás.

— Tudo bem- minha voz tremia um pouco enquanto falava -  se não vai me fazer nada então o que quer?

Ele sorriu. Não um sorriso humorado, ou comum, mas sim um estranho e irônico sorriso sem humor.

— Ora! - exclamou ele de repente. - Apenas estou curioso. O que uma moçinha como você faz aqui, a essa hora da noite, no meio da floresta?

Percebi de repente que fizera aquilo por impulso. Eu fizera aquilo por que tinha ficado intrigada com o sonho e... Eu fizera aquilo por que no fundo, bem no fundo, eu queria encontrar a sombra do meu sonho.

Mais eu não podia dizer isso aquele estranho.

— Hmmm, bem é que na verdade, eu nunca tinha vindo aqui, sabe, quer dizer, não pelo menos de noite... E eu fiquei... Curiosa.

Ele levantou uma sobrancelha de descrença. É claro que ele não cairia nesta mentira, dava para ver. Ele assentiu.

— Há essa hora, sozinha?... Corajosa.

Aquele estranho se aproximou um pouco mais de mim e de repente me olhou como se pedisse desculpas.

— Ah, mais que falta de cortesia a minha! Eu não falei meu nome a você, não é? Chamo-me Jeremy Percival, mas pode me chamar apenas de Jeremy se quiser.

Depois que ele falou aquele nome ridiculamente familiar, as imagens do meu pesadelo passaram como um flash back. Eu não conseguia falar. Percebi que ele ainda falava comigo, com uma expressão muito estranha.

— Olho, eu realmente não pretendia assustá-la, me desculpe mesmo...

— Não!- de repente me lembrei por que achara o nome tão familiar. - Você...

Jeremy Percival. O tumulo que eu havia visto um pouco antes de ver o outro brilhante túmulo que era meu.

Seria então um aviso do meu sonho isso? E o que poderia significar? Tudo bem que era apenas um sonho, e eu obviamente ainda estava viva, mais e Jeremy? Como eu poderia ter este nome na cabeça, que de uma forma incomum acabou aparecendo no meu sonho se eu nunca o vi e nunca ouvi falar dele?

Naquele momento a única coisa que eu queria fazer era correr. Virei-me desesperadamente a direção oposta onde aquele suposto morto estava e corri, e corri muito mesmo. Lembrou- me do sonho novamente.

Sim, meus sonhos queriam me dizer alguma coisa desde o começo.

Eu não poderia voltar para casa ainda deveria me esconder em algum lugar que ele não pudesse me achar.

Agora o chuvisco transformara- se em chuva, estava muito forte e fria, eu estava congelando. E o pior é que na hora eu corri tanto, mais tanto que a essa altura não fazia idéia a que ponto da floresta estava.

Eu estava perdida...

Encostei-me em uma arvore para me apoiar, estava exausta e acabei adormecendo lá mesmo.

Desta vez eu não sonhara com mais nada. Apenas percebi que havia amanhecido quando uma forte luz bateu em meu rosto. Não era tão quente, mais foi o suficiente para me despertar.

Eu ainda estava de olhos fechados.

Minha mente estava meio lenta, confusa, mas eu precisava sair dali o quanto antes. Eu teria que trocar de roupa por causa da noite passada que tinha ficado ensopada. Mais o mais incrível foi que eu não senti frio, apesar da temperatura estar muito baixa.

Finalmente abri os olhos. Eu não estava no mesmo local da noite anterior. Era um lugar diferente, onde tinha a luz do sol. Olhei para baixo e percebi que estava vestida com um casaco preto.

Era o casaco de Jeremy.

Olhei a minha volta, eu não consegui vê- lo. Neste momento eu senti algo dentro de mim.

Um era o sentimento de remorso. Por que eu não dei a chance daquele estranho se explicar, e eu o julguei, fui cruel, fugi como se ele fosse algum tipo de maníaco.

Bem, ele até poderia ser. Mais quem era eu para julga- lo?

E depois...

Eu me senti uma completa idiota. Se ele fosse do mal, ele teria me deixado morrer de frio e não me traria para um local seco e não daria o seu casaco para mim.

Afinal, ele se importou comigo de alguma forma. Mesmo eu tendo ou não meus motivos.

Ele era alguma coisa, eu tinha certeza. Qualquer coisa.

Menos humano.

Um fantasma?

Caminhei mais a frente de onde estava. Agora eu era capaz de reconhecer o lugar. Era quase em frente de minha casa.

Percebi que agora algumas coisas se encaixavam. Por exemplo, como em um modo inconsciente, eu podia sentir a presença de alguém. Era como se eu soubesse que havia alguém por perto de mim, me observando, e eu nunca fui capaz de conseguir ver.

Era como se este estranho tivesse a capacidade de se infiltrar nos meus sonhos durante esses dias. Mas pensar desta forma foi quase como admitir que eu estivesse louca.

Não, isto era impossível não era?

Fiquei pensando, tentando levar em consideração as coisas que eu havia visto no sonho. Eu precisava falar com Jeremy, tentar esclarecer algumas coisas ou então eu enlouqueceria.

Ainda era cedo, e eu não tinha idéia de onde encontra- lo, a não ser...

Veio aquela imagem do cemitério quando eu pensei nisso. Talvez meu sonho não fosse mero ilustrativo pelo menos ele não foi ainda. - A não ser a parte de que eu estava viva.

Mas antes eu precisava ir para minha casa, eu não havia comido nada, e nem bebido também, e era melhor ter um tempo para pensar sobre isso.

Assim que finalmente cheguei em casa, perdi totalmente a vontade de comer, eu só estava muito cansada e confusa com a situação.

Fiquei pensando naquele sonho estranho da noite anterior quando estive desmaiada. Vi meu tumulo e fiquei pensando que de todos os sonhos que eu tive, aquele foi o mais estranho e também mais “profético” por que foi neste mesmo sonho que eu vi a foto e o tumulo de Jeremy, e foi neste mesmo dia que nos conhecemos.

Talvez a noite ele estivesse por lá, agora eu não precisaria mais temer, eu sabia que a sobra era ele.

Adormeci no sofá, e depois que acordei vi que era uma hora mais conveniente para ir à floresta (não que exista mesmo uma boa hora).

Eu não sabia como achá-lo, mais eu precisava, não tentaria nada como “tem alguém ai?” isso seria ridículo, talvez eu o encontrasse no mesmo lugar da noite passada.

Comecei a caminhar, reconhecendo melhor o lugar, e cada vez ficava mais fácil andar pela floresta, principalmente nesta hora.

Ouvi o som de uma coruja. Estava mais frio hoje do que a noite anterior trazia comigo o casaco de Jeremy, achei conveniente devolve- lo.

Eu esperei.

Esperei, esperei, até que finalmente ouvi passos de leve na grama, e estava vindo na minha direção. Eu tinha certeza de que era ele.

— Jeremy?

Eu comecei a vê- lo aos poucos, ele andava lentamente em minha direção, mais diferente da noite passada, ele estava com a cabeça levantada, mais vestido todo de preto. - de novo.

Ele deu um meio sorriso quando me viu.

— Pensei que nunca mais a veria. - concluiu ele.

Por um momento eu também pensara nisso.

O que havia acontecido ontem foi um choque, eu não esperava em toda minha vida me deparar com algo do tipo ou semelhante. Mais todo esse medo que eu tive já não existia mais.

— Por um momento eu também.

— Olha, eu realmente queria explicar a você mais você não...

— Eu sei. – Havia uma tristeza em sua voz, que me fazia ter um grande aperto em meu peito.

Ele me olhava.

— Pensei que talvez então eu pudesse me explicar.

Eu esperei.

— Venha, eu quero te contar isso direito.

Eu o segui, mesmo sem entender. Ele estava me levando ao lado oposto da floresta, era quase saindo da trilha de onde estávamos.

Como um deja- vu, eu era capaz de reconhecer aquele lugar. Era exatamente onde o meu sonho me mostrara à foto de Jeremy- estávamos no cemitério. A essa altura isso não me surpreenderia.

Caminhamos mais a frente percebi que não havia lua, mais isso não pareceu impedir ele de continuar andando. Chegamos ao tumulo dele.

— Aqui- ele passou a mão pela foto. - acreditaria se eu dissesse a você que eu não faço idéia de como morri?

Aquelas palavras pareciam tão certas, mais ao mesmo tempo tão erradas, apenas balancei a cabeça.

— Mais é claro que eu me recordo o que aconteceu na mesma noite... Ele pareceu um tempo perdido em pensamentos, e depois continuou. - era 11 novembro, e estava uma noite como essa, sem lua. Era uma noite tão fria quanto hoje.

Lembro-me de ter discutido com minha mãe, sempre nos demos muito bem, mais naquele dia nós brigamos muito. Sai de casa naquela noite, eu não sabia para onde eu iria, mais eu apenas fui embora de casa.

Então, eu comecei a vagar sem destino, sem olhar para trás, eu nunca fui rebelde nem nada. Minha mãe sempre foi amável comigo, assim como eu era com ela. Mas...

Ele parou no meio da frase angustiado.

— mas...?

— mas meu padrasto, nunca nos demos muito bem. Ele era rude demais e minha mãe e eu sofríamos muito com isso. Na verdade foi ele o causador de nossa briga. Eu não aceitava a idéia de ter que conviver com ele maltratando a gente, mas, minha mãe sempre foi muito boa... E ela o amava  apesar da estupidez dele. E eu briguei com ela, dizendo que eu não era obrigado a aceitar conviver com alguém que eu não suportava.

Lembro- me que eu queria voltar para casa, minha mãe não merecia ficar sofrendo, sem ter por perto alguém para defendê-la... E eu não sei o que aconteceu depois. Eu simplesmente não me lembro. Foi estranho e dolorosos estas são minhas ultimas lembranças.

Parecia que ele não ia mais continuar, me senti mal por ter o feito falar sobre seu passado. A dor dele, também era a minha dor agora.

— Oh Jeremy, eu sinto muito.

— Não, está tudo bem. De qualquer forma isso já foi há muito tempo. Depois que descobri que apesar de morto, eu poderia voltar... eu virei uma espécie de “anjo” – ele fez as aspas com os dedos -  sem asas, é claro. Me alimento de sonhos, são eles que me fortalecem Elizabeth. Isso é meio esquisito, eu compreendo. Mais é assim que eu sou... Essa é a única forma que eu posso me transportar para o mundo real. E naquela noite que você estava aqui, eu pude sentir sua presença, eu não queria assustar você.

Durante muitos dias eu tentei fazer você vir aqui, eu tentava me infiltrar nos seus sonhos, mais eu vi que isso só estava te assustando, como naquele dia que você tinha batido a cabeça... Eu sabia que era errado, mais vejo você em meus pensamentos há algumas semanas. Queria atrair você até aqui, eu não conseguia tirar você da minha cabeça...

Ele suspirou tristemente. Agora tudo fazia sentido. Eu tinha razão sobre Jeremy poder se infiltrar nos meus sonhos. E agora ele estava se declarando a mim... Mais algo em seus olhos trazia novamente aquela tristeza que me amargurava.

— Mas por que você diz que isso é errado? quero dizer, se você se alimenta apenas de sonhos...

— Se eu me alimentar demais do sonho de uma determinada pessoa ela pode...- ele respirou fundo. – Ela pode morrer.

Eu não sabia o que dizer.

— Acho melhor você ir...

— Não Jeremy... - eu não queria deixa- lo, agora eu podia sentir o significado daquela dor que causava nele. Eu queria dizer algo a ele, tirar aquela angustia de seus olhos mais ao mesmo tempo eu não sabia o que dizer. Eu tinha medo de dizer o que sentia a ele e isso o fazer ele ficar mais angustiado ainda.

Talvez ele tivesse razão, era melhor eu ir para minha casa.

— Está bem.

Virei-me, deixando para trás seu casaco.

Eu não consegui dormir.

Durante três noites seguidas, eu não conseguia mais dormir, sempre pensando em Jeremy, e toda vez que eu via seu rosto em minha mente, sentia um imenso vazio no meu peito.

Mais naquela noite, eu já não podia mais suportar a dor que estava me dilacerando aos poucos. Finalmente eu vi pela janela do quarto que caia um imenso temporal, quase não dava para enxergar o que tinha la fora. Mas mesmo assim não me importei ao atravessar a porta da varanda e me espreitar para a chuva. A chuva estava fria, mais minha dor era maior do que este temporal.

Eu já havia pensado muito durante estes dias e conclui- o amor é irracional, quanto mais você ama alguém menos tudo faz sentido. Agora eu era capaz de entender o significado desta palavra. Você precisa sentir para entender... Agora fazia sentido.

Sim a esta altura eu tinha certeza do que sentia por Jeremy.

E era minha vez de dizer a ele.

Caminhei, com um pouco de dificuldade, eu mal enxergava onde estava pisando.

Vi finalmente o lugar onde Jeremy havia se encontrado comigo, consegui perceber por que seu casaco ainda estava no mesmo lugar de onde eu havia deixado a três noites atrás.

Mas nem sinal dele.

Eu queria chama- lo, mais ele não me ouviria, o barulho da chuva atrapalharia tudo. Eu ia encontra- lo, pessoalmente.

Andei mais a frente, no mesmo lugar que quase saia da trilha que levava ao cemitério. Mais nada dele. Passei a mão em sua foto, me sentindo- me muito angustiada.

Jeremy...

Fiquei sentada ao lado de seu tumulo, as lagrimas haviam me dominado, ele sumiu, foi o que conclui.

Estava com a cabeça entre os joelhos, mais senti alguém se aproximar de mim. Virei à cabeça, ainda estava chorando e vi seus olhos a centímetros de mim.

— Jeremy.

Ele balançou a cabeça e pegou minha mão.

— Vem, vamos sair daqui.

Eu não podia acreditar, toda a dor sumiu de repente se transformando em alegria.

— Ah Jeremy, eu pensei que você não voltaria mais...

— Eu pensei nisso. Mais não sou forte o bastante para isso.

A chuva diminuiu, agora havia só alguns respingos fracos.

Jeremy olhava para mim e eu olhava para ele, não tinha duvidas de que ele sentia a mesma coisa que eu sentia por ele.

Andamos mais um pouco. E ele parou, abrindo com as mãos um arbusto de plantas, dando passagem para eu entrar.

Estava escuro. A chuva passara mais eu não tinha certeza se haveria lua ou não. Eu não conseguia entender o porquê dele estar me levando naquele local.

Ele ainda segurava minha mão, me guiando no escuro da floresta, eu não sabia o que esperar encontrar naquele lugar, mais o que importava era que Jeremy estava comigo agora, e eu não suportaria que ele fosse embora.

— o que você...

— Shhh. - ele selou um dedo em meus lábios. - Eu te trouxe aqui por que quero te mostrar uma coisa.

Aguardei em silencio.

Não vi nada, tudo continuava do mesmo jeito- escuro, mais eu tinha que confiar nele, eu sabia que eu não tinha que teme- lo. Depois de um tempo eu comecei a ver algo, uma pequena claridade. Era a lua.

Mais esta noite não era só a lua que estava especial, era tudo a volta dela.

Ela foi saindo bem lenta, e aos poucos iluminava a nossa volta. Notei que naquele lugar onde Jeremy havia me levado tinha um imenso e magnífico lago.

Eu fiquei sem palavras. Ele percebeu minha reação.

— é eu tinha razão... Sabia que você ia gostar.

— Jeremy, é muito lindo.

— Eu sei... Mas você é mais... - ele me beijou.

Agora toda lua estava no seu exibindo seu reflexo na agua.

Ficamos observando aquele imenso lago sendo iluminado pela lua.

E eu não sabia por quanto tempo aquilo poderia durar mais eu não me importava em pensar nisso. Finalmente eu encontrara o meu lugar, e o mais importante: eu estava feliz, e com quem eu amava, e o resto não importava... Agora era Jeremy e eu....


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Notas finais do capítulo

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